sábado, 29 de março de 2014

A eucaristia não é um prêmio para os perfeitos


O texto que estudamos na última reunião, com trechos da carta do papa Francisco. 

Papa Francisco

Exortação Apostólica Evangelii gaudium 
sobre o Anúncio do Evangelho no mundo atual ­ II

46. A Igreja «em saída» é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direção aos outros para chegar às  periferias  humanas  não  significa  correr  pelo  mundo sem  direção  nem sentido.  Muitas  vezes é  melhor diminuir o ritmo, pôr de parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho. Às vezes, é como o pai do filho pródigo, que continua com as portas abertas para, quando este voltar, poder entrar sem dificuldade.

47. A Igreja é chamada a ser sempre a casa aberta do Pai. Um dos sinais concretos desta abertura é ter, por todo o lado, igrejas com as portas abertas. Assim, se alguém quiser seguir uma moção do Espírito e se aproximar à procura de Deus, não esbarrará com a frieza duma porta fechada. Mas há outras portas que também não se devem fechar: todos podem  participar de alguma forma na  vida eclesial, todos podem fazer parte da  comunidade,  e  nem sequer as portas dos sacramentos se deveriam fechar por uma razão qualquer.  Isto  vale  sobretudo  quando  se  trata  daquele  sacramento  que  é  a  «porta»:  o  Baptismo.  A Eucaristia, embora constitua a plenitude da vida sacramental, não é um prêmio para os perfeitos, mas um  remédio  generoso  e  um  alimento  para  os  fracos  (51). Estas  convicções  têm  também consequências  pastorais,  que  somos  chamados  a  considerar  com  prudência  e  audácia.  Muitas  vezes agimos como controladores da graça e não como facilitadores. Mas a Igreja não é uma alfândega; é a casa paterna, onde há lugar para todos com a sua vida fadigosa.

48. Se  a Igreja  inteira  assume  este  dinamismo missionário,  há­de chegar  a todos, sem exceção. Mas, a quem deveria privilegiar?  Quando se lê o Evangelho, encontramos uma orientação muito clara: não tanto aos  amigos  e  vizinhos  ricos,  mas sobretudo  aos  pobres  e  aos  doentes,  àqueles  que muitas vezes são desprezados e esquecidos, «àqueles que não têm com que te retribuir» (Lc 14, 14). Não devem subsistir dúvidas  nem  explicações  que  debilitem  esta  mensagem  claríssima.  Hoje  e sempre,  «os  pobres são  os destinatários privilegiados  do Evangelho» (Bento  XVI), e  a  evangelização dirigida gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer. Há que afirmar sem rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos jamais sozinhos!

49. Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo! Repito aqui, para toda a Igreja, aquilo que muitas vezes disse aos sacerdotes e aos leigos de Buenos Aires: prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar  às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num  emaranhado  de  obsessões  e  procedimentos.  Se  alguma  coisa  nos  deve  santamente  inquietar  e preocupar  a  nossa  consciência  é  que  haja  tantos  irmãos  nossos  que  vivem  sem  a  força,  a  luz  e  a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida. Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nasestruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete­nos sem cessar: «Dai­lhes vós mesmos de comer» (Mc 6, 37).

71. A nova Jerusalém, a cidade santa (cf. Ap 21, 2­4), é a meta para onde peregrina toda a humanidade. É  interessante  que  a revelação  nos  diga  que  a  plenitude  da  humanidade  e da história se realiza numa cidade. Precisamos de identificar  a cidade  a  partir  dum olhar  contemplativo, isto  é,  um olhar  de fé que descubra  Deus  que  habita  nas  suas  casas,  nas  suas  ruas,  nas  suas  praças.  A  presença  de  Deus acompanha  a busca sincera que indivíduos e grupos efetuam para encontrar apoio e sentido para a sua vida.  Ele  vive  entre  os  citadinos  promovendo  a  solidariedade,  a  fraternidade,  o  desejo  de  bem,  de verdade, de justiça. Esta presença não precisa de ser criada, mas descoberta, desvendada. Deus não Se esconde de quantos O buscam com coração sincero, ainda que o façam tateando, de maneira imprecisa e incerta.

165  [...]  A  centralidade  do querigma (anúncio  cristão  fundamental)  requer  certas  características  do anúncio que hoje são necessárias em toda a parte: que exprima o amor salvífico de Deus como prévio à obrigação moral e religiosa, que não imponha a verdade mas faça apelo à liberdade, que seja pautado pela alegria, o estímulo, a vitalidade e uma integralidade harmoniosa que não reduza a pregação a poucas doutrinas,  por  vezes  mais  filosóficas  que  evangélicas.  Isto  exige  do  evangelizador  certas  atitudes  que ajudam a acolher melhor o anúncio: proximidade, abertura ao diálogo, paciência, acolhimento cordial que não condena.

183  [...]  Uma  fé  autêntica – que  nunca  é  cômoda nem individualista – comporta sempre  um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela. Amamos este magnífico planeta, onde Deus nos colocou, e amamos a humanidade que o habita, com  todos  os  seus  dramas  e  cansaços,  com  os  seus  anseios  e  esperanças,  com  os seus  valores  e fragilidades. A terra é a nossa casa comum, e todos somos irmãos.

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