quinta-feira, 2 de maio de 2013

O teu nome é Evangelho, Aleluia!



No centro da primeira leitura encontramos uma palavra que aquece sempre o coração: «Evangelho» (At 14,21). A experiência difícil que os apóstolos são obrigados a viver, e que leva Paulo até ser acreditado «morto» (14,19), não faz senão confirmar sua essência profunda. O núcleo do evangelho pode ser resumido na evocação da grande luta que devia ser sustentada, no interno da primeira comunidade dos fiéis, para poder acolher plenamente, e não simplesmente suportar, a ideia que a «porta da fé» (14,27) estava aberta para todos... mesmo aos «pagãos»! Talvez não consigamos imaginar facilmente o porquê de tantas fadigas para aceitar que pudessem ser admitidos, na comunidade, pessoas não provenientes do mundo hebraico, por mais complexo, composto e diversificado que ele fosse, em si mesmo. Na realidade, era muito difícil compartilhar um caminho de fé com pessoas que não tinham a mesma bagagem espiritual, um comum denominador, nutrido e formado na escola das Escrituras, com a mediação de uma língua, que era considerada sacra, de alguns costumes relacionais, e até mesmo alimentares, completamente desconhecidos e, para muitos, inaceitáveis.

Mesmo assim, o Evangelho foi capaz, não somente de superar estas dificuldades, mas de criar uma nova mentalidade compartilhada, mesmo que nem sempre coincidente. A releitura anual dos Atos dos Apóstolos no tempo pascal pode – talvez, deva – ser, para nós, a ocasião para verificar o nível de compatibilidade do nosso modo de sentir-nos, muitas vezes, assediados e, ainda assim, embaraçados, pelo necessário contato que devemos ter com os «pagãos» do nosso tempo. Se, no passado, isto se referia mais profundamente à esfera da crença e da prática religiosa, hoje, talvez, toca mais fortemente aspectos menos religiosos e mais antropológicos, ligados não a uma diversidade cultual, mas a uma fragmentação existencial e a escolhas de vida e de comportamento, que diversificam notavelmente a sensibilidade e a vida. A pergunta se faz sempre mais urgente, e talvez ainda mais obrigatória: «Como abrir a porta da fé aos novos pagãos, sem impor-lhes pesos inúteis, que arriscam ser incompreensíveis e, muitas vezes, até revoltantes, como poderia ser a circuncisão para um grego ou o comer carne de porco para um hebreu?

A pergunta é tanto grave como difícil de responder de modo claro, preciso e definitivo! Mesmo assim, não podemos, de nenhum modo, subtrair-nos desta responsabilidade, porque se é verdade que «devemos entrar no Reino de Deus através de muitas tribulações» (14,22), é também verdade que devemos continuamente alçar a «vela» (14,26) para não ficar fechadinhos em nossos portos. Diante deste desafio, o Senhor Jesus parece nos dizer, em primeiro lugar: «Não se perturbe o vosso coração e não tenhais medo» (Jo 14,27). Todavia nos recorda que somos chamados a conformar-nos, em tudo, ao modo no qual o Senhor manifestou ao mundo o seu amor pelo Pai, um modo que o tornou capaz de amar como o Pai. Agora, toca a nós ser evangelho para os nossos irmãos... mesmo aqueles que nos parecem assim tão «pagãos».

Semeraro, M., Messa Quotidiana, Bologna, aprile 2013, 304-306.

Ruberval Monteiro da Silva OSB
rubervale@gmail.com
livroquadrado.blogspot.com
livroquasequadrado.blogspot.com

Excomunhão do Padre Beto - Outras Opiniões - Segunda Parte



"Não acho que o padre tenha tomado atitude adequada. Não quer dizer que gays sejam também excomungados. Não há argumento na orientação sexual para isso. Mas pelo que o então presbítero fez... o seu bispo entendeu que não tinha jeito. Não defendo ao dizer isso que defendo a atitude da Diocese de Bauru. 
Fazemos parte de um corpo místico que pensa diferente, fala diferente, ama de formas diferentes também. Agora, a parábola é clara e calha aqui: somos ovelhas, cuidadas por um pastor. Cada pastor (bispo) conduz seu rebanho de uma maneira própria, mas unido à igreja universal sob o prisma da graça, da fé, do dogma, da teologia, eclesiologia atuais e... tradição também.
Há dioceses bastante gay friendly, outras muito pelo contrário. Não conheço a linha do bispo de Bauru, mas o tiro no pé que o então padre se deu foi exigir que seu bispo se posicionasse. E assim o fez. Não pela matéria debatida, mas pela desobediência do presbítero. Há tantos e tantos outros, como o padre James Elison que atuam claramente por uma igreja acolhedora como Jesus nos ensinou e o Evangelho nos revela. Mas observemos a forma como se dá: foco no amor."

"O Padre Beto me parece ser uma pessoa bem razoável e neste caso uma vítima de homofobia. Eu não acho que ele falou nada demais, concordo que fidelidade é sinônimo de transparência. Ainda que ele como presbítero não pudesse ter dito isso certamente não era motivo para excomunhão assim ipso facto até porque como ele mesmo disse muitos padres pedófilos não foram excomungados. A excomunhão não pode ser usada como uma arma contra a população LGBT nem contra os presbíteros que a defendem. Seremos todos excomungados?"

"A abordagem lamentavelmente sensacionalista que já está virando padrao do Globo, o jeito q o Globo o apresenta, e inclusive com a foto publicada, achei que esse padre (que nao conheço) fica parecendo meio oportunista e meio insano. Na nota do IG, ele parece mais razoável. entre um e outro... vai saber. Esse processo de excomunhao eh longo, tem q ser autorizado pelo Vaticano.... Nao eh assim, o bispo nao vai com a sua cara e tchan, te excomunga. Não é assim que isso funciona?" (Infelizmente neste caso não foi.)

"Particularmente eu não acredito que tenha sido SÓ por esse motivo. Eu diria que tem muito mais caroço nesse angu que não foi divulgado por razões óbvias."

Foto: Hugo Nogueira

Excomunhão do Padre Beto - Outras opiniões



Quando uma postagem aparece sob a chancela "Equipe Diversidade Católica" não significa que todos os membros do grupo a subscrevem. Dentro do mesmo também há diversidade. As postagens "Equipe Diversidade Católica" são especiais porque fornecem as informações mais seguras e que servem de norte para todos os membros do grupo. No caso da excomunhão do Padre Beto resolvemos publicar opiniões de diferentes membros e todos estão convidados a enviar as suas opiniões para a nossa página no Facebook.

"Essa coisa de excomunhão é muito Idade Média e taí Galileu pra provar. O caso é assim: tem uma galera clerical querendo dialogar sobre um tema tenso e uma outra galera igualmente clerical dizendo que a igreja não dialoga. Mas a questão maior é que algumas opiniões se apropriam da chancela da igreja, dominam o carimbo de Jesus e acabou-se; só eles são igreja, como se eu ou você não tivéssemos direito a esse selo.
Mas afinal, eu e você não somos igreja?
Como assim, a igreja o excomunga? O que esse padre manifesta está em comunhão comigo e com muitos outros que também são igreja!
Se ele está fora da comunhão com igreja, deve ser daquele filão de vozes imperiosas que tratam a religião como um bem quase que declarável no imposto de renda.
Essas vozes superiores sim não estão em comunhão comigo, elas não me representam. Esse padre sim. Ele está em comunhão comigo.
E o pior é que essas vozes superiores se dizem representantes de Deus e Jesus.
Então, deixa eu entender: o que espiritualmente e teoricamente estaria acontecendo agora é o seguinte...
O Padre em questão disse que Deus ama os gays e que o AMOR pode surgir entre pessoas gays. E então aí alguém disse que Jesus mandou dizer para esse padre que ele não pode dizer o que que está falando e agora ele tá fora da igreja.
Uhum... entendo.
Cara, Jesus, pondo alguém para fora da igreja. Tenso... sempre pensei que ele fosse diferente.
E se Jesus se diz o cara, o amor, o acolhedor, o que janta e confraterniza com prostitutas e cobradores de impostos, o que escolhe os piores por seus discípulos, o que se faz manso e humilde de coração, o que cura sem distinção, o que serve e não exige que seja servido...
...enfim, se Ele é quem manda dizer que esse padre tá excomungado...
na boa, Ele é um belo de um mentiroso.
E então, eu começo a ver a excomunhão como um bom sinal!
Eu não quero fazer parte também dessa igreja de mentira. Me mandem para fora também. Quero ser excomungado porque essa coisa de excomunhão é o que há.
Vamos chamar esse padre pra vir no próximo evento do Diversidade Católica!"

Excomunhão do Padre Beto



Queridos,

Pelo que vimos das notícias, e do vídeo do padre Beto, ele defendeu algo que um presbítero não pode defender publicamente: a prática bissexual em um casamento heterossexual. Esta excomunhão está ligada a desentendimentos com o conselho presbiteral da diocese, além do conflito com o bispo. Do ponto de vista do direito eclesiástico, ela é exagerada e pode ser anulada, mas não parece que o padre Beto vá recorrer da decisão junto a um tribunal eclesiástico. 

Enfim, é claro que a hierarquia é conservadora. Mas a estratégia jamais deve ser de cutucar a onça com vara curta, ou de chutar o pau da barraca. Isto é tudo que os reacionários querem: ver as cabeças de seus inimigos rolarem. 

O caminho eficaz da mudança tem que conjugar indignação com prudência, coragem com paciência, paixão com senso de oportunidade, oração e ação.

Não desanimemos! Beijos afetuosos,

Equipe Diversidade Católica

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