sábado, 14 de maio de 2011

Os gays entram nas igrejas


Os gays entram nas igrejas. Grupos de fiéis homossexuais irão se reunir neste ano em uma série de paróquias italianas para as vigílias de oração em memória das vítimas da homofobia. Com a permissão dos bispos e/ou por decisão autônoma dos párocos. Da Lombardia à Sicília. Ainda são pequenos passos – as paróquias que abrirão suas portas serão mais ou menos oito entre os dias 12 e 29 de maio –, mas as reviravoltas sempre começam gradualmente.

A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 12-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto, aqui reproduzida via IHU com grifos nossos.

Popoli, a revista online dos jesuítas, colocou a iniciativa na sua primeira página. Luteranos, valdenses, batistas, metodistas irão abrir seus templos em outras localidades.

Na Itália, a Igreja Católica também se dá conta de que não é mais possível demonizar os fiéis pela sua orientação sexual. Claro, continua invariável a condenação vaticana às relações homossexuais, mas muda a cabeça dos católicos do dia a dia. Innocenzo Portillo, envolvido no site Gionata, em Florença, lembra que um dia, durante o encontro em uma paróquia, a responsável pela catequese lhe disse: "Antes de falar com vocês, eu acreditava que os gays eram aqueles que andavam por aí travestidos. Entendi tudo errado, venham mais vezes".

Nada de lantejoulas, nada de carnavais brasileiros, nada de cage aux folles caricaturais. Está chegando uma nova e muito jovem geração de gays que se sentem totalmente normais e querem poder viver suas vidas como crentes sem barreiras*. No ano passado, eles se encontraram em Albano, entre os dias 26 e 28 de março, para o primeiro fórum italiano dos cristãos homossexuais. Merece destaque: em uma estrutura religiosa, um centro de retiros dos padres Somaschi.

Este ano, rezarão em Milão, com a autorização da diocese, na igreja de San Gabriele, em Mater Dei. Em Florença, na paróquia da Madonna della Tosse. Em Bolonha, na igreja de São Bartolomeo della Beverara. Em Gênova, na igreja de São João Bosco. Em Pádua, conseguiram se reunir na igreja reservada aos universitários, Santa Catarina de Alexandria. Portillo conta que, na igrejinha de Dosimo, diocese de Cremona, no ano passado, quem presidiu a oração foi o bispo Dante Lanfranconi. Finalmente, em Catânia, está a paróquia da Boa Morte, que há muitos anos acolhe um grupo de católicos homossexuais.

São grupos que têm nomes poéticos. Elpis (esperança), Querce di Mamre (carvalhos de Mamre), Ali d'Aquila (Asas de Águia). Tenazes em abrir caminho. Em Palermo, entraram em acordo com o pároco de Santa Lúcia para manter a vigília na igreja. O cardeal Romeo disse que não. Mas chegaram tantos e-mails de protesto na diocese e na paróquia que o cardeal, por fim, decidiu se encontrar com os jovens do Ali d'Aquila. O veto continua, "mas foi a primeira vez que pudemos contar as nossas vidas", diz Fabio. Cinzia também faz parte do grupo, feliz, porque "finalmente somos olhados nos olhos", amargurada "porque não se dão conta da dor que nos infligem."

Cardeal e gays irão se ver novamente. A iniciativa das vigílias de oração foi estimulada por um comentário ácido de Michele Serra, que se perguntou por que a comunidade gay está tão determinada a "pedir asilo em uma comunidade (a Igreja Católica) que considera a homossexualidade não só uma culpa, mas também uma doença".

A resposta é simples. Porque não se trata de um lobby externo que quer forçar o ingresso no templo, mas de pessoas de fé que querem ser reconhecidas na sua casa de oração. Porque Giulia, uma lésbica de Florença, não quer estar em uma reunião paroquial e ouvir o padre dizer: "Chega desses homens efeminados e dessas mulheres masculinizadas".**

O catolicismo cotidiano está mudando. Vários expoentes eclesiásticos podem dizer com o cardeal Martini: "Entre os meus conhecidos, há casais homossexuais, homens muito estimados e sociais. Jamais me foi pedido nem pensaria em condená-los".

Nos dias da Páscoa, o jornal dos bispos italianos, Avvenire, dedicou o fascículo do seu periódico Noi Genitori à questão dos filhos homossexuais. A linha oficial do magistério ratzingeriano permanece, mas o artigo envia uma mensagem específica: "É importante pôr-se à escuta, entender, acolher". E se os pais desorientados querem se dirigir a um especialista, devem saber que o objetivo deve ser um: "Permitir que o jovem viva melhor, que readquira a serenidade. O que, às vezes, coincide com a mudança e o retorno a uma orientação heterossexual; outras vezes, com a aceitação da sua própria condição".

Algumas centenas de milhares de leitores católicos puderam ler que "o recurso ao psicólogo jamais deve ser entendido como um tratamento, como um instrumento para chegar a uma improvável cura". Pois a "homossexualidade não é uma doença". Dez anos atrás, um artigo semelhante seria impensável. Outros textos do fascículo colocam em primeiro plano o "amor entre homem e mulher... o matrimônio, os filhos". Mas surge o conselho de não demonizar. "Não repreenda o seu filho: ele não tem nenhuma culpa ou responsabilidade pela atração que sente". É uma rachadura na velha doutrina da abominação sodomita.

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* Mas há que acolher também as lantejoulas, os carnavais e os cage aux folles, por que não? Trata-se do exercício da aceitação e do respeito ao outro, por maiores que sejam as diferenças.
** De novo a suposta "normalidade": "Não, ele não é afeminado; não, ela não é masculinizada"... e se forem? Como é difícil ainda, mesmo onde se vê um começo de abertura, uma disposição para a tolerância, escapar às (hetero)normatividades... [suspiro]

Arnaldo Jabor e a essência do machão parado no tempo


O que vale a pena guardar em formol...

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Mudanças


As coisas mudam no devagar depressa dos tempos.

- Guimarães Rosa

Obedecer a Deus antes que aos homens


Quinta-feira passada, dia da aprovação por unanimidade da união estável entre gays pelo STF, nosso amigo Teleny publicou, em seu blog Retorno (G-A-Y), um oportuno comentário sobre a consciência individual e sua relação com as orientações do Magistério da Igreja - assunto amplamente abordado aqui, mas que nunca é demais trazer à pauta para discussão.

Em tempos do duro posicionamento oficial da CNBB contra a aprovação da união estável gay, é bom lembrar do primado da consciência apregoado pelo Vaticano II e questionar a leitura das escrituras feita pelo Magistério para justificar seu atual posicionamento com relação à homossexualidade.

Eis o texto:

A leitura dos Atos dos Apóstolos de hoje [5-5-2011] (5, 27-33), não é apenas um relato do julgamento pelo qual passaram os Apóstolos, mas a revelação de um dos princípios mais importantes para a vida cristã: É preciso obedecer a Deus, antes que aos homens. (v. 29) A Sagrada Escritura apresenta vários princípios, gralmenta chamados de mandamentos ou preceitos que, quase sempre, são acompanhados por promessas divinas. Não é diferente neste caso. No final do texto, Pedro acrescenta: Deus concedeu [o Espírito Santo] àqueles que a Ele obedecem. (v. 32) É preciso compreender bem: isso não é o método "toma lá, dá cá", pois este pertence à terra. É a revelação da sábia e paciente bondade de Deus. Ele não só nos dá uma variedade de dons extraordinários, mas também explica (ensina), como é que devemos recebê-los. O dom do Espírito Santo não é um "pagamento" (ou uma recompensa) pela obediência. Antes, a obediência è a disposição certa para que a dádiva de Deus seja eficaz. É como sintonizar rádio para um sinal determinado. Entendemos isso melhor no contexto do Evangelho de hoje (Jo, 3, 31-36) [vale notar que, sempre, as leituras litúrgicas se complementam]: O que é da terra, pertence à terra e fala das coisas da terra. (v. 31) De fato, aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus, porque Deus lhe dá o espírito sem medida. (v. 34)

Fica aberta, para uma reflexão, a questão: o que significa, de fato, obedecer a Deus antes que aos homens. A resposta parece ser clara, mas não é! Na maioria das vezes, tomamos ciência da vontade de Deus, justamente, por meio dos homens. E quando falamos de "homens", devemos incluir a nós mesmos também, inclusive aquilo que sabemos por meio de nossa consciência. Quem garante que a minha própria voz interior (o bom senso, a consciência, a interpretação dos textos bíblicos, etc.), não tenha sido influenciada (ofuscada) pelas "coisas da terra" (cf. Jo, 3, 31)? Enfim, a questão é delicada, principalmente quando se trata de assuntos polêmicos, como, por exemplo, a homossexualidade. Vejamos um exemplo. O Catecismo da Igreja Católica, no conhecido parágrafo sobre a homossexualidade (2357-2359), entre outras coisas, diz: Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves* a Tradição sempre declarou que «os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados». A nota, no rodapé do texto, fornece as seguintes citações bíblicas: Cf. Gn 19, 1-29; Rm 1, 24-27; 1 Cor 6, 9-10; 1 Tm 1, 10.

O primeiro dos citados textos bíblicos (Gn 19, 1-29), conta a história de Sodoma. O problema consiste no fato de associar, ao longo de séculos, a homossexualidade ao pecado dos habitantes de Sodoma (e, consequentemente, ao castigo). Basta ler atentamente o próprio texto para saber que não foi bem assim! É o exemplo clássico de "anular a Palavra de Deus e apegar-se às tradições dos homens" (cf. Mc 7, 9) ou, com outras palavras, obedecer aos homens, antes que a Deus. É um caso clássico de iterpretação tendenciosa (leia-se: maliciosa, preconceituosa). Foi, justamente, a interpretação errônea da Palavra de Deus que levou a Igreja a tomar uma decisão lamentável sobre o destino de Giordano Bruno, ou de Galileu (e de tentos outros)...

Quanto ao texto de Romanos (Rm 1, 24-27), vou deixá-lo para outra ocasião (assim como todos os demais). Fica aqui, entretanto, como um despertar para reflexão, a parte essencial da frase de Paulo: Deus os entregou... (Rm 1, 26). Enfim, é preciso obedecer a Deus antes que aos homens, ainda que esses homens se apresentem como ministros ou delegados do próprio Deus...

quinta-feira, 12 de maio de 2011

O julgamento histórico, uma semana depois


Uniões homoafetivas a partir de agora são reconhecidas legalmente no Brasil. Casais do mesmo sexo já podem formalmente ser reconhecidos como uma família, com direitos iguais a qualquer casal brasileiro, como pensão alimentícia, herança, plano de saúde e adoção de filhos. Agora estes são direitos fundamentais reconhecidos, aprovados e constituídos. Isso foi conquistado a partir da decisão tomada, por unanimidade, pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. Ainda que Igreja e grupos conservadores tenham contestado a decisão, o STF põe fim à discriminação legal dos homossexuais no país.

A IHU On-Line entrevistou, por email, cinco pessoas, entre ativistas, pesquisadores e advogados, sobre a decisão dos ministros do Supremo. Aqui, elas apontam o significado e as implicações dessa decisão e os pontos nos quais o país ainda precisa avançar.

José Trasferetti, presbítero da arquidiocese de Campinas, é doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e doutor em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade Lateranense de Roma.

Maria Berenice Dias é desembargadora aposentada do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, advogada especializada em Direito Homoafetivo e vice-presidenta e fundadora do Instituto Brasileiro de Direito de Família.

Yone Lindgren é vice-presidenta lésbica da ABGLT e militante do Movimento Dellas, um dos principais grupos que atuam no Rio de Janeiro.

Luiz Mello de Almeida Neto, graduado em Ciências Sociais, é mestre e doutor em Sociologia, pela Universidade de Brasília – UnB. É professor no Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás e coordenador do Sert-Tão, Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero e Sexualidade.

André Musskopf, pesquisador na área de Teologias GLBT, Teoria Queer e Estudos de Gênero e Masculinidade. Graduado em Teologia, pela Escola Superior de Teologia – EST. É mestre em Teologia, também pela EST, onde, atualmente, é doutorando.

Confira a entrevista, aqui reproduzida com grifos nossos.

O que significa para o Brasil a decisão do Supremo Tribunal de Federal quanto à união homoafetiva?

José Trasferetti – Segundo os jornais, em julgamento histórico o Supremo Tribunal Federal decidiu que não há qualquer diferença entre as relações de homossexuais e heterossexuais. A maioria dos ministros considerou que casais gays possuem os mesmos direitos e deveres. Em termos práticos, esta decisão garante a casais gays uma segurança jurídica em relação à direitos de pensão, herança, compartilhamento de planos de saúde e outros. Esta decisão foi saudada por muitos como uma vitória dos homossexuais, afirmação do estado laico, manifestação do espírito democrático e do pensamento progressista. Isso significa a construção de uma sociedade mais tolerante e inclusiva capaz de lidar de maneira civilizada com suas diferenças e multiplicidade de vidas.

Significa, ainda, uma vitória daqueles que lutam pela paz, pelo respeito à diversidade. Não compreendo que existam perdedores e ganhadores nesta decisão. Ganha a sociedade que permite as pessoas de se expressarem como quiserem e, ao mesmo tempo, terem seus direitos preservados. Trata-se de uma situação inédita. Cada pessoa pode escolher o seu caminho e ser respeitado em seus direitos e deveres. A liberdade de escolha é um bem moral que purifica as relações. O Brasil já viveu situações parecidas. Vale recordar a aprovação da ementa do senador Nelson Carneiro em 1977 sobre o divórcio. Creio que ainda teremos muitos embates sobre este assunto, sobretudo, em relação à Constituição. De todo modo, é preciso compreender o momento histórico pelo qual o país está passando.

Maria Berenice Dias – É uma decisão histórica, pois veio a preencher uma lacuna da legislação. Nada justificava deixar fora da tutela jurídica certa parcela da população que tem orientação homossexual.

Yone Lindgren – Significa que temos direitos aos nossos direitos mais básicos em relação à família, vida financeira etc.

Luiz Mello – Significa o fim de qualquer sustentação jurídica, moral ou religiosa para o preconceito e a discriminação das pessoas homossexuais. A eficácia jurídica e material do reconhecimento das uniões homossexuais como entidades familiares será de alcance profundo na vida cotidiana dos casais de pessoas do mesmo sexo. Todavia, talvez ainda mais importante seja a eficácia simbólica da decisão para o conjunto da sociedade, uma vez que todos os ministros do STF afirmaram de maneira eloquente que pessoas homo e heterossexuais devem receber tratamento igualitário na esfera pública. Agora a orientação sexual não pode ser vista como atributo identitário que justifique práticas inferiorizantes. Essa é hora de lésbicas e gays saírem do armário e viverem suas vidas à luz do dia, sem vergonha e medo de amarem/desejarem pessoas do mesmo sexo, embora o recrudescimento de práticas homofóbicas tenda a acontecer no futuro imediato, dada a intolerância dos que não se conformam com o fim dos privilégios dos heterossexuais, já que de agora em diante os direitos relativos à conjugalidade – e também os deveres, diga-se de passagem – são de todos.

André Musskopf – Além das questões concretas que afetam o dia a dia de pessoas em uniões homoafetivas, essa decisão, e todo o debate que ocorreu em torno dela no STF, é a maior manifestação de uma instituição pública brasileira com relação aos direitos de pessoas LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais). Como bem o ressaltaram os/as próprios/as juízes/as, nem o Legislativo, nem o Executivo se manifestaram de maneira tão clara e tão decisiva com relação a um tema que diz respeito a essas pessoas, e agora são convocados a fazê-lo. Por isso, (além dos efeitos jurídicos) essa decisão tem um poder simbólico, dizendo ao conjunto da sociedade brasileira aquilo que já sabemos há muito tempo: pessoas LGBT são cidadãs brasileiras e devem ter os seus direitos respeitados e protegidos conforme prevê a Constituição Federal, inclusive do ponto de vista dos seus arranjos familiares. Também em termos internacionais, a decisão do STF coloca o Brasil no conjunto de países que avança no respeito e proteção a esses direitos, embora, assim como em muitos outros países, ainda haja um grande caminho a percorrer para a garantia da cidadania plena de pessoas LGBT, incluindo uma mudança cultural radical.

Por outro lado, essa decisão significa uma vitória do ponto de vista dos movimentos sociais que pautam questões de gênero e sexualidade e passaram pelo menos os últimos 40 anos lutando (e com certeza continuarão a fazê-lo) pela garantia de direitos sexuais. A decisão do STF não é fruto apenas da visão coerente e informada de seus juízes e juízas. Pelo contrário, foi a luta social e a produção de conhecimento no campo da sexualidade que colocaram as bases para que uma decisão como essa pudesse ser tomada, apesar das pressões e interferências das direitas conservadoras e reacionárias. A coragem, a ousadia e a resistência contínua daqueles e daquelas que não se conformaram com “os armários” e com o silêncio imposto pela heteronormatividade compulsória, são as responsáveis pelas conquistas que, pouco a pouco, vão sendo construídas e afirmadas, seja no STF, nos tribunais brasileiros, em Câmaras de Vereadores e em diversas políticas públicas voltadas para pessoas LGBT. Muitas dessas pessoas pagaram com a sua vida, tantas outras pagam cotidianamente os efeitos perniciosos da homofobia, sobrevivendo à luta travada em seus corpos. Além disso, essa decisão tem o poder de colocar os temas ligados aos direitos sexuais em pauta em todo o país. Em todos os espaços – até pela repercussão da decisão – a vida de pessoas LGBT se transforma em tema corrente de discussão e debate. Por isso mesmo, ressuscita fantasmas e fobias internalizadas pelos processos de socialização que demonizam, patologizam e criminalizam as suas formas de construção de identidade sexual. Há que se estar atento/a para esse backlash, enfrentá-lo como parte do processo de disputa por hegemonia e seguir lutando e avançando.


Onde o Brasil ainda precisa avançar em relação a esse tema?

José Trasferetti – Todos sabem que em nosso país os homossexuais ainda são discriminados, torturados e até assassinados. A violência contra as pessoas homossexuais continua grande no Brasil. O combate à homofobia deve ser diário, constante e integrar as lutas sociais. Com a mesma paixão com que se luta pela reforma agrária ou política, deve-se lutar pela igualdade de gênero ou pelo respeito às diversidades de orientações sexuais. Novos direitos devem ser conquistados. A luta por uma sociedade justa em relação a questões de gênero e de comportamento é uma das tarefas mais difíceis neste momento. Tenho até alguma preocupação de que esta abertura jurídica aumente a violência contra os homossexuais. É preciso promover uma mudança radical em nosso ambiente social e comportamental. Crescemos em tecnologias, mas ainda não em cidadania e direitos humanos. Não basta esta decisão do Supremo. A homofobia é uma condição interna e está inerente a nossa cultura. É preciso destruir o preconceito que ainda fere e mata. Mata não somente com balas, mas com palavras, sorrisos e olhares. Portanto, para mim com a mesma intensidade com que se avança nas questões jurídicas, deve-se também avançar nas questões sociais.

Maria Berenice Dias – Está na hora de o legislador romper sua postura discriminatória e homofóbica e cumprir com sua obrigação: aprovar leis que garantam o direito de todos, até das minorias que são alvo de preconceito.

Yone Lindgren – Criminalizando a homofobia.

Luiz Mello – Precisa avançar no sentido da efetiva igualdade na esfera pública entre todos os casais, independentemente dos sexos de seus integrantes, ou seja, a democratização do acesso de todas as pessoas ao casamento, à adoção conjunta e à inseminação artificial, para ficarmos apenas no âmbito dos direitos conjugais e parentais. Além disso, precisa assegurar que os direitos previstos na decisão do STF assumam a forma de norma legal, por mais que já sejam passíveis de gozo imediato. Por fim, prioritário também é que a sociedade brasileira incorpore o respeito à cidadania e aos direitos humanos de lésbicas, gays e também de travestis e transexuais em suas práticas cotidianas. Ou seja, que as famílias homossexuais sejam efetivamente reconhecidas como iguais às heterossexuais, nos programas de televisão, nos livros didáticos, nas aulas em todos os níveis de ensino, nas rodas de conversas entre amigos. Mas isso é um projeto para mais de uma geração, já que o preconceito e a discriminação continuam a atingir outros grupos oprimidos, como mulheres e negros, mesmo depois de muitos anos desde a aprovação de leis que lhes asseguram cidadania plena.

André Musskopf – O reconhecimento das uniões homoafetivas pelo STF é apenas um ponto muito pequeno (embora grande em seu significado) na conquista da cidadania plena por pessoas LGBT. Do ponto de vista legal, por exemplo, ainda há grandes barreiras ao acesso a direitos básicos e fundamentais e muitos desses direitos precisam ser garantidos na Justiça. Enquanto for aceitável discriminar publicamente as pessoas por conta da sua orientação sexual e identidade de gênero, não será possível garantir os seus direitos mais básicos. Do ponto de vista das políticas públicas, ainda estamos longe de ter um “olhar” para questões específicas dessas pessoas em todas as áreas: na saúde, na educação, na assistência social, na segurança pública, na habitação, na cultura etc.

Em geral, tem-se a ideia, mesmo por parte das pessoas mais bem intencionadas, de que é preciso tratar pessoas LGBT (e outros grupos historicamente excluídos e marginalizados) de maneira igual. No entanto, apenas é possível tratar de maneira igual aqueles e aquelas que numa dada sociedade e num dado momento histórico têm acesso aos meios de produção, reprodução e consumo de maneira igual. Esse não é o caso com relação a pessoas LGBT (e tantos outros grupos).

Do ponto de vista das políticas públicas, é preciso tratar “os/as diferentes” como “diferentes”. Para tanto, é preciso conhecer essas “diferenças”, bem como os processos sociais e culturais que as produzem, e elaborar estratégias para atender às necessidades dessas pessoas a partir de suas especificidades, garantindo, assim, os seus direitos fundamentais. A transformação mais profunda e da qual todas as demais questões dependem e, ao mesmo, tempo produzem, é uma transformação cultural profunda que desestabilize todas as formas de opressão e marginalização que desumanizam.

A discussão em torno da sexualidade colocada pelos movimentos sociais e pelos estudos acadêmicos fornece os elementos necessários (em termos teóricos e metodológicos) para se repensar os padrões de construção das identidades de gênero e sexualidade que aprisionam e oprimem não apenas pessoas LGBT, mas também heterossexuais (em toda a sua variedade). Não se trata da simples “inclusão”, geralmente entendida como assimilação, de determinados grupos, anexando-os aos padrões pré-existentes e pré-determinados como uma variação sobre o mesmo tema. Trata se, isso sim, do rompimento dos binarismos e essencialismos que buscam “encaixar” e “enquadrar” as pessoas em determinadas categorias, quando a sua experiência é sempre maior e impossível de ser “enquadrada”.

Enquanto essa transformação cultural é forjada nas lutas sociais e no cotidiano da vida das pessoas LGBT e de heterossexuais, questões como a equiparação da homofobia a outros crimes de ódio (PL 122), a implementação do Programa Brasil Sem Homofobia e do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, entre outros, são questões fundamentais para o avanço nessas questões. O avanço dependerá do esforço conjunto do poder público (Executivo, Legislativo e Judiciário) em todas as esferas (Federal, Estadual e Municipal), da sociedade civil organizada e de um debate e atuação constante de toda a sociedade.


A visão da Igreja ainda é importante para a opinião pública, nesse caso?

José Trasferetti – A visão da Igreja continua importante. Ela não pode se omitir. Deve expressar seu pensamento na liberdade que a constituição lhe garante. Todos os segmentos sociais devem ser ouvidos. A Igreja Católica valoriza a família e este é verdadeiramente um dado importante. A Igreja compreende a família como aquela célula-mãe que tudo orienta e normatiza. A família heterossexual constituída em nome do amor, geradora de filhos e transmissora de valores humanos e cristãos. Mas é preciso também reconhecer que o conceito “família” está se transformando muito rapidamente. O Brasil está mudando.

Entretanto, a palavra profética (não fundamentalista) da Igreja deve contribuir com a discussão e orientar, sobretudo aqueles homossexuais que são religiosos, que inspiram suas ações nos ensinamentos de Jesus de Nazaré.

Penso que a Igreja deve trabalhar em prol de uma verdadeira educação moral do nosso povo. Educação moral tendo em vista o discernimento. Não podemos frear o ritmo do tempo, mas podemos formar melhor nossos irmãos para que façam suas escolhas do melhor modo possível. Neste sentido, seria conveniente ler o livro Homossexualidade: orientações pastorais e formativas, que sairá pela editora Paulus em maio deste ano. Trata-se de um livro elaborado por mim e pelo meu colega Frei Ademildo que, sem dúvida, será um instrumento de esclarecimento sobre esta questão. Os cristãos precisam estudar melhor este tema. Não podemos ter uma consciência moral adulta sem conhecimento. Para formularmos um juízo correto é preciso muito estudo. Não podemos mais nos pautar por uma moral casuística ou mesmo legalista. A ignorância é a mãe do preconceito. A verdadeira consciência moral é esclarecida e precisa aprender a conviver com a diversidade cultural e o pluralismo teológico.

Maria Berenice DiasNão vejo justificativa para as religiões influenciarem nas questões legais e jurídicas. Afinal, vivemos em uma democracia em que as pessoas podem ter qualquer crença e acreditar em qualquer deus. Assim, não há como prevalecer a vontade de um segmento de modo a influenciar até as leis e as decisões judiciais.

Yone Lindgren – Somente para os católicos praticantes fervorosos que se deixam atoleimar pelo que nem está escrito na Bíblia...

Luiz Mello – Claro que sim, e por isso creio que as igrejas deveriam fazer um movimento de generosidade altruísta, reconhecendo seu equívoco no tratamento dos direitos civis de pessoas LGBT ao longo da história e exortando seus fiéis a não discriminarem quem quer que seja em função de orientação sexual e identidade de gênero. Afinal, foi sob a graça de todas as deusas que o STF disse em alto e bom som que não há mais lugar para qualquer modalidade de preconceito e intolerância em nossa sociedade. E mais, que o Estado é laico e que a moral privada de grupos específicos não pode ser imposta ao conjunto da sociedade. Desde o dia da decisão do Supremo, o mundo segue em sua mesma rotina ancestral: o sol nasce e se põe como de costume, o dia continua a ter 24 horas, as plantas crescem e as aves cantam. Mas, seguramente, em nossa sociedade houve uma mudança profunda: somos mais livres para vivermos o desejo e o amor entre adultos, de quaisquer sexos, sabendo que nossos vínculos conjugais serão respeitados pela sociedade e estarão protegidos pelo Estado.

André Musskopf – Em primeiro, lugar é preciso relativizar a questão da “visão da Igreja”. Por um lado, existem, hoje, no Brasil, uma série de atores no campo religioso com posições distintas com relação a temas ligados à homossexualidade de maneira específica e à sexualidade de maneira ampla. Por outro lado, no interior das igrejas e grupos religiosos também existe uma variedade de opiniões e posições com relação a esses temas, seja no seio das próprias hierarquias eclesiásticas, seja na sua relação com os membros e fiéis. A “Igreja” ou a “religião” também são campos de disputa que não estão alheios aos debates que têm lugar na sociedade de forma mais ampla.

No caso da decisão do STF, é alentador ver que argumentos religiosos e/ou teológicos (justificados/justificáveis ou não) não foram determinantes nos votos e nas justificativas apresentadas pelos/as juízes/as. Dessa forma, cumpre-se o princípio da laicidade do Estado, definido em nossa Constituição, uma vez que, do ponto de vista civil, os direitos inerentes à cidadania devem ser respeitados independente que qualquer diferença em termos de construção de identidade. O mesmo não se vê, muitas vezes, no âmbito dos poderes Legislativo e Executivo, onde as pressões de grupos religiosos conservadores e reacionários acabam por impedir avanços na conquista da cidadania. São espaços em que, muito mais do que argumentos teológicos sólidos e fundamentados, as articulações políticas desses grupos falsamente representando a vontade da população e uma orientação revelada fazem prevalecer o seu poderio.

Do ponto de vista da religiosidade, especialmente naquilo que diz respeito à sexualidade, sempre houve, no Brasil, uma certa relativização das normas e prescrições religiosas por parte dos (in)fiéis. Como defendi em minha tese de doutorado (Via[da]gens Teológicas – Itinerários para uma Teologia Queer no Brasil), a religiosidade e a sexualidade brasileiras são marcadas por uma ambiguidade que impede categorizações definitivas, sendo construídas a partir de vários discursos e práticas. Isso não significa que, do ponto de vista do senso comum, determinadas posições defendidas por grupos religiosos não sejam reproduzidas e até defendidas, sendo a sua motivação muito mais noções sociais e culturais com relação a identidades sexuais aceitáveis do que fidelidade eclesiástica. Para esses, o discurso religioso homofóbico apenas oferece um argumento facilmente reproduzível e aceitável.

Os avanços, tanto do ponto de vista dos movimentos sociais, das reflexões acadêmicas e da legislação, quanto do ponto vista da maior visibilidade de pessoas LGBT (pessoas com rostos, histórias, trajetórias familiares), possivelmente façam com que as pessoas estejam mais dispostas a relativizar, também, os preconceitos no campo da diversidade sexual e ignorar os gritos raivosos de autoridades eclesiásticas cegadas pelo seu ódio e alienação. Perspectivas teológicas novas (desde a Teologia da Libertação, passando por correntes teológicas que discutem essas questões de maneira mais contundente como a Teologia Feminista e as Teologias Gay/Queer), bem como grupos religiosos “inclusivos”, embora não popularizadas, também oferecem novas formas de pensar e conceber a sexualidade do ponto de vista religioso.

Nesse momento histórico específico, é difícil determinar até que ponto visões religiosas conservadoras e reacionárias conseguirão mobilizar a opinião pública diante da decisão do STF e de outras conquistas da população LGBT. Seguramente haverá um movimento no sentido de fazer retroceder esse processo. O maior teste talvez seja a votação do PL 122, aprovado na Câmara de Deputados e em várias comissões no Senado. Caso vá para votação em Plenária, será possível ver até onde vai o poder de articulação política dos grupos religiosos contrários a sua aprovação, bem como até onde esses grupos ainda conseguem mobilizar a opinião pública (mesmo quando usando argumentos fantasiosos e terroristas para atingir os seus objetivos em nada sagrados).

quarta-feira, 11 de maio de 2011

A Igreja de portas abertas para as vítimas da homofobia

Grafite: Herakut

"Deus ensinou a não chamar de profano ou impuro nenhum ser humano": esse versículo dos Evangelhos será recitado pelas muitas pessoas de fé reunidas em oração para recordar as vítimas da homofobia e se lembrarão de David Kato Kisule, um jovem ativista da Uganda morto por estar comprometido com os direitos das lésbicas e gays.

A reportagem é de Delia Vaccarello, publicada no jornal L'Unità, 09-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto e reproduzida via IHU, com grifos nossos.

De Palermo a Aosta, passsando por Milão, Pádua, Grosseto, Bolonha, Gênova, Catânia, Roma e muitas outras cidades italianas, neste ano, por ocasião do Dia Internacional Contra a Homofobia, multiplicam-se as iniciativas de cristãos e evangélicos, gays e heterossexuais simpatizantes, que se confiam ao diálogo com Deus para dar um basta à violência contra homossexuais e transgêneros.

Em Palermo, o único bloqueio de cima para baixo. A vigília não será no interior da Igreja de Santa Lúcia, na quinta-feira 12 de maio, mas será realizada na praça em frente, isto é, do lado de fora. O padre Luigi escreveu no site da paróquia que a Cúria o convidou ao respeito de um documento da Santa Sé de 1986 sobre o cuidado pastoral das pessoas homossexuais, pedindo que cancele o encontro. O grupo Ali d'Aquila respondeu que irá rezar "até diante de uma porta fechada".

É o único "não" para as vigílias celebradas dentro das igrejas, com encontros também na Espanha, em Madri, Barcelona, Valência, Sevilha, Tenerife e Jerez de la Frontera. No Peru e até em Bishkek, capital da República do Quirguistão, onde se rezará de forma quase clandestina, dadas as frequentes violações dos direitos humanos também contra gays e lésbicas. No entanto, os organizadores quiseram que a vigília fosse marcada pelo grupo Gionata, que, em seu site, informa sobre todos os encontros.

Quem irá começar o período de vigílias que termina no dia 29 de maio são as cidades de Palermo e Florença, com eventos ecumênicos: junto com cristãos homossexuais, estão rezando tanto católicos quanto evangélicos. Florença e Palermo são cidades muito ligadas às vigílias. Foi o grupo Kairos em 2007 que lançou um apelo a se unir em oração depois do suicídio do pequeno Matteo, em Turim, que não suportava mais os deboches sofridos na escola devido à sua suposta homossexualidade.

Por outro lado, o Ali d'Aquila de Palermo nasceu graças ao encontro de jovens homens e mulheres que sentiram o estímulo a recordar com a oração as vítimas da violência homofóbica. "As vigílias não são só uma comemoração dos mortos, mas nasceram justamente para abrir uma estrada no deserto da indiferença e do isolamento que muitos homossexuais percebem no ambiente que os circunda", declara uma jovem lésbica, perguntando-se: "É possível que os nossos pastores não tenham tido uma palavra para Matteo? Por qual motivo as orações nos nossos cultos dominicais jamais formulam para nós um único pensamento a respeito?".

A primeira vigília foi celebrada no dia 28 de junho de 2007, na Igreja Evangélica de Florença, para lembrar Matteo e as outras vítimas, com ministros de diversas confissões religiosas e representantes de grupos e movimentos cristãos que vieram de toda a Itália. Agora, de vítimas, tornam-se testemunhas.

"É tarefa de quem se sentiu vítima despertar as consciências e inverter o julgamento sobre si mesmo. É tarefa de quem se reconhece nessas palavras evangélicas testemunhar também com gestos concretos na sociedade", observa Federica Mandato, do grupo Ressa, de Trento.

Enquanto isso, já são quatro as dioceses da Itália – Turim, Crema, Cremona e Parma – que aprovaram pastorais de acolhida pública às pessoas homossexuais, enquanto em muitas cidades se difunde a presença de grupos homossexuais nas paróquias. O convite é claro: "Não discriminar ninguém".

terça-feira, 10 de maio de 2011

Não ardia o nosso coração quando Ele nos falava?

Ilustração: Vivianne Pontes

Os episódios que se sucederam após a Ressurreição de Jesus mostram a Sua presença viva entre nós, ainda que esta presença não seja percebida fisicamente, nem tampouco imediatamente. Muitas vezes, nossos olhos e corações estão fechados à presença de Deus...

Dois discípulos seguiam para a cidade de Emaús. Andavam tristes, inconsoláveis pelo que tinha acontecido. O próprio Jesus se aproxima deles e começa a conversar, perguntando o porquê de tanta tristeza. Os discípulos perguntam-lhe, então, como ele poderia não saber sobre o que tinha acontecido naqueles últimos dias. Jesus vai conversando com eles, chega com eles à cidade, tenciona ir adiante, mas, movidos por algum sentimento, eles o convidam a ficar. E, à mesa do jantar, Jesus abençoa o pão e o partilha – o gesto do Mestre! Ao retornar às pressas para Jerusalém a fim de contar aos outros o que lhes acontecera, eles entendem, então, o estranho ardor que lhes incendiava o coração quando na presença do companheiro de viagem.

Chama a atenção o fato dos discípulos terem perguntado a Jesus como ele não sabia sobre o que havia acontecido. A crucificação de criminosos, embora fosse um ato relativamente comum naquela época, era praticada como pena imposta a ladrões e assassinos e acontecia fora das cidades. Não era uma festa, não era notícia... Jesus havia morrido só, poucos estavam ao seu lado, nem tampouco fora um fato noticioso. Portanto, para um estrangeiro (tal como eles entenderam que seria aquele homem) não seria difícil não ter notícias sobre o acontecimento. Para os discípulos, a perda do Mestre era o centro de seus afetos e atenção naqueles dias. Eles sofriam; outros, não necessariamente estariam tão abalados.

Mas seus corações ardiam ao falar sobre o acontecimento e ao ouvir aquele estranho que tentava explicar-lhes os fatos. Muitas vezes, também agimos assim: nossos problemas são de tal forma o centro do mundo que não percebemos quando está o próprio Jesus a caminhar conosco, não entendemos Suas palavras, não compreendemos Suas atitudes... Mas, lá no fundo, nosso coração arde... Quisera pudéssemos identificar de imediato a causa desse ardor... Precisamos da partilha: do pão, dos sentimentos, da vida. Partilhando, o coração desafoga, os olhos se abrem e podemos entender: o Senhor está Vivo e caminha conosco!

Que a mesa de Emaús nos lembre a presença da Vida no meio de nós, a certeza Daquele que conosco caminha e a lembrança do pão que se parte, como meio de celebração da justiça entre todos.

Texto para sua oração: Lc 24, 13-35

- Gilda Carvalho
Reproduzido via Amai-vos. Grifos nossos.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

As vozes da Igreja

Foto: Matchbook

Comentário de Teleny no sempre lúcido Retorno (G-A-Y):

O título deveria ser, talvez, "A voz da Igreja", mas o plural, neste caso, é um sinal de esperança. Com outras palavras: ainda bem que a Igreja não tem uma única voz... Na ocasião da decisão do Supremo Tribunal Federal de quinta-feira (com que a união homoafetiva seja reconhecida como uma entidade familiar e, portanto, regida pelas mesmas regras que se aplicam à união estável dos casais heterossexuais), apareceram na mídia em geral (e nos veículos de comunicação GLBTS, em particular), os relatos sobre a reação da Igreja Católica no Brasil. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reunida em uma assembleia anual, incluiu à pauta dos assuntos, também, a notícia sobre a decisão do STF. O portal Gay1 (aqui) afirma: Dom Anuar Battisti, gaúcho e arcebispo de Maringá (PR), chegou a dizer que chamar de casamento a união entre homossexuais representa uma “agressão frontal” à família. Para ele, se o projeto for aprovado no STF, as pessoas estarão “institucionalizando a destruição da família”. Entretanto, no site oficial da CNBB, podemos ler declarações - digamos - bastante moderadas e até positivas, proferidas por autoridades, tais como o Dom Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro: Para dom Orani, “A Igreja sempre defendeu e defenderá os direitos das pessoas. É contra qualquer exclusão, sempre combateu todas as formas de exclusões, luta pelos oprimidos e quer levar a vida para todos”. O bispo auxiliar de Belo Horizonte (MG), dom Joaquim Mol Guimarães, disse que é justo quando se concede aos casais homoafetivos os direitos econômicos, repartição de bens, mas ressaltou que a preocupação da Igreja é com a entidade família. Dom Edney Gouvêa Mattoso, bispo de Nova Friburgo (RJ) disse que é preciso para a diferença entre união civil e casamento. “Uma coisa é união civil, outra coisa é casamento”. Ainda segundo ele, “o direito de duas pessoas que conviveram e constituíram patrimônio, herdar, eu penso que é consenso, mas não se deve chamar a essa união casamento”. (Leia a matéria na íntegra aqui. O assunto em questão está na segunda parte do texto).

No mesmo site da CNBB, com data anterior (12.01.2001), portanto antes da recente notícia sobre a decisão do STF, Dom Eduardo Benes, Arcebispo de Sorocaba (SP), no artigo "Diversidade sexual" (aqui), escreve: O respeito e o amor às pessoas com configuração homossexual, qualquer que seja sua condição existencial, são de fundamental importância para a paz na família e na sociedade. Ajudá-las a se integrarem com dignidade na vida da Igreja e da sociedade é nossa missão de pastores. Mas é nossa missão também ensinar que matrimônio é a união estável entre homem e mulher a quem, por primeiro, cabe a missão de gerar e educar os filhos.

Conclusão: a demonização dos bispos católicos ou da Igreja, enquanto instituição, frequentemente não tem tantos fundamentos assim. Se os autores, que pertencem a "facção mais agressiva" (e antieclesial) do mundo GLBTS, prestassem mais atenção às opiniões reais da Igreja, isso facilitaria bastante o diálogo com a Igreja e o conhecimento mútuo...

domingo, 8 de maio de 2011

Mãe de Renato Russo fala sobre o filho em "Rock Brasília"



Vale conferir!

Orações

Ilustração: Sandhi Schimmel Gold

Ave, mãe, cheia de raça, o amor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres, bendito é o vosso ventre e vossa luz. Quanta magia existe no teu olhar, senhora dos nossos passos e de muitos abraços, agora e na hora que nos deste a vida.

Mãe nossa, que estás em casa, no trabalho, na escola, ou no abrigo das nossas mais caras lembranças, santificado seja o vosso nome, venha a nós a vossa proteção, seja feita a vossa vontade de nos ver felizes, assim na terra como no ar, no mar ou até mesmo no bar.

O pão nosso de cada dia continue nos dando hoje, ou o almoço de amanhã, ou aquela sobremesa maravilhosa que só a senhora sabe fazer. Perdoai as nossas ofensas, as nossas omissões e desatenções, e não nos deixeis cair na besteira de sair de casa tão cedo. Livrai-nos do mal e, se possível, também do cheque especial e de perder o Gre-Nal.

Salve, rainha, princesa, duquesa, pois mereces todos os títulos da nobreza. Vida, doçura, esperança, que vontade de ser novamente criança para ganhar um colo cada vez que vierem as lágrimas. Por vós suspiramos em silêncio, advogada nossa, professora, médica, faxineira, cientista, empresária, secretária, presidente, ascensorista, senhora de tantos ofícios, sem renúncia ao mais sublime de todos, que é levar pela mão o filho do ventre ou do coração.

Creio em teus poderes de bondade, perseverança, tolerância e sabedoria materna. Seríamos ainda mais abençoados se tivesses vida eterna.

Glória à mãe, aos filhos nem sempre santos e a esse espírito de gratidão que por vezes nos leva aos prantos. Assim como era no princípio, que o seja para sempre.

Senhora, fazei de mim um instrumento de vossa paz e de vossa infinita ternura. Onde houver uma mulher, pois todas são mães por sentença genética ou divina, que eu e os demais filhos e filhas levemos o agradecimento, a alegria, o reconhecimento de que elas merecem muito mais do que um dia.

Amém!

- Nilson Souza
Publicado no jornal Zero Hora, 07-05-2011, e reproduzido via IHU

Prece da mãe


Senhor Deus, creio que o vosso coração de Pai é pleno também de ternura materna. Agradeço e bendigo o vosso nome pelo sublime dom de ser mãe, de acolher e gerar em meu ventre o mistério da vida.

Ajudai-me, Pai querido, a ser um céu de ternura em meu lar e a aquecer com o fogo suave do amor o coração do meu esposo e de meus filhos. Desejo dobrar os joelhos diante de vós, para que vossa graça faça de mim uma coluna, pela força da oração, para não deixar que meus filhos se dispersem, nem que seus corações sejam roubados de vossas mãos. Por isso, fortalecei-me, Senhor, pois desejo cooperar com a vossa graça para manter a família no vosso caminho. Sei que não é uma missão fácil, mas será possível, com as vossas bênçãos.

Dai-me, Senhor, segundo a vossa vontade e sabedoria, as virtudes mais necessárias para o exercício da maternidade, dom maravilhoso que colocastes em meu ser. Amém!

- Gilda Carvalho
Reproduzido via Amai-vos.

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Fonte: SANTOS, José Carlos dos (Frei Zeca). Quando quero falar com Deus: orações para o dia-a-dia. São Paulo: Paulinas, 2004.
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