sábado, 2 de abril de 2011

Entre tuítes e bolsonaradas


Em semana de indignação generalizada e #forabolsonaro muito justificadamente nos TT's, chegou a hora de respirar e lembrar o que mais andou acontecendo por aí.

Policiais se fazem invisíveis para gays em São Paulo http://migre.me/47sXG

Ameaças a Jean Wyllys serão encaminhadas ao presidente da Câmara http://bit.ly/fmfEyW

Por uma razão aberta ao sagrado http://migre.me/47vcg

A negação do corpo http://bit.ly/gcVQ1E RT_reginanavarro

Matéria do Jornal Hoje contribui para desinformação sobre o PLC122 http://t.co/VAPytn3 RT@Jovem_Militante

A servidão voluntária de muitos gays. http://t.co/3MbXTNQ RT@homorrealidade

Os assexuados: conheça a tribo que defende o direito de não transar. http://t.co/s5K7pdl RT@homorrealidade

Nosso testemunho: por que defender a inclusão dos gays na Igreja http://migre.me/3T6qW

Clube Militar celebra golpe críticando a Comissão da Verdade http://www.folha.com.br/po894120 - Gente, o q se passa na cabeça deles? Oo RT@emmanuel_neo

"A Singularidade Está Próxima" documentário dirigido por A. Waller e Ray Kurzweil . O comentário de um físico. http://bit.ly/fp1YES RT@_ihu

Dê uma olhada nesse vídeo -- The Honoring Eve Symposium: Feminism and Queer Theory http://t.co/vs5TWoa via @youtube RT@MarceloSpitzner

Ventos da mudança sacodem geopolítica mundial http://migre.me/47UQD

Caso do crucifixo é uma vitória para o catolicismo ''aberto'' http://migre.me/47UTQ

"Átrio dos Gentios", espaço de troca e de diálogo entre crentes e não crentes http://migre.me/47UWQ

Abril, o mês cruel da Igreja para as relações com os tradicionalistas http://migre.me/47UXq

Belo Monte: o diálogo que não houve. Carta aberta de Dom Erwin Kräutler http://migre.me/47V5r

"Fé e humanismo laico dialogam graças a Freud": sobre a necessidade de crer. Entrevista com Julia Kristeva http://migre.me/47V78

Ficha Limpa. STF pode adiar vigência da lei por uma década http://migre.me/47V9h

Ministra da cultura Ana de Hollanda fala sobre o caso #Bethânia e sobre a lei Rouanet: http://t.co/1RzTIYK RT@RafaZveiter

Ponto para nós: STJ devolve ação sobre IR de casal homossexual http://tinyurl.com/6bxokp6

"A Igreja Católica encontrou o seu papel no século XXI?": a atualidade do Vaticano II http://tinyurl.com/5s4r6d9

Dez motivos para lembrar o Concílio Vaticano II http://tinyurl.com/6f65xuu

A razão contra a "crença" http://tinyurl.com/4bzhnro

Morre José Comblin: uma vida na América Latina a serviço da libertação http://tinyurl.com/6avv9zj http://tinyurl.com/5vb7ez6

"O grande desafio não é o ateísmo, mas sim a indiferença" http://tinyurl.com/6a95vdz

"Crentes e não crentes devem se sentir livres, iguais nos direitos de viver sua vida pessoal e comunitária fiéis às suas convicções e devem ser irmãos entre si" Bento XVI http://bit.ly/fYC9Ic

Bento XVI convida à paz, ao respeito pela liberdade religiosa e ao perdão recíproco http://bit.ly/ijs7Yi

Liberdade de expressão e o silêncio como forma de censura http://bit.ly/eoKBOI RT@observatorio

CONVITE: próximas reuniões da "Pastoral da Diversidade" em SP: 29/3 e 19/4 http://bit.ly/hiJeTM

Coloque a marca da campanha pela abertura dos arquivos da Ditadura Militar no seu avatar: http://twb.ly/fy1r5j #desarquivandoBR RT@jadilsonr

Edição 2011 da Virada Cultural da cidade de São Paulo vem cheia de filmes gays http://mixbrasil.uol.com.br/t/gSk6Nq RT@Mix_Brasil

Propaganda homofóbica feita no Brasil vaza e causa polêmica http://bit.ly/hN2nEs

Juízes devem superar "lacuna legal" e reconhecer união homoafetiva, diz ministra do STJ http://bit.ly/gUkOSt

STF deve se manifestar a favor do direito homoafetivo http://bit.ly/i8KtsZ

O niilismo como doença da vontade humana http://bit.ly/g54sJz RT@_ihu

Top transexual Lea T. posa pela primeira vez para capa de revista bras http://t.co/buusG RT@ACapacombr

Religião 2.0: um novo conceito. Entrevista com Carlos Sanchotene. http://bit.ly/fhtxP0 RT@_ihu

TV Brasil apresentará programas religiosos plurais http://bit.ly/gQViDt RT@_ihu

A importância vital do “Nós” http://bit.ly/fv3eT9 RT@_ihu

Organizador da Marcha Contra a Homofobia é agredido por Skinheads em São Paulo: http://verd.in/0de RT@homofobiaNAO

Nova novela do #SBT, Amor e Revolução, terá cinco personagens gays: http://verd.in/6zu #homofobiaNAO #novela RT@homofobiaNAO

Saúde de lésbicas sofre com preconceito e desinformação: http://verd.in/30q RT@HomofobiaNAO

"Comblin será sepultado no mesmo chão nordestino que acolheu Pe Ibiapina, Padre Cícero, Margarida Alves, Dom Hélder..." http://bit.ly/hHS134 RT@_ihu

Publicação Tendências p/ a Educação Integral será lançada 30/3, em Seminário Internacional em S. Paulo. http://bit.ly/h0c7c1 RT@unicefbrasil

Pesquisador estuda história do jornal alternativo "Lampião da Esquina" http://migre.me/48gYU [via @jornalcruzeiro @ANPUH] RT@homofobiaNAO

Edital seleciona programas e projetos de extensão universitária para inclusão social http://is.gd/nYHuV3 RT@MEC_Comunicacao

Marta propõe retomar a politização da Parada Gay, na edição deste ano http://migre.me/48i98 RT@MartaSenadora

Procuradora instaura inquérito contra Silas Malafaia por homofobia http://bit.ly/hHLfTn

Basta Homofobia: a união faz a força http://bit.ly/fHuUTT

Interpretação feminista do relato da criação http://bit.ly/fgWiWW

Romero e a verdade http://bit.ly/gyJqjw

CNI quer flexibilizar projeto que cria selo contra discriminação às mulheres http://bit.ly/hkYaXM

Laboratórios de Saúde Pública serão capacitados para melhor gestão da qualidade http://bit.ly/hcOvI0

Ascese antropológica http://bit.ly/hIbIl6

Diálogo entre ciência e fé (@freibetto) http://bit.ly/fzhgMM

A nova religião será como o "Lego" http://bit.ly/h1zGkm

O segredo de metal de uma caverna do Oriente Médio http://bit.ly/dTAgtA

As lâminas de chumbo com possíveis textos sobre os últimos anos de Cristo http://bit.ly/eplpmf

Mott: Brasil é radical contra racismo, mas tolera homofobia http://paradiversidade.com.br/2010/?p=2324 RT@paradiversidade

Maria do Rosário oferece segurança parlamentar para Jean Wyllys: A ministra da Secretaria Especial dos Direito... http://bit.ly/gIsJk6 RT@GayNewsBrazil

Delicioso é o clipe novo do Thiago Pethit que tem Alice BRaga como protagonista http://mixbrasil.uol.com.br/t/4vgnNq RT@Mix_Brasil

Entrevista de Jean Wyllys na TV Câmara hoje - Temas: Frente Parlamentar Mista LGBT e PLC 122 - http://bit.ly/eojknq RT@jeanwyllys_real

Carta aberta a Jair Bolsonaro e ao ‘CQC’, em defesa de Preta Gil e das vítimas de preconceito | Na Tv http://bit.ly/i53Xf2

RT @revistapiaui Bolsonaro pede apedrejamento de Preta Gil e reclama: "Cadê o DOI-CODI numa hora dessas?" http://www.thepiauiherald.com.br/ ;o) RT@Wedge_issue

"A liberdade sexual segue sendo um objetivo distante", afirma o médico e sociólogo Volkmar Sigusch http://bit.ly/h4QJJM RT@_ihu

OAB pedirá cassação de Jair Bolsonaro por declarações homofóbicas http://bit.ly/f5Pm28 RT@ultimainstancia

"O catolicismo deve reencontrar o caminho da encarnação'' http://bit.ly/eXjcZC RT@_ihu

1. Peço aos cidadãos que se sentiram ofendidos com o episódio envolvendo o Bolsonaro que enviem suas manifestações para cdh@camara.gov.br
2. Por favor, além de enviarem o email, RT o tweet anterior. Nós que entraremos com a ação no Conselho de Ética precisamos desse apoio!
3. @deputadamanuela , @brizola_neto e eu tomamos a dianteira de fazer a representação e convidar outros deputados indignados para assiná-la.
4. Cerca de 15 deputados vão subscrever a representação contra Bolsonaro, que ofendeu a dignidade de negros e homossexuais em tv aberta.
5. Em sua nota de esclarecimento, Bolsonaro nega ser racista e admite ser homofóbico. Claro, porque ele sabe que racismo é crime. RT@jeanwyllys_real

Homofobia — ódio dos homossexuais Apesar de toda a liberação dos costumes, os gays ainda são (cont) http://tl.gd/9i834m RT@reginanavarro

Correção: a representação será apresentada primeiro à Corregedoria da Câmara, que abrirá sindicância. RT@jeanwyllys_real

Muitos, muitos emails de pessoas ofendidas têm chegado ao cdh@camara.gov.br. Continuem mandando e RT. Vamos transformar indignação em ação! RT@jeanwyllys_real

LIBERDADE DE EXPRESSÃO - A natureza bipolar da imprensa [Washington Araújo] http://bit.ly/eDjo7T RT@observatorio

Queridos, gostaria de agradecer a participação de todos no Congresso de Dir. Homoafetivo! Foi um sucesso total! Estou realizada! RT@mberenicedias

A trama da vida: ensinamentos dos indígenas sobre a democracia http://bit.ly/eZ2QM5 #ihuonline RT@_ihu

Frente pela Cidadania LGBT é relançada em Brasília http://bit.ly/eOs9Wr

Um Outro Olhar sobre as mulheres negras no país. http://ht.ly/4oOGR RT@SomosLGBT

Todos somos adotados http://bit.ly/hJFVDg

Trabalho de @CarlosTufvesson é premiado no Rio http://bit.ly/fDwLQY via tantasnoticiasx1

Edson Luiz de Lima Souto, 24/2/1950-28/3/1968 http://bit.ly/gBDHP2

Nota de solidariedade a Preta Gil e repúdio ao Dep. Federal Jair Bolsonaro http://bit.ly/hrF3pf

Elizabeth Taylor deixou fortuna para fundações que combatem a Aids http://bit.ly/eAcvA2

Cirurgião Eduardo Ramalho morre e não tem quem libere o corpo http://bit.ly/fwu6jA via tantasnoticiasx1

No 442º aniversário de Salvador, GGB divulga memória de 3 homossexuais da Bahia colonial http://bit.ly/gsRWer via tantasnoticiasx1

Petição para cassação do mandato do Dep. Federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) http://bit.ly/ehzjNj via tantasnoticiasx1

Frente Parlamentar Mista pela Cidadania LGBT quer tornar homofobia crime e levar debate à sociedade http://t.co/a2peqxG RT@blogentrenos

Especialistas defendem legislação específica para adoção de crianças por casais do mesmo sexo http://ht.ly/4oPiJ RT@SomosLBGT

Primeira reunião do Conselho nacional LGBT será realizada em Brasília até a quinta-feira http://mixbrasil.uol.com.br/t/6Kkc4d RT@Mix_Brasil

ABGLT tem audiência com Ministro do STF sobre andamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 132/RJ http://on.fb.me/g6AAs1

Nota Pública do Conselho Nacional LGBT sobre declarações do deputado Jair Bolsonaro http://on.fb.me/hPcf0G

Recomendação de Livro: A Possibilidade Jurídica do Casamento Homoafetivo no Brasil http://bit.ly/ieKmaJ

Ministro Ayres Britto conclui processo sobre união civil: favorável! Matéria deve ir a plenário em 15 dias http://bit.ly/ep14f7

Flagra: Bolsonaro sai do armário http://t.co/mzC7DCL #forabolsonaro #celebridade ;o) RT@RafaZveiter

Após crítica a deputado, site da ABGLT é hackeado: http://bit.ly/gfasnw RT@GayNewsBrazil

Cheiro de #pizza: Denúncias contra Jair Bolsonaro na Câmara, serão analisadas por colega de partido dele http://t.co/PoIIfyy #forabolsonaro RT@blogentrenos

Ele cuidará


E por falar na inocência das crianças, um mimo para lembrarmos o quanto elas têm a nos ensinar sobre a confiança. Que, neste tempo da Quaresma, também nós possamos encontrar, em meio às atribulações, nosso repouso e alimento no colo amoroso do Pai.

Bom fim de semana a todos! :-)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Fidelidade



Ser fiel por deber es una aberración. Ser fiel porque se ama es una realización.

- Alejandro Jodorowsky

Rezando o Rosário na Quaresma

Foto: sparth


A experiência de recitar o Rosário é uma das formas mais antigas da devoção popular à Maria. Rezar o Rosário, individual ou conjuntamente, não é, porém, apenas uma simples recitação de uma série de orações. É muito mais: é, com Maria, percorrer a história da salvação através dos mistérios da vida de Jesus Cristo.

Contemplar os mistérios da vida de Jesus é um convite a revivermos, internamente, cada momento que nos é proposto. É relembrar, com a memória, a história; é olhar, com a imaginação, a cena que se passa; é entender, com o sentimento, o chamado que Deus nos faz através daquela reflexão.

Neste momento especial da Igreja, em que se inicia a Quaresma – caminho que nos levará a Jerusalém, local da paixão e ressurreição do Senhor – é bastante apropriado nos fazermos acompanhar de devoções particulares que nos permitam revisitar os passos de Jesus e com Ele e Sua mãe experimentarmos seu sofrimento e sua glória.

Portanto, segue abaixo o roteiro para se rezar o Rosário – ou o Terço – com dicas de leituras bíblicas que podem aprofundar sua reflexão.


No Rosário são rezadas as seguintes orações:
A meditação do Rosário começa com o Sinal da Cruz, evocação da Santíssima Trindade, princípio e fim de nossa fé.

Em seguida, o Credo que nos convida a meditar sobre os principais artigos de nossa fé.
Antes de iniciar os mistérios, temos um conjunto de quatro orações iniciais - um Pai Nosso e três Ave Maria que é um momento de petição e oferecimento da oração do Rosário que está sendo iniciada.

O Rosário é composto por mistérios, organizados conforme a maneira que se propõe a reflexão sobre a história da Salvação. Assim é que teremos cinco mistérios gozosos (ou da alegria), cinco dolorosos, cinco gloriosos e, mais recentemente, os cinco mistérios luminosos.

Cada mistério é iniciado por um Pai Nosso seguido pela recitação de 10 Ave Maria e finalizado com um Glória ao Pai.

Após a meditação dos mistérios, finaliza-se o Rosário com a recitação da Salve Rainha, em louvor à Maria pelas graças concedidas com a oração que termina.

O Terço
O Terço é uma forma abreviada de se rezar o Rosário. Como o próprio nome diz, o Terço refere-se à terça parte do Rosário, ou seja, a meditação diária de apenas cinco dos conjuntos de mistérios propostos. Tradicionalmente, a meditação dos mistérios é realizada conforme os dias da semana, ou seja, para cada dia é proposto um conjunto de mistérios diferente.

A recitação do Terço é bastante comum na oração individual e comunitária. Famílias, grupos de oração e pastorais costumam reunir-se para rezar o Terço, marcando momentos de celebração e reflexão, sobretudo no mês de Maio, dedicado à Maria.


Meditação dos Mistérios
Roteiro para percorrer os mistérios da história da Salvação, com sugestões de leituras bíblicas que poderão auxiliá-lo na contemplação proposta por cada um.
A carta apostólica Rosarium Virginis Mariae, recentemente publicada, faz uma alusão à distribuição dos mistérios pelos dias da semana, assemelhando-a ao tempo litúrgico de uma forma bastante interessante. Diz o Papa João Paulo: “A distribuição pela semana acaba por dar às sucessivas jornadas desta, uma certa cor espiritual, de modo análogo ao que faz a Liturgia com as várias fases do ano litúrgico.”

Mistérios Gozosos ou da Alegria (rezados às segundas e sábados)
Primeiro Mistério: Contemplação do anúncio do anjo Gabriel à Maria
Leitura Bíblica: Lc 1, 26-39
Segundo Mistério: Contemplação da visita de Maria à sua prima Isabel
Leitura Bíblica: Lc 1, 39-45
Terceiro Mistério: Contemplação do Nascimento de Jesus
Leitura Bíblica: Lc 2, 1-15
Quarto Mistério: Contemplação da apresentação de Jesus no Templo
Leitura Bíblica: Lc 2, 22-39
Quinto Mistério: Contemplação da perda e do encontro de Jesus no Templo
Leitura Bíblica: Lc 2, 41-52

Mistérios Dolorosos (rezados às terças e sextas-feiras)
Primeiro Mistério: Contemplação da agonia de Jesus no Horto das Oliveiras
Leitura Bíblica: Mc 14, 32-43
Segundo Mistério: Contemplação da flagelação de Jesus
Leitura Bíblica: Mt 27, 22-26
Terceiro Mistério: Contemplação da coroação de espinhos de Jesus
Leitura Bíblica: Mt 27, 27-32
Quarto Mistério: Contemplação de Jesus carregando sua cruz para ser crucificado
Leitura Bíblica: Lc 23, 20-32
Quinto Mistério: Contemplação da crucificação e morte de Jesus
Leitura Bíblica: Lc 23, 33-49

Mistérios Gloriosos (rezados às quartas-feiras e domingos)
Primeiro Mistério: Contemplação da ressurreição de Jesus
Leitura Bíblica: Mt 28, 1-15
Segundo Mistério: Contemplação da ascensão de Jesus aos céus
Leitura Bíblica: At 1, 4-11
Terceiro Mistério: Contemplação da descida do Espírito Santo sobre N. Senhora e os Apóstolos no Cenáculo
Leitura Bíblica: At 2, 1-14
Quarto Mistério: Contemplação da Assunção de Nossa Senhora
Leitura Bíblica: 1Cor 15, 20-23; 53-55
Quinto Mistério: Contemplação da coroação de Maria como Rainha do Céu e da Terra
Leitura Bíblica: Ap 12, 1-6

Mistérios da Luz (rezados às quintas-feiras)
Primeiro Mistério: Contemplação do Batismo de Jesus
Leitura Bíblica: Mc 1, 9-15
Segundo Mistério: Contemplação do primeiro milagre de Jesus - as bodas de Caná
Leitura Bíblica: Jo 2, 1-11
Terceiro Mistério: Contemplação do anúncio do Reino de Deus e do convite à conversão
Leitura Bíblica: Mc 1, 15
Quarto Mistério: Contemplação da Transfiguração de Jesus
Leitura Bíblica: Lc 9, 28-36
Quinto Mistério: Contemplação da Instituição da Eucaristia
Leitura Bíblica: Mc 14, 12-25


- Gilda Carvalho
Originalmente publicado no Amai-vos

quarta-feira, 30 de março de 2011

Está chegando! Curso "Diversidade Sexual, Cidadania e Fé Cristã"


Já estão abertas as inscrições para o curso Diversidade Sexual, Cidadania e Fé Cristã, no Centro Loyola de Fé e Cultura (PUC-Rio) de 7 de abril a 9 de junho - todas as quintas-feiras, em Botafogo.

A proposta é abordar a questão da diversidade sexual e sua visibilidade no mundo contemporâneo, com as respectivas implicações para os indivíduos, as famílias, a sociedade, a educação e as igrejas. Além disso, o objetivo é de buscar as perspectivas de compreensão e ação, bem como o diálogo da tradição religiosa cristã com as ciências e os agentes sociais em vista da construção da cidadania.

Professores:
  • Pe. Luis Corrêa Lima, SJ (líder do Grupo de Pesquisa Diversidade Sexual, Cidadania e Religião da PUC-Rio)
  • Ana Maria Bontempo (Assistente Social e vice-presidente da BENFAM)
  • Maria Cristina S. Furtado (Psicóloga e Mestre em Teologia / PUC-Rio)
Local: Residência João XXIII (R. Bambina, 115 - Botafogo)
Data: Todas as quintas-feiras, de 07 de abril a 09 de junho de 2011
Horário: 19h às 21h
Investimento mensal: R$ 75,00

As inscrições devem ser realizadas previamente pelo telefone (21) 3527-2010, pelo e-mail scursosloyola@puc-rio.br ou pelo site do Centro Loyola. Atenção: a inscrição só será considerada após o pagamento do boleto bancário, que será enviado por e-mail ao participante.

Serão conferidos certificados ao final do curso.

A razão contra a "crença"


A reivindicação de autonomia da razão perante as crenças e os preconceitos herdados da tradição é considerada um dos fundamentos da nossa modernidade intelectual. Assim, o filósofo racionalista que quer conquistar a autonomia e se libertar dos preconceitos deve sobretudo admitir que todas as coisas, aparentemente, são evidentes e óbvias, devem ser interrogadas e que as crenças não refletidas devem ser submetidas ao crivo da razão.

Para a filosofia iluminista, a razão deve encontrar o seu fundamento em si mesma e não se ancorar mais em pressupostos que lhe seriam exteriores. A radicalidade dessa posição está no fato de se afrontar a uma tradição dogmática, a da leitura religiosa da Escritura sagrada. Não admitiria nenhuma autoridade nem se submeter ao tribunal da razão: é a exigência que recusa o valor absoluto de toda tradição.

Esse processo, por meio do qual as sociedades ocidentais modernas saíram da órbita religiosa, das forças e das seduções mágicas, foi qualificada pelo sociólogo alemão Max Weber como "desencantamento do mundo". Esse movimento é, ao mesmo tempo, aquele por meio do qual ocorreu um processo de racionalização instrumental cada vez mais crescente.

A não influência do religioso nas representações que os seres humanos fazem do mundo e da sua própria existência acompanhou, assim, a formação do Ocidente moderno. Ela implica não que nós conheçamos melhor as condições em que vivemos, mas, ao contrário, que pensamos poder dominá-las, já que, em princípio, não existe nenhum poder misterioso e imprevisível que interfira no curso da nossa vida.

Ora, isso significa, sublinha Max Weber, "desencantar o mundo" e privá-lo de sentido. Porque se tudo – ou quase – é previsível e calculável, se a maior parte dos nossos atos tendem teoricamente a ser redes para a relação dos meios e dos fins, o que acontece com os valores suscetíveis de orientar a ação? Se um mundo regulado pela tradição acredita no valor imemorial daquilo que sempre existiu, o processo de emancipação próprio à modernidade provocou uma perda do consenso global sobre os valores da ação, notavelmente na esfera pública.

Tal é, portanto, a experiência fundamental de uma modernidade que colocou em causa a ordem tradicional e se encontrou obrigada, por essa razão, a definir novas posições, necessariamente incertas. Um mundo fundado na tradição acredita na validade daquilo que sempre existiu. Enquanto que a contestação dos modos consagrados de atribuição de sentido se acompanha por um processo de emancipação que pode, por sua vez, ser contestado tanto nos princípios quanto nos resultados.

Assim, a modernidade está ligada a uma cultura dividida em que se enfrentam modos de legitimidade antagônicos. Max Weber falava de "politeísmo dos valores", para designar essa situação existencial do homem moderno, diante das escolhas que não lhe são impostas mais com uma evidência incontestada.

O homem moderno está dividido entre regimes de existência heterogêneos, valores conflitantes, pertenças múltiplas. A perda de evidência de um sentido dado, o esfacelamento dos antigos sistemas simbólicos colocam os indivíduos em uma incerteza que – longe de coincidir, como frequentemente se pretendeu, com a ausência ou com o vazio de sentido – está ligada à sua pluralização.

O homem moderno, confrontado com racionalidades plurais, deve escolher entre opções mais ou menos antagônicas. Mas a perda da unidade de sentido lhe dá, assim, como destaca Max Weber, a capacidade de tomar posição diante da realidade que o circunda. O homem moderno é obrigado a criar sentido ou, ao contrário, sentidos: a pluralidade deve ir lado a lado com a problematicidade e a criatividade.

Enfrentar desse modo o problema da relação entre a razão e a "crença" (que não tem um significado unívoco, porque mistura representações mais ou menos racionais, crenças afetivas, fé, confiança no sentido da fé latina) permite compreender que a nossa modernidade não está baseada na oposição simplista entre a "razão" e a "crença".

Além do fato de que a crença na racionalidade foi ela mesma uma das bases do pensamento iluminista, parece que a razão trabalha sempre sobre um dado que, enquanto tal, é opaco ao conhecimento e, portanto, necessariamente objeto de uma elaboração.

A racionalidade se constrói, portanto, a partir de uma experiência primeira que constitui, de algum modo, o nosso "ser-no-mundo". A exigência de racionalidade – que é essencialnão faz desaparecer aquelas dimensões do vivido que são o sagrado, o imaginário, o instintivo ou também o afetivo e, evidentemente, a crença. São as orientações sobre as quais se enraíza a racionalização. A crença, pelo menos, dá o que pensar.


- Myriam Revault D'Allonnes*
Artigo publicado originalmente no jornal La Croix em 25-03-2011 e reproduzido via IHU.
Tradução: Moisés Sbardelotto.
Grifos nossos.

_______________
* Filósofa francesa, professora da École Pratique des Hautes Études.

terça-feira, 29 de março de 2011

Frente pela Cidadania LGBT é relançada em Brasília

Foto: José Varella

Foi relançada nesta terça-feira (29), a Frente Parlamentar Mista pela Cidadania LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais), com solenidade comandada pelos coordenadores, deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) e senadora Marta Suplicy (PT-SP), no Salão Nobre da Câmara dos Deputados.

Com o apoio de 175 parlamentares, a Frente vem dar suporte político no Congresso a projetos que tenham por objetivo ampliar e garantir os direitos da população LGBT. Segundo Jean Wyllys, já existe prioridades a serem debatidas como a de tocar o projeto de criminalização da homofobia no Senado e a PEC da união civil entre pessoas do mesmo sexo, na Câmara. As pautas e demandas do movimento serão definidas em reuniões quinzenais, no gabinete da vice-presidência do Senado.

Durante seu discurso, a senadora Marta Suplicy declarou que o Brasil retrocedeu no reconhecimento dos direitos dos cidadãos LGBT e, com isso, foi deixado para trás por países que eram mais conservadores, como Argentina, Portugal e Espanha.

Participaram da cerimônia as senadoras Vanessa Grazziottin (PCdoB-AM), Marinor Brito (PSOL-PA) e Lídice da Mata (PSB-BA), as deputadas federais, Manuela D´Ávila (PCdoB-RS), também presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Fátima Bezerra (PT-RN), Janete Rocha Pietá (PT-SP) e, Erika Kokay (PT-DF), os deputados Dr. Rosinha (PT-PR) e Artur Bruno (PT-CE), além da ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Maria do Rosário, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Benedito Gonçalves, representantes dos ministérios da Cultura, da Saúde, integrantes e lideranças de movimentos sociais nacionais e internacionais ligados à causa LGBT.

Por Bruno Feitosa, com agências Senado e Câmara.

A água pede de beber

Foto: catklein

O encontro de Jesus com a samaritana é bastante conheci­do (João 4, 1-30) e apresenta um paradoxo: Jesus, a água viva, pede de beber à samaritana. Esse não é o único paradoxo, nem a única “incoerência” desse texto que mistura fonte com poço, perguntas sem respostas e res­postas a perguntas que ninguém fez. Ao beber na fonte cristalina do texto original, pode-se des­cobrir a riqueza de um itinerá­rio iniciático apresentado pelo evangelista, oculto pela subjeti­vidade de muitos tradutores.

Logo no início, ao anunciar a intenção de Jesus de ir da Ju­deia para a Galileia, as traduções dizem que para tanto “era-lhe necessário passar pela Samaria (4, 4)”, ou “era-lhe preciso” ou “tinha de passar”. Muitos vêem nisso uma obrigação geográfica: o caminho era por ali, não tinha jeito. Não é verdade. Na reali­dade, Jesus nem devia, nem pre­cisava. Poderia tomar outro caminho, como a maioria dos judeus fazia: Por exemplo, seguir o vaie do Jordão — onde água e sombras eram abundantes — e evitar esses heréticos que eram, para os judeus, os samaritanos. Basta olhar um mapa da região e constatar. Jesus mesmo recomenda aos discípulos evitar a Samaria (Mt 10,5). Em Lucas (9, 51-56), os discípulos que atravessam a Samaria são mal recebidos.

Mas Jesus já os distinguia: o único dos dez leprosos curados, que volta reconhecido, era samaritano (Lc 17, 11-19) e na parábola do bom samaritano ele os opõe aos levitas do templo (Lc 10, 30-37). No texto grego origi­nal, Jesus devia, tinha de passar (êdei) no sentido de quem tem um objetivo. Jesus tinha um pro­jeto de ir a Galiléia. A passagem da Judéia na Samaria lembra a profecia de Isaías, em que os reinos separados serão um dia reconciliados. Em Jesus acaba­rá a separação, a divisão de Is­rael e Judá. O rei justo — sobre o qual repousará o Espírito de Deus — “ajuntará os banidos, ou desterrados de Israel, reunirá ou congregará os dispersos de
Judá” (Is 11, 12 cf. Os 2, 2; Jo 3, 18; 35, 50; Ex 37, 16-24). E nes­se contexto que se deve enten­der porque Ele deve passar pela Samaria. Seu ensinamento era também para os excluídos, os impuros, os heréticos e os que tentam viver sua fé no meio de nações pagãs. Como nós, nos dias de hoje, cercados pelo ne­opaganismo e pelas heresias.

O episódio é polissêmico, rico em significados, já que, como nos neopagãos de hoje em dia, o ouvido dessa mulher não estava totalmente fechado. Ainda havia abertura, pois ela era habitada pelo desejo. E para ela serão revelados, progressivamente, os mistérios da oração “em espírito e verdade”. Existe um itinerário iniciático, muito bem construído por João, que leva das verdades
adquiridas e relativas, contidas em nós, para a Verdade infinitamente mais elevada e vasta que nos contém.

Como numa espécie de séti­mo dia da criação, Jesus descan­sa. Cansado do caminho, ele Senta à beira do poço (4, 6). San­to Agostinho diz que é Deus quem se cansou, pois está nessa estrada há
séculos, milênios... em busca da humanidade. Deus está em busca do homem. Onde Ele poderia parar, pousar, repou­sar? No poço de nosso coração, na alma de cada um de nós. Tal­vez cada um já tenha vivido o essencial da experiência místi­ca e espiritual: a descoberta de que não somos nós, mas é Deus quem nos busca. Era Deus quem nos buscava esse tempo todo. Mas como é difícil deixar-se achar, deixar-se amar “tal como somos”. A estrada é longa até esse ponto da aceitação total.

E aproximadamente à sexta hora, meio-dia, em que o sol abrupto não deixa sombras, nem lugar para elas; e nessa hora da sede e do desejo; e nesse momento de uma luci­dez que deixa pouco lugar para as mentiras; e quando estamos na beira do poço, em nossa pior hora - é ali que Jesus nos espera. Na fonte (pegé) do nos­so ser. Onde a vida surge, na saída, na sua gratuidade. O poço é o símbolo do coração humano. A vida nos leva a des­cer nas suas profundezas para descobrir a fonte. Estar no fun­do do poço exige silêncio. Sen­tar na beira do poço é ficar na escuta, em estado de resso­nância. E o que vamos escu­tar? O silêncio nos prepara para ouvir a voz que murmu­ra no fundo das águas: dá-me de beber. O silêncio nos traz essa experiência.

Paradoxo: a água pede de beber. Jesus é a fonte que tem sede de ser bebida. Como en­tender esse chamado de Deus? A Fonte pede para ser reconhecida, pede tempo e atenção. Dá-me do teu silêncio, da tua solidão. Essa é nossa água, que podemos ofertar a Deus. Quem está disposto a dedicar para Deus uma parte do tempo de silêncio que entrega à televisão? Deus pede nosso silêncio, atenção e contemplação. É sempre uma surpresa ser cha­mado do fundo do Ser. Sentir-se esperado, desejado, por um Si que é mais que o nosso si-mesmo. Por um Todo Outro que si-mesmo. Pelo Desconhe­cido das profundezas. E desse primeiro despertar nasce o es­panto: Por que eu? Por que “mim”? Isso é outra história, outro paradoxo, que a samari­tana também vai descobrir. Mas hoje nos basta o convite a um pequeno voto de silêncio, como entrega gratuita a um Deus que, no fundo de nosso coração, pede de beber.


- Evaristo Eduardo de Miranda
In Corpo: Território do Sagrado, Ed. Loyola

segunda-feira, 28 de março de 2011

Adorar "em espírito e em verdade": a nova santidade

Foto: Emmy.Leah

Um dia, no calor do meio-dia, Jesus, cansado e com sede, parado junto a um poço, pediu água a uma mulher de uma tribo estrangeira, hostil. Espantada por ele ter ignorado a divisão entre eles, mas, também, por ser uma mulher resoluta, independente, ela o desafiou. A conversa o levou a fazer a única revelação direta que ele dá de si mesmo nos evangelhos. Normalmente, estava preocupado em mudar a mente das pessoas e aportar-lhes a sabedoria, em vez de dar-lhes mais rótulos já prontos. Embora fosse de determinada localidade e se identificasse com seu próprio povo e cultura, Jesus também se colocava em uma perspectiva universalista. Com esta vantagem, ele faz uma grande declaração, que inicia uma evolução do papel da religião nos assuntos humanos, algo que ainda exige esforço para ser cumprido: "Os adoradores que o Pai quer são aqueles que adoram em espírito e em verdade".

Este é o tema do terceiro domingo da Quaresma, que destaca tudo o que a Quaresma deve nos ensinar.

A verdadeira adoração agora se identifica com o que Simone Weil, dois milênios mais tarde, chama de a "nova santidade". A santidade não pode mais ser identificada com a observância de um conjunto de regras e tradições. Ser santo significa ser simultaneamente um filho de Deus e um cidadão do mundo.

Esta visão revolucionária e magnífica da excelência humana eleva o espírito humano, mas também nos enche de uma dolorosa sensação de perda e de nostalgia. Pode parecer que o "local" foi evaporado ou absorvido pelo mercado "global". As pessoas religiosas que amam sua cultura e suas tradições acham difícil mirar para além das suas próprias fronteiras, focar um horizonte mais distante, sem sentir que perderam ou mesmo traíram suas raízes. Esse é o custo de deixar a si mesmo para trás.

No entanto, o universalismo da mente de Cristo não é como a nossa globalização contemporânea. Em vez de apagar as diferenças ele as celebra, mas dentro de uma catolicidade, uma universalidade, que redefine sua localidade e lhes nega a indulgência egoísta da concorrência com os outros.

Esta é a direção em que estamos ainda em movimento, sem jeito às vezes - mas, felizmente, não há como voltar atrás.


- Laurence Freeman, OSB
Publicado originalmente no site da Comunidade Mundial de Meditação Cristã no Brasil.

''A Igreja Católica encontrou o seu papel no século XXI?'': a atualidade do Vaticano II


“O que se presenciou no século XIX na Igreja foi o surgimento de duas formas de se compreender a missão da instituição no mundo: uma que aceitava e entendia de forma positiva os caminhos abertos pelos novos tempos modernos, e que visava levar a Igreja a se 'adequar' àquele tempo, abrindo-se, e outra que via com muita negatividade o que se sucedia, criando, inclusive, uma filosofia da história calcada na ideia de que Lutero, a Revolução Francesa e seus congêneres, os iluminismos e o comunismo faziam parte de uma revolução mundial demoníaca”. A afirmação é de Rodrigo Coppe que acaba de lançar o livro Os baluartes da tradição: o conservadorismo católico brasileiro no Concílio Vaticano II (Curitiba: CRV, 2011). Em entrevista originalmente publicada no IHU, ele analisa esse momento histórico da Igreja Católica e reflete sobre o papel do Concílio do Vaticano II hoje. “Depois de quase 50 anos de seu início, nota-se que o Vaticano II não colocou em causa nem modificou substancialmente o modelo que prevalecia anteriormente”, apontou.

Rodrigo Coppe é graduado em História pela PUC Minas com mestrado e doutorado em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Nesse ano iniciou a graduação em Direito na PUC Minas, onde é professor Adjunto de Cultura Religiosa e Fenomenologia da Religião.

Confira a entrevista.

Rodrigo, você pode começar nos explicando o que é a antimodernidade católica brasileira que esteve presente no Concílio Vaticano II?
Antes de tudo a antimodernidade é uma sensibilidade. Uma sensibilidade que se formou lentamente desde os primeiros movimentos do que conhecemos como “história moderna” no século XVI, ou seja, com a Reforma Protestante, a Revolução Francesa e os iluminismos e, posteriormente, o comunismo. Porém, a antimodernidade compreendida de forma consciente só surge no século XIX e aparece como um componente de reação – e aqui o termo não tem nada a ver com “reacionário” – a certo tipo de pensamento liberal, progressista e revolucionário, que levava à débâcle do status quo e à queda de civilizações. Além, claro, de se levantar contra um dos principais pontos de apoio daquela ordem, a Igreja Católica Apostólica Romana. Dessa forma, a Igreja Católica do século XIX – chamada de ultramontana – cerrou-se cada vez mais em seus muros como tentativa de contenção do avassalador movimento de crítica ao seu poder temporal, e logo, posteriormente, aos temas centrais de sua tematização teológica.

De fato, o que se presenciou no século XIX na Igreja foi o surgimento de duas formas de se compreender a missão da instituição no mundo: uma que aceitava e entendia de forma positiva os caminhos abertos pelos novos tempos (modernos), e que visava levar a Igreja a se “adequar” àquele tempo, abrindo-se, e outra que via com muita negatividade o que se sucedia, criando, inclusive, uma filosofia da história calcada na ideia de que Lutero, a Revolução Francesa e seus congêneres, os iluminismos e o comunismo faziam parte de uma revolução mundial demoníaca. Foi possível, assim, lendo a história da Igreja no século XX, entrever os dois campos de conflito contínuo: de um lado aqueles defensores do novo, ligados aos movimentos sociais, litúrgicos, bíblicos e tutti quanti que se desenvolviam com vigo; do outro, aqueles defensores da tradição – tradição entendida aqui como aquela, especialmente, assinalada pelas resoluções do Concílio de Trento, pelos papas Gregório XVI, Pio IX e Pio X com seus inúmeros documentos anatematizantes da modernidade.

A antimodernidade católica brasileira que esteve no concílio foi um grupo que se desenvolveu no país a partir daqueles parâmetros citados desde a segunda década do século XX, que lutou aguerridamente contra as novas “tendências pastorais”. Ela teve como personagem marcante Plínio Corrêa de Oliveira [1] e a fundação da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, a polêmica TFP, em 1960 e em D. Geraldo de Proença Sigaud (bispo de Diamantina-MG) [2] e D. Antônio de Castro Mayer (bispo de Campos-RJ) [3] os seus principais baluartes nas discussões do Concílio Vaticano II, entendido por mim como o paroxismo da tensão entre as duas tendências no interior da Igreja no século XX e como um campo de lutas simbólico-normativas.

Quais as linhas de pensamento que marcam a tendência “conservadora” da Igreja Católica hoje?
O termo “conservadorismo” é complexo e objeto de muitas incompreensões, utilizações indevidas e claramente manipulável ideologicamente por certos grupos que visam desqualificar este ou aquele discurso, político, religioso ou não. Por exemplo: se tomamos um grupo mais afeito a uma teologia sob influxos do pensamento filosófico moderno, como, por exemplo, a Teologia da Libertação, indiscutivelmente um grupo tomado pelos analistas como progressista e avançado nas discussões teológicas, notaremos corriqueiramente que compreendem o reinado de João Paulo II como um pontificado conservador. Por outro lado, se tomamos as opiniões de Lefebvre e sua Fraternidade Sacerdotal São Pio X – FSSPX veremos que compreendem o mesmo pontificado como progressista e liberal.

Como resolver a questão? Não sei dizer se é possível, pois o que isso demonstra é que atrás de um vocábulo existe alguém que a pronuncia, e sabemos bem que nada é dito sem consequências. Aprendi uma lição com Barbara Herrnstein Smith [4], que afirmava em seu Crença e resistência que não devemos entender as diferenças existentes entre nosso ponto de vista e o do outro como meros “reflexos de nosso esclarecimento e do obscurantismo deles”. Assim sendo, como historiador, prefiro pensar a Igreja – e sua instituição máxima de poder, o papado – inserida numa longa duração do que me aferrar a estes tipos de generalizações que, acredito, não colaboram nem minimamente para compreensão sobre o que acontece.

É fato que grupos de tendências diversas existem em seu interior. Porém a busca de enquadrar todo um pontificado num conceito como “progressismo” ou “conservadorismo” é questionável. Por outro lado, não se pode negar, por exemplo, que exista uma tendência neste papado de uma revalorização da tradição litúrgica que chega até João XXIII. O moto próprio Summorum Pontificum (2007) apareceu nesse sentido, a fim de possibilitar que os fiéis tivessem contato novamente com a forma extraordinária do rito romano.

Quais foram as principais questões que a modernidade suscitou na Igreja Católica e que foram levantadas a partir do Concílio Vaticano II?
Bem, no Vaticano II existiram alguns temas “quentes”, que notavelmente mobilizaram os padres conciliares e, especialmente, os padres do Coetus Internationalis Patrum, o grupo no qual a minoria se organizou para tentar barrar os avanços dos padres que visavam distender as relações entre Igreja e o mundo moderno. Entre os vários temas “quentes” – como a questão litúrgica, o papel do leigo, a questão da colegialidade, entre outros – aquele que se destacou, acredito, foi o da liberdade religiosa. É preciso lembrar que o Estado democrático de Direito foi sendo tomado cada vez mais, durante todo o século XX, como o regime que melhor pudesse dar conta da realidade da pluralidade.

Desde o Humanismo Integral de Jacques Maritain [5] na década de 1930, inclusive, já se vislumbrava na Igreja um processo de adaptação e acomodação em vista desta realidade e do tipo de Estado que a dava suporte. Porém, para os antimodernos a questão da liberdade religiosa barrava no magistério dos papas do século XX, especialmente no Syllabus Errorum Modernorum (Sílabo dos erros modernos) e na encíclica Quanta Cura de Pio IX, que negavam qualquer possibilidade de a Igreja se coadunar com a ideia de “liberdade de consciência”, da qual se depreendeu a de liberdade religiosa. Por sinal, um dos opúsculos que passavam pelas mãos dos padres conciliares no período, e que possivelmente tinha as mãos do Coetus, afirmava que um complô judaico-maçônico – realizado pelo cardeal Bea (Secretaria para a Unidade dos Cristãos) e a B’nai Brith – estava em andamento em vistas de se aprovar a liberdade religiosa.

Para você, é chegada a hora do Vaticano III, conforme sugerem alguns intelectuais?
Bem, de fato, como historiador, afirmo que seria muitíssimo interessante presenciar a realização de um concílio no início do século XXI. Imagine o papel da opinião pública e dos meios de comunicação nesse concílio! Ele seria certamente tuitado... Porém, não creio nessa perspectiva. O Concílio Vaticano II ainda não foi recepcionado, como Yves Congar [6] e vários outros autores constataram. Niceia demorou por volta de 80 anos para ter sua recepção. Parece, às vezes, que alguns acreditam, de forma ingênua a meu ver, que é só conclamar um concílio para que, como num passe de mágica, as coisas se resolvam (isso aconteceu de certa forma também com Vaticano II).

A realidade histórica é complexa e um concílio, um momento extraordinário da vida da Igreja. Sabe-se das inúmeras e profundas transformações passadas pelas sociedades desde a década de 1960 e a necessidade da Igreja se fazer mais presente. Todavia, a instituição responde a elas de inúmeras formas, e não somente a partir de um concílio. É preciso dizer que, na minha perspectiva interpretativa, o tempo da Igreja é um tempo lento, de maior duração, estabilidade, alterando-se em prazos mais longos, de forma processual. Assim, se um evento – como o Vaticano II – é entendido como algo que irrompe nesse tempo a partir da movimentação de certas personagens – como no caso, Roncalli –, as estruturas permanecem supraindividuais e intersubjetivas, não se reduzindo a uma única pessoa ou aos desejos de grupos determinados.

E como você avalia a trajetória da Igreja no século XX?
Busco avaliar a trajetória da Igreja no século XX numa longa duração. Desde o século XIX, como bem observou o Pe. Henrique de Lima Vaz [7], duas tendências em seu anterior se debatem em busca de influenciar o centro de poder: a cúria e o papado. Olhando para eles, noto que suas realizações podem ser tomadas como passos à frente e passos atrás, não necessariamente nessa ordem.

O que desejo dizer com isso? Que existe uma dinâmica complexa, na qual a Igreja contemporânea caminha, sempre num processo de adequação e acomodação contínuos, a partir, no caso, de uma perspectiva modernizadora – isso com relação aos meios de levar a mensagem evangélica, como, por exemplo, os meios de comunicação. Veja hoje o papel que desempenha no Twitter, Facebook, na blogosfera e nas mídias em geral, tanto a hierarquia como o laicato – uma perspectiva modernizante. Isto é, buscando elementos da cultura contemporânea para dialogar com ela a partir da teologia, mas também numa perspectiva de atenção em relação ao que foi recebido como herança, numa perspectiva de conservação.

Se tomarmos os papados desde o início do século XX, estudando seus atos e documentos, perceberemos que em todos eles apresentam-se passos de avanços, de conservação e de recuo. Vejamos, por exemplo, Pio X, tomado hoje em certas análises, tanto pelo progressismo católico, como pelo conservadorismo, ou tradicionalismo católico, como uma papa antimoderno. O que sempre é realçado é a sua visão do mundo a partir da encíclica Pascendi Dominici Gregis, o juramento antimodernista. Porém, ele também colocou em andamento reformas, como a comunhão frequente e à comunhão das crianças; a reforma da música sacra e da liturgia; medidas a fim de melhorar o ensino do catecismo e a pregação; a reorganização da cúria romana e das congregações romanas, além de um amplo movimento em vistas da organização do Codex Iuris Canonici.

Pio XII, outro papa lido apenas na chave da “antimodernidade”, e tido por alguns como o “último papa antimoderno”, também não se caracteriza apenas por seu lado “conservador”, diríamos, mas também por uma perspectiva de avanço. O que diríamos das encíclicas Divino Afflante Spiritu – que toma os pressupostos do método histórico-crítico – e Mystici Corporis Christi – que aceita a dimensão mistérico-invisível da Igreja, entendida agora não só como societas perfecta, mas também como Corpo Místico de Cristo? O que diríamos então de um documento do Santo Ofício de 1949 condenando os rigoristas do extra Ecclesia nulla salus da St. Benedict’s Center e do Boston College?

Um outro, e último, exemplo que posso dar dessa minha avaliação é a própria presença de um concílio no meio do século XX. Para muitos que analisam o processo histórico da Igreja naquele século, o Vaticano II é tomado como uma fissura, uma ruptura que marca um “antes e um depois” da vida da Igreja. Sim, tomado como um evento crucial de sua vida, como um momento extraordinário da história do cristianismo e como um ponto de inflexão de todos os movimentos que surgiram desde o século XIX, é um momento histórico e marcante. Contudo, a ideia de que ele teria transformado a Igreja e que, a partir dele ela teria tomado outro caminho em relação à história pregressa, não se mostrou tão evidente.

Depois de quase 50 anos de seu início, nota-se – e aqui me utilizo do próprio Congar em uma de suas falas no pós-concílio e de Émile Poulat [8], um dos maiores historiadores da Igreja do século XX – que o Vaticano II não colocou em causa nem modificou substancialmente o modelo que prevalecia anteriormente, ou seja, aquele baseado nos seguintes pilares: 1) negação de uma autonomia do homem que prescinda de Deus; 2) incentivo à modernização da atuação dos católicos no meio social, contanto que não coloque em questão a busca da “cidade cristã”; 3) negação e condenação do modernismo como assimilação sub-reptícia das autonomias políticas, sociais e culturais da modernidade.

A Igreja Católica encontrou o seu papel no século XXI?
Pergunta difícil. Acho que poderia responder essa pergunta com outra: A Igreja Católica encontrou o seu papel no século XX? Penso que seja essa a pergunta que deva ser respondida.

O jornal La Republicca produziu uma reportagem em que fala sobre o medo provocado pelo Vaticano II. Na chamada eles apresentam uma questão que replicamos para você: Quem ainda tem medo do Concílio?
Disse uma vez que o Vaticano II é aquele “obscuro objeto de desejo”. O que me parece é que cada um tem o concílio que deseja ter. Dependendo de sua posição social e religiosa você pode fazer o concílio falar o que deseja, e isso acontece, também, pelo "compromisso do pluralismo contraditório", que marcou os documentos finais do concílio. Assim, a grande questão atual referente ao concílio caminha no campo de sua hermenêutica. Compreender é também compreender-se diante de algo.

Dessa forma, gosto da perspectiva de Gadamer [9], que nos fala sobre a história efeitual. Para falar sobre o Vaticano II – tanto como qualquer outro evento – devemos estar cientes de que sofremos os efeitos das próprias compreensões sobre o concílio que foram sendo construídas desde a sua realização. Assim, “compreender um fenômeno histórico a partir da distância histórica que determina nossa situação hermenêutica como um todo, encontramo-nos sempre sob os efeitos dessa história efeitual”, dizia. Não sei como responder, a quem apontar como portador desse medo, já que deveria que saber a qual concílio esse medo teria como objeto.

Os mesmos intelectuais que sugerem um terceiro concílio e membros de dentro da própria Igreja criticam duramente Bento XVI. O que há de errado com este papa? Por que ele foi eleito se é tão contestado?
Acredito que uma das marcas desses anos de pontificado de Bento XVI foi a de tentar um certo reequilíbrio de forças. De fato, sempre houve exageros de parte a parte, ou cedendo demais ao “espírito da época”, colocando praticamente a Igreja de joelhos para o mundo, como afirmou Jacques Maritain num livro pós-conciliar, Le paysan de la Garone, perpassados por um otimismo frente às realidades imanentes, arriscando-se, de certa maneira, em perder referências seculares da tradição cristã; ou vendo na modernidade apenas perdição e anticristianismo, arriscando-se a cair numa paralisia devido a um pessimismo que a tudo contamina.

O discurso aos Cardeais no Natal de 2005 é, a meu ver, o momento em que Bento XVI deixa claro esse posicionamento, criticando as hermenêuticas de ruptura (descontínuas), visando, claramente, à manutenção e à conservação de uma herança que entende estar constantemente ameaçada pelos ventos pós-modernos e por radicalismos interpretativos dos documentos do Vaticano II. Os debates em torno desta questão apenas estão começando e a complexidade da discussão deve-nos levar a uma abordagem sempre cuidadosa e prudente entre as continuidades e descontinuidades na história da Igreja contemporânea trazidas à tona pelo evento conciliar.

_______________
Notas:
[1] Plínio Corrêa de Oliveira foi um ativista católico, fundador da organização Tradição, Família e Propriedade (TFP), de inspiração católico-tradicionalista.
[2] D. Geraldo de Proença Sigaud foi um religioso verbita, bispo católico. Arcebispo Emérito da Arquidiocese de Diamantina, em Minas Gerais.
[3] D. Antônio de Castro Mayer foi um bispo católico. Conhecido por ser o único bispo diocesano a não implantar o Novus Ordo Missae após sua promulgação e pelo seu rigor na ortodoxia e ortopráxis.
[4] Barbara Herrnstein Smith é crítico-literária estadunidense. É conhecida por seu trabalho Crença e Resistência – A Dinâmica da Controvérsia.
[5] Jacques Maritain foi um filósofo francês de orientação católica (tomista). As obras deste filósofo influenciaram a ideologia da Democracia cristã.
[6] Yves Congar foi um teólogo dominicano francês.
[7] Pe. Henrique de Lima Vaz foi um padre jesuíta, professor, filósofo e humanista. Nos anos 1960 tornou-se mentor da Juventude Universitária Católica – JUC e da Ação Popular, na sua primeira fase. Trabalhou no magistério filosófico universitário durante quase 50 anos. Vinculado fundamentalmente à metafísica clássica, possuía um vivo interesse pelo pensamento moderno e seus principais representantes, deixando-se seriamente questionar pela Modernidade. Grande destaque deve ser dado, também, ao seu profundo conhecimento da obra de F. Hegel.
[8] Émile Poulat é um historiador e sociólogo francês. Diretor de estudos da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris. É também diretor de pesquisa no Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França e historiador da Igreja Católica contemporânea. É um dos fundadores da sociologia da religião.
[9] Hans-Georg Gadamer foi um filósofo alemão considerado como um dos maiores expoentes da hermenêutica filosófica. Sua obra de maior impacto foi Verdade e método, de 1960.

domingo, 27 de março de 2011

Encontros


Passando pela região da Samaria, onde habitavam os samaritanos, Jesus para à beira de um poço. Era meio-dia, o Senhor estava cansado e sedento. Imagino que este poço estivesse em meio a um local árido e fosse frequentado pelas mulheres que ali acorriam a buscar água. É ali que Jesus se encontra com a samaritana em um episódio marcado por espantos e revelações.

Um primeiro espanto é a conversa entre um judeu e um samaritano, inimigos históricos. O segundo, um homem conversando com uma mulher – ou, no espanto dos apóstolos relatados pelo evangelista, o Mestre conversando com uma mulher. Um terceiro, o espanto da mulher ao ver aquele estranho a revelar sua vida. O que todos esses "espantos" têm a nos dizer?

Poderíamos começar pensando que com sua aproximação à samaritana, Jesus rompe as barreiras das contradições religiosas e políticas, reunindo todos em uma única humanidade.

Por outro lado, mulheres faziam parte do grupo que acompanhava Jesus. Basta, porém, pensarmos na personalidade acolhedora de Jesus e não é impossível ser comum encontrá-Lo a conversar com mulheres. Assim, possivelmente o espanto dos apóstolos talvez residisse mais no vê-lo a conversar com uma samaritana, que com uma mulher – portanto, uma questão mais política que de gênero. Mas, e a mulher? Certamente, teria se espantado com a aproximação de um homem judeu. Mais, um homem a quem nunca tinha visto e que fala sobre as coisas de sua vida. O espanto que aqui toca o encantamento é o que vai provocar a Revelação do Pai junto àquela mulher: alguém que rompe as barreiras sociais vigentes e que conhece a vida do outro com clareza e sem julgamentos só poderia ser o Cristo, o Messias esperado.

Com a certeza de que havia encontrado o Salvador, a mulher corre à cidade para chamar seus compatriotas e ali, diz o Evangelho, muitos passaram a crer Nele. O espanto inicial deu lugar à certeza da Verdade eterna!

Que possamos ainda nos espantar com os encontros que nos levam à Verdade, e tal qual aquela mulher samaritana, possamos anunciá-La e estender a salvação a outros e outras que dela necessitam.


Texto para sua oração: João 4, 5-42

- Gilda Carvalho
Reproduzido via Amai-vos. Grifos nossos.

Beijar a alegria em pleno vôo


A vida é infinita e maravilhosamente variada, e só há uma atitude fundamental que nos permite desfrutar de tudo isso ao máximo — o desapego. Mas isso é tão difícil de acreditar e praticar porque sentimos primeiramente como se estivéssemos perdendo uma coisa que amamos muito e também o tempo para desfrutá-la de forma permanente.

O problema está na ilusão de permanência. Primeiro, imaginamos que o que desejamos é permanente. Aí  cometemos um grande erro, ao querermos possuir permanentemente o  impermanente - o que nos aliena da realidade do que desejamos, substituindo a coisa desejada por uma imagem de sonho, que faz com que  aumentem os níveis de sofrimento, até que finalmente tudo se dissolva como a nuvem de vapor que realmente é. Sentimos então que perdemos o que queríamos. Choramos e lamentamos, embora tenhamos perdido apenas uma imagem que víamos como tendo permanência, quando nada no universo o tem. "Aqui não temos nenhuma cidade permanente", diz São Paulo.

A perda é em si uma espécie de ilusão - dolorosa, porque a ilusão certamente tem o poder de causar dor.  É difícil se acreditar na natureza ilusória, mesmo da perda . No entanto, diante dos fatos, fica evidente que o que estamos perdendo é o nosso apego a algo ou alguém. E não a coisa ou  a pessoa em si. Isso pode ser sentido como arrancar algo pela raiz, de forma cruel e violenta. Recuperar-se da perda — sempre uma espécie de morte — leva tempo e pode até ocupar grande espaço na nossa vida, até que a verdade óbvia finalmente desponte como um insight da realidade. Durante esses dias de afastamento estamos nos preparando para os três dias da Páscoa, durante a qual temos a oportunidade de compreender a real natureza da morte.

Confundir desapego com perda é a razão pela qual tememos a morte e repetimos os mesmos padrões  de erros em nossa vida. Tentar possuir o frescor e a beleza do momento presente é como tentar dar vida à uma estátua ou imagem. Como disse William Blake, temos que aprender a 
beijar a alegria em pleno vôo / viver no amanhecer da eternidade. Os quarenta dias da Quaresma são dedicados à compreensão disso em nossa experiência diária.

- Laurence Freeman OSB
Publicado originalmente no site da Comunidade Mundial de Meditação Cristã no Brasil. Grifos nossos.
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