domingo, 14 de setembro de 2014

Ato contra a LGBTfobia e pela criminalização da homofobia, hoje na praia de Copacabana (RJ) e em vários lugares do Brasil


Na noite de terça para quarta passadas, na localidade de Inhumas, próxima a Goiânia, o jovem João Antonio Donati, de 18 anos, foi morto. João, descrito pelos que o conheciam como um jovem alegre e trabalhador, era declaradamente gay. Segundo as primeiras notícias, foi encontrado com as duas pernas quebradas, e talvez o pescoço, e com a boca cheia de papeis - um deles com a frase "vamos acabar com essa praga".

Imediatamente denunciado como crime de ódio homofóbico, o caso alcançou repercussão suficiente para merecer uma nota de repúdio inclusive da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

A resposta da polícia foi, em menos de 24 horas, identificar e prender um "suspeito", que imediatamente confessou o crime. Na ocasião em que foi apresentado, os investigadores, que até menos de 24 horas antes trabalhavam com a possibilidade de crime homofóbico e não tinham nenhuma pista do(s) criminoso(s), "revelaram" que um documento de identidade havia sido esquecido no local do crime e levado à localização do culpado: um agricultor que teria tido relações com João, e, depois de um desentendimento e uma briga, o matou por estrangulamento. O laudo oficial do IML diz que não havia fratura.

Assim, mais uma vez vemos um LGBT barbaramente morto, com claros sinais de tortura, com evidentes indícios de crime de ódio. Mais uma vez, esses sinais e indícios são negados pela polícia, descaracterizando a motivação homofóbica do ato. Recentemente, vimos o caso do jovem Kaique dos Santos, que foi encontrado jogado de um viaduto, com os dentes quebrados e uma barra de ferro atravessada na perna, ser oficialmente definido como "suicídio". Ou Lucas Fortuna, militante gay encontrado morto com evidências de espancamento e tortura e que, segundo a delegada responsável pelo caso, morreu em uma tentativa de assalto "porque os rapazes (?!) não são homofóbicos".

Além deles, foram notificados só neste ano de 2014 mais de 200 casos de homicídio de LGBTs. Sempre com marcas de violência excessiva e desnecessária e sempre, sempre, descaracterizados como homofobia pelos investigadores.

O que os cidadãos deste país precisam compreender é que a violência que atinge um, atinge todos, em todas as etapas deste processo: desde a definição do que são o comportamento e a aparência adequados e aceitáveis e a patrulha moral até a invisibilização dos LGBTs e da violência sofrida por LGBTs e a culpabilização das vítimas ("também, quem mandou desmunhecar / se vestir desse jeito / ser abertamente gay / se expor tanto / ir transar com outro homem / etc").

O que os cidadãos deste país precisam compreender é que justificar a violência psicológica e física sofrida por LGBTs é justificar toda sorte de violência sofrida por cidadãos desse país que não se enquadrem no gestual, no timbre de voz, no jeito de se vestir, no jeito de falar, no estilo de vida, na vida afetiva e sexual que se define como padrão. É justificar que moças como Ana de Holanda, atacada no meio da rua no centro do Rio de Janeiro numa manhã de carnaval deste ano, apanhe e tenha sua calcinha arrancada porque estava andando de mãos dadas com a namorada - e sem que nenhum passante, NINGUÉM, tenha feito NADA para interferir. É justificar que meninos como Alexandre Ivo, encontrado morto aos 14 anos após horas de tortura num terreno baldio de São Gonçalo (RJ), tenham sua vida barbaramente abreviada porque alguém se incomodou com o fato de que ele parecia mais afeminado do que o aceitável. É justificar que mães, pais, irmãos, parentes e amigos das vítimas sejam condenados a carregar o fantasma da violência sofrida pela pessoa amada porque alguém julgou e condenou essa pessoa por não ser aceitável segundo os seus padrões.

É por isso que hoje, às 14 horas, estaremos em frente ao Copacabana Palace, na praia de Copacabana, protestando contra a LGBTfobia e pela criminalização da homofobia. Porque a criação de uma lei que equipare a homofobia ao crime de racismo, como crime de ódio, não vai nem fazer com que a homofobia desapareça magicamente da sociedade, nem com que a violência homofóbica deixe de acontecer. Mas vai realizar uma parte do trabalho de educar a sociedade, de esclarecer, de tirar da invisibilidade e do silêncio, de denunciar. Vai fornecer ferramentas legais para reduzir a impunidade desses criminosos. Vai começar a cumprir a obrigação de um regime democrático de proteger suas minorias. E, principalmente, vai contribuir para o fim da barbárie e da violência em que estamos todos, LGBTs, mulheres, negros, integrantes de qualquer outra minoria ou não, imersos. Porque a violência se enfrenta com leis e instituições fortes. Por isso estamos hoje na rua, para clamar por JUSTIÇA para a nossa gente. 

Além do Rio de Janeiro, hoje e nos próximos dias serão realizados atos em várias cidades do país, bem como no exterior. Irmãos, é nosso dever cristão lutar pela construção de um mundo mais justo, em que os pequeninos e desamparados não sejam vitimados pela violência. Basta de homofobia.

Quem vem com a gente?
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