sábado, 11 de janeiro de 2014

A verdadeira abertura do Papa Francisco


O Papa Francisco, na realidade, mais do que ver diante de si “problemas” para a fé, vê questões a disputar e desafios a enfrentar: janelas e não muros. Anunciando sua renúncia ao ministério petrino, Bento XVI havia retratado o mundo de hoje como “sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé”. E as questões abrem debates", escreve Antonio Spadaro, diretor da revista Civiltà Cattolica, em artigo publicado no jornal Corriere della Sera, 07-01-2014.

Eis o artigo.


O desafio educativo é um dos grandes desafios do mundo contemporâneo. O Papa Francisco e reafirmou recentemente em sua conversação com os Superiores Gerais, publicada em La Civiltà Cattolica. Infelizmente alguns títulos jornalísticos que falaram de “abertura aos casais gay” se anteciparam na compreensão daquilo que o Papaefetivamente disse e do grande desafio que ele delineou. A instrumentalização de suas palavras acabou sendo funcional tanto aos seus detratores de “direita”, como a quem o exalta para usá-lo à “esquerda”.

O que disse exatamente o Papa? Que o educador “deve interrogar-se sobre como anunciar Jesus Cristo a uma geração que muda”. Este é o ponto: “a tarefa educativa é hoje uma missão-chave, chave, chave!”. Para ser mais claro, deu alguns exemplos, citando algumas experiências suas em Buenos Aires sobre a preparação que se requer para acolher incontestes crianças a educar, rapazes e jovens que vivem em situação de mal-estar com a família: “Recordo o caso de uma criança muito triste que enfim confiou à professora o motivo do seu estado de ânimo: “a namorada de minha mãe não gosta de mim”.“Os percentuais de rapazes que estudam nas escolas e que têm os pais separados são elevadíssimos” São duas situações diferentes, mas que, com clareza, colocam desafios complexos: a dos filhos de pais divorciados e a dos filhos que se encontram a viver tendo como referência doméstica duas pessoas do mesmo sexo.

O Papa Francisco, na realidade, mais do que ver diante de si “problemas” para a fé, vê questões a disputar e desafios a enfrentar: janelas e não muros. Anunciando sua renúncia ao ministério petrino, Bento XVI havia retratado o mundo de hoje como “sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé”. E as questões abrem debates.

Francisco acolheu o testemunho de Bento: se os problemas não se transformam em desafios, acabam por bloquear a ação e a reflexão, ou então acabam por enrijecer a consciência atormentada pelos temores e pela desolação espiritual. Bergoglio enfrenta, portanto, a realidade com coragem e confiança em Deus, como homem de fé que é. OPapa tem sempre os olhos bem abertos sobre a realidade, e sabe perfeitamente que os desafios de hoje são maiores do que os de outrora. Sabe que – palavras suas – “as situações que vivemos hoje colocam novos desafios que às vezes são até difíceis de compreender”.

Não se podem fechar os olhos. Por quê? Por um motivo claro e preciso: porque é preciso anunciar o Evangelho a uma geração sujeita a rápidas mudanças. O Papa, portanto, não “abriu aos casais gays”, como intitularam algumas agências, ligando suas palavras a um recentíssimo debate nacional. O Papa, ao invés, abriu os olhos aos desafios que esta mudança em ato na nossa sociedade coloca ao anúncio do Evangelho. Neste sentido, portanto, é ao invés correto dizer que o Papa iniciou um debate sobre a educação.

Eis então, de fato, as suas perguntas: “Como anunciar Cristo a estes garotos e garotas? Como anunciar Cristo a uma geração que muda?” E, enfim, o seu apelo: “É preciso estarmos atentos para não subministrar aos mesmos uma vacina contra a fé”. Bergoglio supera todo enrijecimento à direita e à esquerda, e afirma uma coisa que realmente poucos notaram: o desafio educativo se conecta ao desafio antropológico. Aqui está um ponto calidíssimo que o Papa colocou com sua costumeira simplicidade, admoestando assim o educador cristão: há situações que até nos fatigamos para compreender, mas que somos chamados a enfrentar se quisermos que o Evangelho ainda seja anunciado a toda criatura.

A nosso ver, como tinha comentado a Cristiana há alguns dias aqui no blog, chamando a atenção justamente para essa deturpação das palavras do papa pela imprensa ("O que o Papa disse, e o que ele NÃO disse, sobre o casamento gay"), mais fundamental ainda do que essa ênfase na necessidade da educação é a insistência do Papa na necessidade de abertura para o diálogo, para o qual todos na Igreja precisamos nos educar. Todos precisamos nos educar para nos aproximarmos do outro de olhos, corações e mãos abertos. :-)

Encontro da Pastoral da Diversidade (São Paulo) hoje!



É hoje o próximo encontro da Pastoral da Diversidade-SP, o primeiro de 2014!

"A festa contada neste Evangelho é uma transição do Tempo Natalino para o Tempo Comum, ela sinaliza a "saída" de Jesus de sua vida oculta para a vida pública, dando início à sua atividade evangelizadora.

O batismo de Jesus, no Jordão, é um anúncio do que será a festa da Páscoa. O Filho de Deus abraça a humanidade inteira, lavando o pecado e a morte e abrindo o caminho da filiação divina.
Deus mesmo apresenta "orgulhosamente" seu Filho: "Este é o meu Filho amado, que muito me agrada", manifestando, assim, publicamente o amor que tem por Ele. Oferece-nos nele o caminho da vida em plenitude, entrega-o como irmão maior para nos ensinar o itinerário de volta para a casa de Deus Pai e Mãe de todos/as.

"E para nós, os batizado, há uma grande responsabilidade - disse o Papa Francisco: anunciar Cristo, levar adiante a Igreja, esta maternidade fecunda da Igreja. Ser cristão não é fazer um curso para ser advogado ou médico cristão, não. Ser cristão é um presente que nos faz avançar com a força do Espírito no anúncio de Jesus Cristo”.

Neste sábado, 11 de Janeiro temos o 1º Encontro da Pastoral da Diversidade em 2014. Nos reuniremos na Casa de Clara as 18h00, na Rua Japurá, nº 234, na Bela Vista, Centro de São Paulo. O local é bem próximo às estações Sé e Anhangabaú do Metrô, e fica nas proximidades da Câmara dos Vereadores."

A tarefa do Natal


Quando o cântico dos anjos silencia,
Quando a estrela se apaga no céu,
Quando reis e príncipes retornaram para casa,
Quando os pastores voltaram para seus rebanhos,
É aí que principia a tarefa do Natal:

Buscar os perdidos,
Curar os feridos,
Alimentar os famintos,
Libertar os aprisionados,
Reerguer nações,
Instaurar a paz entre os irmãos,
Fazer soar a música nos corações.

- Howard Thurman, líder negro e teólogo americano

Via | Tradução: Cris

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Mãe de Lance Bass, do N'Sync, faz discurso sobre o amor aos gays em igreja


Compartilhamos com vocês este relato de Lance Bass, do N'Sync, em post publicado no Huffington Post e traduzido para o português por Marcio Caparica para o Lado Bi

Crescer sendo uma criança gay no sul dos Estados Unidos não foi fácil. O medo constante de que as pessoas descobrissem quem você é de verdade e a vergonha inevitável que cairia sobre mim e minha família ditavam como eu levava minha vida todos os dias. Para a minha sorte, eu morei em lugares em que não me lembravam o tempo inteiro que eu era uma abominação. Meus familiares, no entanto, ainda vivem numa das regiões mais intolerantes contra a comunidade LGBT e são constrangidos por terem um gay famoso na família. Quando eu saí do armário, eles tiveram que sair também.

Por anos eles tiveram que lidar com os olhares acusadores e as lamentações constantes de amigos e estranhos, como se eu tivesse morrido. “Eu sinto muito, vocês estão em nossas orações.”

Meus pais não gostam de criar caso e evitam todo tipo de atenção. Por anos eles procuraram educar a si mesmos discretamente sobre seu filho e a comunidade LGBT, como adultos responsáveis. Minha mãe (...) decidiu ir contra sua personalidade pacífica e fazer com que sua comunidade soubesse exatamente o que eles estavam fazendo com ela.

Numa carta aberta e honesta para sua igreja, ela sugeriu como que os verdadeiros cristãos deveriam agir com relação à comunidade LGBT. Essa carta foi tão bem recebida que uma outra igreja local a convidou para discursar em sua congregação, já que acreditavam que era hora de dar início a um diálogo sobre isso dentro da igreja. A transcrição desse discurso segue abaixo. Eu estou muito orgulhoso de minha família, principalmente minha mãe, por causa da maneira como ela agiu nesse período tão confuso de sua vida. Para mim, ela representa os cristãos verdadeiros, e a crença da maioria dos cristãos do país hoje em dia.
(...) Eu vim aqui compartilhar meu testemunho. Por favor entendam que eu NÃO estou aqui para discutir a questão da homossexualidade. Eu nunca faria isso porque eu não tenho todas as respostas e provavelmente jamais as terei nessa vida. A Bíblia alerta contra os ensinamentos falsos, e eu jamais diria qualquer coisa que poderia possivelmente se passar por um ensinamento enganoso. No entanto, há coisas que eu sinto que devo compartilhar, que eu sei sem sombra de dúvida serem verdadeiras, e eu as dividirei com vocês hoje a noite.

Em primeiro lugar, vocês precisam saber que eu sou batista desde que nasci. (...) Nós somos uma família cristã com raízes enterradas profundamente na igreja e nos ensinamentos da Bíblia.

Há sete anos nós descobrimos que Lance é gay. Nós fomos totalmente pegos de surpresa e ficamos arrasados, porque nunca jamais suspeitamos disso. E, também, como foi um ato tão público, a situação foi muito mais difícil para nossa família. Eu não quero me debruçar sobre os detalhes íntimos dessa revelação, mas eu vou lhes dizer que a primeira coisa que eu fiz ao saber foi cair de joelhos e me perguntar: “O que Jesus faria?”. Eu soube a resposta quase que imediatamente… Amar meu filho. E é isso que eu tenho feito. Em nenhum momento eu pensei em virar minhas costas para ele. Nem por um instante eu senti vergonha ou constrangimento. Meus sentimentos eram mais de tristeza e pura decepção com a vida.

Se você acredita que ser gay é uma opção, então tudo mais que eu vou dizer aqui não vai fazer diferença para você. Não sei porque, mas mesmo sendo uma cristã fervorosa, eu pessoalmente nunca acreditei que ser gay era uma opção. Eu nunca conheci muitos gays, mas eu sentia compaixão por aqueles que conhecia, porque podia reconhecer a dor que sentiam, e meu coração ficava muito tocado por eles. Mesmo nunca acreditando que Lance decidiu ser gay, eu não aceitei isso com a mesma facilidade que meu marido. “As coisas são como são”, foi sua atitude. A minha foi “Sim, as coisas são como são, mas Deus é capaz de operar milagres, então eu vou implorar por um milagre que fulmine Lance e faça com que ele se torne heterossexual!”. E eu fiz isso mesmo. Eu continuava amando meu filho, eu o apoiava, e o defendia, mas por muitos anos eu continuei a orar incessantemente por um milagre.

Bem, o Lance continua sendo gay. No entanto, um milagre realmente aconteceu. Só não foi o milagre pelo qual eu tanto orei. Você está presenciando este milagre nesse momento, nessa noite. O milagre foi que eu aprendi a ter um amor e compaixão incondicionais por meu filho e outros indivíduos da comunidade gay. Eu não participo de paradas ou faço discursos em convenções, mas eu sinto sim que Deus me guiou para que eu discutisse o papel da igreja nessa questão. Meu filho é cristão e deseja participar do culto, mas não sente que a igreja se importa com ele, e acredita que foi praticamente descartado como crente. Há algo muito errado nessa atitude, e eu tenho que levantar a voz em prol do meu filho e de outros que se encontram na mesma situação. (...) meu coração me diz agora que o jeito que a igreja trata aqueles que são gays também não está certo.

Eu poderia relatar para vocês inúmeras histórias que os jovens gays me contaram sobre como que os ditos cristão tratam eles, mas vou apresentar apenas uma. Um desses jovens me disse que estava em busca de Deus e visitou uma grande igreja num domingo de Páscoa. Ele estava usufruindo de uma cerimônia belíssima e sentia-se muito envolvido na experiência.

Todos estavam de pé cantando um hino, e quando ele se sentou havia um bilhete sobre sua cadeira. Nele estava escrito “Você sabe que você vai para o inferno”. Ele me disse que nunca mais foi à igreja. (...)
A pessoa que escreveu esse bilhete deveria levar em conta essas advertências. Jesus diz em Lucas 6:37 “Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados”. Jesus está nos mostrando que não há como levar alguém até Ele se nós os estamos julgando e condenando.

(...) Eu acredito com todo o coração que Jesus diria a todos os cristãos gays que eles pertencem a Ele e que Ele os ama incondicionalmente. Jesus diz em João 10:27-28 “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; elas jamais hão de perecer, e ninguém as roubará de minha mão”.
(...) Minha passagem predileta sempre foi “Deus é nosso refúgio e nossa força, mostrou-se nosso amparo nas tribulações” (Salmos 46:1). Eu verdadeiramente encontrei refúgio no Senhor, mas infelizmente devo dizer que não encontrei refúgio na minha igreja. Nem eu, nem Lance, nem tantos outros cristãos como ele que querem ser amados e aceitados num mundo que pode ser tão cruel e cheio de ódio. Eu ainda frequento a igreja, mas admito que faço isso com o coração pesaroso, e cheia de ansiedade. Se eu me sinto assim por ser a mãe de um filho gay, vocês conseguem imaginar a ansiedade que sente um gay quando se senta numa igreja? Repito, há algo muito errado nisso.

(...) Eu rogo para que possamos todos tentar ter uma atitude como a de Cristo enquanto estamos nessa terra. Nós, como cristãos, devemos deixar o Espírito Santo nos guiar para que encontremos maneiras de alcançar a todos, não importando nossas diferenças, porque eu realmente acredito que essa é a coisa certa a se fazer. Estou convencida de que é o que Jesus faria.

Obrigada a todos por permitirem que eu compartilhasse isso com vocês, e que Deus os abençoe.

Diane Bass
 Para ler o texto na íntegra, confira o post no Lado Bi.

Instruções para os dias ruins


Os dias ruins existem mesmo. Calma. Relaxe os punhos. Devagarzinho, vá abrindo as suas mãos. Solte. Confie. Saiba que agora é só um momento - e, se hoje não podia ser pior, entenda que amanhã este dia já terá terminado. Seja gentil. Aceite as mãos estendidas para você, se oferecendo para tirá-lo deste lugar de onde você não está conseguindo escapar. Seja diligente. Esfregue o céu cinzento até limpá-lo. Perceba que cada nuvem escura não passa de uma cortina de fumaça que nos deixa cegos para a verdade - e a verdade é que, quer os vejamos ou não, o sol e a lua continuam no mesmo lugar, e a luz continua existindo... sempre.

Seja objetivo. Apesar da tentação de dizer "está tudo bem, eu estou bem", seja honesto. Diga como está se sentindo sem medo nem culpa, sem remorso nem complicação. Seja lúcido na sua explicação, seja cristalino em sua exposição. Se lhe passar pela cabeça, por um segundo que seja, que ninguém mais sabe o que você está passando, aceite o fato de que você está enganado: todo mundo é assaltado de vez em quando pela respiração ofegante do desespero; a dor faz parte da condição humana, e só esse fato basta para torná-lo membro de uma multidão.

Nós, azarões famintos; nós, que acordamos ao nascer do sol; nós, que driblamos as dificuldades - nós vamos nos ancorar em nossa própria serenidade. Vamos fincar pé no chão e nos preparar para a batalha. A vida virá te enfrentar armada com tempos difíceis e escolhas penosas, mas sua voz é sua arma e suas ideias, munição. Não há reforços sobrando; não perca de vista que, assim que este instante passar, deixará de ser presente para tornar-se passado. Portanto, seja um espelho e reflita sua própria imagem, e mantenha acesa a lembrança de quando você achava que isto tudo seria difícil demais e você jamais conseguiria. Lembre-se de quando você poderia ter desistido - mas escolheu continuar.

Disponha-se a perdoar. Viver com o fardo da raiva não é viver. Manter seu foco na ira só vai alienar você de suas reais necessidades. Tanto o amor quanto o ódio são feras selvagens, e a que você alimentar é que vai crescer. Seja persistente. Seja a graminha que brota na fenda do piso - e é linda simplesmente por não saber que não deveria crescer ali. Seja resoluto. Declare o que para você é a verdade de uma maneira que traduza a firmeza com que você a vive.

Se você estiver em um bom dia, tenha consideração. Um simples sorriso pode ser o kit de primeiros socorros de que alguém mais precisa. Se você acreditar, com total sinceridade, que está fazendo tudo o que está ao seu alcance - faça mais.

Os dias ruins existem - aqueles dias em que o mundo pesa nos seus ombros por tanto tempo que você começa a procurar alguma saída fácil. Há os momentos em que a sede de alegria parece implacável. Quando você se pegar fingindo que está tudo bem, quando evidentemente não está, dê uma olhada no seu ponto cego - e veja que o amor ainda está ali. Seja paciente. Todo pesadelo tem um começo, mas todo mau dia tem um fim. Ignore o que os outros disseram de você. Eu digo que você é meu amigo. Ajude-nos compreender a urgência da sua crise. O silêncio só gera mais silêncio.

Portanto, fale e se faça ouvir. Uma palavra de cada vez, se expresse, diga o que está acontecendo na sua vida. Se ninguém prestar atenção, fale mais alto. Faça barulho. Fique de pé e se abra. A esperança, nesses casos, não basta. Você vai precisar de alguém em quem se escorar. Na improvável eventualidade de você não ter ninguém, olhe bem. Todos temos o dom da escuta. Os surdos o ouvirão com seus olhos. Os cegos o verão com as mãos. Exponha seu coração nas bancas de jornais, permita que leiam suas manchetes. Admita que os dias ruins existem, que existem as noites impossíveis. Ouça os relatos de quem já esteve lá, mas conseguiu voltar. Estes lhe dirão que você pode erguer montanhas de sofrimento, pode ir embora, pode sumir, pode até vestir-se de luto e tristeza - mas, quando chegar amanhã, troque de roupa.

Todo mundo conhece a dor, mas ninguém deve carregá-la para sempre. Ninguém deve se aferrar a ela. Assim, tenha a certeza de que, qualquer que seja a dor de agora, ela logo ficará para trás. E, quando alguém perguntar se está tudo bem, saiba que, para alguns de nós, é a única maneira que conhecemos de dizer:

"Calma. Relaxe os punhos. Devagarzinho, vá abrindo as suas mãos. Solte..."

Shane Koyczanvia

Vídeo compílado por Jon Goodgion com imagens do documentário "Life in a Day", de Kevin Macdonald.
Tradução: Cris, originalmente aqui

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O mundo do domínio e da posse em crise por causa de um Menino


Um cordeiro é posto sobre os ombros do Papa Francisco
por ocasião da festa da Epifania, na Igreja Santo Afonso Maria Ligório,
na periferia de Roma. | Foto: Osservatore Romano, via

Os Reis Magos “ensinam a não nos contentarmos com uma vida medíocre, mas sim a querermos nos fascinar pelo que é bom, verdadeiro, bonito”. Foi o que disse o Papa Francisco na homilia da missa da Epifania. Tomando o exemplo dos Reis Magos, convidou “a não nos deixarmos enganar pelas aparências do que, para o mundo, é grande, sábio, potente”, mas a irmos além.

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 06-01-2014. A tradução é do Cepat, via IHU.

O Papa, que celebrou a missa com os cardeais e bispos da Cúria romana, explicou que o caminho dos Magos do Oriente, que seguiam “uma luz em busca da Luz”, “simboliza o destino de cada homem: nossa vida é um caminhar, iluminados pelas luzes que iluminam o caminho, para encontrar a plenitude da verdade e do amor, que nós, cristão, reconhecemos em Jesus, a Luz do mundo”. Cada homem, assim como os Reis Magos – acrescentou Bergoglio – tem a sua disposição dois grandes “livros” dos quais se pode extrair “os sinais para se orientar na peregrinação: o livro da criação e o livro das Sagradas Escrituras. O importante é estar atento, vigiar e escutar o Deusque nos fala”.

Francisco recordou que os Reis, quando chegaram a Jerusalém perderam de vista, por um momento, a estrela, cuja luz não era vista no palácio do Rei Herodes: “Aquela demora era tenebrosa, reinava a obscuridade, a desconfiança, o medo.Herodes, de fato, mostrou-se desconfiado e preocupado pelo nascimento do frágil Menino, sentido como um rival. Na realidade – explicou o Papa – Jesus não veio para derrubá-lo, fantoche miserável, mas para ser o príncipe deste mundo! No entanto, o rei e seus conselheiros ouviram o ranger dos andaimes de seu poder, temendo que, uma vez desmascaradas as aparências, as regras do jogo mudassem”.

Assim todo um mundo “construído sobre o domínio, o sucesso e o poder, entraria em crise por um Menino! E Herodes chegou, inclusive, a mandar matar os meninos. Um padre da Igreja dizia: ‘Matas aos meninos de carne, porque o medo o mata em seu coração’. E tinha medo”. Os Reis Magos souberam superar – acrescentou Francisco – “aquele perigoso momento de escuridão de Herodes, porque acreditaram nas Escrituras, na palavra dos profetas que indicavam Belém como o lugar do nascimento do Messias”.

O Papa também lembrou outro aspecto desta luz que guia o caminho da fé: a “santa astúcia, que também é uma virtude”. Trata-se, explicou, da “sutileza espiritual que nos permite reconhecer os perigos e evitá-los. Os Reis Magossouberam utilizar esta luz da “astúcia” quando, no caminho de volta, decidiram não passar pelo tenebroso palácio deHerodes e percorrer outro caminho. Estes sábios vindos do Oriente nos ensinam a não cair nas armadilhas da escuridão e a nos defender da escuridão que tenta envolver nossas vidas. Com esta santa astúcia, mantiveram a fé. Assim como nós também devemos mantê-la. Às vezes o demônio, como disse São Paulo, se veste de luz, e nós, frente às sereias do mundo, devemos manter a fé. É necessário acolher a luz de Deus em nosso coração e, ao mesmo tempo, cultivar a astúcia espiritual que sabe conjugar simplicidade e astúcia”.

O exemplo dos Reis Magos “nos ajuda – concluiu Bergoglio – a olhar para a estrela e seguir os grandes desejos do nosso coração. Ensinam a não nos contentarmos com uma vida medíocre, sem “grandes voos”, mas deixar-nos atrair sempre pelo que é bom, verdadeiro e belo... por Deus, e para que tudo isso seja cada vez maior! E nos ensinam a não nos deixarmos enganar pelas aparências, por aquilo que, para o mundo, é grande, sapiente, poderoso. Não deve se deter aí. Não se deve se contentar com a aparência, a fachada. Em nosso tempo é necessário e muito importante que se mantenha a fé. É preciso ir além da escuridão, além do canto das sereias, da mundano, das tantas modernidades de hoje. É necessário ir até Belém onde, na simplicidade de uma casa de periferia, entre uma mãe e um pai repletos de amor e de fé, resplandece o Sol nascido do alto, o Rei do universo”.

A chegada dos Magos do Oriente a Belém, para homenagear o Rei dos judeus, é um tema que o Papa voltou a tratar durante a Angelus. “É um episódio que o papa Bento comentou magnificamente em seu livro sobre a infância de Jesus. Esta – disse o Papa Francisco durante o Angelus – foi a primeira ‘manifestação’ de Cristo às pessoas, por isto a Epifania evidencia a abertura universal trazida por Jesus”. “Jesus – destacou o Papa – veio para todos os povos, para todos nós”.

O Papa insistiu sobre o “duplo movimento” desta festa, de Deus até os homens e dos homens até Deus, junto às “religiões, na busca da verdade, do caminho dos povos até a paz, a justiça, a liberdade”. Neste movimento, o Pontíficesublinhou, “a iniciativa é de Deus. O amor de Deus vem antes do nosso”. “A Igreja – observou – está toda dentro deste movimento”. E concluiu rezando para que a Igreja tenha sempre “a alegria de se evangelizar”.

“O profeta Isaías – explicou o Papa – dizia que ‘Deus é como a flor da amêndoa, porque naquela terra a amêndoa é a primeira a florescer e Deus sempre precede, Ele dá o primeiro passo’”.

“Gostaria de dizer a todos aqueles que se sentem distantes da Igreja – disse o Papa – que ‘os respeito’ e, àqueles temerosos, indiferentes, que ‘o Senhor também chama a ti, e o faz com grande respeito, o Senhor te espera, te procura, o Senhor não faz proselitismo, te espera, te procura, inclusive se, neste momento, estás longe”.

Depois do Angelus, recitado da janela do estúdio papal na Praça de São Pedro, o Papa dirigiu uma “cordial felicitação aos irmãos e irmãs das Igrejas orientais que – como ele lembrou – amanhã celebram o Santo Natal. A paz de Deus – acrescentou – foi dada à humanidade com o nascimento de Jesus, Verbo encarnado, reforço a todos a fé, a esperança e a caridade, assim como o apoio as comunidades cristãs que estão sofrendo”.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Ibope: maioria dos brasileiros defende educação para diversidade e punição para pregação contra homossexuais


Do nosso amigo Markos Oliveira esta madrugada no Facebook:
Sabe aquele discurso dos parlamentares homofóbicos para barrar a garantia de direitos para LGBTs usando a falácia anti-democrática de que "a maioria da sociedade brasileira" é contra? Então... 
Pesquisa do IBOPE Inteligência/CNT (Confederação Nacional dos Transportes) para a revista Época (confira aqui) "perguntou se um líder religioso deve ser acusado pelo crime de homofobia se pregar contra homossexuais: grande parte (60%) declara que sim e 55% também acham que o tema homossexualidade deve ser incluído no currículo das aulas de educação sexual."

Dos 2.002 entrevistados entre os dias 5 e 9 de dezembro de 2013, em 141 municípios, 61% são católicos, 24% evangélicos e 4% de outras religiões. Mais da metade (59%) declara ser praticante. Os que não tem religião somam 10%.

Dos 2.002 entrevistados entre os dias 5 e 9 de dezembro de 2013, em 141 municípios, 61% são católicos, 24% evangélicos e 4% de outras religiões. Mais da metade (59%) declara ser praticante. Os que não tem religião somam 10%.
Além desses dados destacados pelo Markos, gostaria de salientar outro detalhe: 60% dos entrevistados declara que um líder religioso deve ser acusado pelo crime de homofobia se pregar contra homossexuais muito embora 45% acreditem que "ser homossexual é ferir os preceitos de uma religião". O interessante dessas duas informações é que mesmo aqueles para os quais a homossexualidade fere os preceitos de sua religião entendem também que, mesmo assim, fazer pregações contra homossexuais deve ser considerado crime de homofobia.

Deduzo daí que mesmo quando a pessoa considera a homossexualidade pecado, não considera aceitável usar o púlpito para atacar os homossexuais; ou seja, a população em geral tem uma percepção bem mais clara do que a de uma considerável parcela dos nossos parlamentares de que não se pode legislar com base em princípios religiosos. Afinal, o Estado é laico e governo e religião não se misturam.

Com carinho,

Cris

Confira mais dados colhidos pela pesquisa do Ibope aqui

O que eu espero de 2014?


Aproveito este espaço para registrar um comentário da querida Majú Giorgi, do Mães pela Igualdade, publicada em sua coluna desta semana no iG. Em seu texto sobre suas expectativas para 2014, que pode (e deve! rs) ser lido na íntegra aqui, ela observa com agudeza os novos ventos que estão soprando na CNBB e sublinha que o perigo não está nas religiões, mas no fundamentalismo, seja em que contexto for:
Apesar de não ter religião, apenas religiosidade, e muito mais simpatia pelas orientais que pelas Cristãs, eu tenho um carinho imenso pelo Diversidade Católica, e acredito que 2014 será um ano de grandes conquistas. 
(...) os países com maioria católica são os que somam mais avanços no movimento LGBTT, vide Portugal, Uruguai e Argentina. E em 2013 vimos a CNBB lançar novas diretrizes, não tentar parar nem por um segundo o PLC 122 e ainda com o plus da assinatura do CONIC na carta de apoio ao PLC (leia aqui). Quem me dera voltássemos a ser um país 80% católico, sem a ameaça obscura do fundamentalismo. Tomando aqui o cuidado de não desmerecer nenhuma religião, agradeço aos protestantes também, pelo apoio ao PLC 122 em 2013. No Brasil, religiões não se dedicam a perseguir ninguém, isso é uma exclusividade dos LÍDERES das trevas pentecostais.  
Vou continuar gritando dentro do alcance da minha voz, os desmandos a hipocrisia e o falso moralismo dos vendilhões do templo, dos comerciantes da fé, mas com verdade porque o movimento LGBTT, não precisa lançar mão de artimanhas sujas e de mentiras como eles fazem.  
Vou lutar pela Democracia e pelo Estado Laico e para que essa nuvem nefasta de proselitismo religioso saia de cima do Poder Legislativo, para que meus filhos e todas as futuras gerações possam viver em um país livre, laico e democrático, independente de fé, raça ou sexualidade.
É isso aí, Majú: o problema é o fundamentalismo que inviabiliza qualquer possibilidade de diálogo; o problema é a apropriação nefasta das igrejas em prol de interesses políticos e para fins de manipulação e opressão; o problema é a inaceitável contaminação da política pelo proselitismo e pela má-fé daqueles que têm a audácia de corromper o discurso religioso em nome de seus objetivos espúrios de poder teocrático.

Mas 2013 foi o ano em que fomos às ruas e foi o ano em que o papa Francisco começou a instaurar um discurso novo e revolucionário na Igreja Católica. Pessoalmente, não sou dessas que esperam milagres do pontífice, até porque tenho horror a clericalismos e acho imprescindível que os leigos tomem as rédeas da transformação da Igreja. Esse é também o posicionamento do Diversidade Católica como grupo: procuramos ser nós a Igreja que queremos ver no mundo.

O que vem mudando com Francisco, e essa mudança não aparece na imprensa porque é quase impalpável - mas a potência de seu impacto vai na proporção direta de sua sutileza - é o fato de que uma multidão de vozes que por décadas permaneceu em silêncio está atendendo o convite do Papa para o diálogo e se sentindo encorajada a falar - e a falar para se fazer ouvir. E a agir. É uma multidão de gente saindo dos armários, das sacristias, das catacumbas, para despertar os adormecidos, denunciar anticristos, corrigir inconsistências, buscar atitudes mais verdadeiramente evangélicas.

2014 certamente será um ano de muito trabalho, em que continuaremos semeando e, quem sabe, já começaremos a colher os frutos plantados neste ano que findou.

Com amor,

Cris

Continue lendo o artigo na coluna da Majú no iG, aqui.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Carta de um pai gay a um bispo homofóbico


Nos últimos dias, lemos na imprensa as palavras insistentes do Papa Francisco de que "o Evangelho se anuncia com doçura e amor, não com porretadas inquisitoriais" (aqui) e na necessidade de manter o coração aberto e em busca, movido pelo desejo profundo de mudar o mundo (ainda aqui); lemos suas reflexões sobre a importância de formar o coração dos sacerdotes, para que "despertem o mundo" (aqui) e não se transformem em "pequenos monstros" (aqui, aqui e aqui); e recordamos, ainda, como fato-síntese do diálogo entre LGBTs e Igreja em 2013, a resposta e a benção dada pelo Papa a um grupo de LGBTs católicos italiano (aqui). Ontem, lemos também esta carta de um espanhol, gay, casado e pai de um menino de três anos, que defende seu casamento e seu filho dos ataques de um bispo homofóbico.

Achei de fundamental importância traduzir e compartilhar essa carta não só por sua clareza e pertinência, mas também porque coincide em muitos pontos com a carta que enviamos aos Bispos da Igreja Católica (saiba mais aqui. Ainda não assinou a petição on-line? Clique aqui!). Suas palavras sobre a família, especialmente, encontram eco em nosso pedido:
Todos nós, como pessoas LGBT, filhas e filhos de Deus, nascemos no seio de famílias, das mais diversificadas, e todos nós buscamos viver em família, seja ela eletiva ou biológica. Como Católicos, sabemos que Nosso Senhor Jesus Cristo sempre promoveu e promove mais a família eletiva que a biológica. Ou seja, consideramos que o discurso Católico sobre a família nos toca profundamente, sobretudo porque estas palavras de Jesus nos ressoam: "A minha mãe e os meus irmãos são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática” (Lucas 8, 21). Temos as mais variadas experiências de vida familiar (...). Por isto, não podemos deixar de notar que, até agora, o discurso eclesiástico sobre a família nos trata como se fôssemos os inimigos da família, hostis de alguma forma à sobrevivência da mesma. Porém, nenhuma dinâmica familiar pode ser considerada saudável se alguém nela é tratado como ovelha negra (ou rosa). E isto nos leva a pedir que os Senhores não insistam em “defender” a família contrapondo-a aos direitos e à estabilidade psíquica e espiritual das pessoas LGBT. Estas “defesas” soam como forma de se imiscuir de maneira pouco evangélica em vivências familiares complexas em que todos sairiam ganhando se o assunto fosse tratado com honestidade, escuta, paciência e carinho. [Leia na íntegra aqui.]
Que a defesa veemente que este marido e pai faz de sua família nos inspire a buscar um coração sempre mais aberto, como pede o Papa Francisco, e um olhar sempre mais evangélico e acolhedor em relação às realidades vividas pelos nossos irmãos, por mais distintas ou distantes que possam parecer das nossas próprias vivências; e a orar por nossos sacerdotes, para que cada vez mais tenham o coração e os olhos abertos em amoroso serviço aos irmãos e possam ser, assim, sinais da Boa Nova de Cristo na terra.

Com carinho,


Casimiro Lopez Llorente, bispo de Segorbe Castellón [Espanha], começou 2014 não só atacando o casamento gay, mas também criticando os filhos de famílias homoparentais. Ao mesmo tempo em que responsabiliza o primeiro pela destruição da família, descreve os segundos como crianças com graves perturbações de personalidade, propensas a desenvolver comportamentos violentos.

Pedro Fuentes, casado com um homem e pai de um filho de três anos, responde ao bispo:

"Monsenhor, na minha cidade, quando uma pessoa é de classe social baixa ou baixa em termos de sua conduta, usamos uma expressão simples: 'pobre' — embora seja muito diferente ser pobre de dinheiro ou pobre de espírito. Digo isso por causa de uma carta em que o senhor denigre certas crianças, ainda que a palavra amor permeie cada uma das homilias que se ouve nas igrejas e catedrais.

Suas palavras, senhor bispo, soam como um tapa na cara. São palavras inaceitáveis, por mais que, ao revesti-las de assertividade, o senhor pretenda conferir-lhes um brilho de que carecem.

O senhor alega que o casamento entre pessoas do mesmo sexo é a base "para a destruição da família" e tem entre seus efeitos "o aumento significativo de crianças com grave distúrbio de personalidade".

Só me ocorrem três possíveis razões para tais afirmações.

A primeira é que o senhor se baseie em evidências. Mas isso não é possível, não existem evidências disso. Eu poderia lhe apresentar uma infinidade de referências a artigos publicados em revistas médicas, de bioética, psicológicas ou psiquiátricas (estas, talvez as mais significativas, se é nesses dados que o senhor tem maior interesse) mostrando que não há nenhuma diferença entre os filhos de homossexuais e os de heterossexuais, entre crianças de famílias tradicionais e de famílias não tradicionais, como o senhor diria. Não só não existem, como os estudos indicam uma tendência (não significativa, é verdade, mas tendência ainda assim) a um maior compromisso dessas crianças com os Direitos Humanos e a defesa dos mais fracos, com relação aos quais elas mostram mais empatia. Os pesquisadores concluem que isso se deve à sua criação em um ambiente familiar que lhes inculca esses valores, já que seus pais ainda precisam defender os próprios direitos, Direitos Humanos, quase todos os dias, como estou fazendo aqui. Pena que o senhor mesmo não foi educado nesses valores e nessa defesa.

A segunda razão possível para que o senhor faça tais afirmações é que esteja falando por experiência. Espero que não seja essa a razão; caso seja, lamento muito. Viver em uma família que destroce uma criança deve ser horrível; e se, mais de 60 anos depois, as feridas ainda estão sangrando, só pode ser por terem sido muito profundas. A violência na família é algo medonho. Ainda assim, suas dores não podem ser uma desculpa para infligir dor aos outros. Ao contrário, devem constituir razão para defender o ser humano, não para criminalizá-lo injustamente.

A terceira razão seria a impudência da palavra: falar por falar, para causar danos e dor, para criar uma base ideológica a partir da qual atacar o outro só por ser diferente, por não viver como eu desejo. Aí há que reconhecer a existência de uma grande tradição. Basta lembrar a facilidade com que passamos do "não julgueis e não sereis julgados" para a Santa Inquisição — que, além de julgar, foi responsável pelo saque, tortura e morte de milhares de pessoas. Contudo, senhor bispo, por mais que o senhor queira a Idade de Ferro do papado não voltará mais, nem o esplendor do Poder Temporal, nem o senhor poderá ostentar seu ouropel em passeio por suas terras, recebendo as homenagens do povo.

Respeito se conquista, não é concedido por um anel ou uma mitra. A Igreja vem se esquecendo das bases que a formaram e o episcopado se distorceu de uma tal maeira que ninguém mais se lembra das palavras da Primeira Epístola de S. Paulo a Timóteo: 'quem aspira ao episcopado, saiba que está desejando uma função sublime. Porque o bispo tem o dever de ser irrepreensível, casado uma só vez, sóbrio, prudente, regrado no seu proceder, hospitaleiro, capaz de ensinar. Não deve ser dado a bebidas, nem violento, mas condescendente, pacífico, desinteressado; deve saber governar bem a sua casa, educar os seus filhos na obediência e na castidade. Pois quem não sabe governar a sua própria casa, como terá cuidado da Igreja de Deus?' [1 Timoteo 3:1-5] Marido... prudente... condescendente... filhos... são belas palavras. O senhor, que não formou uma família (viver em família não é o mesmo que formá-la), em vez de vivê-las, não só se permite opinar como tem o atrevimento de condenar.

Defenda seu modelo de família ou sociedade, mas respeite, como quer ser respeitado, os outros modelos. E, se quiser falar de crianças em situação de risco, volte seu olhar para as centenas delas que, aqui na Espanha, passam fome todos os dias — FOME, senhor bispo, enquanto milhões de euros chegam às mãos dos ricos sem que ressoe, nos palácios episcopais, o chicote com que Jesus açoitou os vendilhões do templo. Não admito que ninguém falte ao respeito com meu filho, nem pelo modo como ele nasceu, nem por ser filho de quem é. Com suas palavras, o senhor desrespeitou não só a ele, mas a milhares de crianças que não conhece e, obviamente, nem pretende conhecer. Desrespeitou milhares de famílias sobre as quais nada sabe, porque nem as entende nem tem a alma limpa para delas se aproximar. A concupiscência, a lascívia na palavra, é um pecado grave, especialmente quando fere inocentes.

'Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes.' (Mt, 25, 40)

Esta é a minha esperança: saber, que mais cedo ou mais tarde, o senhor comparecerá perante Ele. Saber que Ele o olhará no rosto. Saber que Ele lhe lançará Seu desprezo. Porque ser bispo não pode jamais significar ferir qualquer um destes meus irmãos pequeninos.

A meu marido e a mim, Deus nos deu um filho. O fato de o senhor não ter compreendido isso só mostra o quanto está longe d’Ele.

Pedro Fuentes"

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Papa Francisco poderá ter outro olhar sobre uniões homoafetivas


John L. Allen Jr., jornalista do National Catholic Reporter, importante publicação católica americana, de viés liberal, faz uma análise de como os gestos e palavras de Francisco com relação aos LGBT vêm sendo interpretados, e das perspectivas que temos pela frente. O artigo foi publicado em 03-01-2014 e a tradução é de Isaque Gomes Correa, via IHU.

Não é sempre que a vida real serve de experimento para ajudar na resolução de problemas históricos, mas a política italiana pode ter criado uma oportunidade desse tipo ao lançar luz sobre uma questão biográfica central do Papa Francisco.

Dado que o assunto é o estatuto jurídico das relações homoafetivas, o pensamento do papa tem, obviamente, algo além de um mero interesse histórico.

Antes de sua eleição, a linha assumida pelo cardeal Jorge Mario Bergoglio, de Buenos Aires, era aquela de um conservador bastante convencional, em parte devido a seu papel no difiícil debate nacional travado em seu país, em 2010, a respeito do casamento homoafetivo.

A disputa proporcionou algumas das mais ferrenhas retóricas políticas de Bergoglio, enunciada em julho de 2010 numa carta aos conventos argentinos, onde que pedia para rezarem tendo em vista fazer tal iniciativa fracassar.

“Não sejamos ingênuos: não se trata de uma simples luta política, mas sim de uma tentativa para destruir os planos de Deus”, escreveu na ocasião. “Não é apenas uma lei, mas uma ação do Pai da Mentira, que busca confundir e enganar os filhos de Deus”.

No entanto, a Argentina acabou sendo a primeira nação na América Latina a aceitar o casamento homoafetivo.
Como enquadrar esta postura, aparentemente linha dura, de Bergoglio com as percepções do Papa Francisco, hoje, como sendo um político moderado, determinado a apaziguar as guerras culturais? Como enquadrar aquele famoso dizer a respeito da comunidade gay: “Quem sou eu para julgar?”

Basicamente existem duas teorias.

Uma delas diz que a carta de 2010 mostra o Francisco real, e que a atual fascinação por sua luva de veludo ignora o punho de ferro existente por baixo. Dê a ele tempo – sustenta esta teoria – e então mostrará suas verdadeiras cores. (Esta opinião tende a estar presente tanto entre os conservadores culturais, que querem que o papa demarque claramente limites, quanto entre ativistas dos direitos dos gays, que temem que ele irá fazer exatamente isso.)

A outra teoria sustenta que a carta de 2010 não retratava o verdadeiro Bergoglio. Esta diz que, particularmente, ele desejava aceitar uma solução para as uniões civis como uma alternativa para o casamento homoafetivo, e que teve que adotar uma postura rígida em público somente porque era o presidente da Conferência dos Bispos de seu país, sentindo-se obrigado a articular a visão da maioria.

O padre Argentino Jorge Oesterheld, porta-voz da Conferência Episcopal da Argentina durante os seis anos em que Bergoglio foi presidente (2005 a 2011), afirmou exatamente isso em uma entrevista concedida ao site National Catholic Reporter – NCR, em abril.

“Alguns [bispos] era mais flexíveis do que outros”, disse o Pe. Oesterheld. “O cardeal compactuou com aquilo que a maioria buscava. Ele achou que era seu papel como presidente da Conferência apoiar o que a maioria decidiu, não impondo sua própria vontade sobre os demais”.

A política italiana poderá ajudar nesse sentido.

Na quinta-feira, o novo líder do Partido Democrata de centro-esquerda, Florence Mayor Matteo Renzi, expôs elementos-chave de sua agenda política em uma carta a outros líderes partidários. Pesquisas de opinião mostram Renzi, de 38 anos, como favorito para o cargo de primeiro ministro italiano.

Um elemento presente aqui é o apoio a uniões civis, similar àquele da Lei de Casamento Civil, de 2005, aprovada no Reino Unido e adotada sob o governo do então primeiro ministro Tony Blair.

Dado o forte ethos católico do povo italiano, analistas acreditam que direitos plenos para casamentos homoafetivos sejam improváveis no país, embora pesquisas mostrem uma aprovação pública para estas uniões.
“Estes não são direitos civis, mas deveres civis”, falou Renzi. “Como pode um país que não leva essas questões a sério se dizer civilizado?”

Apesar do apoio popular, analistas políticos italianos consideram esta postura um tanto ousada, dado que o apoio para uma medida similar de 2006-2008 ajudou a derrubar o segundo governo de centro-esquerda, liderado pelo então primeiro ministro Romano Prodi.

Romano Prodi apoiou a medida política de união civil conhecida, na Itália, por “Dico”, postura que acalorou a oposição da Igreja local. Esta foi liderada pelo presidente ultrapoderoso da Conferência dos Bispos à época, o cardeal Camillo Ruini, com uma forte sustentação do Vaticano e do Papa Bento XVI.

A proposta morreu em 2008 quando Prodi perdeu em votação aberta no Senado italiano, vindo então a renunciar.

Suponhamos que Renzi siga o mesmo caminho, que a busca por uniões civis volte à tona sob um futuro governo de esquerda, e que o drama apresente-se novamente: a resposta do Papa Francisco seria diferente?

Com base no tom já posto pelo novo papa, muitos analistas esperam que a resposta seja diferente. Ao escrever ao jornal La Stampa, o jornalista Fabio Martini afirmou que, na era Francisco, os assim-chamados “teo-cons” – ou seja, políticos que invocam valores cristãos para defender posições conservadoras – “ficaram sem voz, e que agora será difícil recuperarem o vigor de antes”.

Duas questões se apresentam.

Em primeiro lugar, o Papa Francisco tem dito que a Igreja não deve tomar posições políticas diretamente. Portanto, é provável ele não venha a falar de modo explícito sobre o assunto. Em segundo lugar, ao mesmo tempo ele é um forte adepto da colegialidade. Assim, provavelmente ele deixe os bispos italianos tomarem a liderança.

No momento em que um governo hipotético de Renzi assumisse o comando, as rédeas da Conferência Episcopal Italiana deverão estar firmes nas mãos dos “bergoglioístas”

Na quinta-feira, Maurizio Gasparri, político de centro-direita e vice-presidente do Senado italiano, disse que a variável crítica no debate iminente será a respeito da forma como católicos, das mais importantes coalizões, irão reagir.

No entanto, para o resto do mundo a pergunta que fica é provavelmente esta: Como o Papa Francisco irá reagir?

domingo, 5 de janeiro de 2014

Faleceu o Pe. Robert Nugent, sacerdote fundador do grupo católico LGBT “New Ways Ministry”


É com pesar, mas gratos por ter-lhe sido dado repousar e confiantes na promessa da Ressurreição, que compartilhamos a nota de falecimento do Pe. Robert Nugent, inspirado pioneiro da luta pela inclusão dos LGBTs a Igreja Católica. Que sua alma descanse em paz e ele siga intercedendo por nós junto ao Pai Amoroso.

Faleceu o Pe. Robert Nugent, SDS, fervoroso defensor dos gays e lésbicas católicos. Nugent ficou conhecido como um dos fundadores do New Ways Ministry, organização que trabalha com gays e lésbicas católicos.

O blog do New Ways Ministry divulgou a notícia de seu falecimento, ocorrido em 1º de janeiro de 2014 em Milwaukee, Wisconsin. Havia três meses, ele sofria de câncer no cérebro.

Francis DeBernardo, diretor executivo do New Ways Ministry, assim refletiu sobre o impacto da vida do Pe. Nugent:

"Enquanto alguns poucos sacerdotes limitam-se a falar aos sussurros sobre a homossexualidade, o Pe. Nugent se reunia com lésbicas e gays e os incentivava a reivindicar seu lugar de direito na Igreja Católica. Em um tempo de intensa homofobia na Igreja e na sociedade, manifestou uma rara coragem e presciência de ao acolher e afirmar a bondade de Deus para com seus filhos gays e lésbicas."

O trabalho de Nugent nem sempre foi apreciado pelo Vaticano, que, em 1999, proibiu-o de continuar escrevendo e falando sobre a homossexualidade. Ele obedeceu a determinação por lealdade a seu voto de obediência, e permaneceu sacerdote.

O Rev. James Martin, SJ, diretor da revista católica América, comentou:

"Sempre admirei o trabalho pioneiro de Padre Nugent junto aos gays e lésbicas católicos; em parceria com a irmã Jeannine Gramick, Pe. Nugent ajudou muitos milhares de pessoas a se sentirem mais bem-vindas em sua igreja. Mas eu admirava também sua fidelidade ao seu voto de obediência. Em um momento difícil, o Padre Nugent soube equilibrar-se entre a justiça e a fidelidade com enorme graça e confiança em Deus. Todos os católicos - não apenas gays e lésbicas - têm para com ele uma dívida de gratidão. Que ele descanse em paz.

Fonte

O que o Papa disse, e o que ele NÃO disse, sobre o casamento gay


A imprensa começou a repercutir ontem uma palestra dada pelo Papa Francisco em novembro no colóquio com os membros da União dos Superiores Gerais - USG - dos institutos religiosos masculinos, publicada em reportagem da revista Civiltà Cattolica no dia 03-01-2014, que pode ser lida na íntegra, em espanhol, aqui, e, em português, aqui. Temos visto manchetes como a do Globo, "Papa afirma que casamento gay é desafio educativo para a Igreja", ao do G1, "Papa Francisco pede nova atitude da Igreja com os filhos de homossexuais", e a do UOL, "Papa Francisco pede nova atitude da igreja com os filhos de homossexuais". Desde ontem, vi essas matérias despertarem reações positivas e negativas dentro da comunidade LGBT. Contudo, me parece que há um esclarecimento importante a fazer, que coloca o caso sob uma nova perspectiva.

Um exame do documento revela que o papa não se referiu ao casamento gay em sua palestra em nenhum momento, ao contrário do que essas manchetes podem dar a entender. Provavelmente o mal entendido se deve ao fato de que o papa citou o caso de uma menina que estava triste porque "a namorada da minha mãe não gosta de mim". Esse é o único momento em que ele fala em gays. Acontece que o trecho completo é o seguinte:
"Para o Papa, os pilares da educação são: 'transmitir conhecimentos, transmitir modos de fazer, transmitir valores. Através deles se transmite a fé. O educador deve estar à altura das pessoas que educa, de interrogar-se quanto a como anunciar a Jesus Cristo a uma geração em transformação'. Para tanto, insistiu: 'a tarefa da educação hoje é uma missão chave, chave, chave!', e citou algumas de suas experiências em Buenos Aires sobre a preparação necessária para que se receba, em contextos educativos, crianças, adolescentes e jovens que vivem em situação complexa, especialmente em família: 'lembro-me do caso de uma menina muito triste que acabou confidenciando à professora o motivo de sua tristeza: 'a namorada da minha mãe não gosta de mim'. A porcentagem de crianças que estudam nas escolas e têm pais separados é altíssima. As situações que hoje vivem criam, portanto, novos desafios que, para nós, às vezes são até difíceis de entender. Como anunciar Cristo a esses meninos e meninas? Como anunciar Cristo a uma geração em transformação? É preciso que estejamos atentos, para que não lhes ministremos uma vacina contra a fé." (p. 14, aqui; ou no último parágrafo antes dos ***, aqui)
O curioso, portanto, é que essa frase da menina não é citada para falar sobre casais gays. Não é uma crítica aos gays, como a matéria do G1, por exemplo, pode fazer parecer. Pelo contrário: ele está falando sobre os desafios da educação da nova geração, fala que há situações complexas, dá esse exemplo, da menina que estava triste porque "a namorada da minha mãe não gosta de mim", e segue falando sobre a alta porcentagem de filhos da pais separados nas escolas, que as situações requerem novas estratégias, etc. Quer dizer: ele se refere, no contexto de um colóquio para religiosos, falando sobre a formação de religiosos, a um casal de mulheres com uma filha como um casal separado qualquer.

Vou repetir: o papa se refere a um casal de mulheres como um casal separado qualquer e que usa esse exemplo para refletir sobre como as fórmulas antigas para se lidar com as novas situações familiares não servem mais, estão alienando e afastando as pessoas ("ministrando uma vacina contra a fé"), e, em vez de assumir alguma postura rígida e preestabelecida, pergunta e convida os demais a pensar com ele: "Como anunciar Cristo a esses meninos e meninas?". Pode parecer sutil, mas o impacto disso, no contexto de uma instituição milenar que não pode mudar por meio de grandes rupturas, é imenso, e vai muito, mas muito além do que a maneira apressada e até equivocada como a imprensa vem repercutindo essas suas palavras.

Que a abertura do papa Francisco para a dúvida, o questionamento das certezas preestabelecidas, o encontro e o diálogo com o outro nos sirvam de exemplo e inspirem, também nós, a partir ao encontro do nosso irmão.

Com amor,

Cris

Atualização em 8/1/14: Este texto do nosso blog foi reproduzido pelo IHU, aqui. A mensagem se espalha... :-)

"O Evangelho se anuncia com doçura e amor, não com porretadas inquisitoriais"

 
Da homilia do Papa Francisco diante dos jesuítas reunidos na "Chiesa del Gesù" (igreja localizada no centro de Roma e onde está enterrado o corpo de Sto. Inácio de Loyola) em 03-01-2014, para a missa no dia da celebração litúrgica do Santíssimo Nome de Jesus. A celebração teve um caráter de ação de graças pela inscrição no catálogo dos Santos, no dia 17 de dezembro de 2013, de Pedro Fabro, primeiro sacerdote jesuita:

"O coração de Cristo - prosseguiu - é o coração de um Deus que, por amor, se 'esvaziou'. Cada um de nós (...) que segue a Cristo deveria estar disposto a se esvaziar de si mesmo. Somos chamados a este abaixamento: ser os "esvaziados". Ser homens que não devem viver centrados em si mesmos porque o centro (...) é Cristo e a sua Igreja. E Deus é o 'Deus semper maior', o Deus que sempre nos surpreende. E se o Deus das surpresas não está no centro, a Companhia se desorienta. Por isto, ser jesuíta significa ser uma pessoa do pensamento inciompleto, do pensamento aberto: porque pensa sempre olhando o horizonte que é a glória de Deus sempre maior, que nos surpreende sem descanso. E esta é a inquietude da nossa vida. A santa e bela inquietude! (...)

Mas, porque pecadores, sempre nos perguntamos se o nosso coração conservou a inquietação da busca ou se, ao contrário, se atrofiou; se o nosso coração está sempre em tensão: um coração que não descansa, não se fecha em si mesmo, mas que bate ao ritmo de um caminho a ser feito junto com todo o povo fiel de Deus. É preciso busca Deus para encontrá-lo, e encontrá-lo buscando agora e sempre. Somente esta inquietude dá paz ao coração (...), uma inquietude também apostólica, não nos deve cansar de anunciar o kerygma, de evangelizar com coragem. É a inquietude que nos prepara para receber o dom da fecundidade apostólica. Sem inquietude seremos estéreis.

Uma fé autêntica implica sempre um profundo desejo de mudar o mundo. Eis a pergunta que nos devemos fazer: também nós temos grandes visões? Somos também nós audazes? O nosso sonho voa alto? O zelo nos devora (cf. Salmo 69,10)? Ou somos medíocres e nos contentamos com as nossa programações apostólicas de laboratório? Recordemos sempre: a força da Igreja não habita nela mesma e na sua capacidade organizativa, mas se esconde nas águas profundas de Deus. E estas águas agitam os nossos desejos e os desejos alargam o coração. É o que dizia Santo Agostinho: "Rezar para desejar e desejar para alargar o coração". Precisamente nos desejos que Fabro podia discernir a voz de Deus. Sem desejos não se vai a nenhuma parte e é por isto que é preciso oferecer os próprios desejos ao Senhor. (...)

Penso neste momento na tentação, que talvez nós tenhamos e que tantos têm, de ligar o anúncio do Evangelho com porretadas inquisitoriais, de condenação. Não. O Evangelho se anuncia com doçura, com fraternidade, com amor."

Fonte

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