sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A família, segundo Victor Hugo


“O que assistimos hoje não é uma revolução que conduziria ao desaparecimento da família, mas a uma evolução que, ao contrário, a pereniza: o desejo dos homossexuais de entrar na ordem procriativa, ou seja, na ordem familiar da qual haviam sido excluídos”. Intervenção de Elisabeth Roudinesco na Assembleia Nacional da França, a propósito do projeto de lei Casamento para todos, em debate no país.

A sociedade francesa debate no momento o projeto de lei do Executivo que autoriza o casamento entre pessoas do mesmo sexo e permite que homossexuais possam participar de programas de adoção. Em recente editorial, o jornal conservador Le Figaro afirmou que essa reforma do código civil vai transformar a estrutura familiar tal qual ela existe na França, "A noção de pai e mãe vai desaparecer do Código Civil e comprometer o futuro de milhares de crianças”, afirma o texto.

Assim como acontece no Brasil e em outras culturas, a proposta, ao colocar em jogo a noção de família, tem gerado grande ebulição – na França inclui até mesmo a realização de passeatas em Paris e em várias outras cidades, organizadas por setores conservadores.

Por compartilharmos as mesmas idéias a respeito de temas como “família” (e sua definição no plano antropológico, fundada não somente na diferença biológica de sexo, ou na presença obrigatória de um homem e de uma mulher, ou de um pai e de uma mãe) e o direito de casais homoafetivos de fundar uma família – e, portanto, se beneficiar, através do casamento, de direitos equivalentes aos de pessoas de sexos diferentes – reproduzimos abaixo o pronunciamento da historiadora da psicanálise e psicanalista Elisabeth Roudinesco na Comissão de leis sobre o casamento para todos, na Assembleia Nacional da França no dia 15 de novembro, a qual consultou os psicanalistas a propósito do projeto de lei a ser votado em 2013. Em sua intervenção, Roudinesco recorre a Victor Hugo – em Os Miseráveis – para falar aos parlamentares presentes do real significado de “parentalidade”. Texto traduzido por C. Lucia M. Valladares de Oliveira.


“Excelentíssimo Sr. presidente da Comissão de leis, Sr. Relator, senhoras e senhores parlamentares,

Gostaria de agradecer a honra que me outorgaram, convidando-me para esta sessão sobre um tema ao qual já dediquei muitos estudos enquanto historiadora sobre a família, sexualidade, psicanalise e psiquiatria. Permito-me também falar aqui como “testemunho”, posto que minha mãe, Jenny Aubry, pediatra, médica e psicanalista durante toda a sua vida tratou de crianças em sofrimento: crianças abandonadas, em orfanato, maltratadas, crianças doentes, crianças superdotadas, crianças aguardando adoção e filiação.

Sou favorável a essa lei e como muitos de meus colegas sociólogos, antropólogos e historiadores que os senhores já ouviram – penso em particular como Irene Théry – fiquei surpresa com a violência com a qual, novamente, os homossexuais foram estigmatizados em seu desejo de fundar uma família e, portanto, de beneficiar, através do casamento, de direitos equivalentes aos de pessoas de sexo diferente.

É possível compreender que os religiosos sejam contrários a esta mutação da questão do casamento, considerando que eles possuem uma visão imutável e essencialista da família, através da qual o pai permanece como o substituto de Deus e a diferença bio-anatômica dos sexos fundamenta todo o direito natural. Mas da parte de especialistas do tratamento psíquico que atendem famílias perturbadas, tal oposição me parece incompreensível, em particular quando eles se reivindicam daquilo que foi e é, na história da psicanálise, a concepção freudiana da família.

Em momento algum se encontrará na obra do fundador da psicanálise o que uma parte de seus herdeiros pretende detectar atualmente: o casamento homossexual seria o fim da família, seria uma denegação da diferença de sexos, uma desgraça para as crianças, condenadas a ter pais perversos, condenadas a ficar sem filiação, sem lei do pai separador, etc. Não somente Freud não considerava os homossexuais como seres não humanos, como, em seu tempo, manifestou claramente sua vontade de despenalizar esta forma de sexualidade. Não somente nem por um instante passou pela cabeça dele que a família pudesse se sustentar no primado da diferença biológica dos sexos – uma vez que esta é uma evidência e não uma construção – como aceitou que sua filha Anna criasse os filhos de sua companheira e considerou que se tratava ali de uma família: estas são as palavras dele. Portanto, não façamos Freud dizer o que ele nunca disse, exceto ao mergulhar em um anacronismo que todo historiador tem obrigação de criticar.

Na realidade, o que assistimos hoje não é uma revolução que conduziria ao desaparecimento da família, mas a uma evolução que, ao contrário, a pereniza: o desejo dos homossexuais de entrar na ordem procriativa, ou seja, na ordem familiar da qual haviam sido excluídos. Este desejo de normatividade que se observa há cerca de trinta anos é a consequência da despenalização da homossexualidade nas sociedades democráticas, mas também dessa hecatombe que foi a AIDS. Querer se reproduzir estando inscrito na ordem familiar é também um desejo de vida, de transmissão. E é esta aspiração à normatividade que incomoda os oponentes à lei porque no fundo, ainda que não homofóbicos, eles gostariam de manter hoje em dia a imagem do homossexual maldito encarnado por Proust ou Oscar Wilde: na visão deles o homossexual deve permanecer clinicamente perverso, ou seja, fora da ordem procriativa.

A abundância de culturas é, no entanto, suficientemente extensa para permitir uma infinita variedade de modalidades de organização familiar. De outra forma dita, deve-se admitir que, durante séculos manifestaram-se no interior de duas grandes ordens do biológico (diferença sexual) e do simbólico (proibição do incesto e outras interdições), não somente transformações próprias à instituição familiar, como também modificações do olhar dirigido para ela ao longo de gerações. Uma vez admitida esta definição, cabe retomar a questão histórica. Fundada por muitos séculos na soberania divina do pai, a família ocidental se transformou em uma família biológica a partir do início do século XIX com o advento da burguesia que atribuía à maternidade um lugar central. A nova ordem familiar pôde então controlar o perigo que representava o lugar do feminino, ao preço do questionamento do antigo poder patriarcal. Do seu declínio, do qual Freud tornou-se testemunha e principal teórico, emergiu um processo de emancipação que permitiu às mulheres afirmar sua diferença – especialmente ao separar maternidade de desejo e procriação, e ao querer ter acesso ao trabalho –, tomar as crianças como sujeitos e não como imitações de adultos e aos homossexuais de se normalizar e de não mais ser considerados perversos. Esse movimento gerou angústia e desordem específicas, ligadas ao terror da abolição da diferença de sexos, com, no final do percurso, a perspectiva de uma dissolução da família. No final do século XIX, de fato temia-se que as mulheres, ao trabalhar, se tornassem homens e que a diferença de sexos fosse abolida. E hoje em dia, tem-se medo dessa mesma abolição que, nos dizem, viria dos homossexuais que também desejam fundar famílias.

Mas o que funda a família no plano antropológico não é somente a diferença biológica de sexos – o que aliás não envolve necessariamente a existência de um pai real e de uma mãe real, mas ambos de substitutos. É antes e, sobretudo, a proibição do incesto e a necessidade de troca: faz-se necessário as famílias para que a família exista e faz-se necessário a proibição para assegurar aquilo que nos diferencia do mundo animal: a passagem da natureza à cultura. E que eu saiba nunca os homossexuais criando filhos renunciaram a essa necessidade. E foi mais sobre essa questão que sobre a da diferença biológica que Freud aderiu em sua época às transformações da família ao aproximar as neuroses burguesas das tragédias antigas, ou seja, à interrogação de cada sujeito sobre sua origem: quem eu sou, de onde venho? Tal é a questão de Édipo de Sófocles. De que sou culpado? Tal é a questão de Hamlet, os dois heróis preferidos de Freud que de forma alguma criou uma psicologia familiarista. Quanto ao casamento, instituição especificamente humana e desde então laica, ele é a tradução jurídica, legal, de certo estado da família em uma época dada. Em nada imutável e sempre evoluindo, sempre em mutação como mostram também as revisões que o Código Civil sofreu desde a sua instauração na França em 1792. Em todos os lugares, nas sociedades democráticas, a instituição do casamento está em evolução como a família...

Para concluir, gostaria de dizer que o que destrói a família não é o desejo dos homossexuais de integrar a ordem familiar. Nunca é o desejo de fundar família, mas a miséria psíquica, material, moral, esta que vemos hoje e que conduz a derivas assassinas, ao terrorismo, ao sectarismo religioso. Miséria distinta de destinos trágicos próprios às dinastias reais que se destroem de dentro.

Victor Hugo enunciou em Os Miseráveis, livro que todos deveriam ler hoje nestes tempos de crise econômica e crise moral: o pai desempregado e explorado, a mãe escravizada, a criança vagabunda. Mas, sobretudo, gostaria de assinalar que esse mesmo Hugo, que ao longo de sua existência aderiu a todas as formas de parentalidade próprias à sua época – casamento por amor, adultério, pai, patriarca, avô, pai infeliz diante da loucura de uma filha e a morte de outra, pai amante do amor – forjou, através de Jean Valjean, um personagem célebre sobre o qual deveriam refletir todos aqueles que na essência argumentam que o bem-estar da criança exige a presença absolutamente necessária de um homem e uma mulher, de um pai e de uma mãe.

Resgatado da miséria, habitado pelo desejo do mal durante os dezenove anos que passou na prisão, e depois convertido por um religioso à vontade de fazer o bem, Valjean nunca tinha conhecido, aos 55 anos de idade, a menor relação carnal ou amorosa. Virgem, ele nunca tinha amado nem pai, nem mãe, nem amante, nem mulher, nem amigo.

Quando descobre através de Fantine, ex-prostituta, a existência de Cosette – criança mártir, humilhada pelos Thénardier –, ele vai procurá-la e torna-se seu pai, sua mãe, seu educador, seu tutor, enfim, o substituto de tudo que falta à criança sem amor: um único substituto que basta para assegurar então a felicidade futura da criança mais miserável da terra. Nove meses: o tempo de uma gestação. O coração do condenado, diz Hugo, está “repleto de virgindades” e, ao ver Cosette, ele sente pela primeira vez “um êxtase amoroso que vai ao desvario”. Imediatamente sentiu as fisgadas, ou seja, as dores do parto: “Como uma mãe, e sem saber do que se trata.” Literalmente, portanto, ele dá a luz a uma criança e o amor que ele sente é materno. Por sua vez, a criança, tendo esquecido o rosto de sua mãe, só tendo conhecido socos, só tendo amado uma vez na vida, não um humano, mas um animal – um cachorro – olha para esse homem que ela vai chamar de pai sem saber quem ele é e sem nunca saber seu verdadeiro nome. Ela vai amá-lo além de qualquer conhecimento da diferença entre uma mãe e um pai, como um santo, desprovido de sexualidade.

Atualmente, diante de pedopsiquiatras “especialistas”, assombrados pelo espectro da abolição da diferença de sexos, Valjean seria sem duvida visto como um pai mau ou uma mãe má, ou pior ainda, como um pedófilo.

Então, eu diria a todos aqueles que, em nome de uma impossível normalidade, fustigam as famílias monoparentais, homoparentais, “anormais”, divorciadas, que cada criança amaria tanto ter por mãe e pai a cada vez um Jean Valjean.”

Fonte: CLAM

Ressuscitar a missa pré-Vaticano II deixa a Igreja em uma encruzilhada


O missal de 1570 (a base do missal de 1962) foi, e continua sendo, uma liturgia em que os batizados – uma vez sujeitos da liturgia e cocelebrantes do sacrifício eucarístico – foram e são reduzidos a meros espectadores. Eles estão lá para assistir o padre dizer a "sua" Missa. A ênfase é hierárquica e legalista (quem tem o poder e como exerce legalmente esse poder).

A opinião é de Ron Schmit, pároco da St. Anne Church, em Byron, Califórnia, nos Estados Unidos. O artigo foi publicado no sítio do jornal National Catholic Reporter, 08-12-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Foi a curiosidade e um senso de ironia que me levaram a abrir a edição do dia 1º de outubro do nosso jornal diocesano. Na capa, a manchete era "Seguindo em frente na fé", ao lado de uma foto do nosso ex-bispo vestido como um prelado de mais de 50 anos atrás. Essa era uma foto de uma liturgia na "forma extraordinária" (a missa em latim pré-Vaticano II de 1962), acolhendo um grupo de freiras carmelitas muito tradicionais na diocese.

Ultimamente, parece haver um crescente interesse por essa "forma extraordinária", em nosso jornal diocesano e entre alguns dos nossos clérigos. No passado, a minha atitude foi "e daí?". Se as pessoas gostam de antiquarismo, deixe-as gostar. Algumas pessoas gostam de passar fins de semana reencenando a Guerra Civil. Elas se vestem com trajes da época. Elas encenam simulações das batalhas dos soldados da União e dos confederados. É um passatempo inofensivo. Eu percebi, então, que as pessoas ligadas a essa "forma extraordinária" eram a versão litúrgica das sociedades de reencenação anacrônicas.

No entanto, eu tive que mudar a minha opinião. As pessoas ligadas à forma extraordinária não são como as sociedades de reencenação da Guerra Civil. Ao menos, estas pessoas sabem que estão brincando-atuando sobre um tempo que nunca pode voltar. As pessoas ligadas à forma extraordinária estão tentando seriamente decretar uma visão de mundo e uma compreensão particulares da Igreja. E essa é uma compreensão que deixamos para trás no Concílio Vaticano II . É uma visão de mundo que é incompatível com o Concílio.

A liturgia não tem a ver com gosto ou estética. É como a Igreja define a si mesma. Aqueles que rejeitaram o Vaticano II e a sua liturgia foram os primeiros a compreender a conexão entre a liturgia e a nossa autocompreensão como Igreja.

O Papa Paulo VI também entendeu isso. A rejeição da liturgia do Vaticano II é uma rejeição da sua eclesiologia e teologia. Em seu livro recém-publicado True Reform: Liturgy and Ecclesiology in Sacrosanctum Concilium, Massimo Faggioli narra a resposta de Paulo VI quando o seu amigo filósofo Jean Guitton perguntou por que não reconhecer o missal de 1962 ao separatista arcebispo Marcel Lefebvre e seus seguidores. Paulo VI respondeu:

Nunca. Essa Missa (...) torna-se o símbolo da condenação do Concílio. Eu não vou aceitar, em hipótese alguma, a condenação do Concílio através de um símbolo. Se essa exceção para a liturgia do Vaticano II fosse concedida, todo o Concílio ficaria abalada. E, como consequência, a autoridade apostólica do Concílio ficaria abalada.

Paulo VI sabia que permitir a velha forma seria não só divisivo, mas colocaria em dúvida todo o Concílio, e isso seria um pecado contra o Espírito Santo. Agora estamos experimentando o fruto infeliz da recente permissão para celebrar a forma extraordinária.

A definição de quem somos como Igreja ganha vida na liturgia. O Vaticano II descreveu a Igreja como um povo sacerdotal chamado a uma missão. Esse sacerdócio se enraíza no nosso batismo. Uma vez, o Papa João Paulo II foi perguntado sobre o dia mais importante da sua vida. Ele respondeu: "O dia em que eu fui batizado".

O batismo é a nossa participação na vitória de Cristo sobre a morte. Somos incorporados no mistério pascal do Cristo ressuscitado e agora participamos da vida de Deus. Que outro chamado maior pode haver? O casamento, a vida religiosa ou de solteiro e o ministério ordenado nada mais são do que formas específicas em que somos chamados a viver a nossa vocação batismal. É por isso que Santo Agostinho dizia ao seu povo: "Com vocês, eu sou batizado; por você, eu sou ordenado". O Concílio nos diz que o batismo chama todos à santidade.

A visão do Concílio de um povo sacerdotal em missão precisava de uma liturgia que pudesse preparar discípulos prontos para assumir as suas responsabilidades. O Concílio olhou para o passado distante da Igreja para recuperar os elementos rituais que foram fundamentais para preparar o batizado a assumir uma responsabilidade ativa da missão sacerdotal, profética e real de Cristo.

Em seu artigo Summorum Pontificum and the Unmaking of the Lay Church (Worship, julho de 2012), o estudioso Mestres Keightley, da Geórgia, identifica esses elementos recuperados da Igreja antiga pelo Concílio. Eles expressam o exercício ativo do povo sacerdotal de Deus: a oração dos fiéis, a procissão do ofertório e o beijo da paz. Eles eram sinais visíveis que expressavam o sacerdócio da Igreja. Esses sinais encarnam para o sacerdócio de todos os fiéis a missão de proclamar o Evangelho e de interceder pelo mundo e por todas as pessoas.

Ao longo do tempo, esses elementos foram perdidos ou ficaram obscurecidos. No momento em que chegamos ao Concílio de Trento (1545-1563), novas orações e ritos substituíram os ritos antigos. Keightley escreve:

Eles [as novas orações e ritos] não deram nenhum espaço para as intercessões dos leigos pelo mundo e por seu povo. Desapareceu qualquer sinal visível da oferta sacrificial de si mesmo que ganha forma naqueles esforços diários para acolher o estrangeiro, cuidar dos pobres e administrar os recursos da Terra. Também não havia permissão para aquela expressão sincera do companheirismo e da comunhão que a Igreja afirma celebrar e testemunhar. Com o seu desaparecimento, uma dimensão importante da liturgia também recuou, isto é, a apreciação da Igreja primitiva pela Eucaristia como um sacrificium laudis (sacrifício de louvor).

A liturgia que surgiu a partir da Idade Média e de Trento colocava uma ênfase diferente sobre a liturgia eucarística. O foco não estava na preparação de todos os batizados para a missão, mas sim no poder do ordenado de transformar pão e vinho. A ideia da "reconstituição incruenta do sacrifício da cruz" empurrou a "ação de graças pela criação e a consagração do mundo" para as margens da teologia eucarística. O poder do clero de tornar Cristo presente na Eucaristia ofuscou o poder da Eucaristia de transformar os batizados – equipados para tornar Cristo uma presença real no mundo através de suas vidas cotidianas. Keightley novamente:

Isso não só introduziu uma profunda divisão entre criação e redenção, mas também deu origem a uma espiritualidade laical focada estritamente na futura salvação do indivíduo, negligenciando os deveres eclesiais sacerdotais da pessoa pela renovação da criação aqui e agora.

O missal de 1570 (a base do missal de 1962) foi, e continua sendo, uma liturgia em que os batizados – uma vez sujeitos da liturgia e cocelebrantes do sacrifício eucarístico – foram e são reduzidos a meros espectadores. Eles estão lá para assistir o padre dizer a "sua" Missa. A ênfase é hierárquica e legalista (quem tem o poder e como exerce legalmente esse poder).

Em vez do Cristo ressuscitado que atua através de todo o povo de Deus (leigos e ordenados), temos um clero poderoso que ministra a um povo passivo. Em vez da Igreja como sacramento, temos a Igreja como uma hierarquia jurídica.

A tentativa de ressuscitar e popularizar a Missa pré-Vaticano II de 1962 tem sérias ramificações. Será que vamos ser uma Igreja que olha estritamente para dentro – onde Deus só é encontrado na piedade e na devoção privada, ou seremos uma Igreja como o Vaticano II a definiu – um povo cheio do fogo do Espírito com um urgente sentido de missão? Estamos em uma encruzilhada. A forma extraordinária é incapaz de nos ativar como povo sacerdotal de Deus – a visão do Vaticano II. Qual caminho iremos seguir?

Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz foram grandes reformadores da Contrarreforma católica. Assim como os participantes do Vaticano II, eles tentaram reformar a sua comunidade retornando para as fontes e restaurando a prática religiosa (descalça) que se tornou obscurecida ao longo do tempo. Eles também tiveram que lutar contra aqueles que combatiam as reformas que eles estavam iniciando. Precisamos da sua intercessão para perseverar no aggiornamento (atualização) que o Papa João XXIII inaugurou convocando o Concílio.

A perseverança irritável e alegre de Santa Teresa de Ávila está refletida em uma das frases dela que eu mais gosto: "De devoções absurdas e santos amargurados, livra-nos, Senhor!".

Amém.

Fonte UNISINOS

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