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sexta-feira, 13 de junho de 2014

“A linguagem é viva, quando falam as obras”


Dos Sermões de Santo António de Lisboa, presbítero:
Quem está cheio do Espírito Santo fala várias línguas. Estas várias línguas são os vários testemunhos de Cristo, como a humildade, a pobreza, a paciência e a obediência; falamos com estas virtudes, quando as praticamos na nossa vida. A linguagem é viva, quando falam as obras. Calem-se, portanto, as palavras e falem as obras. De palavras estamos cheios, mas de obras vazios; por este motivo nos amaldiçoa o Senhor, como amaldiçoou a figueira em que não encontrou fruto, mas somente folhas. Diz São Gregório: «Há uma norma para o pregador: que faça aquilo que prega». Em vão pregará os ensinamentos da lei, se destrói a doutrina com as obras.

Mas os Apóstolos “falavam conforme a linguagem que o Espírito Santo lhes concedia”. Feliz de quem fala conforme o Espírito Santo lhe inspira e não conforme o que lhe parece! [...]

Falemos, por conseguinte, conforme a linguagem que o Espírito Santo nos conceder; e peçamos-lhe, humilde e piedosamente, que derrame sobre nós a sua graça, para que possamos celebrar o dia de Pentecostes com a perfeição dos cinco sentidos e a observância dos dez mandamentos, nos reanimemos com o forte vento da contrição e nos inflamemos com as línguas de fogo na profissão da nossa fé, para que, assim inflamados e iluminados nos esplendores da santidade, mereçamos ver a Deus trino e uno.

domingo, 8 de junho de 2014

“Uma Igreja que não surpreende está doente e precisa ser internada para terapia intensiva”, diz Papa


Que, dentro e fora das igrejas, a mensagem de Francisco para este Pentecostes se faça ouvir. Para que o mundo renasça.

Uma Igreja que não surpreende é “fraca, doente e moribunda e deve ser internada para terapia intensiva”, disse o Papa Francisco, na manhã de hoje, domingo de Pentecostes, na Basílica de São Pedro, em Roma.

Concelebraram com ele os cardeais, os arcebispos e os bispos da Cúria Romana.

“Onde chega o Espírito de Deus, tudo renasce e se transfigura: o evento de Pentecostes assinala o nascimento da Igreja e a sua manifestação pública. Dois traços nos chamam a atenção: uma Igreja que surpreende e causa admiração. Atenção: se a Igreja é viva sempre deve surpreender, caso contrário é fraca, doente, moribunda e precisa ser internada para terapia intensiva”, disse Bergoglio depois da oração do Regina Coeli de hoje.

“Alguns em Jerusalém – observou o Pontífice – teriam preferido que os discípulos de Jesus, bloqueados pelo medo, permanecessem fechados dentro de casa para não criar problemas. Também hoje tantos querem isto dos cristãos”. Ao contrário, “o Senhor ressuscitado os instiga para irem ao mundo: “Como o Pai me enviou, eu envio a vocês”.

“A Igreja de Pentecostes – portanto – é uma Igreja que não se resigna em ser inócua, um elemento decorativo. É uma Igreja que não hesita em sair para fora, ao encontro das pessoas, para anunciar a mensagem que lhe foi confiada, também se esta mensagem incomoda e inquieta as consciências, também se esta mensagem, talvez, lhe traga problemas e, tantas vezes, até o martírio”. A Igreja nasce una e universal, com uma identidade precisa, mas aberta, uma Igreja que abraça o mundo mas não o captura, como as colunas desta Praça: dois braços que se abrem para acolher, mas não que não se fecham para nos manter presos”.

“Nós cristãos somos livres, e a Igreja nos quer livres”, concluiu.

Fonte

Viver Deus desde dentro



A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 20, 19-23 que corresponde a Festa de Pentecostes, Ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Há alguns anos, o grande teólogo alemão Karl Rahner atrevia-se a afirmar que o principal e mais urgente problema da Igreja dos nossos tempos é a sua “mediocridade espiritual”. Estas eram as suas palavras: o verdadeiro problema da Igreja é “continuar com uma resignação e um tédio cada vez maior pelos caminhos habituais de uma mediocridade espiritual”.

O problema não parou de se agravar nestas últimas décadas. De pouco serviram as intenções de reforçar as instituições, salvaguardar a liturgia ou vigiar a ortodoxia. No coração de muitos cristãos está se apagando a experiência interior de Deus.

A sociedade moderna apostou pelo “exterior”. Tudo nos convida a viver a partir de fora. Tudo nos pressiona para nos movermos com rapidez, sem pararmos em nada nem em ninguém. A paz já não encontra resquícios para penetrar até o nosso coração. Vivemos quase sempre na superfície da vida. Estamos esquecendo o que é saborear a vida desde dentro. Para ser humana, à nossa vida falta uma dimensão essencial: a interioridade.

É triste observar que tampouco nas comunidades cristãs sabemos cuidar e promover a vida interior. Muitos não sabem o que é o silêncio do coração, não se ensina a viver a fé a partir de dentro. Privados da experiência interior, sobrevivemos esquecendo a nossa alma: escutando palavras com os ouvidos e pronunciando orações com os lábios, enquanto o nosso coração está ausente.

Na Igreja fala-se muito de Deus, mas onde e quando escutam os crentes a presença silenciosa de Deus no mais fundo do coração? Onde e quando acolhemos o Espírito do Ressuscitado no nosso interior? Quando vivemos em comunhão com o Mistério de Deus desde dentro?

Acolher o Espírito de Deus quer dizer deixar de falar só com um Deus a quem quase sempre colocamos longe e fora de nós, e aprender a escutá-lo no silêncio do coração. Deixar de pensar em Deus apenas com a cabeça, e aprender a percebê-Lo no mais íntimo do nosso ser.

Esta experiência interior de Deus, real e concreta, transforma a nossa fé. A nós surpreende como se pôde viver sem a descobrir antes. Agora sabe por que é possível acreditar inclusive numa cultura secularizada. Agora conhece uma alegria interior nova e diferente. Parece-me muito difícil manter por muito tempo a fé em Deus no meio da agitação e frivolidade da vida moderna, sem conhecer, mesmo que seja de forma humilde e simples, alguma experiência interior do Mistério de Deus. 

Pentecostes: o perdão para recriar o mundo


O Pentecostes é uma festa pascal; ela é o desenvolvimento do mistério da Páscoa. Não é uma festa independente do Espírito Santo; é a festa do Senhor ressuscitado que dá aos discípulos o seu Espírito, que é o Espírito de Deus Pai. É por isso que esta festa se situa, ao mesmo tempo, na noite da Páscoa no evangelho de São João, e 50 dias depois da Páscoa no livro dos Atos dos Apóstolos, inclusive na cruz da Sexta-Feira Santa em todos os evangelistas.

A reflexão é de Raymond Gravel, padre da Diocese de Joliette, Canadá, e publicada no sítio Réflexions de Raymond Gravel, comentando as leituras do Domingo de Pentecostes – Ciclo A do Ano Litúrgico (08 de junho de 2014). A tradução é de André Langer.

Referências bíblicas:
Primeira leitura: At 2,1-11
Segunda leitura: 1 Cor 12,3b-7.12-13
Evangelho: Jo 20,19-23

Eis o texto.


O Pentecostes é uma festa pascal; ela é o desenvolvimento do mistério da Páscoa. Não é uma festa independente do Espírito Santo; é a festa do Senhor ressuscitado que dá aos discípulos o seu Espírito, que é o Espírito de Deus Pai. É por isso que esta festa se situa, ao mesmo tempo, na noite da Páscoa no evangelho de São João, e 50 dias depois da Páscoa no livro dos Atos dos Apóstolos, inclusive na cruz da Sexta-Feira Santa em todos os evangelistas, em particular em João: “Tudo está realizado. E inclinando a cabeça, entregou o espírito” (Jo 19,30).

No mistério pascal, todos os elementos desse mistério – a Morte, a Ressurreição, a Ascensão e o Pentecostes – são tão importantes que os primeiros cristãos fizeram deles acontecimentos distintos separados no tempo: três dias para a Ressurreição, 40 dias para a Ascensão e 50 dias para o Pentecostes. Mas, na realidade, trata-se de um mesmo e único acontecimento teológico que nos fala simultaneamente de Deus, do homem, de Cristo e da Igreja. Não há, portanto, contradições entre os escritos e seus autores; encontramos simplesmente maneiras diferentes de descrever a riqueza do mistério cristão.

Desde o início do tempo pascal, nós lemos os relatos da Páscoa e da Ascensão. Hoje, celebramos o Pentecostes, a festa do Espírito de Cristo, o Espírito de Deus, a festa da Igreja. O que nos dizem os textos bíblicos que a Igreja nos propõe hoje?

1. Atos dos Apóstolos 2,1-11

Neste texto de Lucas, sobre o dom do Espírito Santo dado aos apóstolos reunidos, o autor não procura descrever um acontecimento material e histórico que aconteceu num dado momento da história da Igreja nascente. O fato de que Lucas tenha escolhido compor seu relato por meio de uma série de alusões ao Antigo Testamento, pode desviar a nossa atenção para uma leitura de tipo histórico, que procurasse determinar como as coisas se passaram. Devemos, ao contrário, compreender as mensagens que Lucas quer dar à sua comunidade sobre o papel e a força do Espírito:

1) O Pentecostes judaico celebrava o dom da Lei ao Povo de Israel, o povo da antiga Aliança. O Pentecostes cristão celebra o dom do Espírito ao novo Povo de Deus, a Igreja, o povo da nova Aliança.

2) Assim como Moisés subiu ao Sinai para dar ao povo a Lei de Deus, Cristo subiu ao céu para derramar o Espírito de Deus, o Espírito da nova Aliança.

3) Assim como para Moisés o barulho do trovão e o fogo das luzes acompanham o dom da Lei de Deus, aqui o barulho, o vento e o fogo acompanham a vinda do Espírito Santo.

4) No Sinai, de acordo com tradições judaicas, Deus propôs os mandamentos nas diversas línguas do mundo, mas apenas Israel os aceitou. No livro dos Atos dos Apóstolos, Deus repara esse fracasso: todas as nações compreendem a linguagem do Espírito: “Cheios de espanto e de admiração, diziam: ‘Esses homens que estão falando não são todos galileus? Como é que nós os escutamos na nossa própria língua?’” (At 2,7-8)

5) No Antigo Testamento, as 12 tribos de Israel estão reunidas para ouvir Moisés. Aqui, os 12 povos são chamados para ouvir os 12 apóstolos investidos pelo Espírito do Cristo, proclamar as maravilhas de Deus: “todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus na nossa própria língua!” (At 2,11b)

Em suma, este relato de Lucas é o inverso de Babel, é a abertura à universalidade e o sopro do Espírito da nova Aliança que abole as fronteiras; não há mais exclusão nem rejeição.

2. 1 Cor 12,3b-7.12-13

Os coríntios acreditavam que o dom do Espírito Santo estava reservado a uma elite. Eles só reconheciam sua presença no sensacional, nos cristãos que tinham o dom de falar em línguas e, particularmente, naqueles que eram eloquentes na animação das assembleias. Paulo quer, aqui, restabelecer a realidade do Espírito Santo:

1) Todo fiel que proclamar que “Jesus é o Senhor” (1 Cor 12,3), é habitado pelo Espírito Santo. Portanto, o mais humilde e o menor dos batizados também recebeu o Espírito Santo.

2) O Espírito, o Senhor e Deus são inseparáveis. Sem mesmo chamá-lo pelo nome, Paulo nos fala da Trindade que se dispensa em carismas: dons da graça, mas o Espírito é o mesmo (v. 4), dons dos serviços na Igreja, mas o Senhor é o mesmo (v. 5) e dons das atividades, mas é o mesmo Deus que as realiza (v. 6). O Espírito põe, portanto, todos os fiéis a agir, cada um segundo seus carismas, em vista do bem de todos (v. 7).

3) Esta unidade na diversidade Paulo a exprime através de uma fábula, conhecida na sua época, sobre o corpo e seus membros, para significar que todos os cristãos, em sua diversidade, pertencem ao mesmo corpo, o Corpo do Cristo ressuscitado. Esta pertença transcende as clivagens étnicas: “De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito” (1 Cor 12,13).

3. João 20,19-23

Para João, é na noite da Páscoa que o Espírito Santo é dado aos discípulos reunidos. Que mensagens podemos tirar dessa passagem bíblica?

1) O medo: os discípulos têm medo, eles são fracos, eles se sentem abandonados. As portas estão trancadas. Apesar disso, Jesus se apresenta a eles (v. 19). É, portanto, na humanidade dos discípulos que Cristo se faz presente.

2) A Paz: duas vezes Cristo oferece a sua paz (vv. 19.21). Mas, por que esta insistência? O sentido bíblico da palavra paz não é a ausência de guerra ou de conflitos; é a plenitude de vida que lembra a presença do Ressuscitado (cf. TOB, Lc 1,79 nota J). É, portanto, a sua Vida de Ressuscitado que Cristo dá aos seus discípulos. É uma promessa de Ressurreição também para eles.

3) A Alegria: João sublinha que o Ressuscitado da Páscoa é o Crucificado da Sexta-Feira Santa: “mostrou-lhes as mãos e o lado” (Jo 20,20a). O evangelista não quer dizer que se trata do cadáver de Jesus reanimado; o Ressuscitado se apresenta como aquele que fica para sempre marcado por sua humanidade, aquele que, pela cruz, testemunhou o Amor infinito de Deus. Do seu lado aberto nasceu a Igreja, ápice do sangue da Vida nova e da água viva do Espírito. Esta é a Alegria pascal experimentada pelos discípulos reunidos na noite da Páscoa.

4) O perdão: o sopro do Cristo sobre os seus discípulos nos remete ao sopro de Deus no Gênesis, sopro que dá a vida ao ser humano. Aqui, o sopro de Cristo significa a Vida nova dada aos discípulos, pelo dom do Espírito Santo, para que advenha um mundo novo. Entretanto, uma coisa é essencial para que nasça esse mundo novo: é o perdão. Deus deve, em primeiro lugar, apagar a nossa história passada, derramando sobre nós o sopro do perdão dos pecados: “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 20,23). Cabe a nós, portanto, fazer nascer esse mundo novo e é com toda a liberdade que nós podemos fazê-lo ou recusá-lo. Que responsabilidade!

Para terminar, é uma missão que nos é confiada: nós temos a responsabilidade de fazer nascer o mundo novo desejado pelo Cristo da Páscoa. Esta missão é confiada a todos os cristãos em geral e, em particular, aos padres no ministério do perdão. É, portanto, pela nossa abertura ao outro, pela nossa acolhida da sua diferença que nós testemunhamos o Cristo ressuscitado e que nós trabalhamos para fazer nascer esse mundo novo. O Espírito que nos habita não é um Espírito de medo que recusaria a novidade; é um Espírito que nos torna capazes de inventar, criar, decifrar, abrir novos caminhos, a fim de permitir às mulheres e aos homens de hoje encontrar e reconhecer o Cristo sempre vivo através dos seus discípulos. O perdão é fundamental para a recriação do mundo, e o Espírito nos dá a possibilidade de dá-lo ao outro e de recebê-lo do outro, a fim de que nasça esse mundo novo desejado pelo Cristo da Páscoa.

Bom Pentecostes!

Fonte

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Ânimo, vocês não estão sozinhos!

Foto via Blue Pueblo

Textos para sua reflexão:
At 2, 1-11, 1Cor 12, 3-7.12.13 e Jo 20, 19-23

Era festa de Pentecostes. Cinqüenta dias haviam se passado desde todos aqueles acontecimentos que cercaram a morte e a ressurreição de Jesus. O Mestre já havia aparecido a eles e, na sua frente, havia ascendido aos céus. Porém, os discípulos ainda encontravam-se fechados e com medo do que poderia lhes acontecer. Ainda que tivessem visto e trouxessem em seus corações a certeza de que o Senhor havia ressuscitado, não sabiam como agir ou que caminhos seguir para levar adiante os ensinamentos do Senhor, já que não viam como enfrentar o resto do povo que não possuía a mesma experiência que a deles. Então, o Espírito Santo veio sobre eles e se manifestou na forma de línguas de fogo sobre suas cabeças (cf At 2,1-11).

Imediatamente, tudo clareou. Não havia mais espaço para o medo, para o limite, para as fronteiras. Era urgente que a mensagem de Jesus Cristo fosse levada a todos os homens e mulheres!

O Espírito prometido por Jesus em diversas ocasiões veio animar aqueles homens que se encontravam fechados, abrindo-lhes as portas do entendimento, enchendo-lhes o peito de coragem, e os impulsionando a ir além e além. E, o que se sucede a partir daquele dia começado no silêncio e na escuridão do Cenáculo, é conhecido: a mensagem de Jesus se espalha pelo mundo, a Igreja se constitui e a humanidade é invadida por uma nova esperança. Onze homens medrosos transformariam a história da humanidade, que nunca mais seria a mesma após receber a mensagem de Cristo.

O Espírito que veio sob a forma de vento e de fogo e permanece a soprar e a aquecer nossos corações com o entendimento e a coragem necessários para que possamos continuar o trabalho dos Onze. Se também temos medo, Ele nos acalma; se os caminhos são tortuosos, Ele os aplaina; se só vemos trevas, Ele faz brilhar as luzes. É ele que nos anima e que nos enche de desejos e sonhos, fazendo com que nossos atos nos ultrapassem. É esse mesmo Espírito que forma o corpo místico de Cristo ao que nos une de forma indelével e eterna, e através do qual formamos uma só família e uma só Igreja.

O Espírito de Deus é o sopro criador, o transformador de realidades, o acalentador de corações. Encher-se desse Espírito é deixar-se invadir pelo próprio amor de Deus, é deixar-se mover pelas cordas impulsionadoras do Pai que nos quer irmãos e irmãs em todo o mundo. É, por fim, abandonar-se à graça e deixar que Deus viva em nós, suplantando-nos de tal modo que sejamos imagem e semelhança Dele e O testemunhemos concretamente.

Que o Espírito que anima a vida da Igreja, garantindo-lhe a alma e o ardor vibrantes, possa também acender essa mesma chama em nossos corações e suscitar-nos o desejo de melhor amar e servir sempre, em qualquer lugar, a qualquer pessoa.

- Gilda Carvalho
Reproduzido via Amai-vos

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Onde sopra o Espírito?

Foto via Blue Pueblo

A festa de Pentecostes, celebrada neste domingo, lembra a vinda do Espírito Santo sobre os primeiros cristãos, reunidos no cenáculo em Jerusalém. Com a força do Espírito, sentiram-se animados a partir em missão.

Daí para a frente, o Espírito Santo iria conduzir a Igreja. Ele se encarregaria de indicar os rumos, e até de antecipar os passos que os cristãos deveriam dar.

Foi o que aconteceu, por exemplo, quando Pedro foi procurado por Cornélio, um pagão, que o convidava a visitar sua casa. Ao entrar, Pedro se surpreendeu, vendo que o Espírito Santo descia sobre os pagãos, da mesma maneira como tinha descido sobre eles em Pentecostes.

Pedro então compreendeu que os pagãos eram destinatários do Evangelho, tal como o povo de Israel. A Igreja aprendeu a estar atenta aos sinais do Espírito, para tomar suas decisões com segurança.

Foi o que aconteceu em nossa época, com o anúncio do Concílio Vaticano Segundo, em janeiro de 1959. O Papa João 23 não se cansava de testemunhar que a idéia de um concílio tinha surpreendido a ele mesmo. A certeza da inspiração divina lhe vinha da pronta adesão do povo, que de imediato se identificou com a proposta do papa. Com esta certeza, a Igreja pôde levar em frente a realização do Concílio.

Algumas manifestações do Espírito são fáceis de identificar. Sobretudo quando contam com o aval do povo. A própria teologia reconhece que o "sensus fidelium”, a "intuição dos fiéis” é sinal seguro de procedimento eclesial.

Mas existem situações mais complicadas. Nem sempre o clamor do povo é porta-voz do Espírito Santo. Há certas manifestações, também políticas e sociais, cuja ênfase, em vez de manifestar caminhos seguros de procedimentos corretos, esconde interesses não confessados, e tenta forçar rumos que não levam ao bem comum.

Por isto, não dá para colocar na conta do Espírito Santo todas as manifestações populares. A confiança no Espírito de Deus não dispensa o esforço de discernimento, para perceber os valores que estão em jogo.

O próprio Evangelho nos dá uma pista, quando Jesus explica como seria o procedimento do Espírito. Disse Ele que o Espírito "não falará de si mesmo...; mas, receberá do que é meu e vo-lo anunciará” (Jo 16, 13).

Com esta afirmação, Jesus sinaliza a necessidade de constatar a coerência entre o que ele fez e ensinou, com as manifestações que possam ocorrer. Para serem do Espírito, precisam estar em sintonia com as verdades objetivas proclamadas por Cristo.

A Bíblia conta uma bonita história, para advertir da necessidade de discernir a presença de Deus. Elias estava refugiado na caverna, nas proximidades do monte Horeb. Foi avisado que Deus passaria naquela noite. Ele se colocou então na entrada da caverna. Veio um forte furacão que fazia as rochas se contorcerem. Mas Deus não estava no furacão. Depois aconteceu um violento terremoto, que sacudiu a terra. Mas Deus não estava no terremoto. Depois desceu um fogo devorador. Mas Deus não estava no fogo. Por fim, veio uma brisa suave, que amenizou todo o ambiente. Era Deus que estava chegando.

Precedendo a este episódio, o mesmo livro narra a cena do confronto de Elias com os 400 sacerdotes do deus Baal. Desafiados por Elias a invocarem o seu deus para que fizesse descer fogo sobre a lenha da oferenda, os sacerdotes gritaram o dia inteiro, mas não foram capazes de se fazerem ouvir por seu falso deus. Ao passo que Elias, com poucas palavras, foi prontamente atendido por Javé.

Há certas manifestações que se assemelham à gritaria dos sacerdotes de Baal. Em nada contribuem para o discernimento objetivo dos problemas a resolver.

A análise objetiva da realidade é garantia mais segura do acerto das decisões a serem tomadas.

- Dom Demétrio Valentini, Bispo de Jales (SP)

(Fonte: Amai-vos)

domingo, 27 de maio de 2012

Nós somos Cristo Ressuscitado!


O que vocês não têm a força de suportar, hoje, amanhã vocês conseguirão. O Espírito da verdade é um Espírito aberto. O Pentecostes é, então, a festa de todos os possíveis.

A reflexão a seguir é de Raymond Gravel, sacerdote de Quebec, Canadá, publicada no sítio Culture et Foi, comentando as leituras do Domingo de Pentecostes (27 de maio de 2012). A tradução é de Susana Rocca.

Eis o texto, aqui reproduzido via IHU.


Referências bíblicas:
1ª leitura: At 2,1-11
2ª leitura: Ga 5,16-25
Evangelho: Jo 15,26-27; 16,12-15

Hoje é a festa de Pentecostes: a festa do Espírito Santo, o Espírito de Cristo que nos é dado. Essa festa marca o fim do tempo de Jesus e o começo do tempo da Igreja. Com efeito, Pentecostes é a plenitude da Páscoa, o 50º dia (7x7) da Páscoa do Cristo vivo, cuja vida se manifesta doravante através dos seus discípulos que formam a Igreja. Como nós somos o Cristo Ressuscitado, o Pentecostes não é um fim, mas sim um começo... O que nos dizem os textos bíblicos de hoje referentes a esta festa?

1) Atos 2,1-11 – O relato de Pentecostes, composto por Lucas, no livro dos Atos dos Apóstolos, e que encontramos a cada ano, não é um relato histórico, no sentido material do termo. É um relato teológico que nos diz estar a Antiga Aliança totalmente cumprida e que, com o Pentecostes, o mistério da Páscoa se completou. Diz também que se trata, doravante, de uma recriação do mundo, de uma criação nova onde se encontra a harmonia, a unidade, a Lei nova.

1.1 A harmonia – No livro do Gênese, no Antigo Testamento, o autor do relato da torre de Babel (Gn 11,1-9) quer nos mostrar a divisão entre os humanos que falam línguas diferentes e que são incapazes de entender-se: “Vamos descer e confundir a língua deles, para que um não entenda a língua do outro” (Gn 11,7). A torre continua incompleta e os homens se dispersam: “Javé os espalhou daí por toda a superfície da terra, e eles pararam de construir a cidade“ (Gn 11,8). Para São Lucas, o Pentecostes é a harmonia reencontrada: “Quando ouviram o barulho, todos se reuniram e ficaram confusos, pois cada um ouvia, na sua própria língua, os discípulos falarem” (At 2,6). É, então, Babel em sentido inverso: “Como é que cada um de nós os ouve em sua própria língua materna?” (At 2,8).

1.2 A unidade – No relato dos Atos dos Apóstolos, doze nações são nomeadas para fazer referência às doze tribos de Israel da Antiga Aliança e para sublinhar a universalidade da missão cristã. Além disso, apesar da diversidade das nações, a unidade está finalmente garantida: “partos, medos e elamitas; gente da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egito e da região da Líbia vizinha de Cirene; alguns de nós vieram de Roma, outros são judeus ou pagãos convertidos; também há cretenses e árabes. E cada um de nós em sua própria língua os ouve anunciar as maravilhas de Deus!” (At 2,9-11). O dom do Espírito de Cristo, o Espírito Santo, restabelece completamente a unidade da linguagem na pluralidade de línguas. Isso significa que a unidade só é possível na aceitação da diversidade.

1.3 Lei nova – Por outra alusão à Antiga Aliança, São Lucas quer mostrar que o Pentecostes nos faz passar da Lei de Moisés a uma Lei nova. Para fazer isso, ele evoca a grandiosa manifestação de Deus no monte Sinai, para concluir a primeira Aliança. Segundo as explicações rabínicas, as chamas de fogo tinham gravado os dez mandamentos sobre tábuas de pedra. Aqui as línguas de fogo se pousam sobre cada um dos membros da assembleia: “Apareceram então umas como línguas de fogo, que se espalharam e foram pousar sobre cada um deles” (At 2,3). Então, a Lei nova não está mais inscrita sobre tábuas de pedra, mas sim no coração dos discípulos. Será que não é o que o profeta Ezequiel tinha já anunciado: “Darei para vocês um coração novo, e colocarei um espírito novo dentro de vocês. Tirarei de vocês o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne” (Ez 36,26). Podemos, então, compreender aqui que a Lei nova é aquela do Amor e que o Amor pode se exprimir em todas as línguas, já que ele é universal e ele permite a unidade.

2) Ga 5,16-25 – Bem no princípio da carta, São Paulo explica aos Gálatas que eles não devem seguir a Lei judaica para serem autênticos crentes. Sim, o crente está livre de toda lei. Por outra parte, São Paulo se inquieta: “Irmãos, vocês foram chamados para serem livres. Que essa liberdade, porém, não se torne desculpa para vocês viverem satisfazendo os instintos egoístas. Pelo contrário, disponham-se a serviço uns dos outros através do amor” (Gal 5,13). Um cristão deve viver sob a guia do Espírito: “Mas, se forem conduzidos pelo Espírito, vocês não estarão mais submetidos à Lei” (Gal 5,18).

A fé cristã finca uma luta entre a Lei de Moisés inscrita em tábuas de pedra e a Lei do Espírito inscrita no coração dos crentes. Não nos equivoquemos: é o Espírito que nos faz viver, não pelas regras... e é muito mais exigente. Pois, além das permissões e das proibições, o Espírito nos impulsiona a sair de nós mesmos para ir até os outros: “Pois toda a Lei encontra a sua plenitude num só mandamento: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’” (Ga 5,14). A única maneira de saber se nós somos do Espírito de Cristo é pelos frutos que damos: “Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, fé, mansidão e domínio de si. Contra essas coisas não existe lei” (Ga 5,22-23).

3) Jo 15,26-27; 16,12-15 – Dois extratos que compõem o evangelho desse domingo, dois extratos que são emprestados do discurso de despedida de Jesus, na noite da Quinta-Feira Santa. Trata-se, de fato, do testamento espiritual de Cristo composto pela Igreja do fim do século I, à luz da sua fé pascal. Nesse primeiro extrato (Jo 15,26-27), o Espírito está presente como o defensor, o Paráclito, o advogado: “O Advogado, que eu mandarei para vocês de junto do Pai, é o Espírito da Verdade que procede do Pai. Quando ele vier, dará testemunho de mim” (Jo 15,26). “Vocês também darão testemunho de mim, porque vocês estão comigo desde o começo” (Jo 15, 27).

A linguagem utilizada por São João é aquela de um processo. Segundo o exegeta francês Jean Debruynne, a narrativa nos leva ao processo de Jesus, onde testemunhar significa reconhecer aquele por quem nós testemunhamos. Não reconhecê-lo seria negá-lo, condená-lo e levá-lo à morte. Neste contexto, o Espírito Santo é o advogado da defesa. Para um cristão, reconhecer Cristo é reconhecê-lo nos outros, naqueles e naquelas através dos quais Cristo se identifica: os pobres, os pequenos, os necessitados, os mal amados, os excluídos... Então, o testemunho consiste em acolhê-los, como a Cristo mesmo. Assim, os cristãos, os discípulos de Cristo se tornam, por sua vez, as testemunhas da Páscoa, e o Espírito, seu advogado da defesa, lhes faz descobrir a verdade completa.

No segundo extrato desse domingo (Jo 16,12-15), São João nos diz que a verdade sobre Cristo se faz progressivamente na história da Igreja: “Ainda tenho muitas coisas para dizer, mas agora vocês não seriam capazes de suportar” (Jo 16,12). Isso quer dizer que a revelação de Deus pode muito bem ser completada... não foi tudo dito sobre Deus: “Quando vier o Espírito da Verdade, ele encaminhará vocês para toda a verdade” (Jo 16,13). Isso é excessivamente importante, porque não é totalmente assim que funcionamos atualmente na Igreja. Atuamos frequentemente como se tudo já tivesse sido dito e não houvesse mais nada para dizer; só repetir o passado. O papel do Espírito que nos habita é de nos encaminhar progressivamente à verdade completa sobre o Cristo sempre vivo através dos seus discípulos. Isso não quer dizer que o Espírito Santo vai trazer uma nova revelação; ele retomará o que já ouviu, “porque o Espírito não falará em seu próprio nome, mas dirá o que escutou e anunciará para vocês as coisas que vão acontecer” (Jo 16,13).

Então, o Espírito Santo, em cada geração nos esclarece sobre a maneira de compreender o evento da Páscoa, em situações sempre novas e sempre imprevistas. Senão, seria o caso de parar de dizer que Cristo está sempre vivo, se rejeitarmos reconhecê-lo nas realidades novas que pertencem a cada geração da história. Jean Debruynne dizia: “Com Cristo Ressuscitado tudo é possível. A verdade não é algo que temos ou que não temos. A verdade é uma vida. É uma conquista. É uma longa caminhada. Não somos nós que fazemos a verdade, é a verdade que nos faz. A verdade não está nos livros, mas nos corações. É o Espírito da verdade que vem até nós. É ele que nos guia à verdade. Cristo abre o futuro, ele abre a porta, ele abre o possível, ele abre a paciência. O que vocês não têm a força de suportar, hoje, amanhã vocês conseguirão. É aberto. O Espírito da verdade é um Espírito aberto. O Pentecostes é, então, a festa de todos os possíveis”.

Para concluir, se é verdadeiro que a verdade não se adquire de uma vez para sempre, e que ela se descobre na história, nos eventos imprevistos e nas realidades novas que a compõem, isso quer dizer que a verdade não pode ser um dogma; ela é muito mais um caminho a descobrir e a percorrer. Nesta festa de Pentecostes de 2012, deixemos que o Espírito de Cristo sopre onde ele quiser e quando ele quiser. A Igreja que nós somos tem verdadeiramente necessidade de um vento novo!

sábado, 26 de maio de 2012

Vem Espírito Santo e ensina-nos a viver


A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 20, 19-23 que corresponde ao Domingo de Pentecostes, ciclo B do Ano Litúrgico.

O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto, aqui reproduzido via IHU.


Pouco a pouco aprendemos a viver sem interioridade. Já não precisamos estar em contato com aquilo que há de melhor em nosso coração. É suficiente para vivermos distraídos nas nossas ocupações. Contentamo-nos com funcionar sem alma e nos alimentarmos somente de pão. Não gostamos de nos expor na busca da verdade. Vem Espírito e liberta-nos do vazio interior.

Já não sabemos viver sem raízes e sem metas. É suficiente nos deixarmos programar externamente. Movemo-nos e agitamo-nos sem cessar, mas não sabemos o que desejamos e para onde vamos. Estamos cada vez melhor informados, mas sentimo-nos mais perdidos que nunca. Vem Espírito e liberta-nos da desorientação.

Quase não nos interessam as grandes questões da existência. Não nos preocupa ficarmos sem luz para enfrentarmos à vida. Transformamos-nos em pessoas céticas e ao mesmo tempo mais frágeis e inseguras. Queremos ser inteligentes e lúcidos. Por que não encontramos sossego e paz? Por que a tristeza nos visita tão seguidamente? Vem Espírito Santo e liberta-nos da escuridão interior.

Queremos viver mais, viver melhor, viver sem tempo. Mas viver o quê? Queremos nos sentir bem; buscamos nos sentir melhor. Mas para que? Procuramos desfrutar intensamente da vida, tirar proveito ao máximo, mas nos contentamos somente com passar bem. Realizamos aquilo que gostamos. Apenas há algumas proibições ou terrenos vetados. Por que desejamos alguma coisa diferente? Vem Espírito Santo e ensina-nos a viver.

Queremos ser livres e independentes e nos encontramos cada vez mais a sós. Necessitamos viver em grupo, mas às vezes nos fechamos no nosso pequeno mundo. Necessitamos nos sentir queridos e não sabemos criar contatos vivos e amistosos. O sexo é nomeado “amor” e o prazer “felicidade”. Mas quem saciará nossa sede? Vem Espírito Santo e ensina-nos a amar.

Na nossa vida já não há espaço para Deus. Sua presença ficou reprimida ou atrofiada dentro de nós mesmos. Cheios de ruídos interiores, já não conseguimos escutar sua voz. Dedicados a milhares de desejos e sensações, não conseguimos perceber sua proximidade. Sabemos dialogar com todo o mundo, menos com ele. Temos aprendido a viver de costas ao Mistério. Vem Espírito Santo e ensina-nos a acreditar.

Sejamos crentes ou não crentes, pouco a pouco vamos virando poucos crentes e maus crentes e assim peregrinamos muitas vezes pela vida. Na festa cristã do Espírito Santo Jesus disse para todos nós aquilo que um dia falou para seus discípulos exalando seu espírito sobre eles: “Recebam o Espírito Santo”. Esse Espírito que sustenta nossas pobres vidas e anima nossa débil fé pode entrar em nós por caminhos que somente ele conhece.
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