sexta-feira, 6 de abril de 2012

Tudo está consumado

Foto daqui

A Sexta-feira Santa é um dia de jejum de alimentos, de palavras e de tudo que nos distraia da contemplação da paixão e morte de Jesus. Vamos percorrer alguns pontos da Paixão segundo o Evangelho de João (Jo 18, 1 – 19,42), proposto pela liturgia deste dia.

O Evangelho de João narra a Paixão com características que o distinguem dos sinóticos (os evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas) e coloca em evidência a soberania de Jesus. (...) João dá um destaque especial à liberdade com que Jesus aceita o sofrimento pela salvação da humanidade, diante da liberdade de quem o entrega a Pilatos e a do próprio procurador romano, fraca e covarde. “Como poderia salvar os pecadores, se tivesse resistido aos perseguidores?”, indaga S. Leão Magno.

Eis o homem
No processo que se desenrola diante de Pilatos, Jesus é rejeitado quer como Filho de Deus, quer como rei messiânico, quer como homem. Tanto é verdade que não encontra compaixão nem mesmo depois da flagelação. Ao ser apresentado à multidão por Pilatos com o “eis o homem”, é rejeitado pelo povo com o “crucifica-o, crucifica-o!”. A cena da flagelação, situada no vaivém de Pilatos entre Jesus e os judeus, dá a medida da dramática injustiça do processo, da dolorosa humilhação a que chega o caminho da Encarnação e torna-se o símbolo da violência do ser humano sobre o ser humano.

Minha participação no drama
[Na contemplação e oração,] com minhas atitudes, posso tomar parte nas diversas cenas: na traição de Judas, nas negações de Pedro, no zelo hipócrita dos sacerdotes; na volubilidade da multidão; na fraqueza de Pilatos; na crueldade gratuita dos soldados etc... Contemplando a Paixão, procuro em imaginação entrar dentro das cenas evangélicas e fazer um discernimento sobre minhas atitudes e comportamentos.

“Eis sua Mãe, eis seu filho”
Ao ver aos pés da cruz sua Mãe e o discípulo amado, Jesus revela seu coração, sempre orientado pelo bem do próximo. São as pessoas que ele mais ama e as confia uma à outra. A Virgem Maria, enquanto perde seu Unigênito, nos acolhe como filhos. Com João acolho Maria em minha casa, em minha vida. A Mãe de Deus se torna também Mãe da Igreja.

Tudo está consumado
O “tudo” não se refere só à Paixão, mas alarga-se ao plano de Deus na história. A chave de leitura da História da Salvação está na Cruz, onde a realização coincide com o fracasso. Mas esta palavra de Jesus se completa com outras, em que a Cruz se liga paradoxalmente à glória [escândalo e loucura]: a glorificação do Pai, de quem o Filho completou a obra, e a exaltação do Filho, que do alto atrai todos a si.

- Pe. José Marcos de Faria, SJ
Retiro Quaresmal 2012 (CEI-Itaici)

* * *

A injustiça e a violência se instalam no coração do Homem que se fecha e recusa a presença Deus, e sua brutalidade reside justamente na total ausência de sentido. A morte de Cristo reveste-se de significado não pela morte em si; seu sofrimento brutal ganha razão de ser não pelo sofrimento em si – mas pela atitude com que Ele, em seu profundo amor por nós, se esvazia de si mesmo, se humilha e se entrega nas mãos de seus algozes – que somos todos nós – em profundo respeito pela nossa liberdade. E, no entanto, que contraste entre o vazio absoluto que nos invade quando escolhemos nos apartarmos da nossa fonte de vida, e o esvaziamento amoroso com que Ele se apequena e entrega às mãos com que o trucidamos!

Paradoxalmente, é no momento do “Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonaste?” – no momento em que, no silêncio do Pai, as trevas invadem o coração do Filho – que o Filho ultrapassa a experiência da Fé e da Esperança, e vive o Amor em sua plenitude. Porque não se trata mais de certezas ou da confiança no Pai, cuja presença o Filho já não sente; trata-se de amar inteiramente o Pai e se entregar a seu serviço, mesmo que Ele não esteja lá. Mesmo não se sentindo amado de volta. Mesmo sem retribuição. Nesse momento de escuridão, Cristo é pura gratuidade, é a plenitude do amor de Deus que se realiza em seu corpo agonizante de homem. Nesse momento, o Filho e o Pai são um só, um só corpo, uma só carne, porque só o Pai pode amar no Filho tão gratuita e intensamente – e nesse amor incompreensível está o seu Espírito, que nos será legado e nos acompanhará na construção do Reino. Quando Jesus ama mais plenamente, aí se efetiva a sua redenção, e a nossa n’Ele. Aí a Trindade transcende a Cruz para nos salvar, e somos resgatados para a eternidade.

- Equipe Diversidade Católica

* * *

Derrame, Senhor, a sua bênção sobre este povo
Que celebrou a morte de seu Filho na esperança de sua Ressurreição;
Concede-lhe o perdão e o conforto, aumente a sua fé
E confirme-o na esperança da salvação eterna.
Amém.

(Oração sobre o povo da Celebração da Paixão)

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...