quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Santo Agostinho



Dos Livros das Confissões, de Santo Agostinho, bispo
 (Lib. 7,10.18;10,27: CSEL 33,157-163.255)
 (Séc.V)
 Ó eterna verdade e verdadeira caridade e cara eternidade!
Instigado a voltar a mim mesmo, entrei em meu íntimo, sob tua guia e o consegui, porque tu te fizeste meu auxílio (cf. Sl 29,11). Entrei e com certo olhar da alma, acima do olhar comum da alma, acima de minha mente, vi a luz imutável. Não era como a luz terrena e evidente para todo ser humano. Diria muito pouco se afirmasse que era apenas uma luz muito, muito mais brilhante do que a comum, ou tão intensa que penetrava todas as coisas. Não era assim, mas outra coisa, inteiramente diferente de tudo isto. Também não estava acima de minha mente como óleo sobre a água nem como o céu sobre a terra, mas mais alta, porque ela me fez, e eu, mais baixo, porque feito por ela. Quem conhece a verdade, conhece esta luz.
  Ó eterna verdade e verdadeira caridade e cara eternidade! Tu és o meu Deus, por ti suspiro dia e noite. Desde que te conheci, tu me elevaste para ver que quem eu via, era, e eu, que via, ainda não era. E reverberaste sobre a mesquinhez de minha pessoa, irradiando sobre mim com toda a força. E eu tremia de amor e de horror. Vi-me longe de ti, no país da dessemelhança, como que ouvindo tua voz lá do alto: “Eu sou o alimento dos grandes. Cresce e me comerás. Não me mudarás em ti como o alimento de teu corpo, mas tu te mudarás em mim”.
 E eu procurava o meio de obter forças, para tornar-me idôneo a te degustar e não o encontrava até que abracei o mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus (1Tm 2,5), que éDeus acima de tudo, bendito pelos séculos (Rm 9,5). Ele me chamava e dizia: Eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6). E o alimento que eu não era capaz de tomar se uniu à minha carne, pois o Verbo se fez carne (Jo 1,14), para dar à nossa infância o leite de tua sabedoria, pela qual tudo criaste.
 Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas dentro e eu, fora. E aí te procurava e lançava-me nada belo ante a beleza que tu criaste. Estavas comigo e eu não contigo. Seguravam-me longe de ti as coisas que não existiriam, se não existissem em ti. Chamaste, clamaste e rompeste minha surdez, brilhaste, resplandeceste e afugentaste minha cegueira. Exalaste perfume e respirei. Agora anelo por ti. Provei-te, e tenho fome e sede. Tocaste-me e ardi por tua paz.
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Oração
 Renovai, ó Deus, na vossa Igreja aquele espírito com o qual cumulastes o bispo Santo Agostinho para que, repletos do mesmo espírito, só de vós tenhamos sede, fonte da verdadeira sabedoria, e só a vós busquemos, autor do amor eterno. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vossoFilho, na unidade do Espírito Santo.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Uma Religião Humana


Nenhum entusiasmo é suficiente para recomendar a exposição "A Herança do Sagrado: Obras-primas do Vaticano e de Museus Italianos" que está no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro até o dia 13 de outubro, parte dos eventos da Jornada Mundial da Juventude.

Do ponto de vista estético todas as obras são de valor inestimável, destacamos o São Sebastião de Guido Reni, fonte de inspiração de tantos artistas, capaz de sozinho justificar a visita.

Para quem é católico é difícil desvencilhar a perspectiva estética da devoção que as imagens suscitam, ou ainda, verificar as evidências do Jesus Histórico e dos seus apóstolos. Aliás, um dos sentimentos que a exposição desperta é justamente o de que a religião católica é extremamente humana, sua base é o homem, o homem no mundo, situado historicamente e espacialmente no mundo que vivemos.

O primeiro módulo da exposição dedicada a Jesus Cristo é especialmente tocante, desde as primeiras imagens, a emoção de constatar que Deus foi capaz de enviar seu próprio filho, de se fazer carne através de Jesus, tão humano quanto divino, Jesus homem aqui na terra, mensageiro de Deus, vindo para salvar todos os homens. Prova maior do amor de Deus.

Parábolas marcantes da Bíblia também aparecem em quadros magníficos como "A volta do filho pródigo", "O bom samaritano" e "Jesus com a adúltera", este é particularmente relevante para todos aqueles que de alguma forma são perseguidos, Jesus a protege, Jesus nos protege. Nesta parte também encontramos um crucifixo de Bernini, um dos artistas mais importantes do Renascimento.

O segundo módulo da exposição é dedicado aos apóstolos com um destaque especial a São Pedro. A presença de dois mosaicos com o seu colorido e vivacidade trazendo para os dias de hoje com toda a força imagens tão antigas dos apóstolos é radiante, essas imagens tão antigas também nos mostram que eles eram homens, homens como nós, que foram chamados por Jesus para acompanhá-lo.

Depois temos o módulo dedicado a Virgem Maria, a mãe de Jesus e nossa mãe, também ela uma mulher, não uma mulher como as outras, mas uma mulher, uma mãe que sofreu a perda do seu filho, que o criou, o acompanhou durante toda a sua vida para depois encontrá-lo no céu. Para os brasileiros, a imagem de Nossa Senhora Aparecida é especial, principalmente porque na representação que temos dela, o seu colorido foi apagado pelas águas do rio, mas no quadro, o colorido está lá e podemos conhecer, reconhecer sua aparência de uma forma diferente. Também é nesta seção que temos a única obra de autoria de uma mulher, a pintora Artemísia Gentileschi.

Finalmente temos a seção dedicada aos santos. Lembrando o que já foi dito em uma homilia na Igreja Santa Cruz de Copacabana: "Os santos são os pecadores de quem Deus teve misericórdia." Aqui também nos deparamos com a extrema humanidade da nossa religião, esses homens e mulheres com suas histórias de vida, histórias que poderiam ser as nossas histórias, que refletem as nossas histórias e nas quais buscamos inspiração para nossas vidas, pelo encontro com Deus que elas revelam.

Comentário: Hugo Nogueira

Imagem: São Sebastião - Guido Reni


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