sábado, 19 de janeiro de 2013

Oração para católicos frustrados


"Eu fico frustrado acima de tudo quando eu sinto que há coisas que precisam ser mudadas na Igreja, e eu não tenho o poder para mudá-las. Por isso, eu preciso de tua ajuda, Deus'.

Essa é a oração de James Martin, padre jesuíta e editor de cultura da revista semanal America, fundada em 1909 pelos jesuítas dos EUA. É formado em economia pela Wharton School of Business, da Universidade da Pensilvânia, em filosofia pela Universidade Loyola, de Chicago e em teologia pela Weston Jesuit School of Theology, de Cambridge, onde também fez seu mestrado e doutorado em Teologia.

A oração foi publicada no sítio da revista America, 13-08-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Veja abaixo a oração em vídeo, rezada pelo próprio Pe. Martin, em inglês.

Eis o texto.

Querido Deus, às vezes eu fico muito frustrado com a tua Igreja.

Eu sei que não estou sozinho. Muitas pessoas que amam a tua Igreja se sentem frustradas com o corpo de Cristo na terra. Padres e diáconos, e irmãos e irmãs podem se sentir frustrados também. E eu aposto que até mesmo bispos e papas se sentem frustrados. Nós nos preocupamos, nos inquietamos, nos incomodamos, nos irritamos e às vezes nos escandalizamos porque a tua instituição divina, nossa casa, está repleta de seres humanos que são pecadores. Assim como eu.

Mas eu fico frustrado acima de tudo quando sinto que há coisas que precisam ser mudadas, e eu não tenho o poder para mudá-las.

Por isso, eu preciso da tua ajuda, Deus.

Ajuda-me a lembrar que Jesus prometeu que estaria conosco até o fim dos tempos e que a sua Igreja é sempre guiada pelo Espírito Santo, mesmo que para mim seja difícil ver. Às vezes, a mudança acontece de repente, e o Espírito nos surpreende, mas muitas vezes isso acontece lentamente na Igreja. No teu tempo, não no meu. Ajuda-me a saber que as sementes que eu planto com amor no solo da tua Igreja irão florescer um dia. Por isso, dá-me paciência.

Ajuda-me a entender que nunca existiu um momento em que não houve discussões ou disputas dentro da tua Igreja. Discussões remontam até Pedro e Paulo, que debatiam entre si. E nunca existiu um momento em que não houve pecado entre os membros da tua Igreja. Esse tipo de pecado remonta a Pedro, que negou Jesus durante a sua paixão. Por que a Igreja de hoje seria diferente do que era para as pessoas que conheceram Jesus na terra? Dá-me sabedoria.

Ajuda-me a confiar na Ressurreição. O Cristo ressuscitado nos lembra que sempre há a esperança de algo novo. A morte nunca é a última palavra para nós. Nem o desespero. E ajuda-me a lembrar que, quando o Cristo ressuscitado apareceu aos seus discípulos, ele suportou as feridas da sua crucificação. Como Cristo, a Igreja está sempre ferida, mas é sempre uma portadora de graça. Dá-me esperança.

Ajuda-me a acreditar que o teu Espírito pode fazer qualquer coisa: elevar santos quando nós mais precisamos deles, amolecer os corações quando eles parecem endurecidos, abrir as mentes quando elas parecem fechadas, inspirar confiança quando tudo parece perdido, nos ajudar a fazer o que parecia impossível até ser feito. Esse é o mesmo Espírito que converteu Paulo, que inspirou Agostinho, que chamou Francisco de Assis, que incentivou Catarina de Siena, que consolou Inácio de Loyola, que confortou Teresa de Lisieux, que animou João XXIII, que acompanhou Teresa de Calcutá, que fortaleceu Dorothy Day e que encorajou João Paulo II. É o mesmo Espírito que está conosco hoje, e o teu Espírito não perdeu nada do seu poder. Dá-me fé.

Ajuda-me a lembrar de todos os seus santos. Muitos deles passaram por coisas muito piores do que eu. Eles ficaram frustrados com a tua Igreja às vezes, lutaram com ela e ocasionalmente foram perseguidos por ela. Joana d'Arc foi queimada na fogueira pelas autoridades eclesiásticas. Inácio de Loyola foi jogado na prisão pela Inquisição. Mary MacKillop foi excomungada. Se eles puderam confiar na tua Igreja em meio a essas dificuldades, eu também posso. Dá-me coragem.

Ajuda-me a ser pacífico quando as pessoas me dizem que eu não pertenço à Igreja, que eu sou um herege ao tentar fazer as coisas melhor, ou que eu não sou um bom católico. Eu sei que fui batizado. Tu me chamaste pelo nome para estar em tua Igreja, Deus. Enquanto eu respirar, ajuda-me a lembrar como as águas sagradas do batismo me acolheram em tua sagrada família de santos e pecadores. Que a voz que me chamou à tua Igreja seja o que eu ouço quando outras vozes me dizem que eu não sou bem-vindo na Igreja. Dá-me paz.

Acima de tudo, ajuda-me a colocar toda a minha esperança no teu Filho. Minha fé está em Jesus Cristo. Dá-me apenas o teu amor e a tua graça. Isso me basta.

Ajuda-me, Deus, e ajuda a tua Igreja.

Amém.

(Cf a notícia do día 08/08/2012 desta página)

Que sentimentos essa notícia provocou em você?

O texto bíblico a seguir pode lhe iluminar.
Leia-o e deixe que ele ecoe em você.

Javé, tu ouves o desejo dos pobres,
fortaleces o coração deles e lhes dás ouvidos,
fazendo justiça ao órfão e ao oprimido,
para que o homem terreno já não infunda terror.
(Sl 10, 17-18)

Com confiança faça uma oração com o que sentiu.

Fonte UNISINOS

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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Um bendito tesouro


As Missas no Soho são "um bendito tesouro"
“Minhas palavras são insuficientes para expressar ao senhor que bendito tesouro é encontrar as missas do Soho”, escreve um jovem, participante das Missas celebradas no bairro Soho, em Londres, em carta enviada ao arcebispo de Westminster, Vincent Nichols, em 2011.

A carta (1) é publicada pela revista The Tablet, 12-01-2013. A tradução é de Luís Marcos Sander.

Eis a carta.

Prezado Arcebispo Vincent:

Espero que esta carta o encontre bem e o senhor não a considere uma intrusão. Escrevo para compartilhar com o senhor minha caminhada pessoal.

Nasci numa família católica devota que compartilhava uma quantidade generosa de seu tempo e seus recursos na Igreja. Minha formação inicial foi moldada por escolas católicas. O catolicismo, ou ao menos a percepção de pertencer à Igreja, permeia as fibras do meu ser.

Mas, aos 18 anos, com um peso no coração, deixei a Igreja Católica porque achei que ela não tinha espaço para uma pessoa gay como eu.

Passei o resto da minha adolescência e até os 20 e poucos anos procurando em outras igrejas o Deus que eu tinha encontrado na Igreja Católica. Quase fui batizado como “cristão renascido”, mas caí fora na véspera da cerimônia porque não consegui largar meu batismo católico. Mais tarde flertei com o ateísmo, mas isso também não durou. Pouco a pouco, encontrei o amor e a aceitação que eu buscava junto a uma comunidade jesuítica em Washington DC. Não tenho como lhe contar o quanto isso me deixou feliz e fez brotar lágrimas dos meus olhos.

Minhas palavras são insuficientes para expressar ao senhor que bendito tesouro é encontrar as missas do Soho em Londres. Isso me permitiu examinar a minha fé e, com isso, aprofundar meu relacionamento com Deus. Essa espiritualidade recém descoberta era algo que eu queria compartilhar, e assim, junto com outras três pessoas, fundei o Grupo de Jovens Adultos das Missas do Soho. O grupo passou por uma evolução, passando de algo que era inteiramente social para algo onde jovens católicos gays podem aprofundar sua fé juntos e apoiar-se mutuamente. Vivendo numa cidade em que a religião é, muitas vezes, menosprezada ou desaprovada, ater-se à nossa moral católica pode ser um desafio. O Grupo de Jovens Adultos oferece um meio de obter apoio.

Neste ano nos reunimos para uma sessão que chamamos de “Francos e Livres”, em que discutimos o que significa para nós sermos jovens, gays e católicos. Nós tínhamos tanta coisa a dizer que, após a primeira reunião, decidimos fazer mais duas para discutir quais são, afinal, nossas responsabilidades para com a Igreja, e o que nós, como católicos gays, podemos fazer pelas pessoas que não vão à igreja, especialmente as que frequentam os bares do Soho.

Estamos cientes de que provavelmente somos o único grupo de católicos que não são estranhos aos bares do Soho e, como tais, temos provavelmente as melhores condições de mostrar que a Igreja Católica não é a instituição intolerante que muita gente naqueles bares pensa que ela é, e que ao menos na Warwick Street todo o mundo é bem-vindo.

Em outubro, membros do Grupo de Jovens Adultos foram para um retiro no Priorado de Aylesford. Para muitas das pessoas que participaram, essa foi sua primeira experiência de retiro. Fomos calorosamente acolhidos pelo priorado e pretendemos ir para lá de novo no próximo ano. Outros planos para o ano que vem incluem uma peregrinação, mais oficinas espirituais, mais sessões do tipo “Francos e Livres” e mais obras de caridade.

Agradeço-lhe pelo apoio diocesano às missas do Soho. Sei que todos os integrantes do Grupo de Jovens Adultos são gratos ao senhor por isso. Muitas pessoas se opõem a essa iniciativa pastoral da sua diocese e gostariam que ela acabasse. Não entendo como elas conseguem recusar uma pessoa que vem de livre e espontânea vontade ao altar.

Espero que o senhor ache esta carta útil. Irei lembrar-me do senhor nas minhas orações.

Nota:

1.- O autor pediu que seu nome não fosse revelado. Alguns detalhes da carta foram alterados para proteger sua identidade.

UNISINOS

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Acentuem o lado positivo


Depoimento de um participante da Missa no Soho, em Londres
Os católicos gays estão se preparando para transferir suas atividades pastorais de uma igreja do centro de Londres para outra por ordem do arcebispo Vincent Nichols. Embora não tenham permissão de preparar a missa no novo local, um de seus organizadores diz que eles estão esperançosos em relação à mudança.

O artigo é de Mark Dowd, membro do Conselho Pastoral das Missas no Soho, e foi publicado na revista The Tablet, 12-01-2013. A tradução é de Luís Marcos Sander.

Eis o texto.

“Viver é mudar, e ser perfeito é ter mudado com frequência.” Esta famosa máxima do Cardeal Newman merece uma reflexão especial nesta época por parte dos membros da comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros (LGBT) das missas no Soho. No início na Quaresma, tudo será mudança na Igreja de Nossa Senhora da Assunção e São Gregório, no Soho. O arcebispo Vincent Nichols, que durante muito tempo tinha apoiado as missas do Soho, anunciou planos de incorporar a comunidade LGBT a meia milha de distância, em Mayfair, aos jesuítas da Farm Street, que é seu mais recente destino em uma breve e turbulenta história de 13 anos de duração. O espaço que ficou vago será passado aos ex-anglicanos do Ordinariato de Nossa Senhora de Walsingham.

As missas na Diocese de Westminster que acolhiam católicos LGBT, seus pais, famílias e amigos, começaram em abril de 1999, no domingo subsequente ao ataque a bomba contra o Admiral Duncan na Old Compton Street – um prédio público frequentado por membros da comunidade LGBT – que deixou três mortos e 70 feridos.

Essas primeiras liturgias foram celebradas no Convento dos Ajudantes das Santas Almas, a norte do Regent’s Park, e eu era um dos frequentadores regulares.

Durante muitos anos, meus amigos gays tinham me dito que eu odiava a mim mesmo e jamais seria aceito numa Igreja que ensinava que o próprio fato de ser gay era, nas palavras do Magistério, uma “desordem objetiva” (Homosexualitatis problema, 1986). Aqui havia uma prova de que o futuro poderia ser diferente. Dois anos mais tarde, quando o convento fechou, a florescente comunidade encontrou um outro “espaço seguro” de acolhida na Igreja Anglicana de Santa Ana, no Soho. Sacerdotes católicos romanos celebravam a missa lá, um fato que, às vezes, aborrecia o Cardeal Cormac Murphy-O’Connor, mas nenhuma medida foi tomada contra eles, apesar de, do ponto de vista técnico, estarem infringindo o direito canônico. À medida que o número de frequentadores aumentava, ele e seus assessores começaram a perceber o mérito de “regularizar” essa crescente comunidade eucarística. Por volta de 2006, iniciaram-se conversas sigilosas entre representantes das missas no Soho e da Arquidiocese de Westminster.

É instrutivo contrapor aquelas conversas, que implicavam negociações e consultas genuínas, à forma como foi feito o anúncio da semana passada. Elas duraram seis meses e incluíram alguns membros do mais alto escalão da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), que passaram um pente fino em muitos dos documentos que faziam parte do processo. Entretanto, por mais estranho que pareça agora, Roma efetivamente concordou com a providência referente à assistência pastoral prestada pelas missas do Soho.

A declaração de fevereiro de 2007 feita pela arquidiocese, que originou as liturgias da Warwick Street, continha uma grande ressalva, a saber, que “a celebração da missa não deve ser usada para fazer campanha em favor de qualquer mudança ou ambiguidade no ensino da Igreja”. Depois de frequentar durante quase seis anos as missas no Soho, posso ser sincero e garantir que isso foi observado o tempo todo. É ligeiramente inadequado que a liturgia tenha se tornado conhecida como “missa gay”, porque contei inúmeras ocasiões em que visitantes participaram dela absolutamente sem saber quem nós éramos e gostaram muitíssimo das nossas celebrações eucarísticas. Muitas vezes, era só depois, no andar de baixo, tomando uma xícara de chá com um biscoito, que a natureza do nosso grupo ficava clara para eles. E isso nunca teve qualquer importância. Muitas vezes, eles só comentavam sobre a qualidade da música e sobre o canto incomumente alto vindo de uma congregação católica.

Como é bem sabido agora, um número muito pequeno de católicos conservadores bombardearam a hierarquia com cartas. Eles tinham três queixas principais. Em primeiro lugar, que corríamos o perigo de estabelecer um gueto, quando nosso lugar era em nossas paróquias. A missa acontece duas vezes por mês, e a verdade é que muitos dos seus frequentadores também participam ativamente das suas paróquias locais, a tal ponto de que, às vezes, eles frequentavam a missa duas vezes nos domingos em que havia celebração no Soho. Uma segunda reclamação era que nós tínhamos um número muito pequeno de membros que tinham uma união civil, de modo que nós tínhamos nos tornado, nas palavras de um bloqueio ultramontano, uma “agência de marcação de encontros”.

A maioria dos católicos que conheço não têm o hábito de perguntar onde dormem seus irmãos e irmãs na fé. Nem em sonho eu perguntaria a um casal recém-casado, enquanto eles se encaminhavam para receber a comunhão, se praticavam controle da natalidade. O que tem incomodado a muitos de nós é que querem, de alguma forma, que prestemos contas especiais simplesmente porque, por acaso, temos uma orientação diferente. No verão de 2010, perguntei ao Arcebispo Nichols, num programa da Rádio BBC 4, a respeito da acusação de que muitos frequentadores das missas no Soho poderiam ser comungantes indignos. Sinceramente, fiquei surpreso com a veemência de sua resposta. Enfatizando a primazia da consciência, ele me disse que “qualquer pessoa de fora que esteja tentando emitir um juízo sobre as pessoas que vão à comunhão realmente deveriam aprender a se calar”.

Outras objeções se centraram em nossas orações de súplica ou intercessão, com alegações de que elas foram usadas como um instrumento para contestar o ensino da Igreja. Como leitor regular na missa, sei o que se passa lá e o que não. Num ambiente tão delicado, nós nunca correríamos riscos por dar um passo em falso. O que fizemos efetivamente foi rezar pelo fim da homofobia na Igreja e além dela, que é um objetivo inteiramente em consonância com o ensinamento da própria Igreja. Ouçamos mais uma vez Homosexualitatis problema (§ 10): “É de se deplorar firmemente que as pessoas homossexuais tenham sido e sejam ainda hoje objeto de expressões malévolas e de ações violentas. Semelhantes comportamentos merecem a condenação dos pastores da Igreja, onde quer que aconteçam.”

A admoestação do arcebispo acerca do “calar-se” incomodou muito os nossos oponentes, mas ele manteve seu apoio. Recentemente, ainda em fevereiro do ano passado, quando as missas passaram por um processo de revisão, ele disse: “Ao nos aproximarmos do 5º aniversário do estabelecimento de uma providência pastoral para os católicos de orientação dirigida a pessoas do mesmo sexo na Igreja de Nossa Senhora da Assunção, gostaria de reafirmar a intenção e finalidade dessa iniciativa missionária.”

Mas as cartas dos blogueiros ultraconservadores continuaram entrando, e, em outubro de 2012, eles acharam que tinham, na pessoa de Gerhard Ludwig Müller, um novo prefeito na CDF mais afinado com a visão de mundo deles.

Grande parte da cobertura da imprensa tem sugerido que Westminster agora capitulou a Roma, mas será que isso é tão simples assim? Talvez nunca venhamos a saber que palavras foram trocadas em privado no final do outono de 2012, mas vale a pena reafirmar o que o arcebispo não fez. Ele não aboliu o Conselho Pastoral das Missas no Soho que organizava as missas na Warwick Street. Não disse qualquer palavra condenatória sobre as missas ou nosso comportamento.

Além disso, em sua declaração da semana passada, ele reiterou que o Conselho deve continuar sendo o veículo diocesano de cura pastoral para os católicos LGBT. Essa necessidade agora é maior do que nunca, e é essencial que ela continue. O número de pessoas que vêm à nossa comunidade continua a aumentar (180 estiveram presentes na Festa da Epifania). De importância especial é a chegada de católicos gays ugandenses, que fugiram de um país em que há ameaças de punir a homossexualidade com a morte. Conosco eles encontraram calor humano e aceitação. Sem o nosso status público claro e inequívoco, será realmente provável que eles poderiam ter chegado a Londres e relatado seus mais profundos temores em sua primeira visita a uma paróquia típica? Podemos ter 100% de certeza de que eles teriam recebido uma acolhida marcada por simpatia?

Há mais, muito mais, dessa história para contar. Não se pode negar que diversos membros nossos se sentem magoados e traídos por perderem “seu lar”, e pode ser que percamos alguns deles. Realmente espero que isso não ocorra. Também estamos possivelmente sujeitos a perder parte de nossa autonomia litúrgica. Há muita coisa a ser negociada.

Mas, ao passarmos para a Farm Street, não haverá alguns aspectos positivos? Estaremos atuando sob os auspícios de jesuítas acolhedores, e não estaremos mais tão estreitamente vinculados ao esquema da arquidiocese, que se preocupa constantemente com a supervisão de Roma. Daremos a uma das mais famosas igrejas da Inglaterra um conjunto maravilhoso de leitores, ministros da Eucaristia e músicos (quatro organistas, pela última contagem). E o que talvez seja o mais importante é que a mudança irá desafiar nossa própria percepção do que é “igreja”. Será um apego a um simples prédio feito de tijolos e argamassa? Ou um chamado a testemunhar como corpo fisicamente presente de Cristo – um sinal profético de contradição integrado num contexto católico mais pleno?

Nós jamais sonharíamos em sancionar missas para católicos canhotos. Em um mundo futuro, em que a minha orientação não seja vista como “desordenada”, em que jovens homens e mulheres não sejam mais ameaçados e tirem sua própria vida por serem “diferentes”, gays e héteros se misturarão invisivelmente sem que sobrancelhas sejam franzidas. Será que os primeiros vislumbres desse mundo aparecerão em nosso novo lar jesuíta na missa das 18h15min? Será isso o que o astutamente pragmático arcebispo pretende?

Ele prometeu estar conosco no dia 3 de março quando de nossa primeira Eucaristia em Mayfair. Essa pode ser uma boa ocasião para perguntar a ele.

Fonte: UNISINOS

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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Poema do Menino Jesus




Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
(...)

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

(...)

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

(...)

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?
Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

Translendário 2013



O grupo teatral cearense As travestidas, criado pelo ator e diretor Silvero Pereira, lançou a segunda edição do seu calendário. Segundo o texto de apresentação: “o Translendário 2013 tem como tema a discriminação e rejeição social e religiosa. Fazendo alusão ao movimento dos afrodescendentes recém-chegados ao Brasil que, ao serem proibidos de exercerem sua religiosidade, criaram sua própria identidade religiosa. Deste modo, nesta edição de 2013 fazemos um grito à sociedade excludente e criamos nossas Deusas, Divindades e Santas. Este trabalho foi gerado como luta para demonstrar que somos todos iguais perante deuses, entidades, santos e divindades.”. Há o "Protetor da Prevenção", a "Protetora das Injustiçadas", o "Guia Espiritual da Androginia", o "Profeta Trans", a "Nossa Senhora das Esquinas" (foto) e outras entidades. A direção de arte é de Andrei Bessa e Silvero Pereira e as fotos de Sol Coêlho. O projeto foi realizado através de financiamento coletivo pelo site Catarse.me.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A batalha perdida da Igreja


Artigo de Danièle Hervieu-Léger
"Três movimentos – a igualdade dos direitos a partir do âmbito íntimo, a desconstrução da suposta ordem da natureza, a legitimidade da instituição agora com base na relação dos indivíduos – cristalizam-se juntos em uma necessidade irreprimível: a do reconhecimento do matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, e seu direito, por intermédio da adoção, de formar uma família", escreve Danièle Hervieu-Léger, socióloga, diretora de estudos na EHESS (Ecole des hautes études en sciences sociales, ex-diretora do Centro de estudos interdisciplinares dos fatos religiosos (CNRS/EHESS) e ex-presidene da EHESS de 2004 a 2009, em artigo publicado pelo jornal Le Monde, 13-01-2013.

Segundo a socióloga, "é pouco provável que a Igreja possa conter o curso da evolução. Hoje ou amanhã, a evidência do casamento homossexual acabará por impor-se na França como em toda a sociedade democrática. O problema não é saber se a Igreja “perderá”: ela já perdeu – bem no seu interior e também na hierarquia sabe disso".

"O problema mais crucial que a Igreja deve enfrentar - afirma Hervieu-Léger - é o da própria capacidade de produzir um discurso que possa ser ouvido sobre o fundamento das questões que se colocarão no cenário revolucionado do relacionamento conjugal, da paternidade e das relações familiares, por exemplo, o do devido reconhecimento da singularidade irredutível de cada indivíduo, além da configuração amorosa – heterossexual ou homossexual – em que está envolvido".

A tradução é de Anete Amorim Pezzini.

Danièle Hervieu-Léger é autora, entre outros, dos seguintes livros: "Vers un nouveau christianisme" (éd. Cerf, 2008), "Le Retour à la nature" (éd. de l'Aube, 2005) e "Catholicisme, la fin d'un monde" (Bayard, 2003).

Eis o artigo.

O discurso hostil da Igreja sobre “o casamento para todos” confirma a sua incapacidade de adaptação às novas formas de família no debate sobre matrimônio para todos. Não surpreende que a Igreja Católica faça ouvir a sua voz. Surpreende em muito que evita cuidadosamente qualquer referência a uma proibição religiosa. Para rejeitar a ideia do casamento homossexual, a Igreja, de fato, invoca uma “antropologia” pela qual sua “experiência em humanidade” dá-lhe autoridade para referir-se a todas as pessoas, e não somente aos seus fiéis. O núcleo dessa mensagem universal é a afirmação segundo a qual a família conjugal – constituída de um pai (masculino) e de uma mãe (feminina) e dos filhos que eles procriam juntos – é a única instituição natural capaz de fornecer a relação entre cônjuges e entre genitores e filhos, a condição da sua realização.

Atribuindo a essa definição da família uma validade “antropológica” imutável, a Igreja defende, na realidade, um modelo de família que ela mesma produziu. Ela começou a dar forma a esse modelo desde os primeiros tempos do cristianismo, lutando contra o modelo romano de família que se opunha ao desenvolvimento de seus negócios espirituais e materiais, e fazendo da vontade dos dois esposos em contrair núpcias a própria base do casamento.

No modelo cristão de casamento – estabilizado entre os séculos XII e XIII –, pressupõe-se que a vontade divina se exprima em uma ordem natural, atribuindo à união o papel da procriação e mantendo o princípio de submissão da mulher ao homem. Significaria ser injusto para com a Igreja não reconhecer a importância que esse modelo teve na proteção dos direitos das pessoas e no desenvolvimento de um ideal de casal fundado sobre a qualidade afetiva da relação entre os cônjuges. Mas a distorção operada fazendo referência insuperável a cada possibilidade de matrimônio humano foi, assim, tornada somente mais palpável.

De fato, essa antropologia produzida pela Igreja entra em conflito com tudo o que os antropólogos descrevem em lugar da variabilidade dos modelos de organização da família e da paternidade no tempo e no espaço. Em seu esforço para manter distante a relativização do modelo familiar europeu induzido nesta constatação, a Igreja não recorre somente à ajuda de um saber psicanalítico, embora este mesmo seja constituído em referência àquele modelo.

Encontra também na homenagem insistente feita no código civil, um meio para dar um superávit de legitimação secular à sua oposição a cada evolução da definição jurídica de casamento, o que é inesperado, se se leva em consideração a hostilidade que ela manifestou em seu tempo à instituição do matrimônio civil. Mas essa grande adesão pode ser explicada, se nos recordarmos de que o Código Napoleônico, que eliminou a referência direta a Deus, todavia, parou a secularização no limiar da família: substituindo a ordem com base em Deus pela ordem não menos sagrada da “natureza”. O direito tem feito isso com frequência; ele garante a ordem imutável que atribui aos homens e às mulheres os papéis distintos e desiguais por natureza.

A referência preservada pela ordem não instituída da natureza permitiu afirmar o caráter “perpétuo por destino” do casamento e proibir o divórcio. Essa extensão secular do casamento cristão operada pelo direito contribuiu para preservar, além da laicização das instituições e da secularização da consciência, a âncora cultural da Igreja em uma sociedade em que não lhe era autorizado dizer a lei em nome de Deus na esfera política: o âmbito da família permaneceu, na verdade, o único em que podia continuar a lutar contra a problemática moderna da autonomia do indivíduo-sujeito.

Se a questão do casamento homossexual pode ser considerada como o lugar geométrico da exculturação da Igreja Católica na sociedade francesa, é devido ao fato de que três movimentos convergem para este ponto, para dissolver os resíduos de afinidade eletiva entre a problemática católica e a secular do casamento e da família.

O primeiro desses movimentos é a extensão da demanda democrática fora da única esfera política: uma reivindicação que atinge a esfera da intimidade conjugal e da família, que faz valer os direitos inalienáveis do indivíduo sobre cada lei dada pelo alto (a da vontade de Deus ou a da natureza), e rejeita todas as desigualdades com base na natureza entre os sexos. A partir desse ponto de vista, o reconhecimento jurídico do casal homossexual insere-se no movimento que – da reforma do divórcio à liberação da contracepção e do aborto, da redefinição da autoridade paterna à abertura da adoção para as pessoas celibatárias – têm trazido a questão da autonomia e da igualdade dos indivíduos na esfera privada.

Essa expulsão progressiva da natureza fora do âmbito do direito em si mesma torna-se irreversível por um segundo movimento, que é colocar em discussão a assimilação, adquirida no século XIX, entre a ordem da natureza e a ordem biológica. Essa assimilação da “família natural” pela “família biológica” está inscrita na prática administrativa e no direito.

De parte da Igreja, o mesmo processo de biologização resultou da equivalência estabelecida entre a ordem da natureza e a vontade divina, em fazer coincidir, de maneira muito surpreendente, a problemática teológica antiga da “lei natural” com a ordem das “leis da natureza” descoberta pela ciência. Esse esmagamento permanece no princípio da sacralização da fisiologia que marca os argumentos papais em matéria de proibição da contracepção ou da procriação assistida por médicos. Mas, no início do século XXI, é a própria ciência que contesta a objetividade de tal “lei da natureza”.

A natureza não é mais uma “ordem”: é um sistema complexo que combina ação e retroalimentação, regularidade e incógnitas. Essa nova abordagem faz andar aos pedaços os jogos de equivalência entre naturalidade e sacralidade sobre os quais a Igreja armou seu discurso normativo a respeito de todas as questões relativas à sexualidade e à procriação. Resta-lhe, então, como única legitimação exógena e “científica” de um sistema de proibição que tem sempre menos sentido na cultura contemporânea, o recurso intensivo e desesperado à ciência dos psicanalistas, recurso mais precário e sujeito a contradições, do que recorrer às “leis” da antiga biologia.

A fragilidade das novas montagens sob a fiança psicanalítica, mediante a qual a Igreja baseia em absoluto a sua disciplina do corpo, é realçada pela evolução da própria família conjugal, porque o advento da “família relacional” fez, em pouco mais de meio século, prevalecer o primado da relação entre os indivíduos sobre o sistema de posições sociais com base sobre as diferenças “naturais” entre os sexos e a idade.

O coração dessa revolução, em que o controle da fecundidade tem uma parte imensa, é a separação do casamento da paternidade e a correlativa pluralização dos modelos familiares compostos e recompostos. O direito de família homologou esse fato importante e inevitável: já não é mais o casamento que faz o casal, é o casal que faz o casamento.

Esses três movimentos – a igualdade dos direitos a partir do âmbito íntimo, a desconstrução da suposta ordem da natureza, a legitimidade da instituição agora com base na relação dos indivíduos – cristalizam-se juntos em uma necessidade irreprimível: a do reconhecimento do matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, e seu direito, por intermédio da adoção, de formar uma família. Diante dessa demanda, os argumentos sustentados pela Igreja – o fim da civilização, a perda de pontos de referência fundados no humano, a ameaça de dissolução da unidade familiar, a falta de diferenciação dos sexos etc. – são os mesmos que foram usados, no momento, para criticar o envolvimento profissional das mulheres fora de casa ou para combater a instituição do divórcio por mútuo consentimento.

É pouco provável que a Igreja possa, com esse tipo de armas, conter o curso da evolução. Hoje ou amanhã, a evidência do casamento homossexual acabará por impor-se na França como em toda a sociedade democrática. O problema não é saber se a Igreja “perderá”: ela já perdeu – bem no seu interior e também na hierarquia sabe disso.

O problema mais crucial que ela deve enfrentar é o da própria capacidade de produzir um discurso que possa ser ouvido sobre o fundamento das questões que se colocarão no cenário revolucionado do relacionamento conjugal, da paternidade e das relações familiares, por exemplo, o do devido reconhecimento da singularidade irredutível de cada indivíduo, além da configuração amorosa – heterossexual ou homossexual – em que está envolvido.

E ainda o problema da adoção, que era o parente pobre da filiação, poderia, ao contrário, tornar-se o paradigma de cada paternidade em uma sociedade, na qual, independentemente do modo como se faz a escolha de “adotar o próprio filho”, e então comprometer-se com ele, constitui-se na única defesa contra as perversões possíveis do “direito de ter um filho”, que ameaçam os casais heterossexuais não menos do que os casais homossexuais.

Nesses diversos âmbitos, espera-se uma palavra dirigida às pessoas livres. O casamento homossexual não é, por certo, o fim da civilização. Mas poderia constituir um marco dramático como o foi a encíclica Humanae Vitae, em 1968, no caminho para o fim do catolicismo em França, se o discurso da Igreja permanecer somente o da proibição. E essa não é uma hipótese puramente teórica.

Fonte

Encontro com Dom Anuar em Maringá




Tendo o bispo se incomodado com a utilização da imagem da Catedral (símbolo da Cidade) no cartaz de divulgação da Parada LGBT de Maringá, os organizadores mudaram a foto e foram se encontrar com o Bispo, para dizer que não se tratava de provocação. Aproveitaram e apresentaram ao Bispo um quadro sobre crimes e as vitimas da homofobia na região. O Bispo mostrou-se profundamente sensibilizado e dispôs-se a realizar um trabalho que juntos chamaram de pastoral da diversidade.

O resultado desta conversa foi que o bispo se interessou muito quando soube que havia um grupo de gays católicos que já fazia um trabalho assim no RJ e convidou-nos para uma conversa em Maringá.

Fui representando o DC e do encontro participaram o pastor Célio Camargo, da ICM (Igreja Cristã Metropolitana, inclusiva), alguns padres convidados pelo bispo e um casal de pastores luteranos que, embora não falassem em nome da Igreja luterana hierárquica, fizeram questão de prestar sua solidariedade pessoal.

O bispo disse que gostaria de levar a ideia da pastoral da diversidade ao encontro dos bispos a que iria no mesmo final de semana. Disse a ele que apreciava a boa intenção, mas que acreditava que sua ideia não seria bem acolhida, por enquanto. Mas que o importante era indicar que havia vozes dissonantes na Igreja que recusam o lugar de anti-gays e o mesmo entre gays, há os que recusam o lugar de anti-igreja e que anseiam por sua realização espiritual, além das naturais expressões de sua afetividade.

O resultado do encontro foi um manifesto conjunto, proposto pelo bispo, após minha argumentação em que todos assinavam a proposta de abalar o antagonismo Igreja-Movimento LGBT.

Aos gays deve ser resguardado o direito de viver sua dimensão espiritual – dentro ou fora da Igreja.

À Igreja deve ser resguardado o direito de exercer o verdadeiro amor cristão inclusivo. Há os que não se sentem confortáveis no papel de antagônicos aos gays - de disseminar preconceito ou de fornecer justificativa a atos de homofobia.

Arnaldo Adnet do Diversidade Católica

Foto: Encontro de Arnaldo Adnet do Diversidade Católica com Dom Anuar , Diácono João Luiz, Padre Rildo, Luiz Modesto, Maria Newnum , Steve Newnum e Pastor Célio Camargo da ICM Maringá no dia 18 de maio de 2012 em Maringá.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

CATÓLICOS FRANCESES PELO CASAMENTO GAY


Declaração do jornal Témoignage Chrétien sobre a lei do casamento para todos, por ocasião das manifestações de 16 de dezembro de 2012 e de 13 de janeiro de 2013.
A homossexualidade foi perseguida ou oprimida há longos séculos. Ora, trata-se de uma orientação sexual tão legítima e digna quanto a heterossexualidade.

O matrimônio é um contrato escolhido hoje por pessoas tão livres e voluntárias como nunca foram antes. É um contrato que pode legalmente terminar ou se renovar. Há famílias constituídas fora do matrimônio, e 40% das crianças nascem fora dele.

Recusar este contrato aos homossexuais seria acrescentar mais uma discriminação aos que frequentemente já sofrem inúmeras. Por isso consideramos justo abri-lo aos que querem uma legitimação maior da sua união. Compete às religiões refletirem sobre o sentido religioso do casamento, mas seria um erro político grave colocar uns contra os outros. Lembremo-nos enfim que os mesmos que se orgulham das virtudes da união civil hoje, depois de terem rejeitado o PaCS [Pacto Civil de Solidariedade] no passado, muitas vezes com as mesmas palavras, são os primeiros responsáveis por uma radicalização causada pelo seu fechamento às liberdades individuais. Esperamos que a lição sirva.

► Não acreditamos que o casamento para todos dissolverá a sociedade. O divórcio não fez o matrimônio desaparecer. Um grande número de divorciados se casa novamente. Se o casamento para todos é um modo de integração suplementar na sociedade, não há porque hesitar.

► Consideramos o projeto de lei atual um progresso real. Distinguimos a conjugalidade, a parentalidade e a filiação. O direito de toda criança de conhecer suas origens e sua filiação é um direito essencial, salvo na impossibilidade ou em caso de força maior de natureza patológica.

Enfim, pedimos a todos que abram os olhos à realidade da solidão de milhões de pessoas, em situação de indigência material, afetiva e psicológica às vezes terrível. Mais do que interrogar-se abstratamente sobre as supostas desordens antropológicas da abertura do casamento a uma parcela pequena da população, não seria melhor empregarmos nossas energias na desordem antropológica, bem real neste caso, de uma sociedade cujas formas de consumo, produção e partilha são tão pouco respeitosas da pessoa humana e da sua dignidade?

A humanidade se engrandece quando os cidadãos recusam a sacralizar os laços de sangue, e dão prioridade aos laços de fraternidade que os unem. Assim o que os une, mesmo dentro da família, procede da adoção. Cristo na cruz disse a João: “João, eis a tua mãe”; e à sua mãe: “mulher, eis o teu filho”. Não é a paternidade biológica, não são os laços de sangue que nos fazem irmãos e irmãs. Nosso DNA único e comum é um amor fraterno que sempre afasta para longe as fronteiras dos nossos preconceitos e dos nossos medos.

Témoignage chrétien…

Fundado em Lião, em 1941, na clandestinidade da resistência ao nazismo, Témoignage chrétien é um jornal que quer responder ao imperativo espiritual da fraternidade. Atuante na descolonização, engajado nos movimentos sociais, resolutamente fiel ao Concílio Vaticano II e à sua visão ecumênica, ligado à laicidade, quer testemunhar o que, nos acontecimentos, faz e desfaz o humano.

É um espaço aberto a toda pessoa, qualquer que seja sua confissão, judia, cristã, muçulmana... crente, agnóstica ou ateia, que deseja traduzir em atos a resposta à interrogação bíblica: “o que fizeste com teu irmão?”.

Fonte
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