sábado, 4 de janeiro de 2014

A maré está virando contra a homofobia


Amigos, costumamos repetir e enfatizar aqui que a Igreja Católica Romana é um corpo social que se situa, como todas as instituições, dentro de um contexto sociocultural mais amplo. É importante entender que a homofobia que existe hoje nesse corpo social que chamamos de Igreja é reflexo da homofobia que ainda reage e resiste no seio da sociedade de maneira mais ampla. Por isso, ao ler o artigo abaixo (outra retrospectiva, mais detalhada, você encontra aqui), achei interessante traduzir para compartilhar com vocês, sobretudo depois de termos publicado, há alguns dias, a notícia de que o núncio apostólico em Uganda havia se manifestado frontalmente contra a aprovação da lei antigay (aqui)

Não podemos esquecer que mentalidades mudam muito lentamente, e ainda assim estamos assistindo a transformações, como assinala o autor, aceleradas nestes últimos anos. Com relação aos LGBTs, assim como existem, dentro e fora da Igreja, as forças homofóbicas que resistem, existem as forças da inclusão, da abertura, do diálogo, que avançam - e é deste lado que nós, aqui no Diversidade Católica, procuramos nos manter. Porque procuramos ser a Igreja que queremos ver no mundo.

Segue o artigo de Ian Birrel, publicado originalmente no The Guardian (aqui).


Em Uganda, duas pessoas que façam sexo podem acabar ser condenadas à prisão perpétua, se por acaso forem do mesmo sexo. Se os amigos ou familiares de um servidor público não denunciarem suas práticas homossexuais, correm o risco de se juntar a eles na prisão. É o que determina uma lei aprovada na semana passada nesse país. A medida - que acaba de ser aprovada pelo presidente - é o ponto culminante de uma campanha de quatro anos. "Esta é uma vitória para Uganda", disse David Bahati, o parlamentar autor do projeto de lei. "O Parlamento votou contra o mal."

Para a maioria dos britânicos, o mal, nesse caso, na verdade é o intolerante Bahati. No mesmo dia, o Senado nigeriano aprovou uma lei anti-gay, criminalizando até os grupos de defesa dos direitos LGBT. Poucos dias antes, a suprema corte indiana rejeitou a descriminalização da homossexualidade e juízes australianos derrubaram o casamento igualitário, enquanto, na Rússia, sanções presidenciais convertem a discriminação em política de Estado, alimentando o clima de medo.

É um final de ano deprimente em um dos principais campos dos direitos humanos em nossos tempos. No entanto, não devemos nos desesperar. Sim, esses exemplos - e já houve outros retrocessos grotescos na luta global pela igualdade gay, para não falar de espancamentos e assassinatos - são preocupantes. Mas estamos em meio a uma revolução mundial, em que a maré está virando contra a homofobia.

Hoje existem 24 deputados abertamente gays em Westminster [o Parlamento britânico] - e, curiosamente, mais nos bancos conservadores do que nos dos outros partidos juntos, o que coloca em perspectiva as recentes tentativas de expulsar Crispin Blunt pelo "desaforo" de ter saído do armário e o ridículo barulho da direita contra o casamento igualitário. Três décadas atrás, essa ideia enfrentava a oposição de dois terços do eleitorado britânico, enquanto nove em cada 10 tinham horror a adoções gays; hoje, apenas uma pessoa em cada cinco desaprova relacionamentos gays, e cerca de metade encara a adoção gay com naturalidade. 

Mudanças semelhantes podem ser observadas em outros lugares do Ocidente e na América Latina, impulsionadas pelas gerações mais tolerantes e globalizadas. Faz um quarto de século desde que a Dinamarca se tornou o primeiro país a permitir uniões civis, e agora elas são legais em 31 países, enquanto 14 já aprovaram o casamento gay, juntamente com 18 estados dos EUA - dos quais o mais recente foi o reduto mórmon de Utah, embora as disputas legais continuem.

Uma clara maioria dos americanos apóia o casamento igualitário; uma década atrás, era menos de um terço. Em meio à polêmica, não devemos esquecer que eu me lembro quando quatro quintos dos americanos desaprovavam o casamento inter-racial, que só passou a ser aceito por uma maioria pouco antes da virada do século 21. Uma década depois, os americanos elegeram um presidente negro.

Essas transformações mostram a rapidez com que as sociedades podem mudar suas normas. Pesquisas globais mostram que a antipatia em relação a gays e lésbicas está em rápida queda; apenas uma em cada três pessoas diz que a homossexualidade nunca é aceitável. Há sinais de mudança na Ásia, onde a maioria no Japão e nas Filipinas já aceita a homossexualidade, e o apoio aos direitos dos homossexuais mais que dobrou na Coreia do Sul em seis anos. Mesmo na China e na Índia há evidências de um declínio significativo na hostilidade, que pode ser reforçado na Índia pela reação à recriminalização judicial.

As atitudes mais antediluvianas são encontradas em países mais pobres, com as taxas mais altas de religiosidade. Muitas vezes, trata-se do legado de códigos coloniais corrosivos: metade das leis "anti-sodomia" ainda existentes são relíquias do governo imperial britânico. No entanto, mesmo na África, onde 38 países proíbem a homossexualidade e os temores vêm sendo instigados por grupos evangélicos estrangeiros, existe a África do Sul, que autorizou o casamento homossexual cerca de sete anos antes da Grã-Bretanha.

O caminho rumo à verdadeira igualdade para lésbicas, gays e transgêneros ainda é longo. Ele vai acelerar se o papa seguir sua importante declaração de que ele não pode julgar alguém por ser gay com atitudes concretas. Independentemente disso, esses reveses recentes não deve causar desespero, pois os sinais são de que a humanidade está caminhando na direção certa.

Para complementar, com relação ao papa Francisco e à Igreja Católica estamos preparando uma retrospectiva mais detalhada, que publicaremos em breve. Fique de olho!

Não deixe de conferir também a excelente retrospectiva de 
Gunter Zibell no GGN (aqui), que reproduzimos aqui

2013: o ano da globalização da discussão de direitos LGBT



Excelente a retrospectiva de Gunter Zibell no GGN (aqui), indicada pelo nosso amigo Teleny em seu blog (aqui). Vale conferir os links indicados pelo autor. Reproduzimos aqui alguns destaques:

As questões LGBT vêm crescendo no espaço público de discussão já há muito tempo. Um momento fundamental foi a Rebelião de Stonewall, iniciada em 28-06-1969 (45 anos em junho próximo, portanto) com as primeiras “Pride Parades” vindo a acontecer em seu 1º aniversário.

Antes até, principalmente ao longo da década de 1960, começaram as descriminalizações da homossexualidade nos muitos países desenvolvidos e do Leste Europeu que ainda a adotavam. Ao longo dos anos 1990 popularizam-se ao redor do mundo as paradas de orgulho LGBT e implementaram-se diversas legislações antihomofobia e de união civil homoafetiva.

Mas entramos no novo século sem casamento igualitário em lugar nenhum!

Até 2009, o casamento igualitário só existia em Holanda (pioneira em 2001), Bélgica, Espanha, Canadá, África do Sul e dois estados norte-americanos. O final desse ano trouxe a atenção do noticiário brasileiro para as questões LGBTs por duas circunstâncias: por um lado a aprovação do CI, para vigência a partir de 2010, em dois países próximos à nossa cultura ou realidade sócio-econômica: Portugal e Argentina (além do Distrito Federal no México, na mesma época); por outro lado, a aprovação do PLC 122/06 na Câmara dos Deputados e seu posterior primeiro engavetamento no Senado. A partir daí o assunto não deixou de ser politizado e, portanto, não saiu da mídia.

As coisas foram evoluindo, em 2011 discursos na ONU; em 2012 as questões LGBT entraram nas campanhas presidenciais de França e EUA; e começamos 2013 com 32 países com pelo menos legislação para união civil e cerca de 60 países com criminalização da homofobia (Brasil e Argentina são dos poucos países com CI sem essa legislação.)

Mas até então, fora blogs especializados, e na verdade nem neles, questões LGBTs não costumavam entrar em retrospectivas do ano. Este ano não, em uma semana recebi pelo facebook links para várias.

As retrospectivas mais abrangentes creio serem estas:

http://noticias.uol.com.br/album/2013/12/22/veja-os-avancos-e-retrocessos-da-causa-gay-em-2013.htm

http://www.buzzfeed.com/saeedjones/100-reasons-to-be-proud-in-2013

http://igay.ig.com.br/2013-12-30/50-imagens-que-marcaram-a-comunidade-gay-em-2013.html

[Veja também esta!]

Há motivos pelos quais 2013 mereceu essa atenção.

Alguns tristemente negativos. A homossexualidade foi recriminalizada em países tão importantes quanto Nigéria e Índia. [E também em Uganda. Saiba mais aqui e aqui.]

Ainda não é recriminalização mas quase: uma bizarra e neofascista legislação anti-LGBT foi adotada na Rússia, a qual, ao proibir que se fale sobre direitos LGBT, estimulou demissões, atentados e um clima de patrocínio à homofobia nunca antes visto.

http://www.jornalggn.com.br/blog/gunter-zibell-sp/36-fotos-da-russia-que-todos-deveriam-ver

http://mairakubik.cartacapital.com.br/2013/09/09/um-beijo-para-putin/

Na Austrália, país de elevado IDH, a suprema corte local anulou os casamentos que haviam sido realizados sob o amparo da legislação do Distrito Federal (Canberra.)

É importante notar que esses feitos não se deram em ditaduras ou teocracias, mas em países que se autodenominam democracias e com eleições periódicas.

Ora, com esses exemplos de fundamentalismo religioso aplicado à política e ao cerceamento de direitos humanos, não é de estranhar a indignação e comoção entre LGBTs no Brasil com o mal-disfarçado e crescente abandono do combate à homofobia no nosso país. Não causou surpresa, infelizmente, a revogação da regulamentação da lei antihomofobia no DF e o processo político que culminou com a posse de deputado do PSC na CDHM da Câmara dos Deputados.

http://www.eleicoeshoje.com.br/meu-partido-um-coracao-partido/#axzz2ouaPqa6e

http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/revogada-lei-contra-discriminacao-a-homossexuais-no-df

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,pt-se-une-a-religiosos-e-desagrada-a-movimento-gay--,1112422,0.htm

Mas há muito a comemorar em 2013!

A começar pelo Brasil mesmo, cujo CNJ, em maio, normatizou o Casamento Igualitário. Para celebrar isso alguns estados, como RJ e SP, patrocinaram oficialmente cerimônias coletivas de casamento igualitário.

http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/05/apos-uniao-estavel-gay-podera-casar-em-cartorio-decide-cnj.html

http://diariosp.com.br/noticia/detalhe/34308/Casamento+gay+coletivo+vira+exemplo+

http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/12/08/rio-celebra-casamento-gay-coletivo-130-casais-participaram-da-cerimonia.htm

Mesmo na política há luzes no fim do túnel, alguns partidos políticos começam a observar os direitos civis LGBT como uma causa justa e que vale a pena perseguir:

http://www.jornalggn.com.br/blog/gunter-zibell-sp/lgbts-nao-serao-orfaos-politicos-em-2014

Houve alguns avanços também na questão do uso de nome social por transgêneros e na implementação e/ou empoderamento de Coordenarias de Diversidade Sexual em estados e municípios.

http://www.jornalggn.com.br/blog/gunter-zibell-sp/cartao-sus-vai-ter-nome-social-de-travestis-e-transexuais

Pelo Mundo

Em 2010 e 2011 não houve novas leis de Casamento Igualitário. Em 2012, apenas na Dinamarca. Mas em 2013 o Casamento Igualitário teve um “boom” pelo mundo. Foi oficializado em França, Reino Unido, Uruguai, Nova Zelândia e Brasil.

http://www.jornalggn.com.br/blog/gunter-zibell-sp/casamento-gay-uniao-homoafetiva-pequena-retrospectiva

Casamentos foram judicialmente realizados na Colômbia, no mórmon estado de Utah e em alguns estados mexicanos. Nos EUA se completaram 18 unidades federativas com CI, protegendo agora os direitos para 40% da população LGBT daquele país.

http://igay.ig.com.br/2013-12-26/estados-unidos-vivem-onda-irrefreavel-em-prol-do-casamento-gay.html

E campanhas pelo casamento igualitário tornaram-se virais além de seus países de origem (do mesmo modo que a proposta de boicote à marca Barilla.)

http://www.jornalggn.com.br/blog/gunter-zibell-sp/o-meme-do-casamento-igualitario

Discussões surgiram ou se aprofundaram até em países do oriente, como Coreia do Sul, Taiwan, Nepal e Vietnã. Ainda não se sabe qual será o primeiro país sem maioria cristã a legalizar o CI ou União Civil Homoafetiva.

A União Europeia, através de sua corte de Direitos Unidos não impôs o CI como norma aos 27 países que a formam, mas, pelo menos, declarou inaceitável a recusa de alguns países-membros em oficializarem a união civil homoafetiva.

http://www.jornalggn.com.br/blog/gunter-zibell-sp/decisao-historica-corte-europeia-reconhece-direito-de-lgbts-formarem-familia

A ONU, pela primeira vez, preparou vídeos para o Dia Internacional contra a Homofobia e um especial LGBT para o Dia Internacional dos Direitos Humanos (vídeo acima).

A lacuna da falta de criminalização da homofobia foi coberta em dois países emblemáticos pelo conservadorismo religioso, e que também não têm união civil homoafetiva: Itália e Chile, em ambos com apoio de cerca de ¾ de seus parlamentos. Juntando-se esse fato às legislações antihomofobia em outros países da América do Sul, como Bolívia, Equador e Peru, vê-se, por óbvio, que a ausência de legislação federal antihomofobia no Brasil é razão para nos envergonharmos, quando não nos assustarmos, dado que a situação presente de crimes de ódio homotransfóbicos já é das piores do Mundo.

Os “ineditismos”

2013 foi também um dos anos, senão "o" ano, em que mais se viu “primeiro isto primeiro aquilo”. Tivemos Steve Grand (primeiro cantor country famoso), a primeira oficial trans na Argentina, a 1ª lei pró-LGBTs em Cuba, o 1º casamento gay em base militar norte-americana, a 1ª travesti professora universitária no Brasil, o 1º candidato político gay na Turquia, a 1ª para de orgulho em Montenegro, vários artistas se declarando LGBT.

http://igay.ig.com.br/2013-12-28/jogador-e-cantor-country-gays-personalidades-lgbt-que-movimentaram-2013.html

E houve um inédito número de esportistas que se declaram LGBT. E, como sabemos, esportes são um dos grandes bastiões da homofobia nas culturas ocidentais, levando à discussão, também ineditamente, para as torcidas.

http://globoesporte.globo.com/outros-esportes/noticia/2013/12/retrospectiva-2013-fora-do-armario-atletas-gays-ainda-lutam-por-respeito.html

http://jornalggn.com.br/blog/gunter-zibell-sp/as-torcidas-de-clubes-de-futebol-contra-a-homofobia

Entre muitas outras coisas, para as quais não há espaço aqui para se falar, como o reconhecimento britânico da falha ao condenar Turing, até protesto contra a Coca-Cola houve:

http://www.gaystarnews.com/article/gay-rights-protest-against-coca-cola-central-london221213

E, por último mas muito importante, a esperança com Papa Francisco:

http://fernandorodrigues.blogosfera.uol.com.br/2013/02/21/catolicos-gays-querem-um-papa-de-todo-o-povo-de-deus/

http://www.jornalggn.com.br/noticia/papa-e-eleito-personalidade-do-ano-por-revista-gay-dos-eua

Para complementar, com relação ao papa Francisco e à Igreja Católica estamos preparando uma retrospectiva mais detalhada, que publicaremos em breve. Fique de olho!

Não deixe de conferir também o excelente artigo de Ian Birrel, publicado originalmente no The Guardian (aqui) e que traduzimos aqui.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Oração de ano novo


Penetra a aurora.

Corta as amarras.
Desembaraça os fios.
Rompe os grilhões
que atam e prendem.

Caminha, livre
como Nelson Mandela liberto da prisão,
adentrando a possibilidade
de um caminho novo
onde os inimigos sejam surpreendidos pela Graça.

A vida, em sua dor e delícia,
te conduziu até aqui.
Tudo é aprendizado.
Desvencilha-te do passado.
Desperta para os sinais, para as maravilhas.
Percebe os guias sábios, os marcos de pedra
que indicam a direção e te resguardam os caminhos.

Encontra tuas almas gêmeas, teus espaços sagrados,*
aquelas pessoas e lugares que alimentam tua alma.
Trata de mantê-los perto.

Reconhece a esperança de ressurreição a cada novo dia,
para mais uma vez começar
e adentrar a vida ainda por viver;
para fazer a paz,
ser puro de espírito,
caminhar com deferência,
amante da misericórdia e da bondade,
e praticar o bem que bem sabes fazer.

Vê com olhos novos
o caminho que sempre foi,
o que nos conduz ao nosso lugar nesta terra
— aquele que nos leva para casa.

- Christy Caine

[*No original, Anam Cara (expressão celta que significa “amigo de alma”) e Caol Ait (expressão celta que significa “lugar tênue”— onde a distância entre o divino e o humano é tão tênue que facilita o encontro espiritual).]

Fonte | Tradução: Cris

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

A verdade sobre a homossexualidade


Nossos amigos do Equally Blessed começaram o ano compartilhando um texto do padre americano Gary F. Meier no Huffington Post, do qual traduzimos e compartilhamos parte com vocês (para ler o artigo original, na íntegra, clique aqui). O Pe. Meier lançou em 2013 o livro Hidden Voices, Reflections of a Gay Catholic Priest ("Vozes Ocultas - Reflexões de um padre católico gay"), a princípio anonimamente, para depois assumir que era o autor do livro. Seu testemunho é rico e significativo, e coincide em muitos pontos com a carta que enviamos aos Bispos da Igreja Católica (saiba mais aqui. Ainda não assinou a petição on-line? Clique aqui!). Suas palavras sobre a verdade e a necessidade premente de mudança, especialmente, encontram eco em nosso pedido:
"Pedimos, então, não como mera questão acadêmica, mas como urgente exercício de responsabilidade pastoral, que os Senhores busquem a maneira de entrar pública e honestamente no processo de elucidar conosco aquilo que realmente é neste campo. Sem medo da verdade, pois sem ela, nenhuma Pastoral Católica é possível. O medo da verdade, além de pouco eficaz para a ação pastoral, também é inútil, pois, como lemos na Declaração Dignitatis Humanae, n.1, do Concílio Vaticano II, 'A verdade não se impõe de outro modo senão pela força da própria verdade'".

Segue o texto.


(...) Faz pouco mais de seis meses que anunciei que sou o autor de Hidden Voices, Reflections of a Gay Catholic Priest, e muita coisa aconteceu . O livro foi lançado no dia 23 de maio de 2013, e levou a uma série de entrevistas de televisão, rádio e jornais. Muitas dessas entrevistas podem ser encontradas no meu site (...).

Meu livro tem gerado muito interesse e, literalmente, milhares de e-mails e cartas de pessoas de todo o mundo. De tudo que recebi, apenas alguns foram negativos. O resto são um misto de e-mails de apoio e mensagens afirmativas daqueles que foram feridos pelos ensinamentos da Igreja Católica sobre a homossexualidade. Entristece-me que uma igreja que eu amo possa ser tão prejudicial para muitos de seus membros " - pessoas boas e amorosas . São seminaristas, sacerdotes, bispos, alguns jovens LGBT e seus pais, e aliados LGBT - todos eles estão desesperadamente tentando conciliar o que eles acreditam sobre a homossexualidade com o que a Igreja ensina. Se aprendi alguma coisa em 2013, é que o nível de dor que causamos é mais profundo do que eu poderia ter imaginado.

Recebi um e-mail de uma mãe cujo filho estuda em uma escola primária católica. Ela está tentando conciliar suas crenças com a decisão de sua escola de expulsar os escoteiros por causa de sua "nova política pró-gay". Ela me escreveu: "Será que realmente quero pertencer a uma instituição que não vai permitir gays em suas instalações?". Um homem hétero escreveu: "É cada vez mais difícil para mim continuar indo à missa sabendo que meus amigos gays e seus cônjuges não são bem-vindos no altar". Uma avó escreveu: "O meu neto é gay e vai se casar em poucos meses, e não sei o que fazer. Amo meu neto e amo seu parceiro. E amo a minha igreja. Será que os bispos percebem a posição em que estão nos colocando?". Um padre gay, de seus 60 anos, escreveu: "Um pedaço de mim morre cada vez que pego o jornal e leio mais falas anti-gays vindas de bispos católicos. Sinto-me encurralado entre permanecer em silêncio ou perder meus rendimentos, minha aposentadoria, meu plano de saúde - tudo".

Recentemente, almocei com a Irmã Jeannine Gramick, SL, co-fundadora do New Ways Ministry, e Mathew Myers, seu diretor-adjunto. Eles perguntaram: "O que podemos fazer para incentivar outros padres gays  a sair do armário?" Respondi: "Os padres não saem do armário por medo. Mas desconfio de que seu medo é mais de perder seus meios de subsistência (renda, aposentadoria, moradia, alimentação etc.) do que de ser rejeitados. Se minha história pode servir de exemplo do que as pessoas acreditam, parece que elas estão dispostas a aceitar padres gays. É o medo de perder tudo que é assustador".

Os e-mails mais perturbadores vêm de adolescentes anônimos que falam em "acabar com tudo" e se dizem dilacerados por se acreditarem falhos, desordenados, doentes ou, de alguma forma, traidores. Só posso imaginar a coragem que um adolescente precisa ter para escrever em segredo um e-mail e enviá-lo para mim. Eles estão em minhas orações todos os dias.

Em meados de novembro, recebi uma carta da arquidiocese de Saint Louis, afirmando que o arcebispo gostaria que eu "solicitasse voluntariamente minha demissão do estado clerical". A carta chegou a dizer que, se eu não "solicitasse voluntariamente minha demissão, a diocese dará início a um processo involuntário para me retirar do estado clerical". De um jeito ou de outro, seguir sendo um clérigo não é uma opção para mim.

Afirmei desde o começo que nunca duvidei da minha vocação ao sacerdócio e retornaria ao ministério ativo se pudesse falar a verdade sobre a homossexualidade. Para que isso aconteça, a igreja teria de mudar ou ampliar seus ensinamentos sobre a homossexualidade. Nosso novo Papa nos dá a esperança de estarmos em um bom caminho. Costumo dizer que sinto-me "cautelosamente otimista" a respeito do novo tom adotado pelo Papa. Otimista com relação à possibilidade de que, um dia, os ensinamentos da igreja vão mudar; e cauteloso, porque os ensinamentos da igreja ainda não mudaram. Nesse meio tempo, católicos continuam perdendo seus empregos e a ter os sacramentos negados em nossa igreja simplesmente por causa de quem eles amam.

Então, aonde é que isto me leva? Isso me leva a seguir em frente e continuar a falar a verdade - a verdade de Deus - a verdade sobre a homossexualidade. A verdade de que a homossexualidade não é uma cruz, não é uma doença, não um transtorno, mas um belo presente de Deus. A verdade de que fomos criados por amor, com amor - e a verdade que reconhece a dignidade e a igualdade inerentes a todas as pessoas, independentemente de quem eles amam. Santa Catarina de Siena disse: "Fale a verdade com mil vozes; é o silêncio que mata o mundo". 2013 chega ao fim, eu estou ansioso por um novo ano e um novas oportunidades para falar a verdade. (...)

- Pe. Gary M. Meier
(Fonte)

"É preciso ajudar verdadeiramente a promoção humana"


"É preciso ajudar verdadeiramente, e eu adoro esta expressão, a promoção humana. Pois devemos encorajar. Não é nossas tarefas carregar as massas, mas é preciso encorajá-las. Então elas tomam coragem, e é maravilhoso. (...)

E se amanhã elas tiverem a impressão de que o cristianismo teve medo, que não teve a coragem de dizer a verdade, de mostrar a verdade, então, acabou-se o cristianismo. (...)

Se falamos em revolução como mudança rápida e radical, então eu desejo essa revolução social. E vêm me dizer que isso é comunismo! Comunismo seria mostrar a religião como ópio para o povo. Eu desejo exatamente o contrário."

- Dom Helder Câmara, "o Santo Rebelde"

Pois é, D. Helder. Passados 40 anos, quando o Papa Francisco veio, em 2013, criticar as injustiças sociais, também foi criticado como "marxista"... - não que ele tenha ficado ofendido com isso. ;-)

Fraternidade, fundamento e caminho para a paz

"Pomba da paz", Pablo Picasso


Começamos o ano compartilhando a mensagem do Papa Francisco para este Dia Mundial da Paz:

1. Nesta minha primeira Mensagem para o Dia Mundial da Paz, desejo formular a todos, indivíduos e povos, votos duma vida repleta de alegria e esperança. Com efeito, no coração de cada homem e mulher, habita o anseio duma vida plena que contém uma aspiração irreprimível de fraternidade, impelindo à comunhão com os outros, em quem não encontramos inimigos ou concorrentes, mas irmãos que devemos acolher e abraçar.

Na realidade, a fraternidade é uma dimensão essencial do homem, sendo ele um ser relacional. A consciência viva desta dimensão relacional leva-nos a ver e tratar cada pessoa como uma verdadeira irmã e um verdadeiro irmão; sem tal consciência, torna-se impossível a construção duma sociedade justa, duma paz firme e duradoura. E convém desde já lembrar que a fraternidade se começa a aprender habitualmente no seio da família, graças sobretudo às funções responsáveis e complementares de todos os seus membros, mormente do pai e da mãe. A família é a fonte de toda a fraternidade, sendo por isso mesmo também o fundamento e o caminho primário para a paz, já que, por vocação, deveria contagiar o mundo com o seu amor.

O número sempre crescente de ligações e comunicações que envolvem o nosso planeta torna mais palpável a consciência da unidade e partilha dum destino comum entre as nações da terra. Assim, nos dinamismos da história – independentemente da diversidade das etnias, das sociedades e das culturas –, vemos semeada a vocação a formar uma comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros. Contudo, ainda hoje, esta vocação é muitas vezes contrastada e negada nos factos, num mundo caracterizado pela «globalização da indiferença» que lentamente nos faz «habituar» ao sofrimento alheio, fechando-nos em nós mesmos.

Em muitas partes do mundo, parece não conhecer tréguas a grave lesão dos direitos humanos fundamentais, sobretudo dos direitos à vida e à liberdade de religião. Exemplo preocupante disso mesmo é o dramático fenómeno do tráfico de seres humanos, sobre cuja vida e desespero especulam pessoas sem escrúpulos. Às guerras feitas de confrontos armados juntam-se guerras menos visíveis, mas não menos cruéis, que se combatem nos campos económico e financeiro com meios igualmente demolidores de vidas, de famílias, de empresas.

A globalização, como afirmou Bento XVI, torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos.[1] As inúmeras situações de desigualdade, pobreza e injustiça indicam não só uma profunda carência de fraternidade, mas também a ausência duma cultura de solidariedade. As novas ideologias, caracterizadas por generalizado individualismo, egocentrismo e consumismo materialista, debilitam os laços sociais, alimentando aquela mentalidade do «descartável» que induz ao desprezo e abandono dos mais fracos, daqueles que são considerados «inúteis». Assim, a convivência humana assemelha-se sempre mais a um mero do ut des pragmático e egoísta.

Ao mesmo tempo, resulta claramente que as próprias éticas contemporâneas se mostram incapazes de produzir autênticos vínculos de fraternidade, porque uma fraternidade privada da referência a um Pai comum como seu fundamento último não consegue subsistir.[2] Uma verdadeira fraternidade entre os homens supõe e exige uma paternidade transcendente. A partir do reconhecimento desta paternidade, consolida-se a fraternidade entre os homens, ou seja, aquele fazer-se «próximo» para cuidar do outro.

«Onde está o teu irmão?» (Gn 4, 9)
2. Para compreender melhor esta vocação do homem à fraternidade e para reconhecer de forma mais adequada os obstáculos que se interpõem à sua realização e identificar as vias para a superação dos mesmos, é fundamental deixar-se guiar pelo conhecimento do desígnio de Deus, tal como se apresenta de forma egrégia na Sagrada Escritura.

Segundo a narração das origens, todos os homens provêm dos mesmos pais, de Adão e Eva, casal criado por Deus à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1, 26), do qual nascem Caim e Abel. Na história desta família primigénia, lemos a origem da sociedade, a evolução das relações entre as pessoas e os povos.
Abel é pastor, Caim agricultor. A sua identidade profunda e, conjuntamente, a sua vocação é ser irmãos, embora na diversidade da sua actividade e cultura, da sua maneira de se relacionarem com Deus e com a criação. Mas o assassinato de Abel por Caim atesta, tragicamente, a rejeição radical da vocação a ser irmãos. A sua história (cf. Gn 4, 1-16) põe em evidência o difícil dever, a que todos os homens são chamados, de viver juntos, cuidando uns dos outros. Caim, não aceitando a predilecção de Deus por Abel, que Lhe oferecia o melhor do seu rebanho – «o Senhor olhou com agrado para Abel e para a sua oferta, mas não olhou com agrado para Caim nem para a sua oferta» (Gn 4, 4-5) –, mata Abel por inveja. Desta forma, recusa reconhecer-se irmão, relacionar-se positivamente com ele, viver diante de Deus, assumindo as suas responsabilidades de cuidar e proteger o outro. À pergunta com que Deus interpela Caim – «onde está o teu irmão?» –, pedindo-lhe contas da sua acção, responde: «Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão?» (Gn 4, 9). Depois – diz-nos o livro do Génesis –, «Caim afastou-se da presença do Senhor» (4, 16).

É preciso interrogar-se sobre os motivos profundos que induziram Caim a ignorar o vínculo de fraternidade e, simultaneamente, o vínculo de reciprocidade e comunhão que o ligavam ao seu irmão Abel. O próprio Deus denuncia e censura a Caim a sua contiguidade com o mal: «o pecado deitar-se-á à tua porta» (Gn 4, 7). Mas Caim recusa opor-se ao mal, e decide igualmente «lançar-se sobre o irmão» (Gn 4, 8), desprezando o projecto de Deus. Deste modo, frustra a sua vocação original para ser filho de Deus e viver a fraternidade.

A narração de Caim e Abel ensina que a humanidade traz inscrita em si mesma uma vocação à fraternidade, mas também a possibilidade dramática da sua traição. Disso mesmo dá testemunho o egoísmo diário, que está na base de muitas guerras e injustiças: na realidade, muitos homens e mulheres morrem pela mão de irmãos e irmãs que não sabem reconhecer-se como tais, isto é, como seres feitos para a reciprocidade, a comunhão e a doação.

«E vós sois todos irmãos» (Mt 23, 8)
3. Surge espontaneamente a pergunta: poderão um dia os homens e as mulheres deste mundo corresponder plenamente ao anseio de fraternidade, gravado neles por Deus Pai? Conseguirão, meramente com as suas forças, vencer a indiferença, o egoísmo e o ódio, aceitar as legítimas diferenças que caracterizam os irmãos e as irmãs?

Parafraseando as palavras do Senhor Jesus, poderemos sintetizar assim a resposta que Ele nos dá: dado que há um só Pai, que é Deus, vós sois todos irmãos (cf. Mt 23, 8-9). A raiz da fraternidade está contida na paternidade de Deus. Não se trata de uma paternidade genérica, indistinta e historicamente ineficaz, mas do amor pessoal, solícito e extraordinariamente concreto de Deus por cada um dos homens (cf. Mt 6, 25-30). Trata-se, por conseguinte, de uma paternidade eficazmente geradora de fraternidade, porque o amor de Deus, quando é acolhido, torna-se no mais admirável agente de transformação da vida e das relações com o outro, abrindo os seres humanos à solidariedade e à partilha activa.

Em particular, a fraternidade humana foi regenerada em e por Jesus Cristo, com a sua morte e ressurreição. A cruz é o «lugar» definitivo de fundação da fraternidade que os homens, por si sós, não são capazes de gerar. Jesus Cristo, que assumiu a natureza humana para a redimir, amando o Pai até à morte e morte de cruz (cf. Fl 2, 8), por meio da sua ressurreição constitui-nos como humanidade nova, em plena comunhão com a vontade de Deus, com o seu projecto, que inclui a realização plena da vocação à fraternidade.
Jesus retoma o projecto inicial do Pai, reconhecendo-Lhe a primazia sobre todas as coisas. Mas Cristo, com o seu abandono até à morte por amor do Pai, torna-Se princípio novo e definitivo de todos nós, chamados a reconhecer-nos n’Ele como irmãos, porque filhos do mesmo Pai. Ele é a própria Aliança, o espaço pessoal da reconciliação do homem com Deus e dos irmãos entre si. Na morte de Jesus na cruz, ficou superada também a separação entre os povos, entre o povo da Aliança e o povo dos Gentios, privado de esperança porque permanecera até então alheio aos pactos da Promessa. Como se lê na Carta aos Efésios, Jesus Cristo é Aquele que reconcilia em Si todos os homens. Ele é a paz, porque, dos dois povos, fez um só, derrubando o muro de separação que os dividia, ou seja, a inimizade. Criou em Si mesmo um só povo, um só homem novo, uma só humanidade nova (cf. 2,14-16).

Quem aceita a vida de Cristo e vive n’Ele, reconhece Deus como Pai e a Ele Se entrega totalmente, amando-O acima de todas as coisas. O homem reconciliado vê, em Deus, o Pai de todos e, consequentemente, é solicitado a viver uma fraternidade aberta a todos. Em Cristo, o outro é acolhido e amado como filho ou filha de Deus, como irmão ou irmã, e não como um estranho, menos ainda como um antagonista ou até um inimigo. Na família de Deus, onde todos são filhos dum mesmo Pai e, porque enxertados em Cristo, filhos no Filho, não há «vidas descartáveis». Todos gozam de igual e inviolável dignidade; todos são amados por Deus, todos foram resgatados pelo sangue de Cristo, que morreu na cruz e ressuscitou por cada um. Esta é a razão pela qual não se pode ficar indiferente perante a sorte dos irmãos.

A fraternidade, fundamento e caminho para a paz
4. Suposto isto, é fácil compreender que a fraternidade é fundamento e caminho para a paz. As Encíclicas sociais dos meus Predecessores oferecem uma ajuda valiosa neste sentido. Basta ver as definições de paz da Populorum progressio, de Paulo VI, ou da Sollicitudo rei socialis, de João Paulo II. Da primeira, apreendemos que o desenvolvimento integral dos povos é o novo nome da paz[3] e, da segunda, que a paz é opus solidaritatis, fruto da solidariedade.[4]

Paulo VI afirma que tanto as pessoas como as nações se devem encontrar num espírito de fraternidade. E explica: «Nesta compreensão e amizade mútuas, nesta comunhão sagrada, devemos (...) trabalhar juntos para construir o futuro comum da humanidade».[5] Este dever recai primariamente sobre os mais favorecidos. As suas obrigações radicam-se na fraternidade humana e sobrenatural, apresentando-se sob um tríplice aspecto: o dever de solidariedade, que exige que as nações ricas ajudem as menos avançadas; o dever de justiça social, que requer a reformulação em termos mais correctos das relações defeituosas entre povos fortes e povos fracos; o dever de caridade universal, que implica a promoção de um mundo mais humano para todos, um mundo onde todos tenham qualquer coisa a dar e a receber, sem que o progresso de uns seja obstáculo ao desenvolvimento dos outros.[6]

Ora, da mesma forma que se considera a paz como opus solidarietatis, é impossível não pensar que o seu fundamento principal seja a fraternidade. A paz, afirma João Paulo II, é um bem indivisível: ou é bem de todos, ou não o é de ninguém. Na realidade, a paz só pode ser conquistada e usufruída como melhor qualidade de vida e como desenvolvimento mais humano e sustentável, se estiver viva, em todos, «a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum».[7] Isto implica não deixar-se guiar pela «avidez do lucro» e pela «sede do poder». É preciso estar pronto a «“perder-se” em benefício do próximo em vez de o explorar, e a “servi-lo” em vez de o oprimir para proveito próprio (...). O “outro” – pessoa, povo ou nação – [não deve ser visto] como um instrumento qualquer, de que se explora, a baixo preço, a capacidade de trabalhar e a resistência física, para o abandonar quando já não serve; mas sim como um nosso “semelhante”, um “auxílio”».[8]
 
A solidariedade cristã pressupõe que o próximo seja amado não só como «um ser humano com os seus direitos e a sua igualdade fundamental em relação a todos os demais, mas [como] a imagem viva de Deus Pai, resgatada pelo sangue de Jesus Cristo e tornada objecto da acção permanente do Espírito Santo»,[9] como um irmão. «Então a consciência da paternidade comum de Deus, da fraternidade de todos os homens em Cristo, “filhos no Filho”, e da presença e da acção vivificante do Espírito Santo conferirá – lembra João Paulo II – ao nosso olhar sobre o mundo como que um novo critério para o interpretar»,[10] para o transformar.

A fraternidade, premissa para vencer a pobreza
5. Na Caritas in veritate, o meu Predecessor lembrava ao mundo que uma causa importante da pobreza é a falta de fraternidade entre os povos e entre os homens.[11] Em muitas sociedades, sentimos uma profunda pobreza relacional, devido à carência de sólidas relações familiares e comunitárias; assistimos, preocupados, ao crescimento de diferentes tipos de carências, marginalização, solidão e de várias formas de dependência patológica. Uma tal pobreza só pode ser superada através da redescoberta e valorização de relações fraternas no seio das famílias e das comunidades, através da partilha das alegrias e tristezas, das dificuldades e sucessos presentes na vida das pessoas.

Além disso, se por um lado se verifica uma redução da pobreza absoluta, por outro não podemos deixar de reconhecer um grave aumento da pobreza relativa, isto é, de desigualdades entre pessoas e grupos que convivem numa região específica ou num determinado contexto histórico-cultural. Neste sentido, servem políticas eficazes que promovam o princípio da fraternidade, garantindo às pessoas – iguais na sua dignidade e nos seus direitos fundamentais – acesso aos «capitais», aos serviços, aos recursos educativos, sanitários e tecnológicos, para que cada uma delas tenha oportunidade de exprimir e realizar o seu projecto de vida e possa desenvolver-se plenamente como pessoa.

Reconhece-se haver necessidade também de políticas que sirvam para atenuar a excessiva desigualdade de rendimento. Não devemos esquecer o ensinamento da Igreja sobre a chamada hipoteca social, segundo a qual, se é lícito – como diz São Tomás de Aquino – e mesmo necessário que «o homem tenha a propriedade dos bens»,[12] quanto ao uso, porém, «não deve considerar as coisas exteriores que legitimamente possui só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam beneficiar não só a si mas também aos outros».[13]

Por último, há uma forma de promover a fraternidade – e, assim, vencer a pobreza – que deve estar na base de todas as outras. É o desapego vivido por quem escolhe estilos de vida sóbrios e essenciais, por quem, partilhando as suas riquezas, consegue assim experimentar a comunhão fraterna com os outros. Isto é fundamental, para seguir Jesus Cristo e ser verdadeiramente cristão. É o caso não só das pessoas consagradas que professam voto de pobreza, mas também de muitas famílias e tantos cidadãos responsáveis que acreditam firmemente que a relação fraterna com o próximo constitua o bem mais precioso.

A redescoberta da fraternidade na economia
6. As graves crises financeiras e económicas dos nossos dias – que têm a sua origem no progressivo afastamento do homem de Deus e do próximo, com a ambição desmedida de bens materiais, por um lado, e o empobrecimento das relações interpessoais e comunitárias, por outro – impeliram muitas pessoas a buscar o bem-estar, a felicidade e a segurança no consumo e no lucro fora de toda a lógica duma economia saudável. Já, em 1979, o Papa João Paulo II alertava para a existência de «um real e perceptível perigo de que, enquanto progride enormemente o domínio do homem sobre o mundo das coisas, ele perca os fios essenciais deste seu domínio e, de diversas maneiras, submeta a elas a sua humanidade, e ele próprio se torne objecto de multiforme manipulação, se bem que muitas vezes não directamente perceptível; manipulação através de toda a organização da vida comunitária, mediante o sistema de produção e por meio de pressões dos meios de comunicação social».[14]

As sucessivas crises económicas devem levar a repensar adequadamente os modelos de desenvolvimento económico e a mudar os estilos de vida. A crise actual, com pesadas consequências na vida das pessoas, pode ser também uma ocasião propícia para recuperar as virtudes da prudência, temperança, justiça e fortaleza. Elas podem ajudar-nos a superar os momentos difíceis e a redescobrir os laços fraternos que nos unem uns aos outros, com a confiança profunda de que o homem tem necessidade e é capaz de algo mais do que a maximização do próprio lucro individual. As referidas virtudes são necessárias sobretudo para construir e manter uma sociedade à medida da dignidade humana.

A fraternidade extingue a guerra
7. Ao longo do ano que termina, muitos irmãos e irmãs nossos continuaram a viver a experiência dilacerante da guerra, que constitui uma grave e profunda ferida infligida à fraternidade.

Há muitos conflitos que se consumam na indiferença geral. A todos aqueles que vivem em terras onde as armas impõem terror e destruição, asseguro a minha solidariedade pessoal e a de toda a Igreja. Esta última tem por missão levar o amor de Cristo também às vítimas indefesas das guerras esquecidas, através da oração pela paz, do serviço aos feridos, aos famintos, aos refugiados, aos deslocados e a quantos vivem no terror. De igual modo a Igreja levanta a sua voz para fazer chegar aos responsáveis o grito de dor desta humanidade atribulada e fazer cessar, juntamente com as hostilidades, todo o abuso e violação dos direitos fundamentais do homem.[15]

Por este motivo, desejo dirigir um forte apelo a quantos semeiam violência e morte, com as armas: naquele que hoje considerais apenas um inimigo a abater, redescobri o vosso irmão e detende a vossa mão! Renunciai à via das armas e ide ao encontro do outro com o diálogo, o perdão e a reconciliação para reconstruir a justiça, a confiança e esperança ao vosso redor! «Nesta óptica, torna-se claro que, na vida dos povos, os conflitos armados constituem sempre a deliberada negação de qualquer concórdia internacional possível, originando divisões profundas e dilacerantes feridas que necessitam de muitos anos para se curarem. As guerras constituem a rejeição prática de se comprometer para alcançar aquelas grandes metas económicas e sociais que a comunidade internacional estabeleceu».[16]

Mas, enquanto houver em circulação uma quantidade tão grande como a actual de armamentos, poder-se-á sempre encontrar novos pretextos para iniciar as hostilidades. Por isso, faço meu o apelo lançado pelos meus Predecessores a favor da não-proliferação das armas e do desarmamento por parte de todos, a começar pelo desarmamento nuclear e químico.

Não podemos, porém, deixar de constatar que os acordos internacionais e as leis nacionais, embora sendo necessários e altamente desejáveis, por si sós não bastam para preservar a humanidade do risco de conflitos armados. É precisa uma conversão do coração que permita a cada um reconhecer no outro um irmão do qual cuidar e com o qual trabalhar para, juntos, construírem uma vida em plenitude para todos. Este é o espírito que anima muitas das iniciativas da sociedade civil, incluindo as organizações religiosas, a favor da paz. Espero que o compromisso diário de todos continue a dar fruto e que se possa chegar também à efectiva aplicação, no direito internacional, do direito à paz como direito humano fundamental, pressuposto necessário para o exercício de todos os outros direitos.

A corrupção e o crime organizado contrastam a fraternidade
8. O horizonte da fraternidade apela ao crescimento em plenitude de todo o homem e mulher. As justas ambições duma pessoa, sobretudo se jovem, não devem ser frustradas nem lesadas; não se lhe deve roubar a esperança de podê-las realizar. A ambição, porém, não deve ser confundida com prevaricação; pelo contrário, é necessário competir na mútua estima (cf. Rm 12, 10). Mesmo nas disputas, que constituem um aspecto inevitável da vida, é preciso recordar-se sempre de que somos irmãos; por isso, é necessário educar e educar-se para não considerar o próximo como um inimigo nem um adversário a eliminar.
A fraternidade gera paz social, porque cria um equilíbrio entre liberdade e justiça, entre responsabilidade pessoal e solidariedade, entre bem dos indivíduos e bem comum. Uma comunidade política deve, portanto, agir de forma transparente e responsável para favorecer tudo isto. Os cidadãos devem sentir-se representados pelos poderes públicos, no respeito da sua liberdade. Em vez disso, muitas vezes, entre cidadão e instituições, interpõem-se interesses partidários que deformam essa relação, favorecendo a criação dum clima perene de conflito.

Um autêntico espírito de fraternidade vence o egoísmo individual, que contrasta a possibilidade das pessoas viverem em liberdade e harmonia entre si. Tal egoísmo desenvolve-se, socialmente, quer nas muitas formas de corrupção que hoje se difunde de maneira capilar, quer na formação de organizações criminosas – desde os pequenos grupos até àqueles organizados à escala global – que, minando profundamente a legalidade e a justiça, ferem no coração a dignidade da pessoa. Estas organizações ofendem gravemente a Deus, prejudicam os irmãos e lesam a criação, revestindo-se duma gravidade ainda maior se têm conotações religiosas.

Penso no drama dilacerante da droga com a qual se lucra desafiando leis morais e civis, na devastação dos recursos naturais e na poluição em curso, na tragédia da exploração do trabalho; penso nos tráficos ilícitos de dinheiro como também na especulação financeira que, muitas vezes, assume caracteres predadores e nocivos para inteiros sistemas económicos e sociais, lançando na pobreza milhões de homens e mulheres; penso na prostituição que diariamente ceifa vítimas inocentes, sobretudo entre os mais jovens, roubando-lhes o futuro; penso no abomínio do tráfico de seres humanos, nos crimes e abusos contra menores, na escravidão que ainda espalha o seu horror em muitas partes do mundo, na tragédia frequentemente ignorada dos emigrantes sobre quem se especula indignamente na ilegalidade. A este respeito escreveu João XXIII: «Uma convivência baseada unicamente em relações de força nada tem de humano: nela vêem as pessoas coarctada a própria liberdade, quando, pelo contrário, deveriam ser postas em condição tal que se sentissem estimuladas a procurar o próprio desenvolvimento e aperfeiçoamento».[17] Mas o homem pode converter-se, e não se deve jamais desesperar da possibilidade de mudar de vida. Gostaria que isto fosse uma mensagem de confiança para todos, mesmo para aqueles que cometeram crimes hediondos, porque Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (cf. Ez 18, 23).

No contexto alargado da sociabilidade humana, considerando o delito e a pena, penso também nas condições desumanas de muitos estabelecimentos prisionais, onde frequentemente o preso acaba reduzido a um estado sub-humano, violado na sua dignidade de homem e sufocado também em toda a vontade e expressão de resgate. A Igreja faz muito em todas estas áreas, a maior parte das vezes sem rumor. Exorto e encorajo a fazer ainda mais, na esperança de que tais acções desencadeadas por tantos homens e mulheres corajosos possam cada vez mais ser sustentadas, leal e honestamente, também pelos poderes civis.

A fraternidade ajuda a guardar e cultivar a natureza
9. A família humana recebeu, do Criador, um dom em comum: a natureza. A visão cristã da criação apresenta um juízo positivo sobre a licitude das intervenções na natureza para dela tirar benefício, contanto que se actue responsavelmente, isto é, reconhecendo aquela «gramática» que está inscrita nela e utilizando, com sabedoria, os recursos para proveito de todos, respeitando a beleza, a finalidade e a utilidade dos diferentes seres vivos e a sua função no ecossistema. Em suma, a natureza está à nossa disposição, mas somos chamados a administrá-la responsavelmente. Em vez disso, muitas vezes deixamo-nos guiar pela ganância, pela soberba de dominar, possuir, manipular, desfrutar; não guardamos a natureza, não a respeitamos, nem a consideramos como um dom gratuito de que devemos cuidar e colocar ao serviço dos irmãos, incluindo as gerações futuras.

De modo particular o sector produtivo primário, o sector agrícola, tem a vocação vital de cultivar e guardar os recursos naturais para alimentar a humanidade. A propósito, a persistente vergonha da fome no mundo leva-me a partilhar convosco esta pergunta: De que modo usamos os recursos da terra? As sociedades actuais devem reflectir sobre a hierarquia das prioridades no destino da produção. De facto, é um dever impelente que se utilizem de tal modo os recursos da terra, que todos se vejam livres da fome. As iniciativas e as soluções possíveis são muitas, e não se limitam ao aumento da produção. É mais que sabido que a produção actual é suficiente, e todavia há milhões de pessoas que sofrem e morrem de fome, o que constitui um verdadeiro escândalo. Por isso, é necessário encontrar o modo para que todos possam beneficiar dos frutos da terra, não só para evitar que se alargue o fosso entre aqueles que têm mais e os que devem contentar-se com as migalhas, mas também e sobretudo por uma exigência de justiça e equidade e de respeito por cada ser humano. Neste sentido, gostaria de lembrar a todos o necessário destino universal dos bens, que é um dos princípios fulcrais da doutrina social da Igreja. O respeito deste princípio é a condição essencial para permitir um acesso real e equitativo aos bens essenciais e primários de que todo o homem precisa e tem direito.

Conclusão
10. Há necessidade que a fraternidade seja descoberta, amada, experimentada, anunciada e testemunhada; mas só o amor dado por Deus é que nos permite acolher e viver plenamente a fraternidade.

O necessário realismo da política e da economia não pode reduzir-se a um tecnicismo sem ideal, que ignora a dimensão transcendente do homem. Quando falta esta abertura a Deus, toda a actividade humana se torna mais pobre, e as pessoas são reduzidas a objecto passível de exploração. Somente se a política e a economia aceitarem mover-se no amplo espaço assegurado por esta abertura Àquele que ama todo o homem e mulher, é que conseguirão estruturar-se com base num verdadeiro espírito de caridade fraterna e poderão ser instrumento eficaz de desenvolvimento humano integral e de paz.

Nós, cristãos, acreditamos que, na Igreja, somos membros uns dos outros e todos mutuamente necessários, porque a cada um de nós foi dada uma graça, segundo a medida do dom de Cristo, para utilidade comum (cf. Ef 4, 7.25; 1 Cor 12, 7). Cristo veio ao mundo para nos trazer a graça divina, isto é, a possibilidade de participar na sua vida. Isto implica tecer um relacionamento fraterno, caracterizado pela reciprocidade, o perdão, o dom total de si mesmo, segundo a grandeza e a profundidade do amor de Deus, oferecido à humanidade por Aquele que, crucificado e ressuscitado, atrai todos a Si: «Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 34-35). Esta é a boa nova que requer, de cada um, um passo mais, um exercício perene de empatia, de escuta do sofrimento e da esperança do outro, mesmo do que está mais distante de mim, encaminhando-se pela estrada exigente daquele amor que sabe doar-se e gastar-se gratuitamente pelo bem de cada irmão e irmã.

Cristo abraça todo o ser humano e deseja que ninguém se perca. «Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele» (Jo 3, 17). Fá-lo sem oprimir, sem forçar ninguém a abrir-Lhe as portas do coração e da mente. «O que for maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar, como aquele que serve – diz Jesus Cristo –. Eu estou no meio de vós como aquele que serve» (Lc 22, 26-27). Deste modo, cada actividade deve ser caracterizada por uma atitude de serviço às pessoas, incluindo as mais distantes e desconhecidas. O serviço é a alma da fraternidade que edifica a paz.

Que Maria, a Mãe de Jesus, nos ajude a compreender e a viver todos os dias a fraternidade que jorra do coração do seu Filho, para levar a paz a todo o homem que vive nesta nossa amada terra.

Vaticano, 8 de Dezembro de 2013.

Franciscus

(Fonte)



[1]Cf. Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 19: AAS 101 (2009), 654-655.
[2]Cf. Francisco, Carta enc. Lumen fidei (29 de Junho de 2013), 54: AAS 105 (2013), 591-592.
[3]Cf. Paulo VI, Carta enc. Populorum progressio (26 de Março de 1967), 87: AAS 59 (1967), 299.
[4]Cf. João Paulo II, Carta enc. Sollicitudo rei socialis (30 de Dezembro de 1987), 39: AAS 80 (1988), 566-568.
[5]Carta enc. Populorum progressio (26 de Março de 1967), 43: AAS 59 (1967), 278-279.
[6]Cf. ibid., 44: o. c., 279.
[7]Carta enc. Sollicitudo rei socialis (30 de Dezembro de 1987), 38: AAS 80 (1988), 566.
[8] Ibid., 38-39: o. c., 566-567.
[9] Ibid., 40: o. c., 569.
[10] Ibid., 40: o. c., 569.
[11]Cf. Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 19: AAS 101 (2009), 654-655.
[12] Summa theologiae, II-II, q. 66, a. 2.
[13] Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 69; cf. Leão XIII, Carta enc. Rerum novarum (15 de Maio de 1891), 19: ASS 23 (1890-1891), 651; João Paulo II, Carta enc. Sollicitudo rei socialis (30 de Dezembro de 1987), 42: AAS 80 (1988), 573-574; Pont. Conselho «Justiça e Paz», Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 178.
[14] Carta enc. Redemptor hominis (4 de Março de 1979), 16: AAS 61 (1979), 290.
[15]Cf. Pont. Conselho «Justiça e Paz», Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 159.
[16] Francisco, Carta ao Presidente Vladimir Putin (4 de Setembro de 2013): L’Osservatore Romano (ed. portuguesa de 8/IX/2013), 5.
[17] Carta enc. Pacem in terris (11 de Abril de 1963), 17: AAS 55 (1963), 265.

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Papa responde a carta enviada por grupo de gays católicos e os abençoa


Não, o título acima não é uma pegadinha, paródia ou fantasia. Aconteceu este ano e foi notícia em outubro. Deixamos este como nosso último post neste ano de 2013 como nossa retrospectiva particular: de tudo o que aconteceu neste ano em relação aos LGBTs em geral e aos cristão em especial, se fôssemos escolher uma notícia-síntese, seria esta. Ao mesmo tempo, deixamos este como nosso último post deste ano de 2013 como um testemunho-síntese das nossas esperanças para 2014: que, neste ano de Sínodo sobre as Famílias (saiba mais aqui. Não assinou a petição online ainda? Assine aqui!), a consulta pública solicitada pelo Vaticano sirva de inspiração para o diálogo e para uma maior participação e envolvimento de todos os batizados nos rumos não só da nossa Igreja, mas do mundo. Como nos convida insistentemente o Papa Francisco, que cada vez mais nossos ouvidos se abram e nossos corações e mãos se disponibilizem para atender ao chamado do Evangelho para o serviço ao próximo e para a construção de um mundo e que sejamos todos irmãos.

A imprensa italiana informou em 8/10/2013 que o Papa Francisco respondeu a uma carta enviada por um grupo de homossexuais que pedia abertura e diálogo por parta da Igreja Católica. Segundo o jornal La Repubblica, o Pontífice definiu a carta como um gesto de "espontânea confiança", mas o Vaticano não divulgou a troca de correspondências, que chegou até os jornais por meio do italiano Innocenzo Pontillo, um dos responsáveis pela iniciativa.

A carta foi enviada ao Papa em junho. O documento lamentava a maneira como a Igreja "alimenta sempre a homofobia" e pedia que o Vaticano começasse a tratar os gays como pessoas, e não como uma "categoria". Pontillo destacou que, em sua resposta, o Papa enviou sua "benção" e demonstrou "apreciar muito o que foi escrito".

"Nenhum de nós poderia imaginar que ele faria uma coisa do tipo", contou o italiano, surpreendido. Desde quando foi eleito, em março, Francisco fez declarações polêmicas sobre os homossexuais, reprimindo, às vezes, as concepções da própria Igreja Católica.

Em julho, o Papa declarou que não se deve "julgar" ninguém por ser gay. "Se uma pessoa é gay e procura Jesus, e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la? O catecismo diz que não se deve marginalizar essas pessoas, devem ser integradas à sociedade. Devemos ser irmãos. O problema é fazer lobby, de pessoas gananciosas, lobby de políticos, de maçons, tantos lobbies. Esse é o pior problema", afirmou.

No mês passado, em uma entrevista exclusiva a um jornal italiano, Francisco também disse que a Igreja era "obcecada por aborto e gays".

Fonte: Jornal do Brasil

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

O Núncio Apostólico em Uganda contra a nova lei anti-gay


Enquanto isso, em Uganda, o núncio apostólico posicionou-se firmemente contra a aprovação do projeto de lei que criminaliza a homossexualidade naquele país e que vem mobilizando a comunidade internacional (assine a petição online aqui). É a Igreja se colocando claramente contra a violência que vitima os LGBTs, como já pedia o Fórum Europeu LGBT em 2011 ao Papa Bento XVI (leia aqui). Como defendemos aqui, "antes mesmo de qualquer discussão sobre a doutrina vigente da Igreja Católica a respeito da homossexualidade, uma coisa é certa: a Igreja - e, como sempre, por 'Igreja' referimo-nos não só ao Magistério, mas a todos os batizados - precisa assumir seu papel histórico de mediadora e pacificadora, que tantas vezes desempenhou com mérito, e, também na questão da homofobia, atuar como a defensora da justiça social, contrária a toda forma de violência, que é".

O Núncio Apostólico em Uganda, Arcebispo Michael Blume, expressou sua consternação com a iminente aprovação da lei que pune com prisão perpétua aqueles que mantiverem práticas homossexuais no país. O representante do Vaticano anunciou publicamente a preocupação da comunidade católica com a nova lei.

Ele cita uma carta escrita por missionários do Verbo Divino, liderados por Brian McLauchlin, que afirma: "Estamos preocupados com o elevado número de violações dos direitos humanos que irão ocorrer caso o presidente aprove esse projeto de lei. Por mais que a hierarquia católica não aprove o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo ou o estilo de vida homossexual, concordamos que todos têm o direito de ser tratado com dignidade e respeito. Prender alguém por seu estilo de vida constitui claramente um abuso de seus direitos."

McLauchlin exortou os católicos de Uganda a lançar mão de todos os recursos ao seu alcance para garantir que o projeto não se torne lei. "Pedimos que você use sua influência como núncio papal para fazer com que os bispos se pronunciem contra esse projeto de lei. Quando falar com o Papa Francisco, coloque-o a par desta situação. Tenho certeza de que ele vai defender que a dignidade e o respeito a todas as pessoas honestas são sagrados."

O núncio respondeu a McLauchlin no mesmo dia, assegurando-lhe que compartilha de suas preocupações quanto ao projeto de lei, e reiterou a oposição da Igreja Católica ao mesmo: "Tenho certeza de que haverá um grande movimento no âmbito da Conferência Episcopal e várias instituições do país contra esse projeto de lei, que será arquivado caso o presidente não o assine no prazo de trinta dias. Oremos para que o Espírito Santo lhe dê sabedoria". Já em 2009, quando se tentou aprovar o texto, que incluía a pena de morte, os bispos escreveram: "O recente projeto de lei contra a homossexualidade não pode ser aprovado a partir da cosmovisão cristã. Sua falha fundamental é atacar o pecador, não o pecado."

Fonte

Como salientamos em nossa carta aos bispos (saiba mais aqui. Não assinou a petição online ainda? Assine aqui!), está cada vez mais claro que o entendimento atual da Lei Natural como base para condenar a homoafetividade e o homoerotismo como "desordenados" carece de evidência na realidade. Mas o posicionamento claro do Magistério e da comunidade não só católica, mas cristã, contra toda e qualquer violência (e, para nós aqui, em especial contra os LGBTs) já é um passo importante.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Por um mundo de menos refugiados e mais hospitalidade


Que neste domingo de celebração da Sagrada Família possamos todos nos lembrar, inspirados pelas palavras do Papa Francisco sobre o drama dos refugiados, de tantos LGBTs no Brasil e no mundo que vivem o estigma da exclusão e sofrem com a violência e o exílio de suas famílias e da sociedade como um todo, que com tanta frequência nega a legitimidade das nossas famílias, as de origem e as que construímos.

Sigamos construindo um mundo de menos julgamento e mais hospitalidade, em que sejamos cada vez mais capazes de enxergar, para além dos estereótipos e preconceitos, a verdadeira e humana face de cada irmão.

O papa lamentou este domingo, durante a oração do 'Angelus', em Roma, "o drama dos migrantes e dos refugiados", forçados ao exílio como a Sagrada Família em fuga para o Egito, celebração que os católicos assinalam hoje.

Citando o Evangelho, Francisco lembrou à multidão na Praça de São Pedro que "José, Maria e Jesus experimentaram a situação dramática dos refugiados, uma impressão de medo, de incerteza e de privações".

"Infelizmente, hoje, milhões de famílias podem rever-se nesta triste realidade", disse o papa, lamentando que estes refugiados não tenham "sempre direito a uma casa, respeito e reconhecimento dos seus valores", a que têm direito.

Jesus queria pertencer a uma família humana, que venceu essas dificuldades, acrescentou.

Antes de propor à multidão que ouvisse a sua oração dedicada à Sagrada Família, que é celebrada tradicionalmente no último domingo de dezembro - o primeiro depois do Natal -, o papa encorajou "as famílias a perceberem a sua importância na Igreja e na sociedade".

Neste texto, escrito pelo próprio papa, Francisco desejou que o próximo Sínodo dos Bispos, que se realizará em outubro de 2014, "possa despertar em todos a consciência do caráter sagrado e inviolável da família".

(...) "Muitas vezes eu acho que, para saber como está uma família, é suficiente ver como trata as crianças e os idosos", acrescentou Francisco.

O 'Angelus' foi transmitido ao vivo para missas celebradas em várias cidades do mundo, como Nazaré, Madrid, Barcelona e Loreto.

Desviando-se do seu texto oficial, Francisco também lembrou as "três palavras" que ajudam as famílias a viver na "alegria e na paz" - "por favor, obrigado e perdão" -, palavras que fez repetir à multidão.

Fonte: Jornal de Notícias (Portugal)

E que as palavras de Francisco em sua oração à Sagrada Família nos acompanhem...

Jesus, Maria e José,
em Vós, contemplamos
o esplendor do verdadeiro amor,
a Vós, com confiança, nos dirigimos.

Sagrada Família de Nazaré,
tornai também as nossas famílias
lugares de comunhão e cenáculos de oração,
escolas autênticas do Evangelho
e pequenas Igrejas domésticas.

Sagrada Família de Nazaré,
que nunca mais se faça, nas famílias, experiência
de violência, egoísmo e divisão:
quem ficou ferido ou escandalizado
depressa conheça consolação e cura.


Sagrada Família de Nazaré,
que o próximo Sínodo dos Bispos
possa despertar, em todos, a consciência
do carácter sagrado e inviolável da família,
a sua beleza no projecto de Deus.

Jesus, Maria e José,
escutai, atendei a nossa súplica.

Com as bênçãos da Sagrada Família


Neste domingo em que celebramos a festa da Sagrada Família, reproduzimos aqui a bela reflexão de nosso amigo Teleny, em seu blog Retorno (G-A-Y), sobre a sacralidade de TODAS as famílias. Aqui, lembramos as palavras dos nossos amigos da Pastoral da Diversidade (SP) na carta que enviamos aos Bispos da Igreja Católica (saiba mais aqui, e assine a petição on-line aqui): "todos nós, como pessoas LGBT, filhas e filhos de Deus, nascemos no seio de famílias, das mais diversificadas, e todos nós buscamos viver em família, seja ela eletiva ou biológica. Como Católicos, sabemos que Nosso Senhor Jesus Cristo sempre promoveu e promove mais a família eletiva que a biológica. Ou seja, consideramos que o discurso Católico sobre a família nos toca profundamente, sobretudo porque estas palavras de Jesus nos ressoam: 'A minha mãe e os meus irmãos são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática' (Lucas 8, 21). Temos as mais variadas experiências de vida familiar: para alguns de nós, o fato de sermos LGBT foi aceito com tranquilidade pelos nossos irmãos, pais, primos e outros. Para outros, o fato provocou – e continua provocando – muito sofrimento, seja em nossos parentes mais próximos, seja em nós mesmos. Em suma, queremos dizer que os dramas da vivência da fé em família não nos são alheios. Por isto, não podemos deixar de notar que, até agora, o discurso eclesiástico sobre a família nos trata como se fôssemos os inimigos da família, hostis de alguma forma à sobrevivência da mesma. Porém, nenhuma dinâmica familiar pode ser considerada saudável se alguém nela é tratado como ovelha negra (ou rosa). E isto nos leva a pedir que os Senhores não insistam em 'defender' a família contrapondo-a aos direitos e à estabilidade psíquica e espiritual das pessoas LGBT. Estas 'defesas' soam como forma de se imiscuir de maneira pouco evangélica em vivências familiares complexas em que todos sairiam ganhando se o assunto fosse tratado com honestidade, escuta, paciência e carinho."

Que a Sagrada Família nos inspire, a todos, um olhar mais amoroso e compassivo diante da história de cada um, de cada família, e nos ajude a enxergar, apesar das eventuais dificuldades e obstáculos, o amor do Pai que se expressa em toda a sua obra e se derrama sobre a vida de cada Filho/a/x por ele criado/a/x.

Segue o texto do amigo Teleny.


O domingo dentro da Oitava do Natal (e quando não há um domingo nesse período, é no dia 30 de dezembro), a Igreja celebra a festa da Sagrada Família. Os pregadores, em sua grande maioria, dedicam seus discursos à família contemporânea e destacam "as ameaças" sofridas por essa instituição que em si - sem dúvida - é um belíssimo projeto de Deus. Um dos equívocos mais frequentes é - digamos - a invertida direção do pensamento, ou seja: partindo do modelo (de família) considerado hoje "moralmente correto", tentam esticar a interpretação do mistério da criação, mencionando de passagem a Sagrada Família de Jesus Maria e José. É muito fácil deixar-se levar pelo tal discurso, porque os pregadores - além de tocarem no assunto que "mexe com qualquer um", misturam as afirmações certas com erradas e montam uma imagem que parece ser absolutamente perfeita. E de fato a visão é admirável... Mais ou menos como a de uma árvore de Natal. Ela nos comove e fascina, a ponto de esquecermos de que tanto a própria árvore, quanto o seu brilho, é tudo artificial. Estamos assim, igualmente, colocados diante de uma imagem artificial da família.

Vamos aos detalhes. O ponto de partida (do discurso) é uma família "perfeita" (dentro dos padrões ideológicos de hoje), isto é, formada pelo casal heterossexual, seus (não poucos) filhos e, talvez, os avós e alguns demais personagens. O casal, obrigatoriamente unido através do Sacramento do Matrimônio, permanece em maior fidelidade conjugal, aplica apenas os métodos naturais durante cada ato sexual e, quando chegar a hora, educa rigorosamente os filhos, inclusive sobre a "autêntica" sexualidade humana.

Esse ponto de partida para uma viagem bíblico-histórica ignora o fato de que ainda algumas décadas atrás, sob a bênção apostólica da Igreja, os pais escolhiam os maridos para suas filhas e os homens tratavam as suas mulheres como escravas (aliás, a própria escravidão, em seu sentido cruelmente literal, também possuía a mesma bênção). As pregações frisam a lei natural, da qual a única exceção é algum fato sobrenatural, bem como no caso de Maria Santíssima que ficou grávida antes de se casar com o seu castíssimo esposo, São José. O mesmo caso sobrenatural justifica a total ausência de procriação na Sagrada Família. Ainda assim, é exatamente essa Família de Nazaré (e de Belém) que está sendo apresentada como modelo de todas as famílias. Ou seja, as famílias que começam a sua existência no momento das núpcias e somente assim autorizadas por Deus para iniciarem a sua colaboração com Ele na geração de novas vidas, têm o seu modelo no (Santo) casal que teve a história particularmente diferente...

Talvez os próprios pregadores tenham percebido os pontos fracos dessa argumentação e por isso recorrem imediatamente ao fundamento de todas as coisas, isto e, à criação do ser humano, ou melhor, à formação do primeiro casal e à ordem de "povoarem a terra" através da procriação (literalmente, a "multiplicação"). Aí começa a "matança dos coelhos". E não são apenas dois com uma só cajadada. Na verdade, são muitos. O texto bíblico sobre Adão e Eva serve tanto para condenar o divórcio, quanto a monogamia e, principalmente "o homossexualismo" (sic!). Afinal, como diz a "sabedoria" popular, Deus criou Adão e Eva e não Adão e Ivo (sic! sic!)... Enfim, o discurso termina com a conclusão de que a ordem da criação, ferida pelo pecado, foi restaurada pelo fato do nascimento do Filho de Deus no seio de uma família...

Espero que, ao menos alguns pregadores, tenham o tempo de mencionar que Deus é amor e que - principalmente neste sentido - todos fomos criados à sua imagem e semelhança.

Quanto à criação, eu particularmente, vejo ali um princípio diferente que não tem nada a ver com a heterossexualidade. Basta ler o texto com atenção e sem "esticá-lo" ao tamanho do próprio preconceito. Vale lembrar de que não estamos diante de uma reportagem, mas recebemos de Deus, em forma alegórica (ou poética) a revelação sobre o mistério da nossa existência. Refiro-me, neste caso, ao texto do Livro do Gênesis, capítulo 2, versículos de 18 a 24, tendo como o "texto auxiliar" o Gn 1, 24-31, ou melhor, os dois primeiros capítulos inteiros.

Em primeiro lugar, Deus revela que criou o ser humano à sua imagem e semelhança (Gn 1, 26-27). Em seguida (eu diria, em consequência disso), Ele mesmo afirma que "não é bom que o homem esteja só" e logo encontra a solução: "vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada" (Gn 2, 18). Os detalhes a seguir considero muito importantes para ter uma conclusão correta e não criar as ideologias baseadas em qualquer tipo de fobias...

Acho belíssima a cena em que Deus leva ao homem todos os animais e este lhes dá o nome. De um lado parece ser um tribunal no qual o homem é o juiz, mas ao mesmo tempo, sem perceber, o próprio homem está sendo avaliado por Deus. Desde o início o ser humano é convidado para ser um parceiro ou colaborador de Deus. Desde então, o homem tem a prerrogativa de dar o nome a todas as coisas. Isso é magnífico. Pelo menos no início (sabemos quanto mal pode fazer o ato de atribuir o nome, ou o rótulo, às coisas e às pessoas!).

O próximo passo do Criador é misterioso. “Então o Senhor Deus mandou ao homem um profundo sono; e enquanto ele dormia, tomou-lhe uma costela e fechou com carne o seu lugar. E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem” (Gn 2, 21-22). A reação do homem, desta vez, é diferente: “Eis agora aqui, disse o homem, o osso de meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher, porque foi tomada do homem.” (Gn 2, 23), o que o autor bíblico conclui com a frase, citada inclusive por Jesus no Evangelho: "Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne." (Gn 2, 24). Tudo parece óbvio. É o homem e a mulher. O que vem além disso, não pode ser de Deus... Será?

O contexto de toda aquela situação sugere que o homem se reconhece como tal e percebe a diferença entre a sua natureza e a dos animais. Ele é superior, é a questão de níveis diferentes. É nítido aqui o princípio do personalismo e não da heterossexualidade. Se Deus decidisse tomar a costela do homem para formar um outro homem, a resposta de Adão seria a mesma: “Eis agora aqui o osso de meus ossos e a carne de minha carne". Digo mais: essa resposta seria ainda mais rápida e com firmeza ainda maior. É como se Adão dissesse: "A minha solidão só pode ser preenchida por um outro ser humano, mas qualquer animal, por mais simpático que seja e me faça companhia, não é capaz de me complementar por inteiro". O sentido da criação de seres humanos com sexos diferentes está, evidentemente, em uma das principais tarefas confiadas a eles pelo Criador, isto e, de povoar a terra (cf. Gn 1, 28). Porém, essa não é a única maneira de dar o sentido a existência do ser humano. Se fosse a única, as pessoas não fariam mais nada, além de procriar. Aliás, não existiria, também, o celibato...

Terminando a minha reflexão neste dia da Sagrada Família, quero repetir mais uma vez: nós, os homossexuais, somos imensamente gratos às nossas famílias (e à instituição familiar como tal). Afinal, sem a família (por mais imperfeita que tenha sido) nenhum de nós existiria. Outra coisa importante: pelo fato de não procriarmos em nossos relacionamentos homossexuais, não pretendemos destruir a família, enquanto a célula fundamental da sociedade e da Igreja. Muito pelo contrário. Desejamos acrescentar a nossa própria experiência de amor e com ela enriquecer a convivência pacífica e fraterna de toda sociedade e da Igreja. Além disso, o glorioso exemplo da Sagrada Família de Jesus, Maria e José, ensina-nos e inspira para não desanimarmos diante das incompreensões, ameaças e perigos que o mundo atual, cheio de fobias e fundamentalismos, nos oferece...

- Teleny
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