sábado, 20 de julho de 2013

O bom travesti


E perguntaram a Jesus: “Quem é o meu próximo?“

E ele lhes contou a seguinte parábola:

”Voltava para sua casa, de madrugada, caminhando por uma rua escura, um garçom que trabalhara até tarde num restaurante. Ia cansado e triste. A vida de garçom é muito dura, trabalha-se muito e ganha-se pouco. Naquela mesma rua dois assaltantes estavam de tocaia, à espera de uma vítima. Vendo o homem assim tão indefeso saltaram sobre ele com armas na mão e disseram:

“Vá passando a carteira“.

O garçom não resistiu. Deu-lhes a carteira. Mas o dinheiro era pouco e por isso, por ter tão pouco dinheiro na carteira, os assaltantes o espancaram brutalmente, deixando-o desacordado no chão.

Às primeiras horas da manhã passava por aquela mesma rua um padre no seu carro, a caminho da igreja onde celebraria a missa. Vendo aquele homem caído, ele se compadeceu, parou o carro, foi até ele e o consolou com palavras religiosas:

“Meu irmão, é assim mesmo. Esse mundo é um vale de lágrimas. Mas console-se: Jesus Cristo sofreu mais que você.“ Ditas estas palavras ele o benzeu com o sinal da cruz e fez-lhe um gesto sacerdotal de absolvição de pecados: “Ego te absolvo...“

Levantou-se então, voltou para o carro e guiou para a missa, feliz por ter consolado aquele homem com as palavras da religião.

Passados alguns minutos, passava por aquela mesma rua um pastor evangélico, a caminho da sua igreja, onde iria dirigir uma reunião de oração matutina. Vendo o homem caído, que nesse momento se mexia e gemia, parou o seu carro, desceu, foi até ele e lhe perguntou, baixinho:

“Você já tem Cristo no seu coração? Isso que lhe aconteceu foi enviado por Deus! Tudo o que acontece é pela vontade de Deus! Você não vai à igreja. Pois, por meio dessa provação, Deus o está chamando ao arrependimento. Sem Cristo no coração sua alma irá para o inferno. Arrependa-se dos seus pecados. Aceite Cristo como seu salvador e seus problemas serão resolvidos!“

O homem gemeu mais uma vez e o pastor interpretou o seu gemido como a aceitação do Cristo no coração. Disse, então, “aleluia!“ e voltou para o carro feliz por Deus lhe ter permitido salvar mais uma alma.

Uma hora depois passava por aquela rua um líder espírita que, vendo o homem caído, aproximou-se dele e lhe disse:

“Isso que lhe aconteceu não aconteceu por acidente. Nada acontece por acidente. A vida humana é regida pela lei do karma: as dívidas que se contraem numa encarnação têm de ser pagas na outra. Você está pagando por algo que você fez numa encarnação passada. Pode ser, mesmo, que você tenha feito a alguém aquilo que os ladrões lhe fizeram. Mas agora sua dívida está paga. Seja, portanto, agradecido aos ladrões: eles lhe fizeram um bem. Seu espírito está agora livre dessa dívida e você poderá continuar a evoluir.“

Colocou suas mãos na cabeça do ferido, deu-lhe um passe, levantou-se, voltou para o carro, maravilhado da justiça da lei do karma.

O sol já ia alto quanto por ali passou um travesti, cabelo louro, brincos nas orelhas, pulseiras nos braços, boca pintada de batom. Vendo o homem caído, parou sua motocicleta, foi até ele e sem dizer uma única palavra tomou-o nos seus braços, colocou-o na motocicleta e o levou para o pronto socorro de um hospital, entregando-o aos cuidados médicos. E enquanto os médicos e enfermeiras estavam distraídos, tirou do seu próprio bolso todo o dinheiro que tinha e o colocou no bolso do homem ferido.”

Terminada a estória, Jesus se voltou para seus ouvintes. Eles o olhavam com ódio. Jesus os olhou com amor e lhes perguntou:

“Quem foi o próximo do homem ferido?“

Rubem Alves

* * *

Atualização em 7 de maio de 2014:

Essa fábula nada tem de irreal. Tantas vezes a vida imita mesmo a arte... Veja isto aqui.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

"Grupo gay católico prepara a sua contribuição para a Jornada Mundial da Juventude"


O jornal Extra, daqui do Rio de Janeiro, noticiou nosso evento (saiba mais aqui) em 08 de junho na reportagem de Wilson Mendes, que você pode ler na íntegra aqui. Segue um trecho:

"As pessoas nos acham masoquistas. Não é isso. Somos católicos e gays. Uma é a expressão da espiritualidade. A outra, da sexualidade". Assim a psicóloga Cristiana Serra, de 39 anos, explica o porquê da criação, há sete anos, do Diversidade Católica.
O grupo se prepara para receber jovens com o mesmo perfil, que virão de todo o mundo, para a Jornada Mundial da Juventude, em julho.

- Não é para fazer piquete ou pedir aceitação do Papa. Vamos conversar com jovens sobre como é ser gay dentro da Igreja - diz o professor Hugo Nogueira, de 42 anos, um dos organizadores do evento, que acontece na Unirio, no auditório Vera Janacopulos, 25 de julho, de 14h a 18h.

São pessoas com histórias parecidas com a do músico Pedro Borges, de 28 anos.

- Sempre fui católico, até que descobri minha sexualidade. Não foi tranquilo, mas tudo muda quando se vê que o padre não é um mágico, mas uma pessoa que deve orientar a fé - diz Pedro, que é voluntário da Jornada.

Não faltam relatos de jovens "feridos na alma" por um ambiente conservador.

- Um menino cortou os pulsos. Alguns documentos oficiais são de um assédio moral devastador. Como padre, vejo que a Igreja deve receber todos - diz um dos raros sacerdotes, que prefere não se identificar, a ouvir confissões de gays no Rio.

Os que fazem parte do grupo confessam seus pecados, não vêem a sexualidade como pecado, mas condição natural, e comungam.

- Hóstia não é medalha de comportamento. É símbolo da fé - defende Hugo.

O posicionamento não é consenso. Apesar de o arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, ter se manifestado a favor da acolhida das pessoas de qualquer orientação sexual, conferir sacramentos a elas é tabu.

- Cito Bento 16: o cristianismo não é um conjunto de proibições - pensa o padre.

Outro padre que estuda a sexualidade é o jesuíta Luís Corrêa Lima. Em artigos, ele aponta brechas que garantem aos gays acesso à Igreja.

"Uma carta da Cúria Romana, de 1986, afirma que nenhum ser humano é mero homo ou hétero. Ele é, acima de tudo, criatura de Deus e destinatário de Sua Graça".

Saiba mais sobre nosso evento aqui.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

IBGE: 47% dos casais homossexuais se declaram católicos



A notícia é do ano passado; mas, em tempos de Jornada Mundial da Juventude, quando a questão da inclusão dos jovens - e, no nosso caso, especialmente dos jovens LGBT - na Igreja vem à pauta com mais força, vale lembrar este dado revelado pelo Censo 2010.

Pela primeira vez na história, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pesquisou o número de casais homossexuais que dividem uma residência. O número já havia sido revelado: são cerca de 60 mil no País. O que o Censo 2010 ainda não havia mostrado e o instituto divulgou nesta quarta-feira é que quase metade destes casais têm uma religião. E logo uma que condena este tipo de comportamento.

Quarenta e sete por cento dos casais homossexuais que dividem o mesmo teto se declaram católicos - 20,4% não tem religião. "É um dado bastante surpreendente, quando a gente percebe que a maioria dos casais em união consensual declara não ter religião. Entre os homossexuais esta taxa é maior", declarou o pesquisador Leonardo Queiroz Athias, do IBGE.

É uma estatística que vai de encontro ao que costuma ocorrer nas uniões consensuais - quando o casal opta por "não oficializar" o casamento nem no civil nem no religioso -, que é como 99,6% dos homossexuais declaram a relação. Entre os casais em geral que mantêm este tipo de união, 59,9% afirmam não ter religião. Dos casais que optam pela união consensual, 37,5% são católicos.

O Censo 2010 percebeu que as uniões consensuais são mais frequentes entre pessoas até 39 anos de idade e têm crescido, enquanto os matrimônios têm diminuído. No Censo de 2000, 28,6% das uniões eram consensuais. Em 2010, este número passou para 36,4%. Já o casamento civil e religioso passou de 49,4% dos casos há 12 anos atrás para 42,9% no último levantamento do IBGE.

"Esses números têm a ver com os modos atuais. Hoje em dia a união consensual é mais aceita pela sociedade. Por outro lado, as pessoas também podem esperar mais tempo para casar. Primeiro estão procurando viver novas experiências, fazer uma série de coisas, viajar e trabalhar, por exemplo, e depois pensa em casar", destacou Athias.

Perfil das uniões entre pessoas do mesmo sexo
A distribuição por sexo das pessoas em uniões homossexuais mostrou que 53,8% delas são entre mulheres e 46,2% entre homens. Cerca de 25% das pessoas neste tipo de união declararam possuir curso superior completo. O Sudeste concentra 52,6% das uniões homoafetivas, e o Nordeste 20,1%. O Sul concentra 13% dos casais homossexuais, enquanto o Centro-Oeste tem 8,4% e o Norte, 5,9%.

Essa notícia foi publicada no Terra, aqui, e nos lembrou o excelente artigo "Homossexualidade e Contra-hegemonia no Catolicismo", do Pe. Luís Correa Lima, SJ (que já publicamos aqui), que faz uma reflexão importante sobre a autonomia com que uma significativa parte dos católicos tende a viver a sua fé e que leva a uma certa disparidade entre o discurso do Vaticano e as convicções dos fiéis:

"A opinião pública católica é crescentemente favorável às bandeiras LGBT. No Canadá, onde há dez províncias, a maior adesão ao casamento gay é na Província de Quebec, coincidentemente a que tem a maior população católica. Na Espanha, onde a população é majoritariamente católica, mais de dois terços é a favor desta união. No Brasil, uma pesquisa revelou que 42% da população é a favor do casamento gay. Entre os católicos brasileiros, a proporção sobe para 46%. Ou seja, quase metade deste segmento religioso (Religião, 2007, p. 4)." [Continue lendo aqui]

quarta-feira, 17 de julho de 2013

O trabalho e o evento do Diversidade Católico na JMJ no CBN Mix Brasil


Nossa querida Juliana Luvizaro, integrante do grupo que está fazendo a assessoria de imprensa do nosso evento do dia 25 (saiba mais aqui), foi entrevistada este domingo no programa CBN Mix Brasil, e falou sobre o trabalho de inclusão e visibilização LGBT na Igreja realizado pelo Diversidade Católica e sobre nosso evento durante a Jornada Mundial da Juventude. Confira no player acima - a partir de 28m45s.

terça-feira, 16 de julho de 2013

"Uma revolução latino-americana no Vaticano"

Fonte: Facebook

"Enquanto os votos da quinta rodada são apurados, a esperança dos cardeais da Cúria afunda a olhos vistos. 'Bergoglio, Bergoglio, Bergoglio', ressoa novamente pela Capela Sistina. Tarcisio Bertone simplesmente não pode entender." Quem revela o clima da votação que elegeu Francisco é o jornalista Andreas Englisch, em entrevista publicada dia 14/07 no Estado de S. Paulo.

Vaticanista há 25 anos, ele escreveu sobre João Paulo II, Bento XVI e, agora, traz Francisco - o papa dos humildes (ed. Universo dos Livros, R$ 39,90). Na obra, bastidores do conclave, como o desespero da Cúria com a eleição do papa argentino, e as mudanças já percebidas nos corredores do Vaticano.

Os cardeais escolheram um "papa forte". O interesse da Cúria, liderada pelo cardeal Tarcisio Bertone, seria por outro papa apolítico, tal qual Bento XVI?

Exatamente. João Paulo II tomou o poder da Cúria. Bento XVI devolveu. Por seu perfil, Bergoglio era o pesadelo da Cúria durante a eleição. Ele é completamente anticúria.

Francisco abriu mão do palácio para viver em uma suíte da Casa Santa Marta. Mais do que evitar o luxo, o senhor diz que foi uma estratégia para saber tudo o que ocorre no Vaticano. É um sinal de que a Cúria perdeu o poder?

Sim. Tenho certeza de que nunca nenhum outro papa conseguiu reduzir o poder da Cúria tão drasticamente como Francisco. Ele quebrou a estrutura de isolamento. A Cúria sabe que pode controlar qualquer papa, desde que ele esteja isolado do restante da Igreja.

Havia uma expectativa de que Francisco mudasse de imediato a estrutura da Cúria. Ele já não deveria ter feito isso, a começar pela demissão de Bertone?

Ele precisa demitir Bertone, mas Bergoglio é muito inteligente. Sabe que ninguém espera mudanças drásticas no Vaticano. Por isso, criou uma comissão com oito cardeais. Se decide com o aval e a participação da comissão, terá respaldo para outras decisões difíceis.

Na mídia, durante o conclave, Bergoglio não aparecia na lista de favoritos. Para os cardeais sua vitória também foi surpresa?

Para entender isso, é preciso considerar que Bergoglio foi eleito porque os cardeais estavam completamente aborrecidos com o péssimo trabalho da Cúria, o que inclui o escândalo do banco do Vaticano.

O senhor diz que Bento XVI era um admirador de Bergoglio. Será que ele imaginava que teria o argentino como sucessor?

Tenho certeza de que não. Bento XVI não sabia o quão mal avaliados estavam seu governo e sua Cúria. Ele nunca imaginou que a ira dos cardeais estivesse tão grande a ponto de escolherem pela revolução. Bergoglio era o pesadelo da Cúria. Nenhum outro cardeal foi tão maltratado como ele durante seu tempo em Buenos Aires. Uma das críticas era porque enviava os melhores padres para os pobres e não para as paróquias ricas da cidade.

Como você avalia a primeira encíclica de Francisco? Teólogos dizem que o texto foi totalmente escrito por Bento XVI.

Francisco foi instado a publicar a encíclica de Ratzinger. Não teve outra opção, senão permitir que sua primeira encíclica, a primeira declaração do que ele pensa sobre a fé, fosse escrita por Bento XVI. Ele foi gentil e a publicou com o seu nome, mas a fé não é o ponto principal para Francisco. Ele não acredita que se encontra Deus lendo livros sobre a fé. Para ele, se encontra Cristo ajudando os pobres, os doentes e as pessoas desesperadas.

Como você vê as mudanças no banco do Vaticano, como a prisão de um padre e a demissão de um diretor?

Por décadas, bispos e padres, mesmo quando culpados, eram protegidos pelo Vaticano. Exemplo: o cardeal americano Bernard Law, de Boston, ganhou um passaporte do Vaticano para escapar da Justiça dos EUA (ele é acusado de encobrir casos de pedofilia). Mas Francisco disse ao governo italiano que isso acabou. Agora, o Vaticano vai ajudar a encontrar os sacerdotes culpados.

Francisco prega uma "Igreja pobre para os pobres". O que ele já fez em direção a isso?

Fez a coisa certa: disse à Igreja que o tempo de não fazer nada, apenas de estudar e rezar, acabou. Para ele, é desnecessário dizer a alguém no que acreditar e como se comportar, se essa pessoa está desesperadamente com fome. Primeiro a ajude, depois fale sobre Deus.

A Cúria repreendeu o papa por lembrar o "suntuoso Vaticano que tudo começou com o pobre Jesus de Nazaré", como o senhor diz no livro?

A Cúria não tem qualquer influência sobre ele. Isso ficou claro quando se recusou a ir a um concerto de gala no Vaticano. Toda a Cúria foi, mas ele declarou que não gosta de compromissos da sociedade elegante. Acontece agora uma revolução latino-americana no Vaticano, em que as famílias europeias aristocráticas não são melhores do que as outras.

Que a JMJ seja ocasião de compromisso


Belas e proféticas palavras de D. Angélico. Sim, que a JMJ seja ocasião de compromisso com o jovem marginalizado e excluído, diz D. Angélico - e, para nós, sobretudo os LGBT.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Oração a Nossa Senhora do Carmo


Ó bendita e imaculada Virgem Maria, honra e esplendor do Carmelo! Vós que olhais com especial bondade para quem trás o vosso bendito escapulário, olhai para mim benignamente e cobri-me com o manto de vossa fraqueza com o vosso poder, iluminai as trevas do meu espírito com a vossa sabedoria, aumentai em mim a fé, a esperança e a caridade. Ornai minha alma com a graça e as virtudes que a tornem agradável ao vosso divino Filho. Assisti-me durante a vida, consolai-me na hora da morte com a vossa amável presença e apresentai-me a Santíssima Trindade como vosso filho e servo dedicado; e lá do céu, eu quero louvar-vos e bendizer-vos por toda a eternidade. 
Nossa Senhora do Carmo libertai as benditas almas do purgatório. 
Amém. 

Os Gays e a Igreja do Papa Francisco


A Igreja Católica vive um momento de novos ares e de renovação com o papa Francisco. Ele tem um estilo despojado e faz um apelo para que a Igreja vá às “periferias existenciais”, ao encontro dos pobres e dos que sofrem com as injustiças e os diversos tipos de conflitos. Francisco critica uma Igreja ensimesmada, entrincheirada em estruturas caducas incapazes de acolhimento, e fechada aos novos caminhos que Deus apresenta. A novidade que Deus traz à nossa vida, diz o papa, é verdadeiramente o que nos realiza e nos dá a verdadeira alegria e serenidade, porque Deus nos ama e quer apenas o nosso bem. Francisco defende as mães solteiras que querem batizar seus filhos, e enfrentam a “alfândega pastoral” criada por religiosos moralistas. Será que estes novos ares vão beneficiar as relações da Igreja com o mundo gay?

É preciso considerar a história recente de Bergoglio nesta questão. Como arcebispo de Buenos Aires e presidente da conferência dos bispos argentinos, ele fez um pronunciamento bastante veemente contra ao projeto de lei do casamento gay. No entanto, manifestou-se a favor da união civil entre pessoas do mesmo sexo, na qual se reconhecem direitos, mas não há equiparação à união heterossexual. Bergoglio também declarou que um ministro religioso não tem o direito de forçar nada na vida privada de ninguém. E condenou o “assédio espiritual”, que ocorre quando um ministro impõe normas, condutas e exigências privando a liberdade do fiel.

Como papa, ele segue os seus antecessores afirmando o valor fundamental da família formada pela união entre um homem e uma mulher. Em um encontro com parlamentares franceses, Francisco mencionou a visão da Igreja a respeito da pessoa humana na perspectiva do bem comum. E declarou que na tarefa de se propor leis, emendá-las ou revogá-las, deve-se procurar infundir nestas leis uma alma que eleve e enobreça a pessoa. Sem dúvida, há uma referência indireta ao ensinamento da Igreja contrário ao casamento gay, que recentemente foi aprovado na França em meio a ondas de protestos.

Neste país, entretanto, quarenta por cento dos católicos são favoráveis ao casamento gay. Entre eles está o respeitado jornal Témoignage Chrétien e o deputado socialista Erwann Binet, autor do projeto que legalizou esta forma de união. Binet é católico praticante, e não vê contradição entre a tradição cristã e os ideais humanitários do seu partido. Como ele, muitos estão convencidos de que o casamento gay em nada ameaça o casamento heterossexual ou a família tradicional. E nem prejudica o bem comum. Pelo contrário, eleva e enobrece a pessoa humana por contemplar uma diversidade legítima existente na sociedade. As considerações do papa podem divergir deles quanto aos meios, não quanto aos fins. Ninguém deveria abandonar a Igreja por causa disso.

As mudanças estão em curso, dentro e fora da Igreja. A CNBB lançou neste ano o esboço de um documento sobre as paróquias, com o título: “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia”. Ele foi amplamente distribuído para receber sugestões e depois se tornar um texto oficial. As novas situações familiares são tratadas com realismo e abertura:

“[101] Em nossas paróquias participam pessoas unidas sem o vínculo sacramental, outras estão numa segunda união, e há aquelas que vivem sozinhas sustentando os filhos. Outras configurações também aparecem, como avós que criam netos ou tios que sustentam sobrinhos. Crianças são adotadas por pessoas solteiras ou por pessoas do mesmo sexo que vivem em união estável”.

“[102] A Igreja, família de Cristo, precisa acolher com amor todos os seus filhos. Sem esquecer os ensinamentos cristãos sobre a família, é preciso usar de misericórdia. É hora de recordar que o Senhor não abandona ninguém, e que também a Igreja quer ser solidária nas dificuldades da família. Muitos se afastaram e continuam se afastando de nossas comunidades porque se sentiram rejeitados, porque a primeira orientação que receberam fundamentava-se em proibições e não em uma proposta de viver a fé em meio à dificuldade. Na renovação paroquial, a questão familiar exige conversão pastoral para não perder nada do que a Igreja ensina e, igualmente, não deixar de atender, pastoralmente, as novas situações familiares”.

Esta proposta da CNBB se alinha às grandes aspirações do papa Francisco: ir ao encontro do outro nas suas mais diversas situações, romper as estruturas caducas e os moralismos opressivos, fazer resplandecer a face do Deus amoroso que quer apenas o nosso bem. As mudanças, porém, não dependem só da hierarquia, ainda que haja alguns sinais favoráveis. Elas dependem muito dos fiéis leigos e dos que prezam a cidadania LGBT. Não se pode aceitar o assédio espiritual feito aos gays. É preciso protegê-los, seja afastando-os dos ambientes onde isto acontece, seja encaminhando-os aonde haja acolhida. A Igreja, em grande parte, são os fiéis que fazem nas comunidades locais e nas práticas cotidianas. É hora de a cidadania LGBT contagiar a Igreja.



Equipe Diversidade Católica

O Diversidade Católica e "a nova juventude católica brasileira" na revista IstoÉ


E saímos, junto com nosso evento do dia 25 (saiba mais aqui), na matéria da revista IstoÉ desta semana sobre "A nova juventude católica brasileira" (leia na íntegra aqui):

"O carioca Rodolfo Viana, 28 anos, crismado na catedral metropolitana do Rio de Janeiro, afastou-se do catolicismo por dois anos depois de ser praticamente expulso da Renovação Carismática, um dos 61 movimentos de evangelização da juventude computados pela CNBB. Motivo: um de seus coordenadores descobriu que Viana tinha um namorado. “Como não conseguia ser ex-gay, me tornei ex-católico”, diz. Ele só retornou à religião ao conhecer o Diversidade Católica, um grupo de gays católicos que se reúne a cada 15 dias – e que conta com a colaboração de padres e teólogos – para conciliar as identidades religiosa e sexual, numa demonstração de que tabus, como a homossexualidade, agora encontram espaço para discussão entre os fiéis. “Hoje, não sou mais vítima da Igreja, que faz parte da minha cultura e formação moral. Bater o pé e não sair do banco do catolicismo é fazer política. Do contrário, estaria me amputando”, diz Viana.

(...) Durante a Jornada, o Diversidade Católica irá promover, na UNIRio, um encontro para que jovens católicos homossexuais contem como vivem a sua identidade religiosa."

Confirme sua presença na página do evento no Facebook, aqui. :-)
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