sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Como o Messias


...cada um deve agir como se fosse o Messias. O Messianismo não é a certeza da vinda de um homem que detém a História. É meu poder de responsabilizar-me por todos.

- Emmanuel Levinas

Bom fim de semana para todos... :-)

Gays não devem discutir sobre a Bíblia? Ou sim?

Foto: Kenji Aoki

O post de ontem levantou nos seus comentários argumentos muito pertinentes quanto a envolver-nos ou não em discussões sobre as diferentes interpretações de trechos das Escrituras que costumam ser usados contra os gays  (como se o texto sagrado, sagrado justamente por ser portador da mensagem de amor de Deus por nós, pudesse ou devesse ser usado contra quem quer que seja. Triste, mas enfim).

O Rev. Marcio Retamero, por exemplo, observou que se interessa "mais pelas pessoas excluídas que ouvirão/lerão o debate do que com o fundamentalista arraigado nas suas fósseis opiniões". Um ponto crucial, sem dúvida, sobretudo para quem desenvolve um trabalho pastoral junto ao público gay.

O curioso é que cheguei ao artigo da Rev. Candace Chellew-Hodge justamente através de outro artigo, publicado no site da revista Religion Dispatches, em que Jay Michaelson, fundador do Nehirim (revista de cultura e espiritualidade judaicas LGBT) e doutorando em Pensamento Judaico na Hebrew University, e a própria Rev. Chellew-Hodge dialogam a respeito do tema.

Michaelson defende uma estratégia não de tentar "vencer" na discussão sobre os versículos mais comumente "usados contra" os gays, mas de apenas buscar o "empate"; isto é, adotando a mesma lógica de uma leitura literal do texto bíblico, mostrar que o significado das palavras no texto original não era exatamente o que costuma ser interpretado pelos "fundamentalistas" de hoje. Desse modo, ficaríamos diante de duas interpretações igualmente coerentes desses versículos - daí o empate. A vitória, argumenta ele, viria a partir do momento em que, para "desempatar", ou seja, para solucionar a ambiguidade e escolher uma das duas interpretações, seria preciso recorrer ao contexto mais amplo e à mensagem geral da Sagrada Escritura: o amor incondicional de Deus, sua infinita misericórdia e compaixão. Nesse caso, como optar pela leitura que defende que pessoas sejam penalizadas por um traço involuntário? "Assim", entende ele, "entre duas leituras igualmente válidas, aquela que mantém nossos valores fundamentais de amor, companheirismo, justiça, honestidade e dignidade humana vence."

Para ele, não há nada de errado em ser literalista. Pelo contrário: a seu ver, a partir do momento em que se admite que é possível fazer uma leitura literal distinta daquela dos fundamentalistas e tão em voga hoje em dia, "aí podemos conversar sobre o mais importante: como a graça de Deus opera nas vidas dos gays, como o amor entre gays é um caminho para a santidade, e dar nosso testemunho da verdade contida na experiência gay: a diversidade sexual existe. E podemos falar a partir da nossa própria experiência e testemunho".

A Rev. Chellew-Hodge responde que sua experiência pessoal, depois de muitos anos aproveitando toda oportunidade para engajar-se nesse tipo de discussão, é que o "empate" esperado por Michaelson é inatingível porque "quem desaprova a homossexualidade, por mais compaixão que possa sentir pelos gays (...), e aqueles que mais se apegam à certeza de sua interpretação das Escrituras não têm o menor interesse em admitir qualquer 'falta de clareza' nos versículos usados contra os gays. Não existe um ponto de partida comum a partir do qual construir tal redefinição".

"Discutir sobre as Escrituras (...)", diz ela, "só frustra os envolvidos no debate e continua a obscurecer a verdadeira questão de que a Bíblia nos convida a preferir a graça ao julgamento, a aceitação à rejeição e o amor ao ódio. Por isso deixei de discutir sobre as Escrituras" [grifo nosso].

E ela conclui:

"Isso não significa que eu não esteja aberta ao diálogo sobre a Bíblia (...). Se encontro alguém que esteja honestamente em busca do que as Escrituras podem ou não ter a dizer sobre a questão da homossexualidade, e se ambos estivermos dispostos a ser abertos e honestos quanto às nossas leituras do texto, se nos dispusermos a expor um ao outro nossas fragilidades na conversa, aí estou totalmente disposta a conversar. Contudo, recuso-me a discutir. Não vou jogar para ver quem ganha.

"Em suma, uma vez que estejam claras para você as questões da Bíblia e da homossexualidade, você nunca mais terá necessidade de discutir sobre esses versículos outra vez. Por quê? Porque você não precisa se justificar perante nenhum ser humano. Não é a aprovação de uma pessoa que você busca, mas a de Deus. Uma vez que você sinta que se entendeu com Ele, que sua orientação sexual é um dom de Deus a ser usado a serviço da Sua glória, todas as discussões perdem o sentido. Sua fé se torna inabalável, e nenhum inimigo a vencerá."

E você? O que você acha? :-)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Gays não devem discutir sobre a Bíblia?


O jornal americano The Huffington Post publicou recentemente em seu site um interessante artigo da Reverenda Candace Chellew-Hodge, fundadora e editora do Whosoever, uma revista online para cristãos GLBT. A propósito do nosso post recente sobre o filme Assim me diz a Bíblia, achamos oportuno traduzir alguns trechos:


Há vários motivos por que gays e lésbicas não deveriam discutir sobre a Bíblia. Em primeiro lugar, porque é inútil, e ninguém ganha nada com isso. As pessoas antigay valem-se das suas próprias referências e interpretações das escrituras, assim como os simpatizantes dos gays. Ninguém ganha uma discussão dessas porque ninguém vai acreditar nos estudiosos do outro lado, qualquer que sejam os argumentos utilizados.

Segundo, discutir sobre as escrituras apenas leva ao endurecimento das opiniões de um lado e de outro. Nenhum lado está disposto a ceder. Não se trata de um verdadeiro diálogo, mas de uma mera disputa para ver quem consegue sustentar o bate-boca mais tempo, e geralmente falando mais alto. Ninguém se deixa convencer, e os dois lados acabam mais irritados e agarrados às suas próprias ideias. Não ocorre nenhum esclarecimento, e muito pouca, ou nenhuma, compaixão.

Terceiro, os debatedores dos dois lados nunca começam do mesmo ponto de partida: os antigay tendem a ver a Bíblia como a infalível "Palavra de Deus", (...) diretamente inspirada por Ele e jamais passível de contestação. (Ainda que a Bíblia seja repleta de contradições, a maioria das quais ignoramos sem nenhum problema.[...])

Os defensores do lado gay tendem a ver a Biblia como inspirada por Deus, mas (...) mostram-se mais abertos a diferentes interpretações e abordagens da Escritura. Os que consideram a Bíblia a "palavra literal de Deus" conhecem apenas uma maneira de ler cada passagem, e em geral optam por aquela que justifica suas crenças atuais sobre Deus, homossexualidade ou qualquer outro tópico.

O motivo mais importante pelo qual os gays não deveriam nunca discutir sobre as Escrituras é que a Bíblia nada tem a dizer sobre homossexualidade. Precisamos lembrar que é um livro antigo, escrito nos tempos em que as pessoas acreditavam que o mundo era plano e a Terra situava-se no centro de um universo dividido em três planos, com o céu acima e o inferno abaixo; (...) que toda a reprodução humana estava contida no esperma e a mulher não passava de uma incubadora. As mulheres, aliás, eram tidas como gado - propriedade a ser transmitida do pai para o marido, deste para seu irmão e assim por diante. Tempos em que a escravidão era entendida como tendo sido ordenada por Deus e os pecados eram lavados mediante o sacrifício de animais.

Em suma, não podemos extrair ideias modernas de um livro antigo. Os autores da Bíblia não sabiam sobre  homossexualidade mais do que sabiam sobre uma Terra esférica girando ao redor do sol.  No máximo fizeram comentários sobre comportamentos sexuais homoeróticos em situações de luxúria e abuso, mas nada disseram - nem a favor, nem contra - o moderno conceito de orientação sexual. Se não aceitamos o que a Bíblia diz sobre a Terra ser plana e as mulheres serem meras incubadoras (...), por que tomá-la por uma autoridade em orientação sexual?

A Bíblia é um livro sagrado porque descreve a jornada humana junto a Deus, e não o contrário. Se acompanha a nossa jornada junto a Deus, deve acompanhar a evolução do nosso entendimento acerca da atuação do Sagrado neste mundo. A humanidade deixou de ver Deus como um juiz e legislador severo e aprendeu a ver Deus como pleno de graça, misericórdia e amor.

Não vamos entender Deus escrutinando detalhes do livro e proclamando-os uma verdade eterna. Pelo contrário, a Bíblia nos põe em contato com Deus quando reconhecemos sua mensagem geral, que pode ser sintetizada por 1 João 4:7-8: "Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor".

Gays não deveriam jamais discutir sobre as Escrituras não só porque estas não condenam a homossexualidade, mas também porque esse tipo de debate não produz nada além de discórdia, dissensão e ódio, e tudo aquilo que não produz amor não vem de Deus. Em vez de discutir, amemo-nos uns aos outros, mesmo àqueles de quem discordamos. Essa é a mensagem de Deus para nós. Nada mais importa.

O que você acha? Deixe sua opinião nos nossos comentários e ajude-nos a enriquecer o debate. :-)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A militância de Jesus de Nazaré, o Cristo de todos


“Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão.
Se fecharem uns poucos caminhos, mil trilhas nascerão...
Muito tempo não dura a verdade, nestas margens estreitas demais,
Deus criou o infinito pra vida ser sempre mais!
É Jesus, este pão da igualdade, viemos pra comungar,
com a luta do povo que quer ter voz, ter vez, lugar!
Comungar é tornar-se um perigo, viemos pra incomodar!
Com a fé e a união nossos passos, um dia, vão chegar!”
("Se calarem a voz dos profetas", Antonio Cardoso)

Uma porta aberta para a acolhida e a aceitação da diversidade da criação

De modo freqüente estamos nos deparando com um dilema: nossa ação se reduziria à militância ou à não militância? Abaixo a militância? Viva a militância? Seria aqui o espaço de mais uma militância? Mas seria possível abrir mão aqui, no nosso espaço, de alguns aspectos presentes naquilo que entendemos por militância? O que é militar? Atuar em prol de algo que se crê provavelmente com a disciplina ou, pelo menos, com a atitude espartana, o protótipo de uma militia. Mas os espartanos já vão longe e, em nome do “sejamos criativos”, deixemos o cimento disciplinar e belicoso que aglomerava as milícias espartanas.

Recordemos a atitude de um outro militante, ousamos assim chamá-lo, pois apaixonadamente defendeu até o fim o que e em quem acreditava: Jesus de Nazaré. Propomos, pois, a reflexão sobre o sentido da militância de Jesus: a vida plena e digna para todos, não importando se homem ou mulher, se de Jerusalém ou da Samaria, se judeu ou gentio. Propomos, ademais, a discussão acerca do sentido da militância, tendo como modelo o que encontramos nas ações de Jesus.

Particularmente, cremos no Jesus militante, não à maneira zelota, mas aquele que foi assassinado pelas autoridades religiosas, com a complacência das autoridades políticas, por defender vigorosamente um sentido diferente do encontrado no discurso oficial religioso. Não precisamos reunir aqui passagens que refresquem a memória de vocês, pois todos nós temos, ao menos, uma ou duas, “de cabeça”, na ponta da língua. As atitudes de Cristo nos recordam a possibilidade humana – tão-somente humana – de defender, em nome de uma inclusão na sociedade, os que estão nas bordas por diversos motivos; afinal, nós, humanos, somos pródigos em inventar os motivos! No nosso caso, aqueles que, para muitos, não merecem nem o nome de “filho de Deus”, ou quando muito, a tolerância da inclinação homoerótica e seu complemento necessário, a condenação da ação. Aqueles que são nomeados, equivocadamente ou não, homossexuais e por assim serem, estão excluídos desde a comunhão, passando pelo rol mínimo de direitos constitucionais e chegando até mesmo ao direito à vida.

Reunamos essa perigosa e desconfortável marginalidade social ao tema da militância de Jesus de Nazaré: pensemos nessa relação e no convite que ela nos propõe. A sedução de Iahweh é o que nos move, como impeliu o profeta há mais de dois milênios. A sedução não de mais um “partido”, ou “grupo” ou “milícia”, mas a sedução de uma mensagem que tem atravessado séculos e ainda continua fresca: a possibilidade da aceitação do outro na sua integridade, na sua diferença, na sua semelhança com a divindade e com as demais criaturas.

Nossa tarefa é mostrar o quão seduzidos estamos pela mensagem do cristianismo como porta aberta para os que crêem na mensagem inclusiva de um Deus que atravessa os desertos e os mares, soprando onde deseja, sobre todos, cuja máxima é o amor ao próximo como a si mesmo, tendo como horizonte o amor de Deus por suas criaturas. Um amor tão radical que não se apequena diante de bordões como “amo o pecador, mas detesto o pecado”, até porque o amor não pode ser fonte de pecado.

Nossa tarefa é atuar na recordação dessa memória do cristianismo, inclusivo e ‘includente’, em que pese toda a força do discurso religioso oficial. Afinal, a Igreja é o “povo de Deus”, como afirmou o Concílio Vaticano II. E para esse povo Deus, desde que se apresentou a Abraão, tem mostrado que a vida digna e plena para todos é o seu grande objetivo, o qual somente poderá ser atingido mediante a ação das pessoas, porque cada um de nós somos as mãos e os pés divinos.

Retomando o viés histórico da noção de homossexualidade, propomos a discussão sobre a extensão do homoerotismo ou da orientação homossexual ou da inclinação homossexual na vida de cada um daqueles que se encontra nessa situação. Essa reflexão evidencia que a dimensão homoerótica é fundamental para fazer com que cada um seja o que é, contudo ela não esgota aquilo que somos, tal como o heteroerotismo também não.

Afora trejeitos, modos de vestir, gostos, algo identifica uma parcela da população humana: a orientação ou inclinação homoerótica/homoafetiva ou, conforme uma parte considerável do senso comum, “a pouca vergonha na cara” que faz com que mulheres busquem mulheres e homens busquem homens para repartir os momentos da vida, prazerosos e não prazerosos. Isto que os identifica tem sido motivo da vida à margem. De acordo com cada situação histórica, uma perigosa marginalidade.

Isso que os identifica, a partir do século XIX, recebeu uma denominação: homossexualidade, inicialmente situada como uma doença e que, no século XX, foi tirada da relação de enfermidades. Um nome e um rótulo identitário que não esgotam aquilo que as pessoas são. Todavia, ao mesmo tempo, o nome nomeia algo que as identifica e marginaliza. Todo conceito não dá conta das existências plenas dos entes que conceitua, mas, por outro lado, não deixa de fazê-los ser entendidos. No fio da navalha dessa ambivalência, a homossexualidade é um nome que não deve ser rótulo, mas que deve merecer ser apresentado em sua construção histórica, que, como qualquer situação humana, implica limites e usos limitados. Nesse sentido, a experiência homoerótica recebeu o nome de homossexualidade sendo, a partir de então, reconhecida como prática homossexual.

A grande maioria reconhece, equivocada e limitadamente ou não, os homens e mulheres homoeróticos, que constroem relações homoafetivas, como homossexuais. Cremos não ser possível ainda não utilizar essa nomeação. Entretanto, faz-se necessário mostrar o quanto ela é pouca, o quanto ela é limitada e limitadora para dizer o que as pessoas vivem.

No âmbito do olhar que lançamos aos indivíduos que vivem essa experiência, tal nomeação não deve ser rótulo que fixa de modo determinista (essencialista) algo como uma individualidade homoerótica que, a partir de então, somente poderia existir enquanto indivíduo homossexual: nesse caso, por exemplo, um homem homossexual antes de ser homem é visto pela sua adjetivação homossexual e passa a ser considerado como um homossexual homem. O que aconteceu aí foi a redução dessa pessoa a um elemento – um importante elemento, diga-se de passagem – de sua constituição. De fato, esse nome designa, quando muito, apenas um modo identitário de ser e que recorrentemente é utilizado pelos mecanismos e instrumentos discriminatórios para excluir, para tratar de modo intolerante, para restringir, para romper o princípio jurídico de igualdade entre as pessoas e, ainda, a mesma filiação divina. Especialmente quando essa compreensão é incorporada por aqueles que, de alguma maneira, o nome pode nomear, com alguma freqüência vemos ocorrer a assimilação absoluta do padrão identitário sexual e ainda dos estereótipos e a vivência cotidiana a partir deles, dada a dificuldade de descolar o padrão e os estereótipos e encontrar outros modos de ser e viver: no plano individual a identidade homossexual é afirmada e vivida como se não fosse possível a convivência com outras (ser pai, ser mãe, ser católico, ser atleticana, ser negro, por exemplo). Quando esse entendimento é absorvido pelos outros que o nome não nomeia, freqüentemente também vemos ocorrer, mediante a assimilação absoluta do padrão identitário sexual e dos estereótipos, a redução das diferentes possibilidades de ser e viver daquele/a que vive o amor homoerótico apenas à dimensão identitária homossexual: as pessoas são vistas e discriminadas por sua identidade sexual que pretensamente determina o que elas são.

No horizonte cristão esses eventos também ocorrem e põem a perder a mensagem inclusiva de Jesus de Nazaré como o Cristo de todos, que tem mantido seus braços abertos para todos. Como fonte inesgotável do amor, que faz novas todas as coisas, tem renovado em nós a esperança da mensagem inclusiva cristianismo. Movido pelo Espírito que sopra onde quer, Ele nos leva pela estrada do acolhimento da diversidade presente na criação, fazendo de nós sementes e semeadores do Reino de Deus.

Valéria Wilke
Departamento de Filosofia e Ciências Sociais - UNIRIO

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Publicado originalmente no site do Diversidade Católica.

Ventos, tempestades, raios e ressacas não perturbem a minha embarcação


Hoje é dia de Nossa Senhora dos Navegantes, protetora dos que enfrentam as tempestades da vida... :-) Reproduzimos a seguir as oportunas informações e a oração inspiradora publicadas por Gilda Carvalho no site Amai-vos.


A devoção à Nossa Senhora dos Navegantes teve início na Idade Média, sendo praticada sobretudo pelos cruzados que, ao partir para a Palestina, através do mar Mediterrâneo, invocavam a proteção de Maria, a Estrela do Mar.

Depois, já na época dos Descobrimentos, essa tradição foi mantida pelos navegadores portugueses e espanhóis, quando, então, disseminou-se entre os pescadores das novas terras, onde começaram a surgir santuários nas regiões pesqueiras.

Oração à Nossa Senhora dos Navegantes
Ó Nossa Senhora dos Navegantes, Santíssima Filha de Deus, criador do céu, da terra, dos rios, lagos e mares; protegei-me em todas as minhas viagens.


Que ventos, tempestades, borrascas, raios e ressacas não perturbem a minha embarcação e que nenhuma criatura nem incidentes imprevistos causem alteração e atraso em minha viagem ou me desviem da rota traçada.

Virgem Maria, Senhora dos Navegantes, minha vida é a travessia de um mar furioso. As tentações, os fracassos e as desilusões são ondas impetuosas que ameaçam afundar minha frágil embarcação no abismo do desânimo e do desespero.

Nossa Senhora dos Navegantes, nas horas de perigo eu penso em vós e o medo desaparece; o ânimo e a disposição de lutar e de vencer torna a me fortalecer. Com a vossa proteção e a bênção de vosso Filho, a embarcação da minha vida há de ancorar segura e tranqüila no porto da eternidade. Nossa Senhora dos Navegantes, rogai por nós. 

Amém.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Por uma Igreja simples de coração e "pobre de espírito"


A propósito do Evangelho do último domingo (4º Domingo do Tempo Comum, Mt 5, 1-12), o teólogo basco Jose Antonio Pagola tece algumas considerações sobre a necessidade de uma Igreja de espírito mais evangélico, que viva, como comunidade, as bem-aventuranças. Artigo publicado originalmente no Eclesalia, e reproduzido via Amai-vos.


Ao formular as bem-aventuranças, Mateus, ao contrário de Lucas, está preocupado em desenhar os traços que caracterizam aos seguidores de Jesus. Daí a importância que têm para nós, nestes tempos em que a Igreja tem que encontrar o seu estilo cristão de estar no meio de uma sociedade secularizada.

Não é possível propor a Boa Nova de Jesus de uma forma qualquer. O Evangelho só se espalha a partir de atitudes evangélicas. As bem-aventuranças nos mostram o espírito que deve inspirar a ação da Igreja, enquanto peregrina para o Pai. Nós temos que ouvi-las em uma atitude de conversão pessoal e comunitária. Só dessa forma temos que caminhar para o futuro.

Bendita a Igreja "pobre de espírito" e de coração simples, que atua sem prepotência nem arrogância, sem riquezas nem esplendor, sustentada pela humilde autoridade de Jesus. Dela é o reino de Deus.

Bendita a Igreja que "chora" com aqueles que choram e sofre ao ser privada de privilégios e poder, pois poderá compartilhar melhor o destino dos vencidos e também o destino de Jesus. Um dia ela será consolada por Deus.

Bendita a Igreja que renuncia a se impor pela força, a coerção ou a submissão, sempre a praticar a mansidão do seu Mestre e Senhor. Um dia ela herdará a terra prometida.

Bendita a Igreja que tem "fome e sede de justiça" dentro de si e no mundo todo, pois procurará a sua própria conversão e trabalhará por uma vida mais justa e digna para todos, a começar pelos últimos. Seu anseio será farto por Deus.

Bendita a Igreja compassiva que renuncia ao rigorismo e prefere a misericórdia antes que os sacrifícios, pois acolherá aos pecadores e não lhes esconderá a Boa Nova de Jesus. Ela alcançará de Deus misericórdia.

Bendita a Igreja de "coração limpo" e conduta transparente, que não encobre os seus pecados nem promove o secreto ou a ambigüidade, pois caminhará na verdade de Jesus. Um dia Ela verá Deus.

Bendita a Igreja que "trabalha pela paz" e luta contra as guerras, que une os corações e semeia a concórdia, pois vai contagiar a paz de Jesus que o mundo não pode dar. Ela será filha de Deus.

Bendita a Igreja que sofre hostilidade e perseguição por causa da justiça, e não evita o martírio, pois saberá chorar com as vítimas e conhecerá a cruz de Jesus. Dela é o reino de Deus.

A sociedade de hoje precisa conhecer comunidades cristãs marcadas por este espírito das bem-aventuranças. Apenas uma Igreja evangélica tem autoridade e credibilidade para mostrar o rosto de Jesus aos homens e mulheres de hoje.
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Eclesalia Informativo autoriza e recomenda a divulgação dos seus artigos, desde que indicada a sua procedência.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Estado de graça


Barbara Hendricks (soprano) e Roland Pöntinen (piano) na gravação da Ave Maria (Ellens Gesang III) de Franz Schubert. Estocolmo, novembro de 2007.

Dica do Hugo. Obrigada, amigo. :-)

Prece



Clarice Lispector, sempre visceral:

Alivia a minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma, pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amém.

- Clarice Lispector

Celebremos o mistério. Boa semana a todos. :-)

domingo, 30 de janeiro de 2011

Lugar sagrado



Você conhece o Sacred Space ("Lugar Sagrado")? É um site inspirado no método de oração de Santo Inácio de Loyola que convida a reservar alguns minutos à oração diária. Para isso, a cada dia o site propõe uma reflexão a partir de um determinado texto das Escrituras e vai orientando  passo-a-passo o leitor nas etapas da oração. 

O site tem versão para o português - de Portugal, o que faz com que a linguagem possa talvez causar algum estranhamento no visitante brasileiro, mas nada que chegue a atrapalhar o processo. :-)

Vale o clique. :-)
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