Foto: Rick Reade
A lembrança comum sobre o Domingo de Ramos remete à entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. O Mestre sentado no jumento e a multidão a aclamá-Lo com ramos de palmeiras nas mãos. Não posso imaginar que Seu coração estivesse tranquilo. Ele sabia o que poderia ocorrer naqueles dias de festa na Cidade Santa e tinha ciência de que tramavam contra Ele em segredo. O carinho do povo, sem dúvida, foi um alento; porém, esse mesmo povo não o defenderia. O povo estaria lá, no caminho doloroso, no Calvário, mas apenas como espectador e não como testemunhas de que aquele Homem que caminhava para a morte era um inocente.
A despeito de considerações de cunho político ou ideológicos, pensemos apenas no homem que será traído, entregue e morto. Teria Ele tido algum poder contra esse encaminhamento dos fatos? Alguma palavra Sua teria mudado o rumo dos acontecimentos?
Para ser coerente com Sua mensagem, não seria cabível pensar em saídas espetaculares para Jesus. Por isso, Seu silêncio não me espanta. A riqueza de Suas palavras Ele reservará para os amigos reunidos na Última Ceia. Lá, no calor do Cenáculo, nos deixará o legado de um discurso que nos acompanha até os dias de hoje: amai-vos... assim saberão que vocês são meus discípulos. Os outros episódios que se desdobram a partir da despedida no Horto, nos mostrarão o Mestre em silêncio. Por que não se defendeu? Por que os amigos não O defenderam? Por que a multidão não O defendeu?
A dor de Jesus é aquela dos que se sentem impotentes diante da perversidade alheia. É a dor daquele que sabe que não adianta falar quando o outro não lhe quer ouvir: falar para quê? falar o quê quando o outro já constituiu uma opinião fundada no coração fechado?
A Quaresma trouxe-me esta reflexão sobre o silêncio daqueles que não podem falar, porque sua voz já não quer ser ouvida. A esses resta apenas a dor da perda, da morte das relações, do rompimento daquilo que um dia foi bom e já não é mais. Lembro-me de uma frase, escrita pela catequista que me preparou para a 1ª Eucaristia sobre o Domingo de Ramos em meu caderno. Dizia ela: "O povo que aclamava na entrada de Jerusalém, era o mesmo que estaria gritando na frente do palácio de Pilatos, pedindo que O crucificassem."
Que a história desse povo, que o silêncio do Homem de Nazaré nos ensinem a sermos fiéis em nossas escolhas, a compreender os caminhos de cada um, a defendermo-nos mutuamente, quando os laços que nos unem são laços de amor.
- Gilda Carvalho
Reproduzido via Amai-vos Tweet
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