domingo, 23 de outubro de 2011

O Amor!

Foto daqui

“Depende da nossa fidelidade a Cristo para que o Amor seja essencial, não somente na nossa relação com Deus, mas especialmente nas nossas relações com os outros; caso contrário, o próprio amor de Deus é impossível.”

A reflexão é de Raymond Gravel, sacerdote do Quebec, Canadá, publicada no sítio Culture et Foi, comentando as leituras deste domingo, 30º Domingo do Tempo Comum – Ano A (23 de outubro). A tradução é do Cepat, aqui reproduzida via IHU, com grifos nossos.

Eis o texto.


Referências Bíblicas:
Primeira leitura: Ex 22, 20-26
Evangelho: Mt 22, 34-40.

Depois de uma controvérsia inicial com os fariseus sobre o imposto cobrado pelo Imperador, do último domingo, aqui está uma outra controvérsia com um dos fariseus, um legista, sobre o maior mandamento da Lei, não um mandamento qualquer entre os 613 – 248 prescrições e 365 proibições –, mas qual seria o mais importante de todos, um mandamento que resume todos os outros. Não há 36 mandamentos, responde Jesus ao legista; há apenas um, o do Amor, mas que tem dois destinatários: Deus e o próximo. Não um sem o outro, mas os dois juntos... O que isso dizer?

1. O Amor: uma fonte e dois rios. O teólogo francês Patrick Jacquemont escreveu: "A Palavra de Deus toma todo o seu sentido: Amarás o Senhor teu Deus... Amarás o teu próximo. O segundo mandamento é semelhante ao primeiro, mas não há apenas um amor. Há uma única fonte, mas dois rios diferentes". Pelo fato de nos sabermos amados por Deus é que podemos amá-lo... mas não podemos amá-lo senão amando o outro, os outros. É próprio do amor que amemos. Não é motivo de escárnio o fato de que São João, em sua primeira carta, tenha dito: “Se alguém diz: ‘Eu amo a Deus’, e no entanto odeia seu irmão, esse tal é um mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê” (1 Jo 4, 20). Basicamente, o que João está dizendo é que amar a Deus é participar do seu amor, amando os outros. Portanto, amando os outros, amamos a Deus.

Quando perguntado pelo doutor da lei: “Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?” (Mt 22, 36), isto é, o mandamento sob o qual poderíamos reunir todos os outros? Jesus, que é ele próprio o princípio da unidade, dá a resposta. Ele reúne as duas partes da Lei, os mandamentos que dizem respeito ao amor a Deus e aqueles que dizem respeito ao amor ao próximo; ele reúne e unifica sua expressão, que ele formula em termos idênticos, recolhidos das Escrituras: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” (Dt 6, 5), e “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19, 18b). É um amor sem restrição, que envolve a pessoa inteira, coração, alma, espírito.

2. O amor cristão: dois princípios de unidade. Ao unificar o amor a Deus e ao próximo, o Cristo do Evangelho nos dá dois princípios de unidade:

1) A parábola do Juízo Final (Mt 25, 31-46). O Cristo se identifica com o próximo: “Todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram” (Mt 25, 40). E mais do que isso: ele se identifica com seus irmãos, com os cristãos que são pobres, despossuídos, marginalizados, porque suas situações de pobreza oferecem oportunidades para outros, para os não-cristãos encontrarem Cristo e reconhecê-lo.

Já no Antigo Testamento, o Deus da Aliança tinha uma queda pelos pobres. No trecho do livro do Êxodo de hoje, os pobres são o imigrante, em hebraico ger, isto é, o estrangeiro residente, este grupo de pessoas que tinha um status social intermediário entre os cidadãos israelenses e os escravos. Estas pessoas não podiam ter terras; apenas oferecer seu serviço aos outros. Eles eram, portanto, economicamente desfavorecidos: "Não explore o imigrante nem o oprimido, porque vocês foram imigrantes no Egito" (Ex 22, 20). A viúva e o órfão são outra classe de desfavorecidos na sociedade judaica da época; sem recursos, eles viviam muitas vezes na miséria: "Não maltrate a viúva nem o órfão" (Ex 22, 21). E o que fazer para não explorar os pobres? Emprestar-lhes dinheiro sem juros e dar-lhes sua dignidade: "Se você tomar como penhor o manto do seu próximo, deverá devolvê-lo antes do pôr do sol" (Ex 22, 25).

2) "Sigam-me" (Mt 4, 19). A lei do amor de Cristo não pode ser reduzida a um código ou a um registro; é o próprio Jesus que é a nossa lei, uma lei viva, uma pessoa com quem nós estamos em comunhão, cujo Espírito nos habita e cujo corpo nós somos. O que São Paulo traduz da seguinte maneira: "Sejam meus imitadores, como também eu o sou de Cristo" (1 Cor 11, 1). Como cristãos, nós somos cristos vivos, e é por esta razão que devemos amar como ele amou.

Então, se eu atualizo a Palavra de hoje, as leis, os preceitos da religião não podem ser aplicados senão em relação à Lei do Amor proposta por Cristo no Evangelho. Depende da nossa fidelidade a Cristo para que o Amor seja essencial, não somente na nossa relação com Deus, mas especialmente nas nossas relações com os outros; caso contrário, o próprio amor de Deus é impossível. E o próximo não é apenas aqueles que pensam como nós e que nos são próximos; é também e sobretudo aqueles que são diferentes de nós e às vezes mesmo difíceis de amar.

Concluindo, gostaria apenas de compartilhar esta pequena reflexão do francês Éric Julien: “Por que é tão difícil amar a Deus? Porque significa amar o próximo. E por que é tão difícil amar o próximo? Porque é preciso amá-lo como a si mesmo, e bem poucos sabem se amar no seu justo valor. E como se amar a si mesmo? Tentando olhar como Cristo nos vê. Com infinito respeito, ternura e... paciência”.

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