sábado, 12 de fevereiro de 2011

Eu não quero voltar sozinho


Embora esteja rodando na rede desde pelo menos o final de 2010, este curta delicado, produzido pela Lacuna Filmes, foi um dos hits desta semana. Se você ainda não viu, vale a pena.

Bom sábado! :-)

Melhores tweets dos últimos tempos do resto da última quinzena (2)

Ilustração: Betsy Thompson


...E publicamos, enfim, os melhores tweets do resto da última quinzena do @divcatolica, completando a antologia iniciada na quinta-feira. :-)

Homossexuais protestam contra proibição de doar sangue. http://migre.me/3N5hU RT@homorrealidade

Associação Brasileira de LGBTs faz carta aberta pelo desarquivamento de lei contra homofobia: Na terça-feira 1° ... http://bit.ly/fUNAfs RT@paroutudo

RT @freibetto Nove Igrejas evangélicas ocupam em 6 canais de TV 307 horas semanais. A católica ocupa, em 3 canais, 4h40min // o horror... RT@Gilscofield

Homoparentalidade e a história real de uma família "moderna" :-) http://migre.me/3NgRM (em inglês)

Pastores americanos estão exportando intolerância para Uganda, com resultados brutais http://migre.me/3NhoP

[Blog] Download da Revista Íconos da FLACSO com o dossiê chamado “Como se pensa o queer na América Latina?” http://bit.ly/hTdr6P RT@PedagogiaQueer

Relatório Kinsey (1978): 64% dos gays não eram promíscuos, 39% mantinham um vínculo amoroso estável... http://tl.gd/7tipki RT@reginanavarro

Já não era sem tempo: Ministro da Saúde defende fim de portaria que proíbe gays de doarem sangue http://migre.me/3PwBw RT@Mix_Brasil

Tema da parada de São Paulo quer chamar atenção para o conservadorismo religioso http://mixbrasil.uol.com.br/t/0vT4Xh RT@Mix_Brasil

Legislativo retorna ao trabalho em dívida com a comunidade LGBT - texto de George Lima - http://migre.me/3PyBh RT@homorrealidade

MEC vai distribuir seis mil kits "anti-homofobia" para a rede pública - http://migre.me/3PyCV RT@homorrealidade

Governo Federal lançará telefone de denúncia de homofobia, dia 19. http://bit.ly/f7H8tL - #homofobiaNAO RT@homofobiaNAO

Sobre o novo quadro gay da TV Globo: SIM, NÓS (GAYS) TEMOS PINTO! http://migre.me/3PYox RT@paradiversidade

"Priscilla, a Rainha do Deserto" invade a Broadway http://t.co/2qqF9 RT@ACapacombr

Ativistas polemizam sobre uso de tema religioso na 15ª Parada Gay de São Paulo http://t.co/pXPYz RT@ACapacombr

Desarquivado, projeto que criminaliza homofobia volta a tramitar http://migre.me/3Qavv

Igreja Católica nos #TT graças a novo app para iphone q orienta exame de consciência para confissão. http://migre.me/3Qbxr

Igreja Católica nos #TT, graças à Apple! E o povo dá opinião, critica, elogia, sem de ler o artigo todo do novo APP, rs rs... RT@luizkauffman

Quem não é católico e não sabe nem o que é confissão está falando o que? APP simplesmente ajuda no exame de consciência... Igreja católica RT@murilloste

Psicólogos aprovam vídeos contra homofobia nas escolas - (@bloguedosouza) http://migre.me/3Qqi1 RT@M100Globope http://migre.me/3QrhD

E a Cristina Mortágua, hein? http://tonygoes.blogspot.com/2011/02/agua-morta.htm RT@TonyGoes

Leitores da Playboy querem capa com Ariadna http://migre.me/3QrjH

Julgamento dará definição mais clara a direitos de homossexuais http://migre.me/3QSL6

Entidades LGBT solicitam que OAB se posicione qto à portaria da Anvisa sobre doação de sangue por gays http://migre.me/3QTjQ

Conselho Federal de Psicologia deu parecer técnico favorável sobre material educativo do Projeto Escola Sem Homofobia http://migre.me/3QTnW

"Será uma música muito gay", diz Perez Hilton sobre novo single de Lady Gaga acapa.co/?n=12707

Marcio Retamero comenta a escolha do tema religioso p/ a parada gay de SP este ano. Crítico e lúcido, vale a leitura. http://migre.me/3RcG6

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Seja como for

Ilustração: Sarah Ahearn

Não queremos ser diferentes, e, sim, que todo mundo tenha o direito de ser como é.
- Renato Russo

Imagem de Deus e Diversidade (2): a Revelação é um processo


Reproduzo abaixo a segunda parte do artigo Imagem de Deus e Diversidade, publicado originalmente no nosso site e cuja reprodução neste blog começou na quarta-feira. Após abordar o papel da Igreja, da Teologia e da Revelação e a impossibilidade de essas instâncias virem a esgotar Deus, reflito agora sobre a mediação humana e o caráter histórico da Revelação.

Igualmente importante é compreendermos que mesmo o dado objetivo, o conhecimento real que nos vem pela Revelação divina, não está isento de ser também uma palavra humana, ou melhor, de ser uma experiência do “dar-se” amoroso de Deus que se realiza efetivamente por meio de ações e palavras humanas.

Muitas vezes nós temos a romântica compreensão de que a Revelação significaria um rasgo no humano, uma interrupção que poria no meio da transitoriedade do tempo, das variações da cultura, algo eterno, no sentido em que cada palavra ou compreensão ligada à Revelação não estaria subjugada aos ritmos das palavras humanas, que se fazem e modificam ao longo de um processo. Tendemos a achar que, sendo divina, a Revelação nos chega pronta e definitivamente esclarecida e assim permanece para sempre.

No entanto, Deus, querendo se comunicar aos seres humanos, o faz encarnando-se numa dinâmica tipicamente humana. A Revelação não surge como um dado objetivo que rasga a história em um momento privilegiado, mas é fruto de um longo processo no qual, através dos acontecimentos – desde os mais incríveis aos mais ordinários da vida de um povo –, Deus vai costurando um sentido para tudo e por meio da sua inspiração, permite ao ser humano, compreendê-lo e comunicá-lo de forma fidedigna.

Esta historicidade da Revelação, afirmada pelo Concílio Vaticano II de forma tão clara, é importante porque une dois polos aparentemente separados: o tempo e a eternidade, o definitivo e o efêmero. E une não de maneira justaposta, superficial, mas faz com que o humano se torne a mediação do divino, até o ponto de, se no pensamento ainda é possível uma distinção entre ambos, na concretude da vida, jamais. É por isso que olhamos para um judeu do Oriente Médio que viveu algumas poucas décadas e afirmamos a seu respeito: Deus.

Teologia e História: a propósito da divergência

Foto: Wai Leong

Com frequência nos deparamos com opiniões diferentes das nossas. São muito diversos os pontos de vista das pessoas acerca do significado de palavras como "Igreja", "lei", "moral", "dogma". Nem haveria como ser diferente, dado que mesmo no Magistério da Igreja Católica, mesmo entre teólogos - que se dedicam toda a vida a estudar as questões ligadas à Revelação - não existe uma voz única. Mesmo aí, há dissonâncias e dissensões. E nem aí - ou sobretudo não aí - estamos livres de paradoxos e contradições.

Existe, por certo, uma orientação atualizada quanto à postura oficial do Magistério, contida no Catecismo da Igreja Católica. Entretanto, para entendermos a razão das dissensões e paradoxos, é fundamental que não percamos a História de vista. A Revelação não é algo fechado, que já foi dado por Deus ao ser humano e que cabe a este simplesmente compreender. Ela se dá ao longo da História da humanidade, no decurso da qual Deus se vai dando a conhecer ao homem, segundo os desígnios da Sua vontade. Isso explica por que posições do Magistério que já foram oficiais hoje não são mais; por que o Catecismo é periodicamente reeditado, refletindo alterações e atualizações da doutrina; e por que acontece de mesmo dogmas, as mais altas verdades da doutrina católica, eventualmente poderem ser abolidos - vide o dogma da infalibilidade papal, por exemplo, e tantos pedidos de perdão feitos pela Igreja neste século e no anterior.

Com relação à homossexualidade especificamente (já que nosso tema aqui é "como conciliar a dupla identidade gay e cristã?"), a atual orientação oficial do Vaticano com relação a gays, tal como expressa no Catecismo (CIC 2357-59), é que o gay é criado por Deus como tal e - nunca é demais frisar - deve ser objeto de respeito e acolhimento. Porém, o Catecismo diz também que o ato homossexual implica numa "paixão desordenada" e, como tal, deve ser evitado. A classificação como "paixão desordenada" está de acordo com uma determinada definição de "lei natural" que, atualmente, é objeto de muitos questionamentos e críticas, num campo da Teologia - a Teologia Moral - que vive uma grande ebulição, típica dos momentos de transição e mudança.

A Teologia e a expressão da doutrina cristã católica são campos vivos e pujantes, em constante diálogo com seu tempo. Se assim não for, estarão fadadas a deixar de responder aos anseios dos homens, de ajudá-los em sua caminhada em busca de Deus, que é sua função.

* * *

Atualização de 16/02/2011:
A troca de ideias que nasceu nos comentários deste post (abaixo) acabou dando origem a um novo texto nosso, intitulado "Nosso testemunho". Confira e dê sua opinião! :-)

Entender as leis como Jesus


O teólogo basco Jose Antonio Pagola, em artigo reproduzido no Amai-vos, tece algumas considerações sobre a Lei, o legalismo/fundamentalismo e como Cristo entendia a Lei.

Os judeus falavam com orgulho da Lei de Moisés. Era a melhor prenda que tinham recebido de Deus. Em todas as sinagogas guardavam-na com veneração dentro de um cofre depositado num lugar especial. Nessa Lei podiam encontrar tudo quanto necessitavam para ser fiéis a Deus.

Jesus, no entanto, não vive centrado na Lei. Não se dedica a estudá-la nem a explicá-la aos Seus discípulos. Não se O vê nunca preocupado por observá-la de forma escrupulosa. Certamente, não coloca em marcha una campanha contra a Lei, mas esta não ocupa já um lugar central no Seu coração.

Jesus procura a vontade de Deus a partir de outra experiência diferente. Sente Deus tratando de abrir caminho entre os homens para construir com eles um mundo mais justo e fraterno. Isto muda tudo. A lei não é já o decisivo para saber que espera Deus de nós. O primeiro é "procurar o reino de Deus e a Sua justiça".

Os fariseus e os letrados preocupam-se em observar rigorosamente as leis, mas desleixam o amor e a justiça. Jesus esforça-se por introduzir nos Seus seguidores outro perfil e outro espírito: «se a vossa justiça não é melhor que a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino de Deus». Há que superar o legalismo que se contenta com o cumprimento literal das leis e normas.

Quando se procura a vontade do Pai com a paixão com que a procura Jesus, vai-se sempre mais longe do que dizem as leis. Para caminhar para esse mundo mais humano que Deus quer para todos, o importante não é contar com pessoas observantes de leis, mas com homens e mulheres que se pareçam a Ele.

Aquele que não mata, cumpre a Lei, mas se não arranca do seu coração a agressividade para com o Seu irmão, não se parece a Deus. Aquele que não comete adultério, cumpre a Lei, mas se deseja egoisticamente a esposa do seu irmão não se assemelha a Deus. Nestas pessoas reina a Lei, mas não Deus; são observantes, mas não sabem amar; vivem corretamente, mas não construíram um mundo mais humano.

Temos de escutar bem as palavras de Jesus: «Não vim abolir a Lei e os profetas, mas dar plenitude». Não veio atirar por terra o patrimônio legal e religioso do antigo testamento. Veio para «dar plenitude», a alargar o horizonte do comportamento humano, a libertar a vida dos perigos do legalismo.

O nosso cristianismo será mais humano e evangélico quando aprendermos a viver as leis, normas, preceitos e tradições como os vivia Jesus: procurando esse mundo mais justo e fraterno que quer o Pai.


Para refletir: como temos vivido a Lei? Ela tem de fato nos ajudado na construção do Reino?

Um bom fim de semana a todos! :-)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

PLC 122/06, Homofobia e Religião e "nós com isso"?


Uma série de iniciativas este ano vem colaborando para um diálogo produtivo e aproximando partes da sociedade cujo diálogo é de fundamental importância.

Anteontem, a Agência Senado divulgou oficialmente em seu site que:

“(...) o Plenário votou o requerimento que desarquiva o projeto de lei da Câmara (PLC 122/06) que torna crime a discriminação de homossexuais, idosos e deficientes. O PLC, popularmente conhecido como o projeto que criminaliza a homofobia, deixará o arquivo devido a requerimento protocolado nesta segunda-feira (7) pela senadora Marta Suplicy (PT-SP).

O projeto, que chegou ao Senado no final de 2006 e desde então tem suscitado bastante polêmica, já havia sido examinado pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS) e será encaminhado agora à Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) e à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ).”

Além do movimento político para a criminalização da homofobia, há também a imensa contribuição social das entidades militantes, que vêm neste momento oportunamente tocar no assunto e ir ao cerne da questão do preconceito: o campo religioso.

Concretamente, a Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo (APOGLBT), entidade responsável pela organização da atividade, divulgou o tema oficial da 15a Parada Gay. Trata-se de um questionamento  do conservadorismo religioso:

“Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia!”

Assim, propõe-se à sociedade uma reflexão acerca da constante oposição de determinadas igrejas aos avanços dos direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.

“A ideia é tocar no ponto das Igrejas de uma forma abrangente, universal. Ao dizermos ‘amai-vos uns aos outros’ estamos protestando pela igualdade social entre todos os homens, com um apelo fraterno. Soma-se a isso a valorização e a prática dos direitos humanos”, explica Ideraldo Beltrame, presidente da APOGLBT.

Nosso viés religioso-cristão-católico nos coloca nesta discussão, uma vez que nossa proposta é “ser um núcleo de vivência e aprendizado cristão e um canal permanente de comunicação entre grupos gays e grupos católicos.”

Esperamos, enquanto cristãos, contribuir nestes produtivos diálogos que se desenrolam este ano, com a mesma esperança e fé de que nossa sociedade será mais justa que qualquer outro membro da comunidade LGBT.

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Além da parada gay em si, maior evento da cidade de São Paulo, que tradicionalmente acontece na Avenida Paulista e Rua da Consolação e neste ano será em 26 de junho, a entidade organiza em 2011 a 9ª edição do Ciclo de Debates, a 11ª Feira Cultural LGBT, o 11º Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade e o 11º Gay Day.

Fontes:
APOGLBT
Agência Senado

Melhores tweets dos últimos tempos da última quinzena (1)

Ilustração: Betsy Thompson

Desde a nossa última antologia de tweets do @divcatolica, foram tantas as notícias, escritos e curiosidades dignos de nota que não cabe num post só. :-)

Segue uma seleção de 25 a 31 de janeiro - e continua no sábado! :-)

RT @blogentrenos: Revista gay da Índia provoca revolução http://migre.me/3Qoqy

Atenção, viajantes: nem toda bandeira arco-íris representa LGBTs. http://migre.me/3K2dd RT@homorrealidade

Em tempos de ti-ti-ti por conta de transexuais, homofobia e BBB, uma iniciativa oportuna: http://twitpic.com/3t9xvk

Campanha espalha retratos de famílias gays pela Califórnia p/ estimular gays a ter filhos e desestigmatizar o assunto http://migre.me/3KpRI

Curso: Diversidade Sexual, Cidadania e Fé Cristã, no Centro Loyola (PUC-Rio), abril-junho/2011. Veja o vídeo: http://migre.me/3Kq0g

Que a conversão de Saulo de Tarso, celebrada ontem, inspire nossa conversão diária... Breve e bela reflexão em http://migre.me/3KqTd

O perigo do populismo religioso: por que não escolher os governantes apenas c/ base em sua fé. Pr. Eduardo R. Pedreira http://migre.me/3Krbs

Cataratas do Iguaçu terão seu primeiro Casamento Gay. http://migre.me/3KtKF - Quase Niagara! (http://migre.me/3Ku3o, rs) RT@homorrealidade

Solidariedade: embora hetero, cantor Jason Mraz só se casará qdo casamento homossexual for aprovado. http://migre.me/3KtGa RT@homorrealidade

29/01, sábado, é Dia da Visibilidade Trans. Governo do RJ lança material informativo sobre direitos de travestis e transexuais http://twitpic.com/3tk4gj

"Nenhum americano será proibido de servir ao país que amam por causa de quem eles amam." Barack Obama Presidente dos EUA / Que lástima não vermos isso no nosso país! parabens ao Pres Obama e a Pres Kirchner (segue sobre o disc do Obama) http://bit.ly/f3xNHm RT@CarlosTufvesson

...E a versão brasileira da campanha It Gets Better está quase pronta: http://migre.me/3KTgl

"A segunda transformação de Ariadna" - e o que a derrubou não foi homofobia, por @TonyGoes http://migre.me/3KU98

Transexual brasileira entra na lista de modelos mais importantes do mundo http://migre.me/3KWGT RT@tsitonio

Leia na íntegra o texto de Guacira Louro: Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas. http://www.scielo.br/pdf/pp/v19n2/a03v19n2.pdf RT@fernandofbali

Filho de Cher lança documentário sobre seu processo de adequação de sexo. Veja cenas. http://migre.me/3L1eT RT@gaybrasil

Revista faz linha do tempo com personagens gays adolescentes de séries americana http://t.co/EsNFV RT@ACapacombr

Márcio Retamero: O autoconhecimento é libertador http://t.co/W08JU RT@ACapacombr

Quem tem medo da laicidade? Artigo de Debora Diniz. http://bit.ly/hKVVlt RT@anis_bioetica

Biografia sobre Sal Mineo, ídolo gay dos anos 50, é lançada nos EUA acapa.co/?n=12608 RT@ACapacombr

"Heterossexualidade presumida e homofobia internalizada" - artigo interessante, vale o clique. :-) http://bit.ly/ejGIM7 RT@mixbrasil

Coral reúne travestis e homossexuais no Centro de São Paulo http://ow.ly/3MeRY #vozesdadiversidade RT@revista_trip @JorgeLeitte

Gays > O Relatório Kinsey sobre a homossexualidade, publicado em 1978, apresenta o resultado de uma pesquisa (cont)http://tl.gd/7tipki RT@reginanavarro

Está faltando comunicação - RT@SanPabloAr http://migre.me/3MzH0 Vale a leitura (em espanhol)

Governo federal entrega prêmio literário a seis travestis http://migre.me/3MDke RT@gaybrasil

Já são 23 as manifestações de visibilidade LGBT agendadas no Brasil neste ano http://mixbrasil.uol.com.br/t/MSdkdf RT@Mix_Brasil

Apple lança livro infantil abordando a diversidade em versão Ipad. Público infantil poderá interagir c/ as ilustrações http://migre.me/3MKdC

Entre Nós: Participe: Assine o manifesto e apóie o kit de combate à homofobia nas escolas... http://migre.me/3QoM3 RT@blogentrenos

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Imagem de Deus e Diversidade (1): Igreja, Teologia e Revelação


Reproduzo abaixo a primeira parte do artigo Imagem de Deus e Diversidade, publicado originalmente no nosso site e que vou postar em partes no blog ao longo do mês de fevereiro. Começo refletindo sobre o papel da Igreja, da Teologia e da Revelação, e a impossibilidade de essas instâncias virem a esgotar Deus.

A Igreja não se pretende uma realidade absoluta, definitiva em si mesma. Ela não é o Reino de Deus, mas o prepara neste mundo, proclamando a palavra que convida todos a ele e iniciando-o e fazendo-o crescer na vida dos fiéis, pela Graça divina, que nela habita.

A função da Igreja – que inclusive fornece uma das denominações do papa – é ser pontífice, ponte, ligação com o Divino Mistério que se comunica para reunir os homens em comunhão definitiva e plena no amor. A reunião preparatória para esta comunhão total, onde “Deus será tudo em todos” (I Cor 15,28), é a Igreja.

Sendo a Igreja referência para um Outro que não ela mesma, deve discernir, em cada época histórica, como fazer com que a experiência salvífica de Jesus Cristo chegue a todos os seres humanos. Ela não anuncia a si mesma, mas a Cristo; não é juíza dos homens e da História, mas procura discernir os espíritos de cada tempo e escutar em cada época a vontade de Deus que, se está presente de forma definitiva na Revelação da qual ela é portadora, não deixa de ser compreendida sempre de maneira nova e mesmo de crescer, graças à constante inspiração do Espírito, na medida em que outras questões surgem na sociedade humana.

Se é a Deus que a Igreja procura estar sempre cada vez mais unida para discernir os tempos, se ela existe na função de congregar os seres humanos na comunhão divina que um dia se dará de forma plena, é de capital importância a compreensão que a Igreja tem a respeito de Deus.

A princípio, esta afirmação pode parecer a mais óbvia e a que suscita menos problemas de qualquer espécie. Se a Igreja é portadora da Revelação, e nela é Deus quem se dá a conhecer, se o Magistério tem em sua formação anos de Teologia e uma série infindável de cursos e retiros, parece certo que aquilo que a Igreja sabe sobre Deus e proclama é o absolutamente certo.

E o é, desde que estejamos atentos às nuances desta afirmação. Em primeiro lugar, a Revelação não significa um esgotamento do mistério divino, que, então, seria totalmente compreensível ao ser humano. Deus revelou aquilo e tudo aquilo que quis, o necessário para a realização de seu plano de salvação, mas jamais é, e nem será, um objeto do nosso conhecimento como outro qualquer.

Esse caráter dialético de Revelação-Mistério, apesar de se aplicar de maneira plena ao ser divino, pode ser observado também em outras realidades, que talvez nos ajudem a entendê-lo melhor. Pensemos sobre a vida, por exemplo. Nós somos seres viventes, refletimos sobre a vida, podemos fazer afirmações muito acertadas sobre ela. Mas jamais a vida pode ser totalmente definida num conceito. Ela não cabe numa única ideia ou mesmo num conjunto imenso delas. Sempre algo fica de fora, não porque foi esquecido, mas por que não há como dizê-la totalmente. É algo sempre aquém das nossas capacidades. O mesmo pode se dizer sobre tantas outras realidades. Este caráter de mistério presente em todas elas aponta, participa do Mistério último de tudo que chamamos simplesmente de “Deus”.

Portanto, nem a Revelação, nem a Teologia podem esgotar Deus. Já os antigos diziam que os estudos teológicos deveriam ser feitos “de joelho”, ou seja, com a consciência de estarmos diante do insondável mistério divino.



Continua na sexta-feira, ao meio-dia. :-)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Masculino e feminino não existem? Um questionamento sobre os estereótipos de gênero


Alguma coisa está fora da ordem. A maioria de nós cresceu sob o signo de determinadas expectativas acerca dos papéis do homem e da mulher na sociedade, apesar da eclosão do feminismo e da luta pela igualdade de direitos das mulheres desde pelo menos o final do século XIX. A maioria de nós cresceu sob o signo da família nuclear composta por pai, mãe e filhos de um casamento monogâmico e vitalício, ainda que o divórcio tenha se disseminado a partir dos anos 60 e sejam cada vez mais raros os nascidos depois de 1980 que ainda tenham os pais vivendo o mesmo relacionamento estável e satisfatório após décadas de união. A maioria de nós anseia pelo encontro da sua cara metade, o/a parceiro/a ideal que nos completará e acompanhará pelo resto da vida - embora as estatísticas apontem para relacionamentos cada vez mais curtos e voláteis. Por que tamanho descompasso entre os fatos concretos e nossos conceitos sobre família, sexualidade e relacionamento amoroso, idealizações cada vez mais distantes da realidade?

A psicanalista Regina Navarro Lins, pesquisadora e autora de livros sobre sexualidade e relacionamento amoroso, vem procurando demonstrar que nossas ideias acerca de sexualidade, família, relações de casal, papéis sociais do homem e da mulher e dos próprios conceitos de masculino e feminino pertencem a um determinado contexto histórico, social e cultural; e, sendo conceitos histórica, social e culturalmente localizados, é natural que se transformem acompanhando a mudança permanente dessas três instâncias.

Natural, mas não fácil, e muito menos tranquilo. Todo sistema resiste à mudança. As crenças de que apenas o homem e a mulher exclusivamente heterossexuais obedecem à ordem ou Lei natural e de que qualquer outra variante do espectro da diversidade sexual é aberrante; de que as mudanças são decorrentes de um afrouxamento da moral ou uma crise dos bons costumes - talvez não passem de uma reação conservadora natural, e violenta, de uma sociedade sacudida pela transformação.

O medo e a raiva naturais diante da mudança exigem a identificação de um culpado e o sacrifício de um bode expiatório. E, nesse sentido, um dos alvos centrais têm sido os gays - os gays, que, por sua própria existência, crescente visibilidade e aceitação que se vai gradualmente disseminando nos diferentes extratos sociais, representam para muitos a grande ameaça aos ideais de casamento e família que parecem hoje ruir.

Em meio à convulsão da mudança e à brutalidade das oposições, exacerbações e radicalismos florescem de parte a parte. Porém, toda defesa extremada de qualquer posição é aprisionante. Converter conceitos próprios de um dado meio, lugar ou época em verdades universais e categorizá-los em certo ou errado, bom ou mau, dificilmente não vai implicar em restringir a liberdade fundamental do ser humano e aviltar sua dignidade. E isso vale para os dois lados de qualquer disputa.

Mudar não é fácil, porque crescer dói.

* * *

Reproduzimos a seguir um interessante texto em que Regina Navarro Lins debate justamente os estereótipos de gênero e aponta para seu atual processo de transformação. Os grifos são nossos.

Masculino e feminino não existem

“A mulher pode ser feminina e ao mesmo tempo ser autônoma?” Fiz essa pergunta para mais de cem pessoas, homens e mulheres com idades variando de 20 a 55 anos. As respostas foram instantâneas e veementes: claro, lógico, óbvio. Em seguida coloquei a segunda questão: O que é uma mulher feminina? O comportamento de todos foi semelhante. Silêncio por algum tempo, como se tivessem sido pegos de surpresa. Hesitantes e confusas, as pessoas tentavam explicar.

Reunindo todas as respostas, surgiu o perfil da mulher feminina: delicada, frágil, sensível, cheirosa, dependente, pouco competitiva, se emociona à toa, chora com facilidade, indecisa, pouco ousada, recatada. Concluí, então, que a mulher considerada feminina é uma mulher estereotipada. Por isso, uma mulher não pode ser autônoma e feminina ao mesmo tempo. Autonomia implica ser você mesma, sem negar ou repudiar aspectos de sua personalidade para se submeter às exigências sociais.

É incrível, mas Vinicius de Moraes, considerado o poeta que amava as mulheres, em Samba da benção mostra a expectativa que se tem delas: “Uma mulher tem que ter qualquer coisa além de beleza, qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora, qualquer coisa que sente saudade; um molejo de amor machucado, uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor e ser só perdão.”

Sem dúvida, na nossa cultura patriarcal, a mulher feminina renuncia a parte de si mesma, na tentativa de corresponder ao que dela se espera. O mesmo ocorre com o homem masculino. Suas características são, certamente, a força, o sucesso, a coragem, a ousadia, e tantas outras do gênero, sem esquecer, claro, aquela cobrança que atormenta todo menino: “Homem não chora.” São todas metas inatingíveis para a maioria e os homens estão esgotados.

Mas de onde surgiu essa diferença tão profunda entre os sexos? É uma antiga e longa história. Quando o sistema patriarcal se estabeleceu entre nós, há 5 mil anos, dividiu a humanidade em duas partes— homens e mulheres— e colocou uma contra a outra. Determinou com clareza o que era masculino e feminino, subordinando ambos os sexos a esses conceitos. E ao fazer isso, dividiu cada indivíduo contra si próprio, porque para corresponder ao ideal masculino ou feminino da nossa cultura, cada um tem que rejeitar uma parte de si, de alguma forma, se mutilando.

Tanto é assim, que a primeira coisa que se quer saber quando um casal vai ter um filho é o sexo da criança. Mesmo antes do nascimento o papel social que ela deverá desempenhar está claramente definido: masculino ou feminino. Os padrões de comportamento são distintos e determinados para cada um dos sexos. Os meninos são presenteados com carrinhos, revólveres e bolas, enquanto as meninas recebem bonecas, panelinhas e mamadeiras. E isso é só o início. A expectativa da sociedade é de que as pessoas cumpram seu papel sexual, que sofre variações de acordo com a época e o lugar. Até algumas décadas atrás, não se admitia que um homem usasse cabelo comprido e muito menos brinco. Eram coisas femininas. As mulheres, por sua vez, não sonhavam usar calças, nem dirigir automóveis. Era masculino.

Na realidade, a diferença entre os sexos é anatômica e fisiológica, o resto é produto de cada cultura ou grupo social. Tanto o homem como a mulher podem ser fortes e fracos, corajosos e medrosos, agressivos e dóceis, passivos e ativos, dependendo do momento e das características que predominam em cada um, independente do sexo. Insistir em manter os conceitos de feminino e masculino é prejudicial a ambos os sexos por limitar as pessoas, aprisionando-as a estereótipos.

E você, o que acha de tudo isso? Deixe suas opiniões nos comentários! :-)
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Reproduzido com autorização da autora. Publicado originalmente via twitter @reginanavarro

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O Cristianismo: uma religião ou a saída da religião?

Foto: Kenji Aoki

Reproduzimos abaixo um artigo de Maria Clara Bingemer,  professora do Departamento de Teologia e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, publicado originalmente no site do CCB (Centro Cultural de Brasília). Os grifos são nossos.

Sempre nos pareceu muito evidente afirmar que o Cristianismo é uma religião. Pois na verdade isso não é tão claro assim. Cada vez mais a teologia se inclina por afirmar que o Cristianismo não pode ser definido como uma religião.O que significa isso? Na verdade, muitas coisas e que, se pensarmos bem, não irão nos parecer tão estranhas. Comecemos do começo. Ou melhor: comecemos por Jesus de Nazaré. Será que podemos afirmar que Jesus queria fundar uma religião?

Achamos que não. Jesus já tinha uma religião e não pensava em escolher outra. Era um judeu piedoso e fiel. O que o incomodava, justamente, era aquilo que os especialistas da religião haviam feito com a fé de Israel. Ao ler os quatro evangelhos, vemos claramente que a disputa de Jesus com os mandatários de sua religião se centra na distorção ou deturpação da imagem de Deus que os que se acreditavam donos da religião, do templo e da lei haviam feito. Haviam posto sobre os ombros do povo um peso tão absolutamente insuportável que era impossível de carregar. Um sem número de rubricas, ritos, prescrições.

Uma severidade implacável para com o cumprimento de todas essas mínimas normas e uma crueldade com as pessoas mais simples e humildes que não conseguiam cumpri-las por não terem condições de fazê-las. Jesus percebia que segmentos inteiros do povo eram declarados sem Deus: doentes, leprosos, pecadores. E que várias categorias de pessoas eram tratadas como cidadãos de segunda categoria dentro deste mesmo povo: mulheres, crianças.

A esses então Jesus anuncia uma boa notícia, um Evangelho: o projeto do Pai, o Reino é para eles também. Mais ainda: eles serão os primeiros a entrar, pois são humildes, se reconhecem pecadores, se sabem necessitados de misericórdia e perdão e não se acham donos inexpugnáveis e sobranceiros do dom de Deus que ninguém pode se arvorar em possuir.

Ao fazer isso, Jesus não queria atacar nem agredir a religião de seus pais, na qual havia nascido e a qual amava. Desejava apenas que a pureza do ideal da Aliança que sustentou a história e a caminhada de Israel pudesse continuar e crescer em toda a sua pureza. Porém por isso mesmo foi considerado blasfemo. Acusaram-no de agir contra a religião, de colocar em perigo a religião vigente que emanava do Templo de Jerusalém.

E por isso fazem um complô para matá-lo. E efetivamente o matam. É algo que deve fazer-nos pensar que quem matou Jesus não foi um grupo de bandidos e fora da Lei. Pelo contrário, foram homens considerados de bem, guardiães da ordem e da religião. Por crê-lo inimigo da religião de Israel, acreditaram dever eliminá-lo. Temiam que ele quisesse acabar com a religião e trazer uma nova religião. Na verdade a proposta de Jesus não é a de uma religião, e sim de um caminho: o caminho do amor, da justiça, da fraternidade.

O caminho da experiência de ser filhos de um Deus que é Pai bondoso, amoroso, misericordioso. E por isso, ser irmãos uns dos outros. Assim fazendo, Jesus desloca o eixo da presença de Deus do Templo para o ser humano. Anuncia que quando alguém está ferido à beira do caminho há que deter-se e socorrê-lo, atendê-lo, com todo o amor e desvelo possíveis. E não ir correndo para o templo porque se está atrasado para a celebração.


Quem se detém e pratica o amor para com o próximo ferido e desamparado, encontra a Deus. Mesmo que seja um idólatra, como o samaritano do capítulo 10 do evangelho de Lucas. Mesmo que esse Deus se revele fora do Templo e das rubricas da Lei. Com a morte de Jesus e a experiência de sua ressurreição, seus seguidores começaram a anunciar seu nome e um movimento de fé começou a criar-se em torno dele. E essa fé necessitava de uma religião para expressar-se. Por isso tomou os ritos do judaísmo e acrescentou outros.

O Cristianismo nascente tentou ficar dentro da sinagoga. Não foi possível e o próprio Paulo - judeu filho de judeus, circuncidado ao oitavo dia, da tribo de Benjamin, formado aos pés de Gamaliel -, com muita dor na alma, foi quem chefiou o movimento de ruptura e ida aos gentios. Espalhou-se pelo mundo a nova proposta, cresceu e configurou todo o ocidente. Aquilo que começara humildemente em Nazaré da Galiléia, com o carpinteiro fazedor de milagres que chamava Deus de "Abba" (Paizinho) tornava-se, sobretudo depois do século IV, a religião mais poderosa e hegemônica do mundo.

Foi preciso que houvesse a virada da modernidade, o declínio do mundo teocêntrico medieval, que o Cristianismo perdesse o poder que tinha de instância normativa dentro da sociedade para que aparecesse a verdade inicial em toda a sua pureza. O Cristianismo não é uma religião. Ou, se for, é uma religião da saída da religião. É um caminho de fé que opera pelo amor, um estilo de viver, nas pegadas de Jesus de Nazaré, que passou pelo mundo fazendo o bem. O que isso quer dizer para nós hoje? Que tudo que é religioso é mau? De forma alguma.

Os gestos, os rituais, as normas, as formulas religiosas são boas desde que enunciem a verdade de uma fé, de um sentido de vida que se expressa na abertura a Deus e ao outro. E por isso são relativas. Pode ser que algumas expressões religiosas que foram muito adequadas a determinada época histórica sejam extremamente inadequadas a outra ou outras. O único absoluto é Deus. O resto... é resto mesmo. Isso é que, hoje como ontem, o Cristianismo é chamado a proclamar diante do mundo.

Para reflexão: em que medida o movimento de inclusão dos tradicionalmente excluídos (inclusive em virtude de sua orientação sexual, mas não só eles) nos diferentes segmentos do cristianismo não poderia contribuir para a passagem humana de uma vivência agrilhoante da Lei para a libertação proclamada pela Boa Nova, a Lei do Amor?

Boa semana a todos!

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A propósito do Pai Nosso (1)


Publicamos aqui, a partir de hoje e pelos próximos 4 domingos, a linda reflexão de Simone Weil sobre a oração do Pai Nosso. Para meditar, orar e, esperamos, aprofundar a fé. Um bom domingo a todos!

Pai-nosso que estais nos céus
Ele é nosso Pai, não há nada de real em nós que não proceda dele. Nós pertencemos a ele. Ele nos ama, posto que ama a si próprio e que pertencemos a ele. No entanto é o Pai que está nos céus. E não em outra parte. Se acreditássemos ter um Pai aqui em baixo, seria um falso Deus (um ídolo ou ideal ). Não podemos dar um único passo em direção a Deus. Pois não sabemos caminhar verticalmente. Não podemos dirigir a ele a não ser o nosso olhar. A questão, portanto não é sair em sua busca, mas apenas mudar a direção do olhar. É tarefa dele, vir atrás de nós. É preciso alegrar-se por saber que ele está infinitamente além de nosso alcance. Sabemos então que o mal em nós, mesmo se puder nele submergir todo o nosso ser, não poderá de maneira alguma manchar a pureza, a felicidade e a perfeição divinas.

Santificado seja o teu Nome
Somente Deus tem o poder de se nomear a si próprio. O seu nome é impronunciável para os lábios humanos. O nome dele é a Palavra. É o Verbo. (É o Logos). O nome dos seres em geral é uma ponte entre o espírito humano e aquele ser, o único caminho por onde o espírito humano pode captar alguma coisa daquele ser quando está ausente. Deus está ausente, está nos céus. Seu nome é para o homem a única possibilidade de ter acesso a ele. É o Mediador. (É Cristo, o Amor Misericordioso). O homem tem acesso ao nome, embora ele também seja transcendente. Este nome – é o Logos eterno que brilha na beleza e na ordem do mundo e na luz interior da alma humana. Este nome é santidade, ela própria, não há nenhuma santidade fora dele, não há nada nele a ser santificado. Quando imploramos a sua santificação, imploramos por aquilo que é eternamente com uma plenitude de realidade à qual não se pode acrescentar ou retirar nem uma ínfima parcela. Invocar aquilo que é, que é real, infalível, eternamente, de uma maneira independente de nossa vontade, esta é a perfeição da demanda. Não podemos impedir-nos de desejar, nós somos desejo; mas este desejo que nos aprisiona ao imaginário, ao tempo ao egoísmo, nós podemos, se o fizermos passar todo inteiro através desta demanda, fazer dele uma alavanca que nos arranca do imaginário para o real, do tempo para a eternidade e para fora de toda prisão do eu.

Venha a nós o vosso reino
Trata-se agora de algo que deve vir (advir), que ainda não está lá. O reino de Deus é o Espírito Santo, preenchendo completamente toda a alma das criaturas inteligentes. Para nós, só é possível invocá-lo. É preciso não deter o pensamento em um modo particular de invocá-lo. Que pensar nele seja um apelo e um grito. Da mesma maneira que quando estamos no limite da sede, quando estamos doentes de sede, não representamos mais o ato de beber referido a nós próprios, nem mesmo o ato de beber em geral. Representamos apenas a água, a água em si mesma, mas esta imagem da água é como um grito de todo o ser.

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Texto original:

WEIL, Simone. À propos du "Nôtre Père", In Attente de Dieu. Paris: Flamarion, 1996. Tradução de Elisa Cintra.

Tradução publicada originalmente no site da Comunidade Mundial de Meditação Cristã no Brasil
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