sábado, 30 de julho de 2011

Tuitadas de hoje


Nova York prevê benefício econômico com casamentos gay http://bit.ly/qFHk0H

Pesquisa americana aponta que 1 entre 3 gays não se assume no local de trabalho por medo de discriminação http://bit.ly/nGbQXf

@TonyGoes: "Enquanto isso, no século XIX..." http://bit.ly/qyI27a

@TonyGoes "Quase a metade" É só ler os detalhes da pesquisa para perceber q os ventos sopram francamente a nosso favor http://bit.ly/no5v8V

@TonyGoes: "Ai como eu tô fodida" - É assim que o Brasil gosta de seus gays http://bit.ly/pE45gn

@TonyGoes: "Abaixo a polifobia" http://bit.ly/qKeGmI

Chamada para publicação: Revista Cadernos de Gênero e Tecnologia 2011, até 15/9 http://bit.ly/qrdha0

A FIFA nos ouviu http://bit.ly/nHpqFA

Charge de Angeli sobre a parada gay - sempre atual. http://twitpic.com/5y6bow

Portadores do vírus HIV continuam sofrendo preconceito em várias empresas http://glo.bo/noiQ24

Em nota, movimento gay protesta contra a TV Globo http://bit.ly/n7W1Y4 (via Tantas notícias)

Presidente Dilma tem popularidade baixa entre comunidade gay http://bit.ly/nc9GoB

Ativismo AIDS/TB: Desabastecimento do Fosamprenavir continua no Rio de Janeiro http://bit.ly/pfKEW1

Cartório de Cajamar recebe autorização para celebrar o 1° casamento civil homossexual direto do Brasil http://bit.ly/oKr6oJ

Representantes LGBT não se entendem e propostas não avançam no Congresso http://bit.ly/q3SAB8

Peregrinos voltam à fonte do Messias http://bit.ly/pelund

Próxima missa da Pastoral da Diversidade, em São Paulo, amanhã, 31/7 http://bit.ly/qTnQIv

Abaixo-assinado contra a censura às cenas de beijos e carícias entre homoafetivos: http://j.mp/mZC24E

Cuidar do amor http://twitpic.com/5yfblx

Dia Nacional de Ação Voluntária movimenta milhares de pessoas no país http://glo.bo/qL2Zrh

O que você faria?


O que você faria se só lhe restasse este dia?
(via @jeanwyllys_real)

"Preconceitos, como mentiras, nascem da ignorância e do excesso de repetição"

Instalação "Wildlife Panorama" no National Museum of Scotland

Preconceitos, como mentiras, nascem da falta de informação (ignorância) e do excesso de repetição. Se pais de uma criança branca se referem em termos pejorativos a negros e indígenas, judeus e homossexuais, dificilmente a criança, quando adulta, escapará do preconceito.

A mídia norte-americana incutiu no Ocidente o sofisma de que todo muçulmano é um terrorista em potencial. O que induziu o papa Bento XVI a cometer a gafe de declarar, na Alemanha, que o Islã é originariamente violento e, em sua primeira visita aos EUA, comparecer a uma sinagoga sem o cuidado de repetir o gesto numa mesquita.

Em qualquer aeroporto de países desenvolvidos, um passageiro em trajes islâmicos ou cujos traços fisionômicos lembrem um saudita, com certeza será parado e meticulosamente revistado. Ali reside o perigo... alerta o preconceito infundido.

Ora, o terrorismo não foi inventado pelos fundamentalistas islâmicos. Dele foram vítimas os árabes atacados pelas Cruzadas e os 70 milhões de indígenas mortos na América Latina, no decorrer do século 16, em decorrência da colonização ibérica.

O maior atentado terrorista da história não foi a queda, em Nova York, das Torres Gêmeas, há 10 anos, que causou a morte de 3 mil pessoas. Foi o praticado pelo governo dos EUA: as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. Morreram 242.437 civis, sem contar as mortes posteriores por efeito da contaminação.

Súbito, a pacata Noruega — tão pacata que, anualmente, concede o Prêmio Nobel da Paz — vê-se palco de dois atentados terroristas que deixam dezenas de mortos e muitos feridos. A imagem bucólica do país escandinavo é apenas aparente. Tropas norueguesas também intervêm no Afeganistão e deram apoio aos EUA na guerra do Iraque.

Tão logo a notícia correu mundo, a suspeita recaiu sobre os islâmicos. O duplo atentado, no gabinete do primeiro-ministro e na Ilha de Utoeya, teria sido um revide ao assassinato de Bin Laden e às caricaturas de Maomé publicadas pela imprensa escandinava. O preconceito estava entranhado na lógica ocidental.
A verdade, ao vir à tona, constrangeu os preconceituosos. O autor do hediondo crime foi o jovem norueguês Anders Behring Breivik, 32 anos, branco, louro, de olhos azuis, adepto da fisicultura e dono de uma fazenda de produtos orgânicos. O tipo do sujeito que jamais levantaria suspeitas na alfândega dos EUA. Ele "é dos nossos", diriam os policiais condicionados a suspeitar de quem não tem a pele suficientemente clara nem olhos azuis ou verdes.

Democracia é diversidade de opiniões. Mas o que o Ocidente sabe do conceito de terrorismo na cabeça de um vietnamita, iraquiano ou afegão? O que pensa um líbio sujeito a ser atingido por um míssil atirado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) sobre a população civil de seu país, como denunciou o núncio apostólico em Trípoli?

Anders é um típico escandinavo. Tem aparência de príncipe. E alma de viking. É o que a mídia e a educação deveriam se perguntar: o que estamos incutindo na cabeça das pessoas? Ambições ou valores? Preconceitos ou princípios? Egocentrismo ou ética?

O ser humano é a alma que carrega. Amy Winehouse tinha apenas 27 anos, sucesso mundial como compositora e intérprete, e uma fortuna incalculável. Nada disso fez dela uma mulher feliz. O que não encontrou em si, ela buscou nas drogas e no álcool. Morreu prematuramente, solitária, em casa.

O que esperar de uma sociedade em que, entre cada 10 filmes, oito exaltam a violência; o pai abraça o filho em público e os dois são agredidos como homossexuais; o motorista de um Porsche se choca a 150km/h com uma jovem advogada que perece no acidente e ele continua solto; o político fica indignado com o bandido que assaltou a filha dele e, no entanto, mete a mão no dinheiro público e ainda estranha ao ser demitido?

Enquanto a diferença gerar divergência, permaneceremos na pré-história do projeto civilizatório verdadeiramente humano.

- Frei Betto
Reproduzido via Conteúdo Livre

Teimosia e esperança


A humanidade é constante vai-e-vem. Avanços e retrocessos fazem a história alternar entre tragédia e farsa. Enquanto erradicamos a poliomielite, cometemos atrocidades. Revolucionamos as comunicações, mas permanecemos culpados dos mais horrorosos crimes.

No século XX, duas guerras mundiais se somaram a genocídios e extermínios étnicos para alterar, definitivamente, filosofia e teologia. Positivismo virou ingenuidade - quem ainda acredita no mito do progresso?

Em algum lugar, no Pentágono, numa cova rasa do Camboja, num escombro de Ruanda, jazem os ossos do “bom selvagem” de Jean-Jacques Rousseau. De Camus a Martin Luther King se discorreu sobre o “mal profundo” que aleija a humanidade. Ele existe. Entre luzes e sombras, a história se alonga, malévola, com miséria, aniquilamento de culturas, e muita, muita, dor.

Antigas formulações sobre Deus, desapareceram. Hemingway colocou na boca de Robert Jordan, personagem de “Por quem os sinos dobram”, o porquê de seu ateísmo. Para o autor, que testemunhara os horrores da Guerra Civil da Espanha, Deus não existe: “se existisse, Ele não teria permitido que eu visse o que vi com estes meus olhos”.

Por outro lado, escancarados os campos de concentração nazista, ficou claro que monstros existem. E como se multiplicam! Elie Wiesel narrou o dia em que assistiu ao enforcamento de um menino no pátio do campo onde estava preso. Perfilado, viu a criança agonizar, pendurada por minutos que pareciam uma eternidade. Ele lembra que o menino tinha "os olhos de um anjo feliz". Na fila, Wiesel ouviu alguém perguntar: “Onde está Deus? Onde ele está? Onde está Deus, então?”. Uma voz respondeu em seu próprio coração: “Onde ele está? Ei-lo – está aqui, pendurado nesta forca”. Deus estava morto e o facínora, vivo.

Nunca testemunhei tantos horrores. Mas o pouco que vi bastou para eu refazer conceitos. Revisei o que entendia por Deus. Remexi na compreensão da vida. Distingui esperança de ilusão, ideal de compromisso, ingenuidade de realismo e comecei o árduo processo de reconstruir-me sem o imobilismo do pessimismo e sem a superficialidade do otimismo.

Depois de várias reformas, continuo a acreditar na possibilidade da vida, no potencial humano e no aparecimento de artesãos da história. Mesmo quando o encarceramento da bondade parece inexorável, vejo a bondade humana como a erva que rompe o cimento. Sob camadas de iniquidade, a virtude consegue vingar. Vinho bom pode vir do lagar onde se esmagam as uvas da ira. Creio no bem que ressurge, teimoso, como força existencial. Vivo com a esperança, sei que ventos imprevisíveis reacendem o pavio que fumega.

Vinicius de Moraes, logo após a II Guerra Mundial, em 1946, disse que “o pranto que choramos juntos há de ser água para lavar dos corações o ódio e das inteligências o mal entendido”. Sim, a humanidade é viável - caso contrário já estaria sepultada com os dinossauros - mesmo em meio a tanta ferocidade.

A maldade, mesmo universal, mesmo arraigada, não conseguiu asfixiar o bem. Os patifes têm maior visibilidade, os canalhas amedrontam, sórdidos intimidam, contudo, "onde abundou o pecado, superabundou a graça”. Por mais que o ímpio resfolegue ódio e o tirano oprima, a morte os alcançará. Eles passarão e o lento fluir da história continuará. Basta um fiapo de luz para que se desperte fome e sede de justiça em alguém. De onde menos se espera nascerão vigorosos esforços de paz.

Os Judas, os Brutus, os Pinochets, os Husseins, os Bushes, sumirão pelo esgoto da irrelevância. No fim, quando o Diretor da peça entrar no palco e avisar que o espetáculo acabou, o malvado será apenas uma nódoa. Ele próprio se condenará como personagem da Divina Comédia. E deixará, como único legado, a possibilidade de gerar indignação nos que acreditam em outro mundo possível.

Mesmo na sordidez contemporânea, o justo acena com a aurora de uma Nova Cidade; aguarda, como sentinela, a luz da aurora virar dia perfeito. O profeta do desespero tenta, mas homens e mulheres de bem resistem. É necessário que lampejos de esperança brotem nos atos simples de bordadeiras, poetisas, teólogas, operários, jornalistas, lavradores.

O milênio começou com poucas opções. Carpideiras choram no velório dos ideais - foram contratadas para despistar a festa do Grande Capital. Na ressaca do baile progressista, alguns não acreditam que sobará ânimo para o enfrentamento do desastre sócio-ambiental. Entretanto, a Imago Dei – imagem de Deus – nos olhos das crianças convida a humanidade a não entregar os pontos.

A doença que nos aflige não é para a morte. Ainda dá para virar o jogo. Enquanto pequeninos mantiverem louvor à vida e homens e mulheres não se ajoelharem no altar do cinismo, a promessa continua de pé: “Os mansos herdarão a terra”.

- Ricardo Gondim
Reproduzido via blog do autor com grifos nossos.

Próxima missa da Pastoral da Diversidade, em São Paulo


Próxima missa da Pastoral da Diversidade, em São Paulo: 31/7, 17h
Mais informações: www.pastoraldadiversidade.com.br

Recomeçar


Os homens, embora devam morrer, não nasceram para morrer, mas para recomeçar.

- Hannah Arendt
(via Marina Silva, em belo comentário sobre o massacre na Noruega, aqui)

A tempestade vai passar


Esta semana foi divulgado o resultado de uma pesquisa do Ibope (veja a pesquisa na íntegra aqui) que ganhou destaque na mídia em geral e veículos gays em particular com o título "União civil de homossexuais contraria 55% dos brasileiros".

Há que se ter um certo cuidado com alarmismos e com o modo como certas informações são veiculadas, pois um viés mais sensacionalista serve apenas para intensificar ódios e violências. Vivemos tempos difíceis, em que a maior visibilidade da população LGBTT está ocasionando reações incomodadas e violentas de setores intolerantes da sociedade, mas a história de todas as lutas pelos direitos civis das minorias mostra que é mesmo assim. Há que ter paciência para perseverar na firmeza dos nossos propósitos e serenidade para não nos deixarmos contaminar pelo espírito de ódio e exclusão do outro - o que só leva ao acirramento do conflito, ao recrudescimento das agressões mútuas e ao desnecessário prolongamento do confronto.

(Veja também: "O lado positivo da pesquisa Ibope sobre a união gay no Brasil".)

Parece que a alguns - quem serão? - interessa mais ver o circo pegar fogo do que que efetivamente se promova e instaure uma atmosfera de diálogo e convívio entre as diferenças, que fomente a construção de uma sociedade plural, diversa e fraterna, baseada no respeito e na tolerância.

Ou, como tão bem colocou Frei Betto, comentando os acontecimentos da última semana: "enquanto a diferença gerar divergência, permaneceremos na pré-história do projeto civilizatório verdadeiramente humano".

Caminhemos, pois, com atenção e cuidado, pois as armadilhas são muitas, e as mais perigosas são justamente as mais sutis.

Que as bênçãos de Deus e a paz de Cristo estejam sempre com cada um de nós.

Bom fim de semana a todos!

Equipe Diversidade Católica

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Tuitadas de hoje


Encontrado o túmulo do apóstolo Filipe http://bit.ly/oePdnr

RT @Gay_1: Garoto de 8 anos é diagnosticado transexual e fará mudança de sexo http://bit.ly/plRbwJ

Brasil reconhecerá direitos iguais em 10 anos, acredita ativista gay http://bit.ly/pfmByw

“Todo homem é culpado do bem que não fez.” (Voltaire)

RT@padrecidoSP TVs Record e Band brigam por Datena. Pobres de nós. A violência é servida em nossa casa. Precisamos disso?

Que liberdade é essa que dá razão para o agressor e que faz da vítima o culpado? http://on.fb.me/phdDSF

"Homem grávido" recupera a boa forma depois da terceira gestação http://glo.bo/oPjGzl

Rio de Janeiro pode sediar Jornada Mundial da Juventude em 2013, com a presença do Papa, diz Eduardo Paes http://glo.bo/pl9dQu

Estamira, protagonista de documentário, morre por falta de atendimento médico http://bit.ly/oGWn91 RT @Wedge_issue: Então a Estamira morreu mesmo, que chato.

RT @lolaescreva: Ótimo post da @jufreitascs sobre A Serbian Film: http://t.co/n839JWM via @Ldecf

O pranto e a água

Ilustração: Jeannette Woitzik

O pranto que choramos juntos há de ser água para lavar dos corações o ódio e das inteligências o mal entendido.

- Vinicius de Moraes

Novo projeto sobre criminalização da homofobia deve ser apresentado em agosto

Escultura: Yong Ho Ji

A senadora Marta Suplicy (PT-SP) entregou, na terça-feira (12), para os integrantes da Frente Parlamentar Mista LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais), a minuta de um novo projeto de lei que trata da criminalização da homofobia no país. O texto vai substituir o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122/2006, de autoria da ex-deputada Iara Bernardi, do qual Marta é relatora.

Segundo a assessoria da senadora, a minuta foi elaborada em um trabalho conjunto com os senadores Demóstenes Torres (DEM-GO), Marcelo Crivella (PRB-RJ) e com o presidente da Associação de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ALGBT), Toni Reis.

A iniciativa surgiu depois de várias tentativas de acordo sobre o texto do PLC 122/06. O ponto que colocou em choque o movimento LGBT e líderes religiosos era a criminalização do discurso contrário à homossexualidade. Padres e pastores, por exemplo, diziam temer medidas como a prisão, caso se pronunciassem nesse sentido.

Para Marta Suplicy, a partir de um acordo com as bancadas ligadas a igrejas cristãs, ficará mais fácil conseguir a aprovação de uma legislação que considere a homofobia como crime. De fato, a minuta do substitutivo não trata da punição a declarações que desaconselhem o comportamento homossexual ou o critiquem do ponto de vista intelectual, desde que essas declarações sejam pacíficas.

O que o novo projeto faz é definir "crimes que correspondem a condutas discriminatórias motivadas por preconceito de sexo, orientação sexual ou identidade de gênero bem como pune, com maior rigor, atos de violência praticados com a mesma motivação". Um desses crimes seria o de "induzir alguém à prática de violência de qualquer natureza motivado por preconceito de sexo, orientação sexual ou identidade de gênero".

Agora, por meio dos deputados Jean Willis (PSOL-RJ) e Manuela D'Ávila (PCdoB-RS), a proposta será discutida com a bancada evangélica da Câmara dos Deputados e com outros representantes do movimento LGBT.

Em declaração ao site da liderança do PT, Marta Suplicy disse que o projeto deverá ser apresentado em agosto e votado em outubro.

- Se conseguirmos avançar com esse texto, tenho certeza que poderemos aprová-lo. Paciência e determinação levarão a uma boa negociação - afirmou Marta.

Penas
O texto trata, especificamente, de discriminação no mercado de trabalho e nas relações de consumo, além de tratar da indução à violência. Prevê, por exemplo, que um empregador poderá ser punido com até três anos de reclusão se deixar de contratar um funcionário, que atenda as qualificações exigidas, por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero. Se o crime for cometido no âmbito da administração pública, essa pena aumenta em 1/3.

De acordo com o site da Liderança do PT, "no caso das relações de consumo, recusar ou impedir o acesso de alguém a um estabelecimento comercial ou se negar a atender uma pessoa por preconceito sexual, poderá gerar penas que variam de um a três anos de reclusão".

Lei Alexandre Ivo
A exemplo da Lei Maria da Penha, a lei que será criada para combater a homofobia será batizada de Lei Alexandre Ivo, em homenagem ao adolescente que foi assassinado pelo fato de ser gay. Alexandre Thomé Ivo Rojão, de 14 anos, foi sequestrado, torturado e morto, no município de São Gonçalo (RJ), em junho do ano passado. Segundo a polícia, o crime teria sido praticado por skinheads e motivado por intolerância à sua orientação sexual.

Fonte: Agência Senado
Matéria publicada em 13/7/11

Amy Winehouse, a pauta cômoda


Anders Behring Breivik é jovem, loiro, alto, de olhos azuis, nórdico e cristão. Ainda, um fundamentalista de extrema-direita. E com profundo ódio por muçulmanos e pelo multiculturalismo... Nem de longe o conjunto de características preferidas pela mídia para designar o típico terrorista.

Apesar das primeiras notícias e teorias envolvendo os atentados quase simultâneos na Noruega – a explosão em frente ao edifício do primeiro-ministro que levou à morte de pelo menos sete pessoas e o tiroteio no acampamento de jovens do Partido Trabalhista na ilha de Utoya, que deixou mais de 80 mortos – de que o terrorista seria muçulmano, a verdade logo se mostrou o mais absoluto oposto.

Na ilha de Utoya, centenas de jovens haviam feito, no dia anterior, um ato em defesa da Palestina, pedindo ao primeiro-ministro do país que reconhecesse o novo Estado Palestino que logo será declarado. Em Oslo, uma bomba no parlamento com a intenção de atacar a principal instituição do país, o centro de poder, e a figura central da política local, o primeiro-ministro Jens Stoltenberg.

Sensacionalismo melodramático
O terrorista, Anders Breivik, que foi bem-sucedido em seu ataque aos estudantes mas não ao primeiro-ministro, deixou abaladas as estruturas norueguesas. No entanto, o terrorista recebeu uma ajuda inesperada, da mídia internacional e da brasileira, para tornar memoráveis seus atos ao mesmo tempo em que suas motivações e seu fanatismo eram escondidos. A mídia internacional se apressou em apontar os culpados, os “terroristas islâmicos”. A mesma pressa de sempre em apontar culpados fáceis e, por que não, convenientes. A brasileira, por sua vez, se contentou em esconder as verdadeiras motivações de Breivik. Ele odiava o multiculturalismo, mas pouco se falou sobre seu fanatizado cristianismo.

No dia seguinte aos atentados, morreu a famosa cantora Amy Winehouse, possivelmente de overdose, e a mídia encontrou o tema principal do fim de semana. Muito mais cômodo e sensacionalista tratar da morte de uma grande cantora do que se aventurar no espinhoso terreno do terrorismo... cristão. Manchetes de jornal por todo o país, online e offline, lembravam do atentado cometido pelo norueguês alto e loiro, mas escondiam e relegavam às letras miúdas e rodapés suas motivações: ódio visceral ao islamismo e fundamentalismo cristão militante. O termo “terrorista cristão” não foi empregado em momento algum, muito menos virou uma expressão única, como acontece com o termo “terrorismo islâmico”. Ora, para a mídia, a palavra “terrorismo” precisa de um qualificado e não faz sentido se este não for “islâmico”. O termo, então, foi pouco usado.

No Jornal Nacional do sábado (23/7), o primeiro bloco, de 10 minutos, foi inteiramente dedicado à morte de Amy Winehouse, enquanto seis minutos do segundo bloco foram dedicados aos atentados/massacres na Noruega. No terceiro bloco, mais 12 longos minutos de Amy Winehouse. Vinte e dois minutos de jornal para Amy Winehoyse, seis minutos para a crise na Noruega. No Fantástico do domingo, também da Rede Globo, menos de quatro minutos dedicados aos atentados na Noruega – mas com o mesmo melodrama típico dos domingos à noite, em que a notícia dá lugar ao sensacionalismo melodramático de novelas mexicanas.

Suaviza-se a realidade
O entretenimento venceu o jornalismo. Ou talvez as tradicionais concepções de jornalismo estejam ultrapassadas. Fosse islâmico, baixinho, barbudo e com semblante do Oriente Médio, qual seria a reação do jornalismo mundial? Como se daria a cobertura de mais um atentado de um discípulo de Bin Laden (que, mesmo morto, parece continuar a comandar uma rede internacional mais poderosa que muitos Estados, na visão sempre sensacionalista da mídia)? O jornalismo foi substituído por um misto de hipocrisia e melodrama. Um terrorista cristão não serve aos propósitos midiáticos. Não é um inimigo fácil e se parece demais com muitos articulistas de grande revista semanal ou de diários conceituados.

A extrema-direita fundamentalista se parece, não importa o país, e o Brasil vem sendo vítima de uma onda fundamentalista cristã que busca perseguir a comunidade LGBT tanto através da via política (bancada evangélica, tentativas de deslegitimar o Judiciário e de vetar qualquer lei contra a homofobia), quanto através da violência nas ruas mesmo contra um pai que abraça seu filho e são “confundidos” com um casal gay, como se a possibilidade de que fossem efetivamente gays pudesse mudar o sentido ou o significado da violência.

Extrema-direita cristã, fundamentalista, se vê na Fox News, canal de grande audiência dos EUA. A mesma ideologia se nota nos programas evangélicos das madrugadas (e até dos horários nobres) de muitas redes de TV brasileiras ou em revistas e jornais de grande circulação. Ou seja, é incômodo classificar os atos terroristas de Andres Breivik como “terrorismo cristão”.

Para escapar do “problema”, foca-se em outros assuntos e suaviza-se a realidade. Maior foco na reação do primeiro-ministro norueguês, maior foco no salvamento das vítimas de Utoya e mesmo na morte de Amy Winehouse, a melhor desculpa que poderia ter caído no colo dos tubarões da mídia neste momento.

- Raphael Tsavkko Garcia
Jornalista, blogueiro e mestrando em Comunicação pela Cásper Líbero, São Paulo, SP
Reproduzido via Observatório da Imprensa, com grifos nossos

"Os bispos estão com medo. É preciso que os leigos assumam a liderança"


Painelistas de um recente fórum em Woodstock, na Filadélfia, EUA, convocaram os leigos católicos a agarrar as rédeas e definir o rumo do futuro da Igreja.

A reportagem é de Jerry Filteau, publicada no sítio National Catholic Reporter, 04-01-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto, aqui reproduzida via IHU, com grifos nossos.


"Estamos nos tornando uma Igreja faça-você-mesmo" para os leigos, disse o padre jesuíta Thomas J. Reese, um dos três membros seniores do Woodstock Theological Center, em Washington, que falou no fórum "O Futuro da Igreja", organizado pelo Woodstock sobre as "fontes de esperança", realizado na St. Joseph's University, na Filadélfia, no dia 5 de dezembro.

A hierarquia católica dos EUA, hoje, está medrosa e defensiva, muito distante da hierarquia colaborativa e pastoralmente transformada que surgiu durante e após o Concílio Vaticano II, disse Dolores R. Leckey, ex-chefe do Secretariado para os Leigos, Família, Mulheres e Juventude da Conferência dos Bispos dos EUA, e uma notável escritora sobre espiritualidade.

Cabe aos leigos assumir a responsabilidade para onde a Igreja vai nos próximos anos, disseram Leckey, Reese, e o Pe. Raymond Kemp, sacerdote diocesano de Washington e diretor do programa Pregando a Palavra Justa de Woodstock. Os pronunciamentos foram feitos durante a sessão de duas horas com cerca de 300 católicos da região da Filadélfia.

Reese, cientista político, consultor de mídia nacionalmente conhecido e ex-editor da revista jesuíta America, disse: "Pessoalmente, como cientista social, eu tendo a ser pessimista quando olho para a Igreja. Mas, como cristão, acho que tenho que ser otimista. Isso faz parte do nosso DNA como cristãos. Afinal, a nossa religião é baseada em alguém que morreu e ressuscitou dentre os mortos".

Um recente estudo do Pew Forum mostrou que cerca de um terço dos adultos norte-americanos que foram criados como católicos já não são mais católicos, disse ele, e o número de sacerdotes e religiosos na Igreja dos EUA diminuiu drasticamente, com poucas e dispersas novas vocações.

"Aos 65 anos, sou considerado um padre jovem", disse ele, acrescentando que o sacerdócio católico pode ser a única profissão do país hoje em que alguém que morre de velhice ainda é considerado "jovem". Por causa da teologia sacramental da Igreja relacionada à ordenação, a falta de padres significa uma falta de acesso à Eucaristia e a outros sacramentos, enfraquecendo toda a estrutura institucional, disse Reese.

Ele afirmou que, para ele, o achado mais deprimente do estudo do Pew Forum foi que 71% dos ex-católicos disseram que haviam deixado a Igreja porque "'minhas necessidades espirituais que não foram correspondidas pela Igreja' – em outras palavras, nosso produto fundamental fracassou".

Outro importante fator negativo nas tendências de adesão dos católicos dos EUA, disse Reese, é que hoje, nos EUA, muitos dos que saem são mulheres.

"No século XIX, nós perdíamos homens na Europa. Nós não perdíamos mulheres", disse. "Hoje, nós estamos perdendo as mulheres também. As mães são mais importantes para a Igreja Católica do que os padres, porque elas são as que passam a fé para a próxima geração. São elas que ensinam as crianças a rezar, que respondem às suas perguntas sobre Deus etc. As mulheres são absolutamente essenciais. Se perdermos as mulheres, podemos muito bem fechar a loja. E, por isso, o pior disso tudo é que, quanto mais uma mulheres se educa, mais alienada ela tende a se tornar da Igreja Católica".

Reese disse que os líderes da Igreja, ao culpar a pecaminosidade, o dissenso, a falta de compromisso ou outros fatores pelo êxodo dos católicos da Igreja, estão ignorando um grande problema. "Se fôssemos uma loja, diríamos que estamos culpando os clientes – e essa não é uma boa forma para fechar as contas", disse ele.

Ele disse que uma atitude acolhedora, implementada em práticas de boas-vindas concretas, está faltando na maioria das paróquias católicas, e essa é uma das grandes fraquezas da prática católica dos EUA hoje.

"Quando foi a última vez que você entrou em uma igreja católica e foi realmente acolhido?", perguntou. "Nossas igrejas e nossas liturgias são chatas. Isso, penso eu, mais do que a teologia, é o que está afastando o nosso povo da nossa Igreja".

"O que você precisa é de boa música, boa pregação, programas para crianças e uma comunidade acolhedora", disse. "Se você tiver isso, você vai ter uma igreja cheia".

Ele chamou a Igreja Católica hoje de "um monopólio preguiçoso", em torno do qual as Igrejas evangélicas "estão correndo em círculos".

Como sinais de esperança, disse ele, a Igreja "é muito melhor hoje do que era" na década de 1950 e é uma Igreja "que sempre muda".

Ele citou o retorno ao conhecimento bíblico e à espiritualidade entre as principais causas de esperança da Igreja Católica hoje.

O foco católico na justiça social atrai os jovens católicos, "especialmente quando esse trabalho não é visto apenas como uma espécie de apêndice ao Cristianismo, como ser católico, mas está integrado na nossa espiritualidade, como parte do que somos, por isso torna-se parte de quem nós somos como cristãos – para muitos jovens católicos, isso se torna atrativo", explicou.

Sobre as perspectivas imediatas da Igreja para o futuro, "talvez Deus sabe o que está fazendo", disse. "Se você não tem clero, talvez o trabalho seja seu".

Leckey e Kemp tocaram notas similares sobre a responsabilidade dos leigos pelo futuro da Igreja.

Leckey, que recentemente terminou um livro, "The Laity and Christian Education", da série "Redescobrindo o Vaticano II", da editora Paulus dos EUA, disse que o Concílio Vaticano II da década de 1960 é uma das principais razões para a sua esperança para o futuro da Igreja.

"O que aconteceu ali foi uma monumental conversão da consciência" entre os 2.500 bispos católicos do mundo, disse ela, e uma área-chave disso foi o reconhecimento do papel dos leigos, em virtude do seu batismo, na missão da Igreja e na propagação do Evangelho no mundo.

Ela contrastou a visão conciliar dos leigos com a visão pré-conciliar predominante, melhor expressa pelo Papa Pio X no início do século XX, quando disse: "Quanto aos fiéis leigos, eles não têm nenhuma outra obrigação senão deixar-se conduzir e, qual dócil rebanho, seguir os Pastores".

Além de rever a Igreja como Povo de Deus peregrino, o Concílio sublinhou a vocação universal à santidade e mudou o curso da narrativa da vida da Igreja, tornando-a mais bíblica e centrada na liturgia, afirmou.

Hoje, observou ela, 85% dos ministros das paróquias dos EUA são leigos, sendo que a maioria são mulheres.

Kemp disse que a chave para um futuro de esperança para a Igreja é uma paróquia viva – uma paróquia que acolha as pessoas e convide-as a contribuir com seu tempo e seus talentos. Ele citou a paróquia de St. Patrick, em Chicago, como um bom exemplo, que tem cerca de 120 membros nos grupos de pastoral e atrai jovens de toda a cidade.

Outro sinal de esperança para o futuro da Igreja nos Estados Unidos, disse, é o seu envolvimento em obras de caridade e de justiça.

"Nós temos uma história para contar, que atrai as pessoas que não são católicas", disse. "Onde estamos? Estamos nas fronteiras. Onde estamos? Estamos no hospital de Aids na África. Onde estamos? Somos aqueles que estão acompanhando os ilegais ao longo do processo. Onde estamos? Somos aqueles que estão nas prisões. Somos aqueles que estão construindo casas fora dos centros de detenção, para que as famílias possam se reunir com seus parentes antes de serem deportados. Onde estamos? Como Igreja, educamos, alimentamos, abrigamos, vestimos, reassentamos aqueles que encontram seu caminho aqui do que qualquer outra ONG deste país".

Esse é o tipo de instituição que atrai os jovens que querem fazer a diferença no mundo, disse.

Durante uma sessão de perguntas e respostas depois da apresentação, os três painelistas salientaram a necessidade de que os leigos tomem a iniciativa, se quiserem ver as coisas acontecer na Igreja.

Quando foi questionada sobre como os leigos podem estabelecer um diálogo com seus bispos sobre temas que lhes interessam, Leckey sugeriu que a crescente colaboração de religiosos e leigos – muitas comunidades religiosas estabeleceram programas associados aos leigos – poderia servir como um modelo e uma forma de desenvolver esse diálogo.

É difícil fazer com que os bispos de hoje entrem nesse diálogo, porque eles não confiam nos leigos como fizeram depois do Concílio, disse ela.

"Nossos bispos estão com medo", disse. "Você não age defensivamente assim a menos que esteja morrendo de medo. Suas defesas estão levantadas. Elas não estavam levantadas nos dias logo depois do Concílio".

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Tuitadas de hoje


Faça amor com as palavras, mate saudades, peça perdão, aproxime-se, recupere o tempo perdido, insinue-se, alegre alguém, dê simplesmente um bom dia, faça um carinho especial. Use-a a todo instante, de todas as maneiras; sua força é imensurável. Não esqueça que quem escreve, constrói um castelo, e quem lê, passa a habitá-lo. (Silvana Duboc) RT@simonesc2

Veja a íntegra da pesquisa do Ibope http://j.mp/oWdb5z

Entre as mulheres, 52% aprovam a União Estável. Já entre os homens, 63% são contra. E aí, machismo existe ou não?
Até os 39 anos, a maioria é a favor. Acima dos 50, a maioria esmagadora, com 73%, é contra.
A diferença de classe social não muda os resultados. O diferencial vem na escolaridade: apenas aqueles com ensino superior são a favor (60%)
Agora pasmem: católicos estão dividios (50% pra cada), atéus/sem religião/ñ respondeu (51%).
Sem nenhuma surpresa, 77% dos protestantes são contra.
Uma gafe do IBOPE utilizar "homossexualismo" na pesquisa! Uma gafe terrível! RT@homofobiaNAO

Laerte (sempre e mais uma vez) ensinando o significado do universo e da arte de viver. http://bit.ly/oUBHJA RT@msbardelotto

II Theologando: Cristianismo e sociedade: tendências e debates. http://j.mp/pZR2kD 14-16/9/11, São Paulo. Inscrições abertas para comunicados. Convidado: André Torres Queiruga, teólogo espanhol. Seminario - Cristianismo e Homossexualidade - com Carlos Eduardo Calvani em 16/9.

Militar q baleou o jovem Douglas na Parada Gay será julgado p/ Justiça comum.É o q nos conta @Ancelmocom http://yfrog.com/klk96zcj @seasdh

Pernambuco lança guia gay friendly em três idiomas http://www.athosgls.com.br/v.php?c=31728 RT@Athosgls

Mãe casa os dois filhos gays em Nova York http://www.athosgls.com.br/v.php?c=31730 RT@Athosgls

Estatuto da Diversidade Sexual contará com sugestões da população, até 15/8

Ilustração: Yeoh Gh

A Comissão da Diversidade Sexual do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) divulgou, no último dia 19, o e-mail criado especialmente para que a sociedade possa opinar durante a elaboração do Estatuto da Diversidade Sexual. O estatuto está sendo elaborado para garantir todos os direitos à população LGBT. O propósito, segundo a advogada Maria Berenice Dias, presidenta da comissão nacional da OAB e vice-presidenta do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), é construir um microssistema que, além de assegurar direitos, também sirva para dar-lhes efetividade.

Além do texto, haverá a indicação dos dispositivos da legislação infraconstitucional que precisam ser alterados. "Concomitantemente, será apresentada proposta de emenda constitucional. Como este é um compromisso de toda a sociedade, gostaríamos de contar com a contribuição de todos". As sugestões e propostas devem ser encaminhadas até o dia 15 de agosto para o e-mail estatutods@mbdias.com.br.

Alguns dos pontos que devem ser abordados, de acordo com a advogada, são: princípios fundamentais, direito à livre orientação sexual, direito à igualdade e à não-discriminação, direito à constituição de família, direito à filiação biológica, guarda e adoção, direito à saúde, direito ao próprio corpo, direito de acesso à justiça e à segurança, direito à educação, direito ao trabalho, direito à moradia, dos meios de comunicação, das políticas públicas, disposições finais e transitórias.

Integram a Comissão: Adriana Galvão Moura Abílio (SP), vice-presidente, Jorge Marcos Freitas (DF), Marcos Vinicius Torres Pereira (RJ) e Paulo Tavares Mariante (SP). E atuam como consultores Luis Roberto Barroso (RJ), Tereza Rodrigues Vieira (SP), Daniel Sarmento (RJ) e Rodrigo da Cunha Pereira (MG).

Fonte: Assessoria de Comunicação do IBDFAM
19/7/11

"Eis o mistério da fé": sobre fé e violência

Foto: R.Sanque

Cindy Butterfly publicou em seu blog, em 25/07/11, um instigante e lúcido (como sempre) comentário sobre a relação entre fé e violência, a propósito do atentado perpetrado na Noruega por um cristão fundamentalista. Com sua permissão, o reproduzimos aqui.

Certa vez, no tempo de faculdade (que nem faz tanto tempo assim!!!), uma professora queridíssima usou a seguinte frase para explicar o processo de colonização e catequização no Brasil: "onde a palavra não convence, a espada vence". Esta frase serviu para deixar claro para mim que, por trás do plano de "salvação das almas" dos cristãos católicos (e protestantes também), existia uma questão de poder que era muito mais importante, apesar de não tão explícita...

A minha geração e também as que vieram antes da minha aprenderam que, na Idade Média, o que valia era a terra. Quanto mais terras, mais poder. Daí porque os feudos eram tão cercadinhos e protegidos. E nos ensinaram também que, na era pós-industrial, a terra deu lugar ao dinheiro propriamente dito. Ou seja, quem tem o aaaaaqué é quem está bem na foto. Mas voltando à Idade Média e à questão das terras, numa busca desenfreada por este item de poder e riqueza, os europeus se lançaram ao mar em busca de possíveis lugares que poderiam ser conquistados. Prefiro a palavra usurpado!!! No entanto, me parece que os europeus daquela época não queriam carregar esta bandeira tão evidentemente e por isso um plano de cristianização e salvação das almas serviu como slogan da famigerada era das "grandes navegações". O resultado é de conhecimento de todos: milhões de mortos nas Américas e outros tantos mortos e escravizados na África.

Alguém me disse uma vez que a frase "não existe pecado do lado debaixo do Equador" era atribuída a algum papa que ratificou a matança e escravidão dos povos não europeus para que se cumprisse o plano de salvação "arquitetado" pelo criador. Não sei se tal fato - o da frase - seria real ou não, mas sei que os abusos cometidos nos continentes que formavam o triângulo do Atlântico foram reais e sem o menor sentido de humanidade, ou oxalá, de religiosidade.

Aliás, falando em religião, devo lembrar-lhes que nasci e cresci cristão católico e fiz tudo como manda o figurino: fui batizada, fiz a primeira comunhão (o que incluiu ajoelhar ao lado do padre e confessar que eu me masturbava pensando em garotos) e me crismei, confirmando minha fé em Deus e na Santa Igreja. No entanto, descobri que não poderia me casar, pois o meu sentimento e o meu desejo por pessoas do mesmo sexo era uma expressão distorcida da vontade de Deus Pai, criador de tudo. O que é meio contraditório, afinal, se ele criou tudo, deve ter criado todas as variantes da sexualidade humana e animal. Não percamos de vista os casos de homossexualidade entre os animais. Enfim, o fato é que, uma vez que compreendi de fato minha sexualidade e me aceitei plenamente como homossexual, o discurso mitológico e dogmático do cristianismo não atendeu mais os meus anseios e por isso, resolvi fazer a ovelha desgarrada daquele rebanho e me juntar a outro que grita e luta por liberdade, tolerância e paz. Paz de verdade, quero dizer...

Deixo claro que, apesar de não ter uma religião, não tenho nenhum problema com nenhuma delas. Pelo contrário, além de ser uma manifestação garantida por nossa Constituição merece o respeito, e por que não, a admiração (em alguns pontos) de nossa parte. São também as religiões uma excelente forma de analisar a jornada humana neste planetinha minúsculo do Cosmos. No entanto, sou total e veementemente contra os discursos fundamentalistas destes que se dizem portadores da palavra e da vontade dos deuses.

Sou contra este discurso fundamentalista e totalmente reacionário, carregado de verdades absolutas (baseado em algo que só a fé, e nada mais, explica) que gera ações tão desumanas como as do atentado na Noruega ou mesmo mais perto de nós, do massacre em Realengo dentro de uma escola pública. Tais discursos insanos alimentam a loucura alheia que se manifesta num verdadeiro espírito de intolerância e violência e em nome da paz se pratica a violência. Mas claro, sempre em nome de Deus e em nome do plano de salvação das almas perdidas... E aí entra a frase que mencionei no primeiro parágrafo deste artigo e "a espada vence", ou melhor, a metralhadora, as granadas, os caças, tanques de guerra e armas de poder devastadores.

Navegando pela internet encontrei o artigo do Renato Hoffmann e gostei muito e a ele devo o título desta postagem, pois seu artigo "Eis o mistério da fé" expressou muito do que sinto em relação a estes que se proclamam portadores de alguma palavra de salvação, palavra esta que deverá ser engolida, nem que às custas da violência...

Parece-me que estamos abrindo uma nova era... Ou melhor, estamos fazendo ressurgir as loucuras e insanidades da Idade Média. Em vez de bruxas, temos os homossexuais; em vez da espada, temos as armas de fogo; em vez dos feudos, temos os países e uma xenofobia que me assusta... Torço para que não sejam outros mil anos de escuridão da humanidade.

Tá dado o recado...

Beijo, beijo, beijo... Fui...

- Cindy Butterfly
A drag que fala o que pensa... E sempre pensa no que fala!

Os cristãos do futuro: místicos e inter-religiosos

Foto: R. Sanque

Se "a fidelidade à Bíblia e ao magistério da Igreja não é principalmente uma questão de palavras" – isto é, se a ortopraxia é verdadeiramente mais importante do que a ortodoxia –, então é altamente provável que uma nova definição de uma verdade de fé tradicional, capaz de permitir uma adesão mais profunda ao Evangelho, possa ser considerada como uma "reinterpretação" fiel, ortodoxa, daquela verdade da fé, "independentemente da diferença no plano terminológico". E também independentemente do fato de que essa nova definição possa nascer do diálogo com uma outra tradição religiosa.

A reportagem é de Claudia Fanti, publicada na revista Adista Documenti, nº 52, 27-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto, aqui reproduzida via IHU, com grifos nossos.


Está aqui, na "tentativa de distinguir entre uma nova concepção da fé, entendida como reinterpretação, ou, ao contrário, como rejeição da própria fé", que se desenvolve a aventura espiritual do teólogo norte-americano Paul Knitter, um dos maiores representantes da Teologia do Pluralismo Religioso, assim como ele mesmo a relata no livro "Senza Buddha non potrei essere cristiano" [Sem Buda não poderia ser cristão], recém-publicado pela editora Fazi (Roma, 2011, 320 páginas), a segunda publicação da coleção de livre pesquisa espiritual "Campo dei Fiori", dirigida por Elido Fazi, junto com Vito Mancuso (e inaugurada pela obra-prima do ex-frei dominicano Matthew Fox "In principio era la gioia").

Trata-se do testemunho pessoal e convincente de quem atravessou a fronteira do budismo para abraçá-lo e depois a atravessou novamente para voltar à própria religião: "O meu diálogo com o budismo – pergunta-se o autor – tornou-se um cristão budista? Ou um budista cristão? Sou um cristão que compreendeu mais profundamente sua própria identidade com a ajuda do budismo? Ou me tornei um budista que ainda conserva vestígios cristãos?".

Na realidade, como o Pe. Luciano Mazzocchi, missionário xaveriano e animador do movimento Vangelo e Zen, enfatiza na “Introdução", "quando duas tradições religiosas se fundem ao ponto de se tornarem a única energia que faz viver, então não há mais filiação alguma. Há apenas o homem que caminha".

E, no caso de Knitter, um homem que, ressalta Mazzocchi, "deu um passo até agora tentado só por poucos: vestido pela sua fé católica, emitiu o voto budista do Bodhisattva, ou seja, prometeu não querer entrar na paz do nirvana até que todos os seres não tenham lá entrado".

O caminho que leva a enriquecer a própria espiritualidade mediante o diálogo com as outras fés é, em sentido, inevitável: "O homem de hoje – continua Mazzocchi – é maior, mais vasto, mais profundo, mais complexo, mais maduro do que as tradicionais respostas religiosas e os sistemas teológicos em que estas foram encaixotadas", chegando a "experimentar a verdade como o seu modo de se relacionar com a alma que tudo pervade", consciente de que nenhuma religião é um ponto de chegada, mas só uma sinalização preciosa "ao longo do caminho da história humana".

É nesse quadro que se coloca a luta interior conduzida por Knitter com relação às "interrogações desconcertantes e desestabilizantes" sobre a natureza de Deus, o papel de Jesus, o significado da salvação: "Acredito realmente naquilo que eu digo acreditar, ou naquilo que eu deveria acreditar como membro da comunidade cristã?".

E é justamente olhando "para além das fronteiras tradicionais do cristianismo" que o teólogo é capaz de encontrar respostas mais satisfatórias e frutíferas às suas perguntas: só depois de ter "começado a levar a sério e a explorar as Escrituras de outras religiões" é que ele foi capaz de compreender mais adequadamente "o que significa a mensagem de Jesus no mundo contemporâneo".

E, entre as religiões, foi o budismo que constituiu um dos dois recursos mais úteis (o outro é a teologia da libertação), que lhe permitiram continuar desenvolvendo a sua tarefa pessoal de cristão e de teólogo, permitindo-lhe rever, reinterpretar e reafirmar as doutrinas cristãs sobre Deus (capítulos 1-3), sobre a vida após a morte (capítulo 4), sobre Cristo como Filho único de Deus e Salvador (capítulo 5), sobre a oração e o culto (capítulo 6) e sobre o compromisso para conduzir o mundo rumo à paz e à justiça do Reino de Deus (capítulo 7), na consciência de que, como admite o teólogo na Conclusão, "no final da jornada, a casa para onde eu volto é Jesus".

E se, olhando para trás, para toda a sua vida, Knitter não consegue se imaginar "como cristão sem esse envolvimento com o budismo", é claro, porém, que a sua "preocupação principal" é que "os genes teológicos que eu transmito sejam ainda cristãos, que a minha reinterpretação do credo cristão, embora verdadeiramente diferente, não seja totalmente diferente daquilo que era antes dela". Que, portanto, "este livro contribua para uma boa teologia cristã".

E, junto com essa preocupação, uma convicção e uma esperança: "Acredito e espero justamente que, se Karl Rahner tem razão ao dizer que os cristãos do futuro deverão ser místicos, eles também deverão ser místicos inter-religiosos".

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Tuitadas de hoje


Autor de massacre tentou destruir o coração do modelo norueguês http://bit.ly/qG159S

"O terror dos ressentidos": sobre o massacre na Noruega e as táticas do terror neo-nazista http://bit.ly/oS3ltS

Raimon e Eckhart, mestres do espírito http://bit.ly/plWOxP

Diretor de beijo gay eleitoral recebeu críticas até do responsável pelo primeiro beijo entre homens da TV brasileira http://bit.ly/rbmUPx

RT @Conteudo_Livre: "São 8 horas... você sabe o que seu filho está pensando?" (charge de Angeli) http://twitpic.com/5wmlg9

RT @jimmy72: Homofobia se aprende. Sexualidade não. :-) http://j.mp/oLiX5d

“O campo não foi inventado pelos nazistas. Eles só levaram a suas últimas consequências a figura política da exceção" http://bit.ly/rmiRNh

Skinhead gay luta contra a homofobia pelas ruas de São Paulo http://bit.ly/obtnVu

Das eventualidades http://bit.ly/ovhMVA

God only gives three answers to prayer: 1. 'Yes!' 2. 'Not yet.' 3. 'I have something better in mind. RT@Inspire_Us

RT @depChicoAlencar: "É terrível falar de Deus e não corresponder ao seu principal atributo: a Justiça" (Carlo Martini)

Noruega ensina que racismo não pode ser visto como folclore http://bit.ly/mRLBaT

No banheiro delas... http://bit.ly/qPTc6x

Família de Alexandre Ivo quer que lei com nome do adolescente seja incisiva contra a homofobia http://bit.ly/oHFjJP

RT @LeonardoBoff: Ainda o fundamentalismo http://wp.me/p1kGid-4D

"A turma de Bolsonaro contra o quiosque de Sueli"


Acabou a festa e a alegria no quiosque de praia de Sueli, em Insensato Coração. Lá, todos os gays do Rio de Janeiro são lindos, jovens, malhados, bem sucedidos, felizes e tanto moram quanto trabalham a poucos metros da praia, com expedientes de trabalho que parecem começar só após as 10 e terminar antes das 16, pois só assim para todos eles encontrarem-se todas as manhãs e fins de tarde para tomar sol, bater uma bolinha e paquerar no quiosque, todo decorado com bandeirinhas do arco-íris gay. Tudo ia muito bem, tanto com a clientela segmentada de Sueli quanto com o merchandising social da causa anti-homofóbica adotada pelos autores da novela, capitaneados por Gilberto Braga, ele mesmo homossexual do tipo que nunca viveu em armários e que mantém há décadas um casamento sólido com o fotógrafo Edgar Moura Brasil.

Há muito tempo que todo novelão das oito que se preza tem que ter um merchandising social, uma bandeira ativista em favor de algum tipo de vítima, pois a indústria do bem está cada vez mais na moda, apesar de as criacinhas pobres da África continuarem com fome mesmo com tanta gente boníssima querendo ser igual ou santificar Angelina Jolie e Bono Vox. No campo das causas sociais adotadas pelas novelas, a própria Globo já passeou por dependência de drogas, alcoolismo, racismo, violência contra a mulher, imigração clandestina, pedofilia, violência contra idosos e inúmeros outros temas. Em Insensato Coração, era a vez da bandeira anti-homofóbica, o que vinha mais do que em boa hora, pois o povo parece se informar mais com telenovela do que com livros e revistas, já que não os lê, e o Brasil continua com índices alarmantes de assassinatos e agressões físicas e morais contra homossexuais. E bastou a um pai do interior de São Paulo abraçar um filho de 18 anos para ter a orelha decepada por talibãs locais que viram na cena um diagnóstico de homossexualidade.


DENTADURA - Quem, afinal, poderia ser contra o levantamento de bandeiras a favor de causas e grupos sociais que são vítimas de preconceito, violência, sofrimento ou tudo isso junto? Quando se trata de abordar a questão homossexual, parece que muita gente é contra, sim. Quisera o otimismo dos defensores da diversidade que Jair Bolsonoro fosse uma exceção. Ele é tão somente o mais barulhento e falastrão. Talvez mais danosos que o deputado caricato sejam aqueles que escondem sua intolerância com o silencio, pois sequer têm coragem de dar a cara a tapa para serem confrontados.

Pois bem. Parece que a entidade que atende genericamente pelo termo família brasileira, representada majoritariamente tanto pela nova quanto pela velha classe média, ainda não está disposta a trazer para a sala de casa, nem sob a forma superficial de narrativa ficcional teledramatúrgica, a questão homossexual. Como a Rede Globo precisa manter a liderança de audiência para continuar vendendo para essa familia anúncios publicitários de selante de dentadura, leite em pó, geladeira, carro e absorventes, uma luz vermelha foi acesa para os autores de Insensato Coração. E por falar em anúncio, a mocinha dessa novela, a pretexto de divulgar um absorvente que causaria menos reação à vagina, o anuncia como um produto que faz "bem à pele" e o exibe com uma fluidíssima lavanda verde metaforizando o fluxo sanguíneo menstrual. Sim, é verdade também que, antes deste que optou pelo verde, todos os outros absorventes mostram na TV que o fluxo menstrual é azul. E sim, a família brasileira há anos acha natural ver na TV que a mulher publicitária menstrue azul. Mas duas pessoas do mesmo sexo namorando?! Ora, isso não é nem um pouco natural. E quem há de lhe contrariar?

BEIJO GAY- Daqui para a frente, não se verá mais viv'alma gay no quiosque de Sueli ou gays sendo gays em qualquer outro lugar de Insensato Coraçao, muito menos qualquer personagem criticando violência contra homossexuais. De gayzice, só sobrarão as gagues de Ronie, o fiel escudeiro, confidente e personal tudo da doidinha Natalie Lamour. Mas gay caricato na TV é redundância, chuva no molhado, todo mundo sabe.

A ordem para fazer desaparecer de uma vez tanto a bandeira colorida quanto a discursiva da causa gay da novela das nove foi dada diretamente pelo alto comando da Globo aos autores e diretores há uma semana, conforme noticiou em primeira mão a Folha de S. Paulo. Aos autores, diretores e elenco foi pedido ainda silêncio absoluto sobre as novas diretrizes em entrevistas à imprensa. Como parte dos telespectadores brasileiros desenvolveu uma fixação em torno da perspectiva de ver em uma telenovela o primeiro beijo gay masculino, a frustração foi antecipada. Nesse aspecto, merece destaque uma aparente contradição, carregada de significados culturais, ocorrida recentemente na cena jurídica brasileira. Coube ao Poder Judiciário, especificamente ao Supremo Tribunal Federal, comumente considerada como uma esfera atrasadíssima em relação aos comportamentos sociais do seu tempo, permitir que fosse ao ar, no programa mais canônico e um dos mais engessados da TV brasileira, o primeiro beijo gay masculino da televisão brasileira.

O fenômeno, para quem não se deu conta, foi veiculado em um telejornal, e não em uma telenovela, considerada como um produto de maior flexibilidade para a abordagem de temas delicados ou cercados de tabus. Desta vez, quem diria, a novela ganhou bolor e o Supremo agiu com arejamento e adequação à vida como ela é do lado de fora dos cenários do Projac. Goste-se ou não, o fato é que a turma de Bolsonaro parece mil vezes menos hipócrita que o pedido feito pelo comando da Globo aos autores de Insensato Coração. Essa rodada, os bolsonarianos venceram. E a Rede Globo, com seu Big Brother onde se pode tudo e mais um pouco, mostra, assim, que continua a mesma senhora hipocritamente austera dos tempos em que mandou explodir um shopping center na novela Torre Babel só para matar e excluir da trama um casal de lésbicas. Como agora, a emissora o fez também a pedido da família brasileira e para preservar a audiência conservadora pela qual seus anunciantes lhe pagam volumes astronômicos de dinheiro. Gilberto Braga deve estar em cólicas.

- Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA.
Texto publicado originalmente em 24 de julho de 2011, no jornal A Tarde, Salvador/BA;
maluzes@gmail.com
Reproduzido via Conteúdo Livre

A César o que é de César


Reproduzimos abaixo artigo de Flavio Alves, publicado em seu ótimo blog Ideias Canhotas:

Apesar do título desta postagem, eu não gosto e nunca gostei de citações bíblicas para embasar qualquer tipo de opinião. O alcance de uma simples citação bíblica fora de contexto é gigantesco, e traz conseqüências inimagináveis.

Já perdi amigos queridos por conta de discussões sobre valores religiosos, já me distanciei de familiares por causa de diferenças doutrinárias. Enfim, já perdi demais por causa de fundamentalismo e isso faz com que eu evite ao máximo fazer qualquer tipo de discussão que descambe para um embate religioso.

Penso que a partir do momento que a argumentação de uma pessoa se sustenta na bíblia, ou em qualquer outro livro dito sagrado e inquestionável, o debate já está prejudicado, perdido para sempre.

Eu particularmente acredito que enveredar por este caminho é perda de tempo, é se nivelar por baixo, como se eu dissesse: “Eu tenho esse pecado, mas você tem aquele”, fica numa discussão de quem peca mais que não contribui para que o debate consiga avançar, é discutir com base em uma moral que não é a minha.

Assim, acompanho vários militantes e entidades nas redes sociais e confesso que me causa certo desconforto em ver alguns militantes e defensores dos direitos das LGBT entrando em alguns debates com segmentos ditos cristãos, buscando contradições na Bíblia, ou nas religiões que estes professam. É muita pregação e pouca política!

Sinceramente, o que eu acabo por ver é uma tremenda demonstração de força e organização destes setores obscurantistas, e ações isoladas e pontuais do movimento LGBT.

Vejamos: A tramitação do PLC122/06 gerou uma intensa movimentação dos segmentos religiosos, como a Marcha da "Família" liderada pelo obtuso Silas Malafaia, a distribuição de panfletos "anti-gay", pregações e atos públicos, correntes pela internet, numa campanha suja e mentirosa contra as LGBTs.

Tal nível de organização já deu resultados, há hoje no Senado um movimento para sepultar o PLC122/06 e colocar um substitutivo mais brando em seu lugar, a suspensão da produção dos materiais do Programa Escola sem Homofobia, e as ações de juízes evangélicos afrontando a decisão do STF que reconheceu as uniões estáveis de casais homoafetivos são bons exemplos.

Além disso, este segmento conta com o apoio e a simpatia de grandes meios de comunicação, empresas poderosas que alcançam imensos contingentes de pessoas diariamente, que se mostram capazes de cristalizar preconceitos e estereótipos, disseminar o ódio, além de convocar tais setores a marcharem publicamente contra o avanço dos direitos humanos.

E nós nessa história toda?

Às vezes perdemos nosso tempo batendo boca com religiosos, trocando ofensas pelas redes sociais com fundamentalistas, utilizando a Bíblia como base das nossas argumentações, versículos e mais versículos. Em minha opinião é malhar em ferro frio, o debate nesse caso é inócuo. Um dogma, seja ele de qualquer religião, não pode e não deve servir para a sustentação de qualquer argumentação racional.

Enquanto não compreendermos que nenhum direito é dado, que o pouco de democracia que existe em nosso país foi conquistado com luta, que muita gente tombou para que pudéssemos votar pra presidente, governador, deputado, prefeito, síndico e até na chapa do grêmio da escola não vamos avançar.

Enquanto não compreendermos que estes setores que hoje nos atacam estão organizados politicamente, que seu discurso medieval encontra ressonância na direita conservadora, e continuarmos tendo pouca ação e participação política vamos continuar patinando.

Enquanto não percebermos que nossa luta é a luta pela democracia, por mais direito, é a luta por um país mais justo, e enquanto não percebermos que é necessário que nos organizemos para pressionar o Estado por mais mudanças, que temos condições de interferir nos rumos do país e que é necessário que tenhamos uma ação política e politizada vamos continuar “xingando muito no twitter”!

O que deve orientar e fundamentar nossas discussões é a consolidação e o aperfeiçoamento de nossa democracia. Essa é a nossa causa, a construção de um país livre e plural.

Não vou passar minha vida tentando convencer as igrejas a me aceitarem, aliás, não faço a menor questão disso, minha causa é outra, mas vou me organizar e lutar para que elas sejam obrigadas a me respeitar. Não tenho a menor intenção de mudar religião nenhuma, mas posso e devo lutar mudar o meu país para melhor, esse direito eu já tenho e ninguém vai me tirar!

Eucaristia, serviço aos irmãos


No lava-pés, naquele curvar-se de Jesus, naquele gesto do escravo perante os irmãos, Jesus disse palavras que ressoam até hoje para nós: "Entenderam o que eu fiz?", entenderam que o partir o pão e o beber do cálice é serviço aos irmãos, serviço cotidiano assumido como estilo, o estilo do Senhor e do Mestre?

A opinião é do monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, em artigo publicado na revista italiana Jesus, de julho de 2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto, aqui reproduzido via IHU com grifos nossos.

Eis o artigo.


Já expressamos nestas colunas o nosso sofrimento pela liturgia que deveria ser um lugar de comunhão e se tornou um lugar de conflito na Igreja, mas justamente porque acreditamos que a eucaristia é o maior dom que o Senhor Jesus nos deixou, ainda queremos ouvi-la e deixarmo-nos instruir pelo seu magistério silencioso mas eloquente.

Em quase todas as comunidades católicas, a eucaristia é celebrada diariamente. Nos dias de semana, poucas pessoas participam dela: normalmente, são mulheres e idosas – elas também cada vez menos –, poucos homens, praticamente ausentes os jovens. Alguém poderá lamentar que elas são celebradas de um modo muito cotidiano, que não têm a riqueza do canto ou da festa, sem uma beleza capaz de maravilhar, que não se impõem e não atraem espectadores...

Porém, se celebradas seriamente e com consciência, serão "humildes" eucaristias, mas sempre com a verdade de "ceias do Senhor". Sim, pobres e humildes celebrações, mas o critério para julgá-las não é a sua capacidade de "fascínio", mas sim se elas fazem ressoar naqueles que delas participam o "evangelho", a boa notícia da morte e da ressurreição de Jesus Cristo, se são fonte de confiança para a vida, fonte de esperança para o futuro, fonte de amor fraterno na vida familiar e nos encontros, no tecido social onde os cristãos estão colocados, vivendo e trabalhando com os outros homens.

Sim, essa é a verdadeira questão que devemos fazer diante da eucaristia: a sua celebração determina algo na nossa vida, muda os nossos pensamentos e as nossas atitudes sempre tentados pela mundanidade, converte as nossas vidas?

Certamente, é muito importante, ou melhor, decisivo interessarmo-nos pelo "como" a eucaristia é celebrada, mas jamais devemos esquecer que tudo o que predispomos ou operamos para a celebração pode ter apenas um único fim: imergir-nos na dinâmica do mistério pascal, aquele evento que Jesus narrou com palavras e gestos sobre o pão e o vinho.

Recordemo-nos então que participar da eucaristia é, sobretudo, acolher o convite para a "mesa do Senhor" (1 Coríntios 10, 21): é o Senhor vivo que convida a nós, pobres e pecadores necessitados da sua misericórdia, enfermos sedentos de cura, fatigados e cansado em busca de repouso, humilhados e últimos que anseiam por ser reconhecidos e aceitos sem merecê-lo...

Todos dizemos: "Senhor, eu não sou digno...". Assim, o pão é dado a todos, ícone da partilha, inspiração e mandamento de partilha de todos os frutos da terra e do trabalho humano, para que não haja necessitados na comunidade em que vivemos (cf. Atos 4, 32).

Mas participar da Eucaristia significa também estar envolvido no sacrifício de um homem, o servo do Senhor, que consumiu e deu a sua vida pelos outros até acolher a morte violenta, a morte do justo em um mundo injusto, a morte de escravo em um mundo de senhores e poderosos, a morte de um homem de paz em um mundo violento...

Não por acaso, segundo o Evangelho de Lucas, justamente no contexto da última ceia, depois da instituição da eucaristia, Jesus disse: "Mas entre vós não deve ser assim!" (Lucas 22, 26), não comportem-se como ocorre todos os dias no mundo, não como todos fazem, não como é espontâneo fazer com base no instinto da preservação e da defesa de nós mesmos, até fazer com que prevaleça o amor por nós mesmos sem os outros e também contra os outros!

A eucaristia é o magistério do "mas entre vós não deve ser assim!", da diferença cristã, porque ela quer nos moldar em homens e mulheres eucarísticos, isto é, capazes de viver e de consumir a vida ao serviço dos outros, amando os outros até o extremo, até o próprio inimigo: corpo despedaçado, sangue derramado, sacrifício de uma vida oferecida e consumida no amor autêntico dos irmãos.

E para que compreendêssemos que a eucaristia é isso – senão não é, mas se reduz a cena religiosa, suntuosidade e falsidade –, Jesus também confiou aos discípulos um gesto que a explica e a interpreta: o lava-pés. Naquele curvar-se de Jesus, naquele gesto do escravo perante os irmãos, Jesus disse palavras que ressoam até hoje para nós: "Entenderam o que eu fiz?", entenderam que o partir o pão e o beber do cálice é “serviço” aos irmãos, serviço cotidiano assumido como estilo, o estilo do Senhor e do Mestre?

A eucaristia é isso! E se o é autenticamente, então só pode ser fonte de reconciliação, de comunhão, de amor fraterno. Se, ao contrário, ela é entendida e vivida apenas como celebração, rito, como uma ocasião de identidade e de filiação cultural e religiosa, se nela se busca a solenidade como espetáculo que seduz e deslumbra, então, infelizmente, é verdade que nós nos dividimos e, diante da eucaristia, entramos em conflito uns com os outros...

Mas o que celebramos não é mais a eucaristia de Jesus, a ceia do Senhor (cf. 1 Coríntios 11, 21)! Não se pode respeitar o corpo de Cristo, fixando-o no pão e no vinho, e depois não reconhecer o corpo de Cristo que é a comunidade, a igreja, conjunto de enfermos, pobres e pecadores que buscam encontrar sentido nas suas vidas para poder pregustar a salvação que vem do Senhor!

terça-feira, 26 de julho de 2011

Tuitadas de hoje


O atentado de Oslo, maçonaria e cristianismo: uma mistura (às vezes) explosiva http://bit.ly/qFkfj0

Oslo e a infinita idiotice do mal http://bit.ly/p0XoRZ

Cristãos e muçulmanos juntos para evitar o choque de civilizações http://bit.ly/pOrJKc

O atentado de Oslo e o mistério da fé http://bit.ly/oBJIjU

O domínio dos afetos patológicos cada vez mais naturalizados como discurso no jogo político http://bit.ly/pBZ7mQ

A fúria que mata em massa ouve a voz que prega a intolerância contra o islã; o pior é que essa voz só cresce na Europa http://bit.ly/pZlG0b

Amy Winehouse, a última romântica http://bit.ly/odCYcJ

Atentado Terrorista em Oslo e a quebra do clichê “terrorista” http://bit.ly/qtXXXK

Site dá orientação sobre terapia de emergência após contato com HIV http://j.mp/p1GSae

RT @_ihu: A delicada ligação entre opção religiosa e ascensão socioeconômica http://bit.ly/lSzYrC

"Eternamente Amy Winehouse", por Fernanda Young http://bit.ly/n4jeSc

Abaixo-assinado online: CARTA ABERTA À FRENTE PARLAMENTAR MISTA PELA CIDADANIA LGBT SOBRE A CRIMINALIZAÇÃO DA HOMOFOBIA http://j.mp/nrH5PD

Heteroinquisidores


Se pai e filho agredidos por homófobos tivessem se 'confessado' gays, em vez de uma orelha decepada poderia haver dois cadáveres

Minhas visitas à Índia são recheadas de descobertas culturais. Uma das que mais me fascina é a cena de homens de mãos dadas nas ruas. Ao contrário de nós, a expressão pública de afeto entre amigos é socialmente autorizada. Assim como meninas escolares no Brasil, os indianos de qualquer idade andam abraçados com seus colegas. A mesma intimidade entre homens, vi em vários países de tradição árabe. Aos homens, é permitido o toque como sinal de amizade. O curioso é que esse traço cultural não elimina a homofobia. Ao contrário, a homofobia é uma prática de ódio que convive com essas redescrições culturais sobre o corpo e o encontro entre os sexos. Entre nós, a novidade parece ser a de que nem mesmo o afeto entre pais e filhos será permitido pela patrulha homofóbica.

Um pai de 42 anos e um filho de 18 se abraçaram. De madrugada, cantavam juntos em uma festa ao ar livre no interior de São Paulo. Consigo imaginá-los felizes, razão para demonstrarem afeto mútuo. Foi o sinal para que dois homens desconhecidos perguntassem se eram gays. Insatisfeitos com a resposta negativa, saíram em busca de outros homens para iniciar a agressão. O pai teve parte da orelha decepada e o filho teve ferimentos leves. Pai e filho têm medo de represálias, pois os agressores estão pelo mundo, talvez orgulhosos da façanha ou, quem sabe, ainda sem entender por que não se pode agredir gays. Se tiverem algum senso de vergonha pelo ato, talvez seja o de ter confundido homens heterossexuais com gays.

A violência foi praticada com um ritual de confissão em dois atos: no primeiro, pai e filho deveriam declarar suas práticas sexuais para homens desconhecidos. Os homens homofóbicos são os inquisidores da heteronormatividade. Pai e filho negaram ser gays. Por alguma razão, a performance de gênero do pai e do filho não convenceu o grupo de homófobos. Eles buscaram reforço e retornaram com mais homens para silenciar aqueles que imaginavam ser representantes dos fora da lei heterossexual. No segundo ato, foram exigidas demonstrações de práticas homossexuais: pai e filho deveriam se beijar na boca para que os agressores vivenciassem a fantasia gay.

O primeiro ato do ritual homofóbico me leva a imaginar quais teriam sido as consequências de um "sim, somos gays" - uma autoafirmação entranhada em dois homens que não suportassem mais o tribunal homofóbico. Com essa resposta, talvez não estivéssemos diante de uma imagem de uma orelha parcialmente decepada, mas de dois cadáveres. Pai e filho foram vítimas da violência homofóbica. O curioso é que os dois não se apresentam como gays, mas como representantes da ordem heterossexual. Para os vigias homofóbicos, não importavam as práticas sexuais dos dois homens, mas a manutenção da ordem pública em que homens não devem se tocar. O interdito homossexual é tão poderoso que deveria impedir, inclusive, o contato físico entre pais e filhos.

Há outro ponto intrigante nessa história que é sobre como os homófobos se formam. Essa é uma inquietação a que qualquer aspirante a sociólogo responderia com uma tautologia: os fenômenos sociais não têm causa única. Mas aqui quero arriscar um caminho de compreensão. Os homófobos deste caso foram incapazes de diferenciar uma expressão de carinho paterno de uma prática erótica entre dois homens. Como hipótese, especularia que os agressores pouco receberam afeto de homens, seja de seus pais ou de outros homens de suas redes afetivas. Uma hipótese alternativa é a de que, se houve afeto paterno, esse foi mediado pelo temor homofóbico. Essa ausência levou os agressores a desconfiar do corpo de outros homens. Ao primeiro sinal de aproximação física, a defesa é a repulsa homofóbica.
Sei que essa explicação pode parecer reducionista para um fenômeno tão complexo e dependente da cultura patriarcal como é a homofobia. Mas é intrigante o erro do radar homofóbico dos agressores, o que sugere haver um equívoco de ponto de partida: eles parecem não ter sido capazes de identificar sinais corporais de algo tão fundamental quanto o amor paterno. Mesmo que não sejam ainda pais, não conseguiram se deslocar para o lugar de filhos que já foram ou ainda são. Aos guardiões da moral heterossexual, esse é um erro de diagnóstico que denuncia uma perturbação simbólica ainda mais fundamental.

Se minha hipótese for razoável, a mediação homofóbica na relação entre pais e filhos ou entre homens que se relacionam por vínculos de amizade ou convivência perpassa a socialização de gênero dos meninos. Os homens seriam treinados para evitar expressões de afeto e carinho por outros homens. Aqui volto à imagem da Índia para lembrar que o desejo de aproximação física entre homens não está inscrito nos corpos sexuados, mas é compartilhado pela cultura em que os homens vivem. Os homófobos se formam em casa, na rua, na escola. Em todos os espaços em que a fantasia homofóbica mediar a relação entre os corpos e afetos dos homens, a violência e a injúria contra os fora da lei heterossexual irão crescer.

- Debora Diniz
Antropóloga, professora da Universidade de Brasília e pesquisadora da ANIS - Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero
Reproduzido via Conteúdo Livre

O que aconteceu com o sexo?

Foto: Sarah

Diante do debate sobre a visibilidade gay na televisão brasileira hoje, achamos pertinente reproduzir aqui este texto do teólogo gay/queer André Musskopf, escrito em 2007 e publicado na G-Magazine e na revista alemã Werkstatt-Schwule Theologie (via blog do autor).

Já faz algum tempo que tenho refletido sobre a importância do sexo na construção da identidade gay. Tive uma fase em afirmar que minha identidade não era construída exclusivamente a partir do meu desejo ou das minhas práticas sexuais, para contrabalançar aqueles e aquelas que me viam apenas como um "ser sexual", ignorando todas as outras variantes que fazem parte da construção (e reconstrução) da minha identidade.

Como gosto de cinema e televisão (também das novelas!), fui levado mais uma vez a esta reflexão, e à minha já quase solidificada constatação, após ler uma entrevista de Gilberto Braga à G-Magazine (Março/2007). Nesta entrevista a respeito da novela Paraíso Tropical o autor afirma que "os meus gays não ocupam um espaço importante na novela ... porque uma história de amor gay pode não interessar à maior parte do público" e "os gays não têm história [em Paraíso Tropical] exatamente porque se eu der uma para eles, vou tirar o espaço de personagens para os quais está prevista uma história. Os gays devem ser bons coadjuvantes". Não tenho por objetivo fazer uma crítica à obra de Gilberto Braga ou ao seu caráter militante. Mas pensar no que tanto incomoda nas relações homossexuais, na dramaturgia bem como no cotidiano.

A reflexão: já fui levado muitas vezes ao cinema ou a locadoras pelos comentários sobre o "aspecto gay" de determinados filmes que chocaram audiências - seguramente com o objetivo de ver os tais "avanços" e, mais subjetivamente, a mim mesmo. Um deles que me recordo foi Alexandre, o Grande. Frustração! Talvez tenha lido os comentários errados, mas os supostos "componentes gays" não passaram de uma cena breve em que se insinua algum contato com um de seus súditos, que ninguém sabe se foram concretizados ao término do filme. O que ninguém deve esquecer é a cena tórrida de sexo de Colin Farrel (Alexandre) com Angelina Jolie (Olímpia). O exemplo mais recente é Brokeback Mountain. Este, que já foi lançado como um "filme gay", não poderia ser mais frustrante para alguém interessado em "sexo gay". Tirando a cena na cabana - e talvez a cena do beijo no reencontro - só consigo lembrar de outras cenas de sexo entre os cowboys e suas esposas. Não é à toa que no Brasil o filme foi lançado como o "segredo" de Brokeback Mountain. Poderia muito bem ser uma estória sobre dois amigos muito íntimos e muito companheiros, como as relações de amor fraternal descritas por inúmeros religiosos celibatários ao longo da história da Igreja Cristã. Como um "bom gay" eu posso imaginar o sexo e ir para casa com a sensação de que os homossexuais agora serão mais bem aceitos pela singeleza e pelo sofrimento expressos no telão. Coitados! Mas como um "bom gay" também quero saber o que aconteceu com o sexo?

Voltando às novelas, o próprio Gilberto Braga menciona as mudanças na abordagem do tema em A próxima vítima e América. Eu mesmo acompanhei e fiquei emocionado - eu confesso - com as histórias dos casais gays nestas novelas. Mas nem um beijinho? Que dirá sexo! Já sexo entre casais heterossexuais... Mesmo em Paraíso Tropical, personagens que eu colocaria no rol de "coadjuvantes", andam fazendo sexo com vontade. Outro dia vi uma cena de Bruno Gagliasso (o mesmo de América) com sua namorada em que ambos estava seminus, ela entrelaçando ele com as pernas, ele chupando os seios dela... ui! Já o casal formado por Sérgio Abreu e Carlos Casagrande... lindos, mas sem beijo e sem sexo, coadjuvantes sexless numa trama cheia de sexo. Defensores da moral e dos bons costumes?

Claro, não é preciso ir ao mundo do cinema ou da televisão para buscar exemplos similares. A própria comunidade gay tem construído suas fobias e mecanismos de ocultamento do sexo. Basta pensar nas reações causadas pelos "exageros" nas Paradas Gays na comunidade e a busca por parceiros/namorados cada vez mais discretos, mais masculinos, mais alinhados... aquele tipo que não causaria suspeita em lugar algum de ser, de fato, gay, e seria um sério candidato ao "genro que toda sogra sonhou". Nenhum vestígio de homossexualidade. O sexo fica no quarto, e os direitos também, é claro. Mas esta discussão já é bem conhecida e não vou me alongar nela, só dizer que suspeito que os motivos destas posições venham do mesmo lugar.

Mais um exemplo, este do mundo das igrejas. Talvez não seja muito conhecida a política de ordenação de homossexuais ao ministério, mas em algumas igrejas protestantes criou-se a "possibilidade" de homossexuais serem ordenados pastores, desde que sejam "não-praticantes". Ora, pressupõe-se que todo mundo saiba o que não se pode "praticar" a fim de que seja aceito como obreiro da igreja. Mas é bom dizê-lo: significa eliminar o sexo. O mesmo princípio regula a Igreja Católica Romana na sua relação com seminaristas e padres homossexuais, mas, neste caso, com o "atenuante" de que isto é exigido de todos, uma vez que o celibato é condição para o sacerdócio, sem exceções. Não vou aqui discutir o que de fato acontece na vida daqueles que se professam celibatários ou não-praticantes - poderíamos encontrar muito sexo aí. A questão é que no nível do discurso e da política eclesiástica parece atuar a mesma idéia que vinha identificando acima: acaba-se com o sexo (pelo menos pública e oficialmente) e as portas se abrem para "homo(já nem tão)sexuais". E também aí sabemos que não é bem assim que funciona.

A constatação: a questão da marginalização, exclusão e discriminação de homossexuais está proporcionalmente relacionada ao sexo. Esconde-se o sexo, a aceitação de homossexuais aumenta. Será? Bonitos, saudáveis, gentis, trabalhadores, sensíveis - tudo bem. Beijos e sexo - nem pensar. Como teólogo penso na histórica "negação ou domesticação" do corpo e da sexualidade, nos discursos sobre eles bem como em qualquer discurso teológico. Elogia-se a ideologia do amor romântico e a caridade fraterna, demoniza-se a materialidade do sexo e do desejo. Como pesquisador na área da sexualidade penso na higienização do sexo e na construção ideológica da família burguesa. Sendo assim, também tenho consciência dos limites e das possibilidades do sexo, em sua forma discursiva, na sua representação e nas práticas. Mas prefiro as possibilidades e o sexo.

Por mais que se questione a banalização do sexo heterossexual patriarcalmente definido (promovido pelas novelas ou qualquer outro meio de comunicação), também banaliza-se o sexo homossexual pela via do silêncio e do ocultamento. Ele já não nos pertence mais! Enquanto se deixa de veicular a mensagem de que o sexo gay é bom e saudável, transmite-se a mensagem de que é tão monstruoso que até mesmo um beijo precisa ser evitado para que, assim, os gays pareçam "normais" - comparados a quem? Tudo para que tenhamos últimos capítulos com muitos casamentos e crianças recém-nascidas ("Quanto maior a família melhor, diria o milionário Aristides de Páginas da Vida). E pobres das criancinhas que são influenciadas por estes meios diabólicos de comunicação: ou crescem e se tornam adultos homofóbicos, ou passam a adolescência tentando lidar com seus desejos, quando não se suicidam antes.

Ergamos nossa voz - pelo direito ao sexo! Nos quartos, nas telas de cinema e na televisão! Seguro, sem culpa e com tesão! Senão continuaremos sendo meros coadjuvantes sem uma história que seja nossa pra contar, e não cidadãos de verdade.

- André S. Musskopf
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