sábado, 17 de março de 2012

Silêncio


Os seres humanos têm a necessidade vital do tempo e do silêncio interior, para refletir e examinar a vida e os seus mistérios, e para crescer de modo gradual até atingir um domínio amadurecido de si mesmos e do mundo que os rodeia. A compreensão e a sabedoria são o fruto de uma análise contemplativa do mundo, e não derivam de uma simples acumulação de factos, por mais interessantes que sejam. São o resultado de uma introspeção que penetra o significado mais profundo das coisas, na relação de umas com as outras e com o conjunto da realidade.

- João Paulo II, 12.5.2002



Um aspecto que é preciso cultivar com maior compromisso, no interior das nossas comunidades, é a experiência do silêncio. Temos necessidade dele "para acolher nos nossos corações a plena ressonância da voz do Espírito Santo, e para unir estreitamente a oração pessoal à Palavra de Deus e à voz pública da Igreja". Numa sociedade que vive de maneira cada vez mais frenética, muitas vezes atordoada pelos ruídos e perdida no efémero, é vital redescobrir o valor do silêncio. Não é por acaso que mesmo para além do culto cristão, se difundem práticas de meditação que dão importância ao recolhimento. Por que não começar, com audácia pedagógica, uma educação ao silêncio no contexto de coordenadas próprias da experiência cristã? Que esteja diante dos nossos olhos o exemplo de Jesus, que "tendo saído de casa, se retirou-se num lugar deserto para ali rezar" (Mc 1, 35).

- João Paulo II, 4.12.2003



Na Cruz vemos que o silêncio de Jesus é a sua última palavra ao Pai, mas vemos também como Deus fala através do silêncio. De facto, a dinâmica feita de palavra e silêncio, que caracteriza a oração de Jesus, manifesta-se também na nossa vida de oração em duas direções. Por um lado, ensina-nos que a escuta e o acolhimento da Palavra de Deus exige o silêncio interior e exterior, afastando-nos de uma cultura barulhenta que não favorece o recolhimento. Por outro lado, há também o silêncio de Deus na nossa oração, que muitas vezes gera em nós a sensação de abandono. Mas, olhando para o exemplo de Cristo, sabemos que esse silêncio não é ausência: Deus está sempre presente e nos escuta. E, assim, podemos dizer que Jesus nos ensina a rezar, não só com a oração do Pai nosso, mas também com o exemplo da sua própria oração, indicando-nos que temos necessidade de momentos tranquilos vividos na intimidade com Deus, para escutarmos e chegarmos à «raiz» que sustenta e alimenta a nossa vida.

- Bento XVI, 7.3.2012

Fonte: Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (Portugal)

A era dos novos narcisos: músculos e máscaras

Imagem daqui

Lágrimas, emoções exibidas em público, unhas pintadas, sobrancelhas retocadas: dos políticos aos atores, passando pelos esportistas, o cânone básico do comportamento viril parece completamente mudado. Porque mostrar os sentimentos tem o seu valor, e porque a estética é um fator cada vez mais importante. Que também condiciona os novos homens.

Não é uma prova de sensibilidade e de impulso artística como quando Diderot saía do teatro chorando e soluçando: aquele era o século das Luzes, os homens descobriam inesperadas paisagens interiores, recém começava a redefinição dos arcaicos cânones de virilidade.

Hoje, o choro masculino se ostenta, se torna uma prova inédita de força física, como demonstra a imagem de Vladimir Putin, que não segura as lágrimas, deixa cair uma, duas, três gotas, única surpresa de mais uma vitória anunciada. O presidente macho-alfa, que pescava com o torso nu e agora se finge de choramingão, é o símbolo de uma identidade sexual mutante, até a fronteira dos metrossexuais, narcisos contemporâneos que revisitam códigos de sedução, revelam ao olhar corpos musculosos e depilados, brilhantes e perfumados. Quase mais até do que os femininos.

E, no fundo, entre os pioneiros do gênero, havia um outro protótipo de "homem de verdade": o jogador de basquete da NBA Dennis Rodman, que exibia músculos, cestas, uma história de amor com Madonna e esmalte sobre as unhas.

É uma invasão do campo à qual estamos rapidamente nos acostumando. Na política, aquele instante de suposta sinceridade, a perigosa invasão no irracional, parecia ser concedido até agora apenas às mulheres. Há exemplos ilustres. Hillary Clinton derrotada na corrida à Casa Branca. A ministra Elsa Fornero que não consegue pronunciar a palavra "sacrifício", apresentando a reforma das pensões do governo Monti. Ségolène Royal humilhada pelo seu ex-marido François Hollande nas eleições primárias socialistas.

Talvez, no dia 6 de maio próximo, o vencedor das eleições presidenciais francesas também se entregará às lágrimas fáceis. Não haveria nada para se admirar. Nicolas Sarkozy, outro exemplar da estirpe dura e pura, já é obrigado a mostrar o seu lado mais frágil para subir o topo das pesquisas. Na campanha, ele busca comover os eleitores com fórmulas do tipo "Eu mudei", "Eu errei", "Ajudem-me". É uma inversão de papéis, algo impensável há algum tempo.

"As eleições são vencidas com programas, mas também com emoções", explica a semióloga Giovanna Cosenza, que acaba de publicar Spot Politik, o livro publicado pela editora Laterza sobre como a comunicação política está mudando. O exemplo de Silvio Berlusconi que se gabava de falar às "entranhas" do país criou reações contrárias nem sempre positivas. "Penso na escassa capacidade dos líderes de esquerda de saber sorrir", lembra Cosenza, citando alguns exemplos.

Para um Piero Fassino comovido depois da eleição a prefeito de Turim e a renúncia como deputado, há um Pierluigi Bersani terrivelmente sério depois da vitória da centro-esquerda nas eleições administrativas de 2011. Como se o território das emoções, que também foi aberto pelo choro de Achille Occhetto no Congresso de Bolonha, quando mudou o nome do Partido Comunista Italiano, estivesse hoje ocupado mais pelas direitas.

"Muitos estudos demonstram que, até o advento de Barack Obama, foi justamente nisso que os republicanos norte-americanos historicamente tiveram uma superioridade comunicativa sobre os democratas". A emoção pode trair, é a admissão de uma perda de controle que mal se concilia com o poder. Mas também provoca uma empatia imediata, que chega ao coração dos eleitores. É dosando força e fragilidade que se cela o segredo da comunicação política moderna.

Muita coisa mudou desde que, em 1939, durante as filmagens de E o vento levou, Clark Gable se recusou a chorar diante das câmeras. E, se podíamos considerar como uma extravagância de rebelde punk quando Robert Smith, do The Cure, usava batom e sombra, o sinal da reviravolta global chegou ao campo mais conformista. O esportivo.

Os atletas, de fato, já abandonaram os seus freios inibidores. As lágrimas de Franco Baresi na Copa do Mundo dos EUA de 1994, as de Ronaldo em 2001, quando a Inter de Milão perdeu o escudo para a Lazio, e depois as da sua despedida do futebol.

E ainda: David Beckham, quando rompeu o tendão e não participou da Copa de 2010. O jogador inglês é o ícone do metrossexual que fez do corpo um instrumento de trabalho e um espelho estético. Ele também usa esmalte sobre as unhas e retoca as sobrancelhas, moda cada vez mais difundida entre os seus colegas (de Miccoli a Buffon). Esportistas, atores e príncipes (Harry, ele também com unhas pintadas) não são casos extremos, mas sim símbolos de uma tendência.

É o triunfo daquela bissexualidade psicológica já teorizada por Freud, há mais de um século. Nunca como hoje a virilidade perdeu as sua conotações teorizadas desde a Antiguidade: força física, coragem militar e potência sexual. É verdade que essa construção social foi oscilante, dependendo das épocas e dos países, como explicaram os estudiosos Alain Corbin, Georges Vigarello, Jean-Jacques Courtine no seu História da virilidade, editado recentemente na França. Os robustos cavaleiros da Idade Média se transformaram em certo ponto em cortesãos do rei às lidas com danças, rendas e mesuras.

Hoje, porém, a sociedade está projetada sobre uma nova fronteira. Os lugares onde tradicionalmente se construía a virilidade – quartéis, fábricas, vestiários – desapareceram, estão em declínio ou até já são compartilhados com as mulheres. Nas ruas das cidades, desfilam corpos masculinos atrativos. Jogadores de futebol e de rúgbi se transformaram em brinquedos eróticos nas revistas femininas. As meninas reservam seu lugar nos shows de strip tease Chippendales.

Na moda, há o "Single Man" de Tom Ford e as saias de Marc Jacobs. O ator Johnny Depp usa maquiagem para fazer os Piratas do Caribe, antecipando, involuntariamente, o lançamento de um novo produto, o manscara só para homens. E, antes, o rock já misturava os gêneros, basta pensar em Keith Richards e no ícone bissexual David Bowie.

"Até recentemente, para os homens, a dimensão estética e corporal não devia existir", lembra o sociólogo do consumo Vanni Codeluppi, professor da Universidade de Modena e Reggio Emilia. O papel social era o traje exterior de cada homem, uma divisa simbólica. Na última feira Cosmoprof [feira da indústria cosmética] de Bolonha, muitos visitantes eram do sexo masculino, assim como aumentam os pacientes da cirurgia plástica para esculpir corpos novos, segundo cânones estéticos ainda confusos, híbridos.

"É uma transformação longa, da qual não há volta atrás e que segue de mãos dadas a emancipação feminina", continua Codeluppi. "Existem hoje muitas e diversas características masculinas que arquivaram velhas classificações". A relação com a intimidade mudou com as novas tecnologias. A esfera privada tornou-se pública. A suposta potência sexual, de Berlusconi a Dominique Strauss-Kahn, se transformou em caricatura, desvio patológico. O sexo forte deve se adequar a valores tradicionalmente femininos como a empatia. Descobre o império dos sentidos. E, fazendo isso, não chora a sua morte, mas sim a alegria de uma ressurreição.

- Anais Ginori, para o jornal La Repubblica, 13-02-2012.
Tradução: Moisés Sbardelotto. Reproduzido via IHU.

O dia está cheio de esplendor

Foto via Blue Pueblo

Para @geisinhaguega ;-)

Eu me lembro, quando noviço, quando cantava as palavras do hino da manhã todos os dias: "o dia está cheio de esplendor…" Elas se repetiam em minha mente como um jingle. Um dia me dei conta de que talvez elas significassem alguma coisa de fato. Não eram somente uma frase piedosa, repetida por séculos para manter a mente em semicoma, como se o espírito fosse um coala indolente mascando folhas de eucalipto.

Talvez aquele que escreveu essas palavras realmente sentisse que o esplendor preenchia cada dia, qualquer que fosse o clima emocional ou geográfico. Etty Hillesum viu isso claramente em meio às condições sombrias e degradantes da vida em um campo de concentração. E se não passarmos a compreendê-lo um pouco melhor, nem formos capazes de enxergá-lo por nós mesmos como resultado de nossas disciplinas quaresmais, devemos estender nossa Quaresma até conseguirmos fazê-lo.

Cada dia, por mais estressante que seja, carregado de boas novas ou de repetidas decepções, está carregado de momentos de silenciosa eloquência, de glória natural. Pode ser o digno pôr do sol de um dia glacial, a brilhante efusão de cores em um hibisco vermelho, o tímido brotar de magnólias brancas ou cor-de-rosa perfumando seu mundo, tal qual alguém encantador inocentemente tomando consciência de sua própria beleza pela primeira vez. Pode ser o sorriso gentil e a graça de alguém prestando um pequeno serviço remunerado, uma comissária de voo presente para si mesma e para seus passageiros, um policial que caminha alguns passos com você para lhe dar informações melhores, enquanto seus colegas fazem seu trabalho com relutância ou de mau grado.

Quanto mais destes esplêndidos momentos particulares você vê, mais eles se ligam entre si. Você se dá conta de que não são fenômenos isolados, momentos da supernova de estrelas que morrem, mas aspectos da ordem natural e universal das coisas. Este esplendor é na verdade a natureza subjacente da realidade.

As disciplinas da Quaresma ou a disciplina diária do mantra são um preço pequeno a pagar para entrar neste mundo, o mundo real.

- Laurence Freeman OSB
Mensagem para a Sexta-Feira da Terceira Semana da Quaresma (16/03/12) à Comunidade Mundial de Meditação Cristã no Brasil

Próxima missa da Pastoral da Diversidade, em São Paulo: 18/03


Próxima missa da Pastoral da Diversidade em São Paulo: dia 18 de março, às 17h. Divulguem e compareçam!

Mais informações aqui e no www.pastoraldadiversidade.com.br :-)

É este o tempo favorável

Foto: Rhys Pope

Momento favorável é uma indicação que o apóstolo Paulo faz dirigindo-se aos cristãos em Corinto. É uma referência ao dia da salvação, mas que deve ser incorporada nas situações do dia a dia. Nunca se pode perder a hora certa para coisas importantes na vida familiar, social e cultural. Aproveitá-la é caminho para o êxito. (...) O tempo da Quaresma (...) é uma sábia e indispensável indicação de um tempo especial para a vida de cada pessoa.

Neste tempo da Quaresma ecoa a profecia que convida insistentemente para um encontro com Deus, de todo o coração. É um processo de reconfiguração qualificada da própria vida que inclui todas as circunstâncias do tecido da sociedade. O ápice da qualificação de qualquer vida pessoal é a consistência da própria interioridade como fonte sustentadora da paixão pela verdade, o gosto pela solidariedade e a coragem de lutar pela justiça. É cultivar a honestidade na palavra dada, no respeito aos outros e, particularmente, na condução da coisa pública e do bem comum.

Pensar a salvação como momento favorável é reconhecer que ninguém pode furtar-se ao propósito existencial de reconciliação, com Deus e com o semelhante, superando inimizades. É aproximar-se do pobre, do indefeso e do inocente. Trata-se também de uma reconciliação consigo mesmo, um movimento reverso ao que leva à depressão, à vida vivida nos disparates da arbitrariedade e das tiranias do desejo. O convite central deste tempo da Quaresma, o voltar-se para Deus, se concretiza na indicação direta do imperativo “convertei-vos”. Cria a convicção indispensável de que não apenas os sistemas, os governos, os funcionamentos administrativos, os mecanismos da sociedade merecem uma revisão, mas também o si mesmo de cada um.

É o si mesmo de cada um a alma e o sustento de processos, de famílias, de instituições, de lideranças lúcidas e da indispensável capacidade cidadã de indignar-se com o mal. O tempo da Quaresma tem a finalidade educativa de motivar a correção do orgulho que perpetua insanidades, atrasa reconciliações e enjaula a possibilidade de se viver mais solidariamente. Quem percorre o caminho quaresmal escutando a Palavra de Deus, falando menos, contemplando mais, sensibilizando-se sob o impulso da caridade fraterna, alcança uma qualificação ancorada na força de valores. Fazem a diferença no que são, onde estão e no exercício de suas responsabilidades.

- D. Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte
Reproduzido via Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (Portugal)

sexta-feira, 16 de março de 2012

Peregrinar ao coração

Foto: Kurt Moses

Assumir-se peregrino é, antes de mais, aceitar peregrinar ao próprio coração. Só a partir daí podemos caminhar com outros como experiência de autêntica fraternidade. (...) Todos nós, no decorrer da nossa história, em muitos momentos fomos feridos. Como resposta defensiva a estas situações fomos encontrando, ainda que inconscientemente, os nossos próprios mecanismos de proteção; estes permitiram-nos “sobreviver”, mas a partir de uma ilusão, de uma não verdade no olhar sobre nós e sobre os outros, transformando-se assim em obstáculo no acesso ao nosso eu profundo e, como consequência, no acolhimento confiante e gratuito do outro. Estes mecanismos de proteção são identificados, por exemplo, como medos, inseguranças ou falsas seguranças, e, até mesmo, bloqueios.

Peregrinar ao coração – entrar no deserto – é tantas vezes um processo doloroso, porque marcado pelo encontro com estes “fantasmas” que nos habitam. No entanto, o afrontar esta realidade é condição de acesso ao nosso eu profundo, “lugar” da nossa identidade de seres criados à imagem e semelhança de Deus, “lugar” a partir do qual nos experimentamos em harmonia com o Todo, e por isso, “lugar” onde nos sentimos livres. Só a partir daqui é possível o encontro autêntico com o outro, é possível a escuta. (...)

O outro, particularmente aquele que nos parece mais estranho, aquele que é mais diferente, é frequentemente o mais revelador das nossas próprias sombras e, por isso, o mais decisivo do ponto de vista do crescimento pessoal. As feridas que trazemos em nós, fazendo-nos sofrer, a nós e àqueles que connosco se relacionam, contêm em si um potencial imenso de vida quando, precisamente, a partir daí, nos abrimos à infinita ternura de Deus.

A fragilidade, na experiência do encontro com Jesus, é o lugar privilegiado da Graça. Zaqueu testemunha-o de forma muito expressiva: «Senhor, vou dar metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém em qualquer coisa, vou restituir-lhe quatro vezes mais» (Lucas 19, 8). Quando entramos na nossa sombra e aí nos experimentamos amados tal como somos, o nosso coração convertido pela misericórdia dilata-se para além de todas as fronteiras.

- Carlos Maria Antunes
In "Atravessar a própria solidão", ed. Paulinas
Reproduzido via Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (Portugal)

Tuitadas de sexta


Vídeo do dia: "Grandioso és tu, #EstadoLaico!" (RT@lolaescreva)

Isto não é uma piada: Câmara dos Deputados vira Igreja ao som de "Améns" e "Aleluias" | Cadê o #EstadoLaico?!

"Opinião de bispo gera conflito na PUC-SP" | Impressionante como aos conservadores interessa sempre apresentar as orientações do Magistério em termos de tudo ou nada: como católico, você tem o dever de aderir integralmente a todas. Ocorre que isso não é verdade. "O Concílio Vaticano II afirmou a existência de uma hierarquia de conteúdos na doutrina católica ("hierarquia de verdades"). Alguns pontos são mais importantes do que outros, sobretudo os que tocam o núcleo da fé (Unitatis Redintegratio, nº11). As divergências entre os que creem não devem ser todas colocadas no mesmo nível importância, como se todas elas fossem muralhas intransponíveis. Isto tem conseqüências no diálogo da Igreja com a sociedade contemporânea, para se lidar com a diversidade ideológica. Ao se levar em conta uma hierarquia de convicções, amplia-se o espaço ideológico para as divergências. Nem todo dissenso exclui o fiel da Igreja." | Saiba mais em Homossexualidade e Contra-hegemonia no Catolicismo

E quem é a mulher?

Foto daqui

Em um dos últimos posts [aqui], explicávamos porque não existe a escolha ou a “opção” sexual. Trata-se de um, entre tantos, mitos sobre a sexualidade dos quais nos ocuparemos de vez em quando neste blog.

Hoje queremos falar de outros que tem a ver com uma mesma confusão: algumas pessoas não entendem que nós, gays, gostamos de homens e que as lésbicas gostam de mulheres.

Parece óbvio. Apesar disso, já escutei muitas vezes esta pergunta, dirigida a um casal gay: “Quem é o homem e quem é a mulher?”. Eu, às vezes, respondo da maneira mais séria que possa: “E com você e a sua namorada, como funciona? Ela se finge de homem ou você de mulher?”.

É que, pensando com a mesma lógica, eu deveria supor – já que eu gosto de homens – que a única explicação para que outro homem forme um casal com uma mulher é que ela se finja de homem.

Se não, como é possível?

Mas não é assim, porque existem homens que gostam de mulheres.

Sim, ainda que você não acredite.

E se fingindo de mulheres, seja lá o que isso signifique para cada um.

Perguntar sobre quem é a mulher em um casal gay é querer interpretá-lo partindo da impossibilidade do desejo homoerótico, como se, parar que um homem goste de outro homem, um dos dois deva ser, de algum modo, feminino. O mesmo vale para quem pensa que, em um casal de lésbicas, uma das duas “seja o homem”.

Tem mais: uma olhada rápida por páginas de paquera gay surpreenderia a mais de um: estão repletas de avisos que põem o destaque, às vezes bastante estereotipado e machista, na masculinidade. “Macho busca Macho”.

Em um casal gay, os dois “são os homens”, seja lá o que isso signifique para cada um. “Masculino” e “feminino” são duas categorias da linguagem, como “hétero”, “homo” e “bi”, com as quais tratamos de aprisionar um universo muito mais complexo, cheio de tons de cinza e, sobretudo, de cores. Mas deixemos essa parte da história para outro dia. O que queremos deixar claro hoje é que, em uma relação entre dois homens, não existe um que “é a mulher”, a não ser que se trate de um jogo ou fantasia sexual, o que também pode ocorrer em uma cama hétero.

É claro.

E já que falamos da cama, esclarecemos que tudo o que foi dito anteriormente não tem nada a ver com ser “ativo” ou “passivo”. Acreditar que o que penetra é mais homem que o que é penetrado é, novamente, querer entender uma relação homossexual como se fosse heterossexual, ou seja, com só um pênis – e sem imaginação. Os papéis na cama no têm nada a ver com a identidade de gênero nem fazem com que ninguém ganhe ou perca masculinidade.

Um amigo meu diz, às vezes, “Eu não sou bicha. Eu como as bichas”. Mas diz isso de brincadeira, claro.

Além do mais, quem disse que os papéis na cama devem ser fixos, estáveis e excludentes? Outra vez, algo básico e simples: quando dois homens vão para a cama, existem dois pênis. E os dois podem ser usados, de diferentes maneiras. Supor que um dos homens deve anular automaticamente o seu pênis para ir para a cama outro é querer, outra vez, heterossexualizar uma relação que não é heterossexual.

E, convenhamos, que entre um homem e uma mulher também podem acontecer muitas outras coisas. Para isso inventaram os brinquedos que se vendem nas sex shops e a natureza, sábia, nos colocou cinco dedos em cada mão. Isso sem levar em conta as travestis, que tem um pênis e identidade de gênero feminina.

O mundo da sexualidade é mais complexo que nossos dicionários.

Por último, a versão mais radical da confusão que queremos tratar com este post é a de quem acredita que os gays, no fundo, querem ser mulheres. Outra vez: não podem deixar de nos ver com lentes heterossexuais. Como se a única explicação para que nós gostemos de homens fosse que, em algum lugar do nosso ser, nos imaginamos no sexo oposto.

Sempre tratando de reconstruir, de uma ou outra forma, o modelo menino + menina.

Lamento decepcioná-los. Eu gosto de homens e gosto de ser homem. Nem sequer posso me imaginar como mulher. E o que me atrai em outros homens é a sua masculinidade, ainda que, claro, isso é uma questão de gosto.

Já foram ao cinema ver A pele que habito, última joia do mestre Pedro Almodóvar?

Os homens que a tenham visto vão me entender. Quando Antonio Banderas disse “vaginoplastia”, tive a mesma impressão que vocês. Quase lhes diria que me doeu.

E entre Vera e Vicente, escolho Vicente, que, por que não dizer, está incrível.

- Bruno Bimbi
Traduzido do blog Tod@s pelo amigo Fernando Palhano, com grifos do autor.

Mãos à obra

Ilustração: Marcel Ceuppens

E por falar em sincronicidade, parece que estamos diante do tema da semana...

Os católicos precisam "encarar o fato de que hoje vivemos em uma Igreja 'faça-você-mesmo'", precisam dar um passo à frente para "assumir a responsabilidade", e "já não esperar mais que o Padre ou a Irmã façam isso. (...) O clericalismo são dois lados da mesma moeda. Há autoritarismo de um lado. O outro são os leigos querendo que os clérigos façam tudo por eles."

- Thomas Reese, SJ, que acaba de lançar um "guia de sobrevivência para 'católicos que pensam'" (saiba mais aqui)

Leia também:
Três mitos sobre a Igreja para se abster nesta Quaresma
"Maldito o homem que confia no homem"
Confiar desconfiando

Confiar desconfiando


É curioso como às vezes ocorrem certas sincronicidades. Na mesma semana em que postamos o artigo de Enzo Bianchi intitulado "Maldito o homem que confia no homem" (aqui), que chama cada cristão à sua responsabilidade magisterial e fala da necessidade de, diante da amarga situação da Igreja, “escutar novamente a Palavra de Deus, escutar o magistério silencioso dos cristãos cotidianos, combatendo o bom combate da fé”; na mesma semana em que postamos o artigo em que John L. Allen Jr. adverte contra o perigo da crença na "eclesiologia púrpura" (aqui), isto é, o mito de que a "Igreja" se reduz à sua dimensão institucional, esquecendo-se da multidão de leigos que justamente dão sentido a todo esse aparato - vejam só como Fabrício Cunha aborda, em seu blog, questões muito parecidas:

"Fé é algo sagrado. O coração das pessoas também.

Manipular a fé de outrem para que gravitem em torno de alguém ou de uma instituição é pecado.

Muitas instituições fazem com que as pessoas vivam em função delas. Geram, assim, indivíduos tímidos em relação à vida, dependentes em relação à fé e confusos em relação a si mesmos.

A Igreja existe para viver em função das pessoas, gerando pessoas autônomas que sabem viver a vida como um todo de um jeito cristão e, cuja fé madura, sabe discernir entre o bem e o mal sem a necessidade de um tutor.

Assim, pastor é um guia espiritual para o rebanho e não um oráculo ao qual devemos obediência irrestrita. E ele não guia sozinho, o faz com a ajuda dos irmãos mais maduros na fé, todos guiados pelo Espírito Santo à luz das Escrituras.

Portanto, gente querida, confiem mas desconfiem. A régua é a Bíblia Sagrada. A chancela é o Espírito Santo que habita nossos corações. Tudo o mais está comprometido pelo pecado, uns mais, outros menos."

A Igreja e o poder

"A crucificação de S. Pedro", Michelangelo Merisi da Caravaggio

Pedro, autoridade reconhecida, não é como os poderosos deste mundo. Ele não está sozinho, fora do rebanho dos comuns mortais. Ele está "no meio dos irmãos": eles, com dignidade igual à sua responsabilidade, e ele, com responsabilidade de irmão mais velho. Seu único poder é um dever.

A opinião é do jesuíta, biblista e escritor italiano Silvano Fausti, em artigo publicado na revista Popoli, dos jesuítas italianos, 01-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto, aqui reproduzido via IHU, com grifos nossos.


"Pedro levantou-se no meio dos irmãos e falou: 'Era preciso que se cumprisse a Escritura a respeito de Judas" (Atos 1, 15-26)

O modo de agir da Igreja primitiva é fundamental e normativo. Com o tempo, a tradição sofreu traições. Volta-se à origem para re-formar o que foi de-formado. A reforma nunca ocorre por um decreto de cima, mas sim por um humilde movimento de baixo, inspirado pela Palavra transmitida nos Evangelhos. Estes últimos – norma da tradição e não o contrário – sempre nos abrem a uma dupla conversão: ao passado e ao presente, à história de Jesus e a como vivê-la hoje.

Depois da ascensão, a comunidade permanece unida. Os primeiros 120 membros (ou seja, as 12 tribos x 10 = a comunidade) são agregados não pela "diferença" de um líder que domina, mas sim pela adesão ao Filho que lhes torna todos irmãos. Reunidos no Cenáculo, preparam o coração perseverando na oração. Mas também preparam o corpo. Judas traiu: falta um apóstolo. É preciso integrar o número dos patriarcas, as 12 colunas do novo templo, que serão "testemunhas da ressurreição". E isso será feito democraticamente por todos, por sugestão de Pedro. O texto toca em dois pontos fundamentais, sempre atuais: o exercício da autoridade e a compreensão do mistério do mal.

Pedro, autoridade reconhecida, não é como os poderosos deste mundo. Ele não está sozinho, fora do rebanho dos comuns mortais. Ele está "no meio dos irmãos": eles, com dignidade igual à sua responsabilidade, e ele, com responsabilidade de irmão mais velho. Seu único poder é um dever. O do seu Mestre e Senhor, cujo mandato é: "Lavem os pés uns dos outros como eu lavei os seus pés". É uma tradução "pedestre" da nova lei: "Amem-se uns aos outros como eu amei vocês" (Jo 13, 14.34). "Quem quiser ser o primeiro, deverá tornar-se o servo de todos", como o Filho do Homem (Mc 10, 44), que está no nosso meio como aquele que serve (Lc 22, 27).

Outra autoridade na Igreja é causa de idolatrias, defecções e divisões. Nada de vestes pomposas ou de lugares de honra. Que ninguém se chame de Pai, de Mestre ou de Guia. Nós somos todos irmãos, discípulos do Filho. Discípulo é quem dele "aprende" (discere) a ser o filho e irmão de todos. A proliferação de títulos coloridos e de respectivos ornamentos são deturpações cômicas. Pode-se objetar que são símbolos. Mas o homem vive dos símbolos que tem na cabeça. Que a fábula do Rei nu nos ajude a rir das nossas extravagâncias com um pouco de bom senso.

O incenso do poder dá vertigens e confunde fantasia com realidade. Até aqui, pouco mal: é só um pouco de carnaval. O ruim é que o poder violenta a realidade para se impor como verdade. Se contemplamos o nosso Rei coroado de espinhos, talvez acaba nosso jogo estúpido, do qual Ele e os pobres cristos pagam a salgada conta. O homem não age mal por maldade, mas por inconsciência (Lc 23, 34). Ele acredita que a sua obsessão por poder o tornam como Deus. A falsa imagem dele, de si e dos outros – aquela sugerida por Satanás em Gênesis 3, 1ss. – faz com que se use todos os meios para dominar, ao invés de servir. Essa é a raiz dos nossos males!

E aqui chegamos ao segundo tema: o mal. O traidor não é "o" monstro. Judas é "um dos 12", "um de vocês", diz Jesus. Ele representa a nós que, como ele, queremos – obviamente, por amor a Ele... – um Cristo rico e poderoso, que ponha todos sob seus pés. Graças a Judas, o Filho do homem acaba na cruz. E ali nos cura da falsa imagem de Deus e de homem, carregando sobre si o mal dos nossos delírios de ter, de dominar e de aparecer. Por isso, através de Judas, cumprem-se as Escrituras. E o seu lugar é tomado por outro. É o lugar que é tomado por qualquer outro – incluindo eu – para que eu me converta olhando e tocando as feridas do "meu Senhor e meu Deus" (Jo 20, 27s).

quinta-feira, 15 de março de 2012

Somos seres humanos

Ilustração: Rachell Sumpter

"Não podemos nos fixar sobre um único ponto, não podemos ficar revendo todas as decisões e fingindo que toda ação e toda decisão realizadas pelos membros da Igreja [na China] sempre são perfeitas em todos os momentos e em todas as situações. Somos seres humanos, somos seres humanos! Todos nós erramos e caímos muitas vezes ao longo do caminho. Mas podemos pedir perdão. Mas se cada erro for isolado e se tornar um motivo de condenação sem apelo, quem pode se salvar? É no longo prazo que se vê se um padre ou um bispo trazem no coração um propósito bom. Vê-se se o que eles fazem, mesmo com todos os erros humanos, é feito por amor a Deus, à Igreja e ao povo. Isto é importante: descobrir que as pessoas perseveram na fidelidade porque são movidas pelo amor de Jesus, mesmo nas situações difíceis. No fim, todos verão. E certamente Deus o vê, ele que perscruta o coração de cada um de nós".

- Neocardeal John Tong Hon, bispo de Hong Kong, em uma linda reflexão sobre a situação da Igreja na China (aqui) que confirma alguns pontos abordados no nosso post de ontem à tarde

Tuitadas de quinta

Imagem do dia, daqui
Discurso de ódio não é liberdade de expressão

Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas (pdf para download da Coleção Educação para Todos, da Unesco)

RT@shelalmeida "Não há normas. Todos os homens são exceções a uma regra que não existe." #FernandoPessoa #DiadaPoesia

RT@bbimbi Dilma, la peor de todas
"Dilma Rousseff ya había ganado su lugar en la historia: primera mujer presidenta de Brasil, con más de 47 millones de votos en la primera vuelta y casi 56 en la segunda. A esa marca, histórica por el género y por el respaldo electoral, podía sumarle su papel central como gestora de algunos de los programas sociales y desarrollistas más importantes del gobierno de su mentor y amigo, el ex presidente Lula, con quien llegó a ser jefa de Gabinete. Pero en estos días, paradójicamente, su condición de primera mujer presidenta no podría omitirse del análisis de una nueva marca que la hará pasar a la historia: (...) nunca hubo, en la historia reciente del país, un gobierno tan homofóbico como el suyo."

RT@delucca Olha como funciona a mentira: Católicos saem em defesa de psicóloga brasileira proibida de falar que crê em Deus. Quem lê o título da matéria pensa que a CNBB lançou nota de apoio, que a coisa chegou no Vaticano, que a Marisa é 'amiga' deles. Mas é só meia duzia de católicos. Essa gente não cansa de mentir.

Comissão de Reforma do Código Penal incluiu como agravante do homicídio o assassinato de pessoas por intolerância quanto à orientação sexual ou identidade de gênero
"Não há como insistir no conceito de 'normalidade' sexual apenas em relação à heterossexualidade, pois as demais manifestações deixaram de ser percebidas como anômalas. Injustificável, portanto, que certas pessoas se arvorem no direito de agredir, machucar e até matar por ódio ao comportamento sexual alheio."

O trágico fim de um bispo homofóbico - O que representa a morte de Robinson Cavalcanti, bispo anglicano que se tornou um dos maiores adversários dos LGBTs
"Sou contra todo tipo de violência, luto pela dignidade e pelo valor da pessoa humana. (...) Todavia, sendo bem sincero, não lamento a morte e o desaparecimento de D. Robinson. É mais uma voz homofóbica que se calou e isso, do lado de cá da minha luta, não é algo que eu deva lamentar. Lamento, sim, a fatalidade, o contexto, a tragédia que se abateu sobre sua casa."

O clericalismo tem 2 lados: de um, autoritarismo. Do outro, os leigos querendo que os clérigos façam tudo por eles
"Os católicos precisam 'encarar o fato de que hoje vivemos em uma Igreja faça-você-mesmo', precisam dar um passo à frente para 'assumir a responsabilidade', e 'já não esperar mais que o Padre ou a Irmã façam isso', disse o padre jesuíta Thomas Reese."

Leia também: Três mitos sobre a Igreja para se abster nesta Quaresma

Um filme que mostra que o preconceito só sobrevive quando suas próprias vítimas o trazem embutido dentro de si #ficadica
"'Cairo 678' conta como três mulheres de classes diferentes reagem à violência cotidiana, seus inimigos e aliados no lado masculino e também como se unem e desunem entre si. (...) O resultado é complexo e pouco maniqueísta, deixando claro que o preconceito só sobrevive quando suas próprias vítimas o trazem embutido dentro de si."

RT@JoaoWNery1 Travesti toma posse na Secretaria de Justiça da Bahia nesta quinta
"Uma travesti tomará posse de um cargo na Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos da Bahia (SJCDH), nesta quinta-feira (15), em Salvador. Paulo Cesar dos Santos, 22 anos, mais conhecido como Paulete Furacão, será um dos promotores dos direitos da comunidade LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) no estado."

RT@MundoeLivros As seitas organizacionais - o fundamentalismo religioso no trabalho
"Ao submeter-se a uma comunidade totalitária - na igreja ou na empresa - normalmente sob a bênção de uma liderança carismática, tanto o crente fundamentalista quanto o convertido à religião do trabalho aceitam e se integram em plenitude à verdade do pensamento único, das doutrinas, dos dogmas e dos fetiches que amalgamam o cotidiano de suas vidas. O fanático fundamentalista dispõe-se ao sacrifício de sua própria vida para obter no paraíso a compensação pelo sofrimento de sua imolação. O convertido às seitas organizacionais busca, pela integração irrestrita ao trabalho, uma vida de felicidade aqui na terra; ao viver para o trabalho deixa de desfrutar de todas as demais dimensões existenciais que a vida proporciona."
Com link para leitura do e-book

Siga o @divcatolica no Twitter! :-)

A coabitação entre duas pessoas do mesmo sexo faz bem para a vida social, dizem jesuítas italianos

Foto: Robert Galbraith/Reuters

A coabitação entre duas pessoas do mesmo sexo faz bem para a vida social, e é possível, e até desejável, o seu reconhecimento jurídico. Essa "plataforma jurídica" pode ser lida no número de junho de 2008 da Aggiornamenti Sociali, renomada revista dos jesuítas italianos.

A opinião é de Filippo Di Giacomo, padre, jornalista e juiz canônico que viveu durante 11 anos como missionário no Congo, publicada no jornal L'Unità, 11-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto, aqui reproduzido via IHU.


Que Lucio Dalla descanse em paz. E que os "Sólons" destes dias vão dar uma volta na biblioteca. Assim, poderão descobrir que, na Itália, a única plataforma jurídica para os casais que vivem juntos, mesmo do mesmo sexo, é a assinada pelos jesuítas. Se os gays (ou os pró-gays) de profissão fingem não a ter lido, é só porque é uma proposta mais razoável, ousada, vital e concreta do que os textos anteriores, de 2006 e 2007, que já nasceram mortos no Parlamento [italiano].

Ela pode ser lida no número de junho de 2008 da Aggiornamenti Sociali, renomada revista dirigida pelo padre Bartolomeo Sorge. Desde as primeiras linhas, e fora de toda polêmica, a tese é enunciada sem meias palavras: a coabitação entre duas pessoas do mesmo sexo faz bem para a vida social, e é possível, e até desejável, o seu reconhecimento jurídico.

São vinte páginas de estudos assinadas pelo grupo de especialistas (leigos e padres: Carlo Casalone, Giacomo Costa, Paolo Fontana, Aristide Fumagalli, Angelo Mattioni, Mario Picozzi, Massimo Reichlin), comprometidos a aprofundar para a revista os temas bioéticos, com reflexos que não condenam nem excluem, mas buscam possibilidades para um "espaço de encontro" entre as diversas culturas do nosso país. A importância do reconhecimento dos casais homossexuais estáveis é claramente afirmada: "Para o bem comum".

A definição é retirada literalmente do Concílio Vaticano II: o bem comum é "conjunto das condições da vida social que permitem, tanto aos grupos como a cada membro, alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição" (Gaudium et Spes, n.26). Segue-se disso – afirma o mesmo número da Aggiornamenti Sociali – que o Concílio traz no peito a plena dignidade da pessoa que floresce em uma relação estreita entre o indivíduo e a sociedade. Uma e outra, se separadas, sofrem.

Além disso, o "bem comum" do Concílio também encontra raízes na Constituição italiana, quando o artigo dois prescreve que devem ser reconhecidos à pessoa direitos e deveres impostos tanto como indivíduo, quanto nas formações sociais em que se explica a sua personalidade.

Por que, então, a lésbica e o gay que vivem, amam, sofrem, se alegram há muito tempo no interior de um casal em estreita relação com a sociedade (trabalham, pagam os impostos, vivem de cultura etc.) não devem ser reconhecidos por ela? Deixá-los à margem significa não contribuir para o "bem comum". Ou, melhor, é ofender os indivíduos, é empobrecer a sociedade.

Carlo Casalone, vice-diretor da revista, escreve explicitamente: "A pessoa informa que se descobriu homossexual sem querer e quase sempre de modo irreversível. A tarefa da ética não está, portanto, em insistir que se modifique essa organização psicossexual, mas sim em favorecer, dentro do possível, o crescimento de relações mais autênticas nas condições dadas".

E também sobre as condenações magisteriais (em 2003, a Congregação para a Doutrina da Fé reiterou a doutrina que vê no amor homossexual a falta de autenticidade e desordem, negando o reconhecimento de "direitos específicos" aos homossexuais. E manifestou grande impaciência com relação ao uso ideológico da "tolerância"), Paolo Fontana, encarregado do setor de bioética na diocese de Milão, faz algumas interrogações claras e serenas: o que fazemos com o peso social das relações entre coabitantes? Se há um casal estável, surgem direitos e deveres, e a sociedade deve protegê-los. Como fazer? Os escritos magisteriais exploraram realmente toda a questão, ou ainda não se pronunciaram sobre a relevância social de um casal sólido?

Segue-se disso, sintetiza Fontana, a necessidade, para os casais estáveis, de encontrar soluções em que, aos direitos, correspondam deveres iguais. Para os católicos e para a Igreja, portanto, a palavra-chave é "união estável", também para um casal homossexual. E, juridicamente falando, ainda estão à espera de uma instituição jurídica que saiba reconhecer a sua importância e que, assim, afirme direitos e deveres daqueles que oferecem cuidados e apoio ao parceiro. Sem necessariamente se concentrar somente nas expressões sexuais ou nas afetivas.

Ao legislador, depois, não deve interessar que a coabitação seja sexual ou sublimada. No Ângelus de um domingo de junho de 2000, João Paulo II, referindo-se justamente aos fiéis homossexuais, disse: a doutrina católica deve ser tomada na sua integridade evangélica; a discriminação não é mais concebível; quem quiser se reconhecer no cristianismo, qualquer que seja a sua opção afetiva, também deve aceitar progredir na lei moral que a tradição apostólica sempre extraiu dos ensinamentos da Escritura Sagrada.

Contudo, para a "irmã morte", homossexuais ou heterossexuais, não faz diferença: ela nos torna todos pobres do mesmo modo, todos mendicantes da mesma misericórdia.

"Não somos, talvez, todos pecadores?"

Foto: i can read

Uma carta pastoral de um bispo suíço reforçando a orientação de que os divorciados sejam excluídos dos sacramentos causou alvoroço entre os párocos de sua diocese, muitos dos quais a criticaram e expuseram abertamente sua discordância.

Na opinião de vários deles, cabe a cada um resolver o problema de receber ou não a comunhão em consciência. "Não somos nós, padres, que podemos julgar isso", diz um deles, e indaga: "Nessas diretrizes, onde está a misericórdia para com o pecador? Não somos, talvez, todos pecadores?"

Outro considera que a decisão de receber a comunhão deve ser tomada por cada um pessoalmente. "Eu não sei, por exemplo, se aqueles que se passam por muito devotos são verdadeiramente dignos de receber a comunhão".

Como no caso de Barbara Johnson, é o magistério silencioso dos cristãos cotidianos em ação.

Fonte: IHU

A felicidade é para ser partilhada


Ilustração: Rachell Sumpter

O que uma ovelha perdida, uma moeda de prata perdida e um filho perdido têm em comum? Estão todos perdidos, é claro; mas também, nas parábolas de Jesus, eles são todos encontrados. Sua redescoberta desencadeia celebrações de júbilo. A pessoa que perdeu e encontrou, quer e precisa partilhar seu alívio e felicidade e chama os amigos e vizinhos para se reunirem.

A felicidade, como o medo, a raiva e a tristeza, são contagiosas e, por razões diferentes, pedem para serem partilhadas.

Partilhamos os sentimentos negativos porque eles são destrutivos; talvez sentimos, instintivamente, que se os guardarmos apenas para nós eles nos destruirão mais rapidamente, mas se pudermos infectar outras pessoas, isso os diluirá.

Mas a felicidade, quando guardada para nós mesmos, se diminui e nos diminui. Festas e celebrações são essenciais para a felicidade humana porque elas nos permitem dividir o que é, em si mesmo, um fruto da participação da nossa existência. Pessoas que se recusam a ir a uma festa, como o irmão mais velho ciumento, são vistas como negadoras da vida. Festeiros às vezes agem como se estas pessoas devessem ser postas em um grupo isolado de infelizes por estragarem a diversão dos outros.

Entretanto, no espírito do Evangelho, não devemos excluir aqueles que parecem condenados a esse fim ou que excluem a si mesmos. Celebrar a vida inclui a compaixão que sentimos – e demonstramos – para com aqueles que não podem celebrar. Não podemos ser felizes excluindo os infelizes.

Excluindo, nós perdemos. Incluindo, encontramos. Acolhendo os que não são amados, nós ganhamos uma percepção mais profunda (experiência) da natureza da felicidade. Nós percebemos que não se trata apenas de recuperar o que perdemos ou de ter um bom dia. Algumas coisas nós perdemos para sempre. Existem bons dias e maus dias.

A felicidade – o tipo que não é perdido mesmo quando perdemos algo precioso – não depende de ter, mas de ser. Não depende de estarmos contentes ou descontentes. Mas de sermos quem nós somos.

- Laurence Freeman OSB
Mensagem para o Sábado da Segunda Semana da Quaresma à Comunidade Mundial de Meditação Cristã no Brasil. Grifos nossos.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Humildade

Foto: Ken Simm

Senhor, fazei com que eu aceite
minha pobreza tal como sempre foi.

Que não sinta o que não tenho.
Não lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca mais voltou.

Dai, Senhor, que minha humildade
seja como a chuva desejada
caindo mansa,
longa noite escura
numa terra sedenta
e num telhado velho.

Que eu possa agradecer a Vós,
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.

- Cora Coralina, neste #DiadaPoesia

Tuitadas de quarta

Vídeo do dia: Fieis americanos organizam-se 
para banir fundamentalistas homofóbicos que não representam a sua fé

"Faithful America": uma organização de fieis de várias denominações contra os discursos de ódio religiosos

RT@vaipensandoai Bancada evangélica entre os problemas para o combate da aids no País
"O crescimento da bancada evangélica no Congresso, a falsa ideia de que a epidemia do HIV está perto de ser solucionada e a competitividade entre grupos de estudos que buscam os mesmos objetivos foram alguns dos desafios apontados nesta segunda-feira, 12 de março, durante a abertura do 2º Simpósio Nacional sobre a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, em Florianópolis."

Judaísmo e homossexualidade no Rio de Janeiro: notas de uma pesquisa
"Neste artigo apresentamos uma análise exploratória das opiniões e iniciativas de lideranças judaicas em relação às atitudes e às demandas dos grupos LGBT na sociedade brasileira."

Leia também: Hinenu (Estamos aqui... onde sempre estivemos)

"AIDS, Aconteceu comigo": Preconceitos e a importância de conhecer e cuidar do próprio corpo
"As DST/AIDS estão em todos os lugares, e não faz distinção de homem, mulher, hétero, homo, branco, negro, rico, pobre, casado, solteiro, ou tico-tico no fubá, elas acontecem para quem se expõe desnecessariamente aos riscos e se fia na idéia de que DST’s só acontecem com os outros e não se cuida!"

RT@JoaoWNery1 Um rapaz de 15 anos relata a tragédia do bullying homofóbico
"eu tenho medo que aconteça alguma coisa comigo, eu queria que alguém me ajudasse! antes que eu virasse mais nas estatísticas de LGBT mortos, as vezes eu sinto que ninguém gosta de mim e que a unica solução pra mim é me matar"

"Não podemos fingir que toda ação e toda decisão realizadas pelos membros da Igreja sempre são perfeitas"
"Não podemos nos fixar sobre um único ponto, não podemos ficar revendo todas as decisões e fingindo que toda ação e toda decisão realizadas pelos membros da Igreja na China sempre são perfeitas em todos os momentos e em todas as situações. Somos seres humanos, somos seres humanos! Todos nós erramos e cair muitas vezes ao longo do caminho. Mas podemos pedir perdão. Mas se cada erro for isolado e se tornar um motivo de condenação sem apelo, quem pode se salvar? É no longo prazo que se vê se um padre ou um bispo trazem no coração um propósito bom. Vê-se se o que eles fazem, mesmo com todos os erros humanos, é feito por amor a Deus, à Igreja e ao povo. Isto é importante: descobrir que as pessoas perseveram na fidelidade porque são movidas pelo amor de Jesus, mesmo nas situações difíceis. No fim, todos verão. E certamente Deus o vê, ele que perscruta o coração de cada um de nós".

Párocos criticam carta de bispo: "É desumana e sem misericórdia"
"Em sua opinião, todos devem resolver o problema de receber ou não a comunhão em consciência. 'Não somos nós, padres, que podemos julgar isso (...) Nessas diretrizes, onde está a misericórdia para com o pecador? Não somos, talvez, todos pecadores?'. (...) A decisão de receber a comunhão deve ser tomada por cada um pessoalmente. 'Eu não sei, por exemplo, se aqueles que se passam por muito devotos são verdadeiramente dignos de receber a comunhão'."

Sexismo desde a barriga
"Mas antes de tudo, eu adoro ser mãe. A experiência da maternidade é intensa, é colorida, é incrível, seja qual for o sexo do bebê que nasce de dentro da gente. O que vale mesmo é o amor que nasce com ele – e este, é grande, é imenso, seja para ele ou para ela."

Tudo seria tão melhor se parássemos pra ouvir o que as pessoas têm a dizer e não recorrêssemos a definições simplistas
"Conhecer pessoas individualmente costuma ser saudável, muito mais que fazer generalizações de qualquer tipo. Uma dica: provavelmente vocês cruzam com muitas pessoas todos os dias e nem se dão conta de que elas são homossexuais. Agora um segredo: sabia que a única característica que engloba todas elas é o simples fato de sentir atração por pessoas do mesmo sexo? Pois é, pois é, pois é…"

Três mulheres generais daqui a 15 anos
"A matéria, muito boa, é raríssima, porque não tem aqueles trechos obrigatórios de 'Mas elas são femininas e vaidosas e olha só como são ótimas mães!' tão frequentes em qualquer reportagem que fale de mulheres em ocupações predominantemente masculinas."

Coleção História Geral da África em português, em oito volumes (Somente em PDF) | Imperdível
"Um dos projetos editoriais mais importantes da UNESCO nos últimos trinta anos, a coleção História Geral da África é um grande marco no processo de reconhecimento do patrimônio cultural da África, pois ela permite compreender o desenvolvimento histórico dos povos africanos e sua relação com outras civilizações a partir de uma visão panorâmica, diacrônica e objetiva, obtida de dentro do continente."

RT@iavelar Quando um político quer ignorar um problema, diz q medidas a seu alcance "não vão resolver" e que precisa "mais estudo" |  Materiais didáticos 'não vão resolver' homofobia, diz ministro da Educação | RT@MarkosOliveira A AUSÊNCIA DELES MUITO MENOS! :@

Leia também: 
Por uma educação sem homofobia
Uma caminhada pelo respeito e pela diversidade

Siga o @divcatolica no Twitter! :-)

Três mitos sobre a Igreja para se abster nesta Quaresma

Imagem daqui

Sei que este texto chega um pouco tarde, mas se alguém ainda está procurando algo para se abster nesta Quaresma, eu sugeriria que os seguintes equívocos sobre a Igreja Católica e sobre o Cristianismo em geral seriam excelentes pedaços de lixo intelectual para se livrar no espírito da estação.

Naturalmente, os locais onde esses três mitos tendem a estar mais profundamente enraizados – a mídia, a academia, os círculos políticos seculares e assim por diante – também são lugares onde toda a ideia de sacrifício quaresmal é às vezes uma impossibilidade. No entanto, eles estão notavelmente difundidos dentro da Igreja também, entre pessoas que realmente deveriam conhecê-la melhor. Se os católicos perpetuam essas ideias, é difícil culpar o mundo exterior por se deixar seduzir por eles.

Aqui estão três falácias populares, na esperança de que a Quaresma 2012 possa marcar o início da data de validade de cada uma delas.

1. Eclesiologia púrpura
A "eclesiologia púrpura" refere-se à noção de que os principais atores do drama católico são o clero e, de fato, a única atividade que realmente conta como "católica" em geral é aquela realizada pela casta clerical da Igreja, especialmente os seus bispos. Você sempre pode detectar a eclesiologia púrpura em funcionamento quando ouvir alguém dizer "a Igreja" quando o que realmente se quer dizer é "a hierarquia."

(Eu já fui chamado uma vez por uma produtor da BBC em busca de protagonistas para um programa que eles queriam fazer sobre as mulheres na Igreja Católica. Eu enumerei uma série de leigas católicas de alto perfil às quais eles podiam contatar, ao que a produtora respondeu: "Me desculpe, eu preciso de alguém da Igreja". Ela quis dizer, é claro, alguém com um colarinho romano – essa é a eclesiologia púrpura em ação).

A verdade é que o número de padres ordenados na Igreja Católica chega a cerca de 0,04% do total da população católica de 1,2 bilhão de pessoas. Se eles são o ato principal, então tudo se pode dizer é que o show católico está desenfreadamente sobrecarregado com um elenco de apoio.

A natureza autoparodística da eclesiologia púrpura foi uma vez foi memoravelmente capturada pelo cardeal John Henry Newman, que, questionado sobre a sua opinião sobre o laicato, respondeu: "Bem, nós pareceríamos terrivelmente ridículos sem eles".

Ver a Igreja através de um filtro púrpura é enganoso, mesmo que tudo o que analisemos seja a dimensão visível e institucional da vida católica. A maioria das escolas, hospitais, centros de serviços sociais, movimentos e associações católicos, até mesmo secretarias e sedes paroquiais, são formados predominantemente por leigas e leigos. Mais profundamente, porém, a Igreja não existe para si mesma, mas sim para mudar o mundo, o que significa que, se sua mensagem deve penetrar nos vários campos da cultura – a medicina, o direito, a academia, a política, a economia e assim por diante – ou ela será levada até lá pelos leigos, ou não será.

Abandonar a eclesiologia púrpura permite um foco mais amplo sobre o que a história católica do nosso tempo realmente é. Essa história não se limita a qualquer declaração que os bispos norte-americanos fizeram essa semana sobre apólices de seguro ou ao pronunciamento vaticano mais recente sobre a prática litúrgica, independentemente de quão importantes esses desenvolvimentos possam ser. A história católica completa também inclui o que centenas de milhões de leigas e leigos estão fazendo em suas próprias vidas e em seus círculos de influência, motivados pela sua fé.

Dentre outras coisas, uma eclesiologia púrpura nos deixa mal equipados para ver a mudança criativa tomando forma na Igreja. Mesmo um entendimento rudimentar de história da Igreja é suficiente para concluir que essa mudança raramente vem de cima para baixo.

O catolicismo desenvolveu as ordens mendicantes, por exemplo, não porque um papa decretou que assim deveria ser, mas porque indivíduos criativos como Domingos e Francisco viram um mundo novo nascendo nas grandes cidades da Europa nos séculos XII e XIII, e desenvolveram novo modelos apostólicos para evangelizá-las. O catolicismo deu à luz grandes movimentos leigos do século XX, como L'Arche, Comunhão e Libertação, Schönstatt e Santo Egídio, precisamente da mesma forma – de baixo para cima.

Qualquer panorama sobre o catolicismo no século XXI que não incluir os Focolares juntamente com os bispos, ou o projeto Catholic Voices e a rede Salt and Light juntamente com o Vaticano, ou a grande ascensão do ministério leigo somado ao Colégio dos Cardeais, simplesmente não estará vendo o quadro por inteiro.

Se você não entender isso, então você realmente não entende a Igreja.


2. Uma Igreja em declínio
A opinião popular sobre o catolicismo nos dias de hoje tende a ser de que ela é uma Igreja em crise. Abalada por escândalos sexuais, lutas políticas agressivas e déficits financeiros, ela parece estar sofrendo de uma hemorragia de membros – um recente estudo do Pew Forum constatou que há agora 22 milhões de ex-católicos nos EUA, que seria o segundo maior grupo religioso do país depois daquilo que restou da própria Igreja Católica –, assim como como fundindo paróquias, fechando instituições e lutando para transmitir a fé para a próxima geração.

A percepção geral é que essa é uma era de entropia católica – declínio, contração, coisas cada vez menores.

Visto a partir de uma perspectiva global, contudo, isso está simplesmente errado, absolutamente errado. A última metade do século testemunhou o maior período de expansão missionária nos 2.000 anos de história de catolicismo, alimentada pelo crescimento explosivo no hemisfério Sul. Tomemos a África subsaariana como um caso em questão: a população católica no início do século XX era de 1,9 milhão, enquanto, no fim do século, era de mais de 130 milhões, representando uma impressionante taxa de crescimento de 6.708%. Em geral, a pegado católica mundial subiu de 266 milhões em 1900 para 1,1 bilhão em 2000, à frente da taxa global de aumento da população mundial, e ainda está crescendo hoje.

A narrativa católica dominante do nosso tempo, em outras palavras, não é o declínio, mas sim o crescimento astronômico (isso não é verdade em todos os lugares, porque há perdas significativas na Europa, em partes da América do Norte e em alguns bolsões da América Latina, mas esse é o grande quadro mundial).

Repassando esses números, lembramo-nos de um famoso artigo de 2003 de David Brooks, zombando das elites seculares que gostam de acreditar que a religião está em declínio: "Um grande Niagara de fervor religioso está caindo em cascata ao redor deles", escreveu, "enquanto eles permanecem parvos e secos na pequena caverna do seu próprio paroquialismo".

Mesmo nos EUA, a Igreja Católica está realmente se defendendo. Sim, ela perdeu um terço dos norte-americanos nascidos nessa fé, mas a sua taxa de retenção de dois terços é realmente bastante saudável segundo os competitivos padrões do escancarado mercado religioso dos EUA (ela é muito maior do que, digamos, a das Testemunhas de Jeová, que retêm apenas um terço dos seus membros).

Além disso, a Igreja Católica está segurando firmemente cerca de um quarto da população nacional, em grande parte graças à imigração hispânica e taxas de natalidade maiores do que a média entre os católicos hispânicos. Nas palavras de Luis Lugo, diretor do Pew Forum, o catolicismo norte-americano está se "bronzeando", mas não se contraindo.

Na verdade, as estatísticas por si sós não resolvem as disputas sobre as escolhas que estão perante a Igreja. Aqueles 22 milhões de ex-católicos dos EUA, por exemplo, não representam necessariamente um "referendo de insatisfação" contra o desvio conservador das lideranças da Igreja no último quarto de século, especialmente quando consideramos que, de acordo com os dados do Pew, uma parte considerável desertou para o protestantismo evangélico. Nem o fenomenal crescimento do catolicismo no Sul global necessariamente significa um endosso à política vaticana atual, porque, honestamente, o Vaticano teve muito pouco a ver com isso.

Em outras palavras, não se pode traçar uma linha reta ligando os dados populacionais a quem está certo ou errado nos atuais debates católicos. O que pode se dizer com certeza empírica, entretanto, é que qualquer pessoa que pense que essa é uma era de declínio católico precisa sair por aí mais vezes.


3. O cristianismo é o opressor, não o oprimido
De todos os equívocos populares sobre o catolicismo, e sobre o cristianismo em geral, esse é provavelmente o mais pernicioso.

Alimentado por imagens históricas das Cruzadas e da Inquisição, e até mesmo pelas atuais percepções de riqueza e poder dos líderes das Igrejas e das instituições, é difícil para os observadores ocidentais compreender que, em um crescente número de questões candentes mundiais, os cristãos são hoje os oprimidos indefesos, não os opressores arrogantes.

Eis a dura realidade dos nossos tempos: no início do século XXI, estamos testemunhando a ascensão de uma nova geração de mártires cristãos.

Os cristãos são hoje, estatisticamente falando, de longe, o grupo religioso mais perseguido do planeta. Segundo a Sociedade para os Direitos Humanos, com sede em Frankfurt, um total de 80% de todos os atos de discriminação religiosa no mundo hoje são voltados contra os cristãos. O Pew Forum estima que os cristãos experimentam a perseguição em um impressionante total de 133 nações, dois terços de todos os países do mundo.

Como parte desse quadro, a agência católica "Ajuda à Igreja que Sofre" estima que 150 mil cristãos morrem por causa de sua fé a cada ano, em lugares que vão desde o Oriente Médio até o Sudeste Asiático, passando pela África subsaariana e por partes da América Latina. Isso significa que, a cada hora do dia, cerca de 17 cristãos são mortos em algum lugar do mundo, seja por ódio à fé, seja por ódio pelas obras de caridade e de justiça que a sua fé os compele a realizar.

Talvez o exemplo emblemático seja o Iraque, onde uma forte comunidade cristã que levou dois milênios para se construir foi devastada no arco de pouco mais de duas décadas. Antes de 1991, o ano da Primeira Guerra do Golfo, havia mais de 2 milhões de cristãos no Iraque, enquanto hoje a estimativa é de que há entre 250 mil e 400 mil.

Dada a responsabilidade especial que os EUA têm no Iraque, o fato de o destino dos cristãos iraquianos não ser uma prioridade motriz e central na vida católica norte-americana não é nada menos do que um ultraje moral.

Enquanto os bispos norte-americanos se preparam para combater um novo conjunto de batalhas Igreja-Estado no fronte doméstico, esse antecedente sugere um desafio especial para os católicos norte-americanos de manter os olhos abertos. Nos EUA, uma ameaça à liberdade religiosa normalmente significa que você pode ser processado, enquanto, em muitas partes do mundo, isso significa que você pode levar um tiro. Certamente, todos podemos concordar que esse é um conjunto de circunstâncias mais dramáticas.

Se você vai se abster de qualquer coisa nessa Quaresma, a incapacidade de reconhecer uma crescente guerra global contra os cristãos seria uma escolha verdadeiramente inspirada.

- John L. Allen Jr.
Publicado originalmente no sítio National Catholic Reporter, 02-03-2012. Reproduzido via IHU, com grifos nossos.
Tradução: Moisés Sbardelotto

"Maldito o homem que confia no homem"

Imagem daqui

O que fazer na amarga situação da Igreja? Escutar novamente a Palavra de Deus, escutar o magistério silencioso dos cristãos cotidianos, combatendo o bom combate da fé e lembrando as palavras do profeta Jeremias: "Maldito o homem que confia no homem".

A reflexão é do monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, prior e fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado na revista Jesus, de março de 2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto, aqui reproduzido via IHU, com grifos nossos.


Como reagir ao que está acontecendo na Igreja, nestes últimos tempos de modo mais manifesto do que antes? Lamentar? Já foi feito. Denunciar? Sim, sempre buscando não ofender a caridade nem nomear o "pecador"! Talvez, trata-se também de fazer desses momentos uma ocasião para viver o Evangelho e para continuar amando a Igreja, mesmo que às vezes se devesse concluir que ela é irreformável por ser impermeável ao Evangelho...

Sabemos que a Igreja não é uma realidade atemporal gerada pelo testamento de um fundador: é uma realidade histórica, é história e faz história. Sabemos também que, no lugar estabelecido pelo direito, pode haver a iniquidade (cf. Eclo 3, 16) e que ainda no grupo dos 12 chamados por Jesus ao seu redor e envolvidos na sua vida, a pedra fundamental tem a tentação de reagir como Satanás, e os 12 são lentos para crer, mas prontos para renegar e até mesmo para trair Jesus! Das palavras de Jesus sabemos também que, no campo, no espaço eclesial, trigo e joio crescem juntos, que a cizânia não deve ser erradicada, mas é preciso esperar, ter paciência e voltar o olhar para aquele que será o fruto da colheita.

Então, por que sofrer? Por que lamentar aquele lamento que foi profético na boca e no coração dos profetas do Antigo Testamento, do próprio Jesus que chorou sobre Jerusalém, de homens da Igreja como Basílio, o grande, ou outros Padres do Oriente e do Ocidente? Nestes anos, observamos a deterioração que ocorria sob os nossos olhos: da calúnia e da crítica feroz atiçadas em um submundo traiçoeiro alimentado por blogs e jornalistas complacente às diversas facções, ao denegrimento de homens e mulheres que tinham o único defeito de serem leais, não aduladores, não buscadores de poder e de apoios nas diversas cúrias eclesiais.

Notamos também que, ao grito de alguns – incluindo o próprio cardeal Ratzinger a partir de pelo menos a Via Sacra celebrada na vigília da morte de João Paulo II – que denunciavam o mal-estar eclesial, o carreirismo, a avidez do dinheiro e do poder, seguia-se logo depois uma série de eventos que forneciam motivação a esses lamentos e a essas denúncias.

E contudo: o que fazer, o que dizer diante de uma Igreja que parece ter perdido, em muitos dos seus responsáveis que carregam o fardo do serviço a todos, a tensão em direção à unidade e à caridade? Se antigamente criávamos ateus com imagens distorcidas de Deus por nós fabricadas e pregadas, hoje eles não são mais significativos, e nos encontramos paralisados pelo espetáculo que oferecemos. Os homens e as mulheres não pertencentes à Igreja se sentem confirmados no seu estranhamento com relação aos que se dizem comprometidos com a nova evangelização, enquanto muitos cristãos vão embora silenciosamente, sem contestação, ou tentam viver a fé "apesar da Igreja", etsi ecclesia non daretur.

Bento XVI, na Mensagem para a Quaresma 2012, exorta a redescobrir a dimensão da correção fraterna como constitutiva da vida cristã. De correção, são necessitados o indivíduo assim como a comunidade cristã no seu conjunto, a ekklesía. E a correção ocorre com palavras e obras, assim como a evangelização, a liturgia, a história da salvação.

A degradação da vida eclesial é, acima de tudo, abandono da escuta da Palavra de Deus, tendo saído da postura salvífica da escuta, na qual se recolhe toda a existência da Igreja e da qual só pode proceder todo ato de palavra seu. Mas o primado da Palavra de Deus é tal não só quando está na base da pregação e da palavra magisterial da Igreja, mas também quando regula e corrige o falar intraeclesial, quando se torna ascese da palavra na Igreja para construir uma comunicação "evangélica" que foge das duplicidades, das mentiras, das manipulações, das adulações.

A franqueza, a “parrésia”, a transparência e também a partilha da palavra, a dimensão comunitária e colegial da palavra são a resposta eclesial à Palavra de Deus que busca comunhão e a cria convertendo o falar humano a partir do exemplo de Jesus, de quem as pessoas diziam: "Ninguém jamais falou como esse homem" (Jo 7, 46).

De Jesus também se dizia: "Ele fez bem todas as coisas" (Mc 7, 37). A escuta da Palavra de Deus é acompanhada pelo agir bom, verdadeiramente magisterial, de muitos, muitíssimos cristãos anônimos e sem holofotes midiáticos, que são igreja santa de Deus mesmo que escondida como cepa em terra seca. Há os mártires, os cristãos perseguidos, há homens e mulheres que se levantam de manhã para trabalhar, que lutam para pôr filhos no mundo e para mantê-los, há pessoas que cotidianamente se consomem curvando-se sobre os seus irmãos sofredores com amor, há muitos cristãos que sofrem intimamente por sua própria inadequação de serem conformes ao Evangelho, mas todos esses não fazem notícia, ninguém os discerne e os observa, ninguém os ouve...

Além disso, isso já não aconteceu com aquele "judeu marginal" que foi Jesus de Nazaré? Quem se deu conta dele durante a sua vida? Quem se interessou pela sua história tecida só de amor e de serviço fiel aos irmãos? Só poucas dezenas de discípulos no meio de uma multidão que acorria a ele só para ganhar pão e assistir a algum milagre...

O que fazer, então, nessa amarga situação? Escutar novamente a Palavra de Deus, escutar o magistério silencioso dos cristãos cotidianos, e resistir de novo e de novo ao diabo, o divisor, combatendo o bom combate da fé todos os dias, confiando somente em Jesus, o Senhor, e lembrando as palavras do profeta Jeremias: "Maldito o homem que confia no homem" (Jer 17, 5). Resta-nos recomeçar a nossa vida cristã dizendo a nós mesmos: hoje é o primeiro dia de vida cristã que me resta para viver!

* * *

Atualização em 16/03/12:
Vejam só que coincidência curiosa: Fabricio Cunha publicou, em seu blog, um comentário (aqui) na mesma linha do texto acima. :-)

terça-feira, 13 de março de 2012

O único tempo que temos é agora

Escultura: Nancy Fouts

Prestar atenção porquê? Porque amiúde andamos distraídos. Ou, pior, olhamos indiferentes, sem ver. Ou pior ainda: olhamos invejosos, com aquele olhar vesgo que mata e petrifica. A atenção e o espanto perante a natureza, há muito tempo que ciência moderna os matou. Prestar atenção, observar o mundo como quem o vê pela primeira vez, em silêncio e em jejum, como que saído das mãos de Deus, é cultivar um sadio e franciscano reencantamento do mundo. (...)

Prestar atenção é também “ler com verdade dentro de si mesmo”, descobrir-se antecedido numa relação de doação de próprio ser. E a essência do ser é comunhão, afirmava o trapista Thomas Merton. (...)

Para a experiência cristã, a hora que vai chegar é sempre “agora”: “Mas vai chegar a hora, e é agora…” (Jo 4, 23: Sed venit hora, et nunc est…). É “agora” para a Samaritana de Sicar, junto ao poço de Jacob, e é igualmente “agora” para o Samaritano que não passou adiante e foi o próximo do homem que descia de Jerusalém para Jericó, e é sempre “agora” para cada um de nós. O único tempo que temos é agora. Entre o já e o ainda-não pascais, a Quaresma é também, agora, o pretexto litúrgico e pastoral para todos os dias prestarmos “atenção uns aos outros” e nos “estimularmos ao amor e às boas obras”.

- João Rosa
Professor da Universidade da Beira Interior
In Agência Ecclesia
Reproduzido via Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (Portugal)

Tuitadas de terça

Imagem do dia: Julieta Arroquy

RT@elimin8prejudic "If you judge people, you have no time to love them." ~ Mother Theresa

A ciência é "um dos melhores princípios para conhecer Deus", diz astrônomo
"Aqueles que acreditam em Deus não devem ter medo da ciência, mas devem vê-la como uma oportunidade que Deus deu à humanidade para conhecê-lo melhor.

O Ir. Consolmagno disse acreditar em Deus 'não porque ele está no fim de alguma cadeia lógica de cálculos', mas sim porque ele 'experimentou o que a física e a lógica podem me mostrar mas não explicar: beleza, razão e o amor'."

A esquerda não deve aprender nada com os evangélicos
"Não faltam religiosos, mesmo do campo evangélico, que seriam aliados de primeira ordem contras os Edirs e Valdomiros."

Leia também: Notas sobre o retrocesso político brasileiro
"(...) creio que é meio surreal atribuir as (parciais) vitórias da teocracia somente ao seu suor e trabalho duro, como se esse trabalho ocorresse num terreno neutro. Acreditar nisso já é um evangelismo. Se há algo a se censurar na esquerda brasileira de hoje (falo da esquerda que está no poder), é ter aprendido demais com os teocratas (...)."

A cibercensura da Santa Inquisição e a liberdade de blogar
"Fico imaginando que certos sacerdotes não leram o Novo Testamento, ficando apenas com o resumo executivo. (...) Por isso, creio que, ao pedir o silêncio, eles continuam não captando nadica de nada da idéia que está na origem de sua própria religião, da mesma forma que aqueles que vieram antes deles na Contra-reforma.

Sugiro, humildemente, que procurem a turma da Teologia da Libertação para entender que o espírito (seja isso o que for) não estará livre se o corpo também não estiver. Na prática, esses religiosos católicos realizam a fé que muitos temem ver concretizada ou não conseguem colocar em prática. Pessoas como Pedro Casaldáliga, Tomás Balduíno, Henri des Roziers e Xavier Plassat, que estão junto ao povo, no Brasil profundo, defendendo o direito à terra e à liberdade, combatendo o trabalho escravo e acolhendo camponeses, quilombolas, indígenas e demais excluídos da sociedade.

Como aqui já disse, imaginem se Casaldáliga fosse papa e, como primeiro discurso na Praça São Pedro, retomasse palavras que proferiu há tempos: 'Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e amar! Malditas sejam todas as leis amanhadas por umas poucas mãos para ampararem cercas e bois, fazerem a terra escrava e escravos os humanos.'

Não creio. Mas se isso ocorresse, passaria a crer."

Casamento gay: o apoio do católico Blair
"Em 2007, ele se converteu ao catolicismo e, quando era primeiro-ministro, introduziu as uniões civis entre pessoas do mesmo sexo. Agora, Tony Blair vai ainda mais longe, apoiando a legalização dos casamentos entre homossexuais na Grã-Bretanha."

Leia também: RT@wrighini Reino Unido: o católico Tony Blair a favor do casamento igualitário

RT@Wedge_Issue "Lobby da bancada religiosa no Congresso acua o governo e a sociedade civil" #DireitosHumanos #EstadoLaico

RT@NoticiasLGBT AMERICA LATINA: Miembros de comunidad LGBT escalan posiciones en América Latina #LGBT #Politica
"En toda América Latina la cantidad de funcionarios homosexuales va en aumento, en un reflejo de la creciente aceptación de la comunidad Lesbiana, Gay, Bisexual y Transgénero (LGBT) en esta conservadora región."

RT@delucca Onde você mostra o seu machismo? (via @outraspalavrass) #MachismosNao
"Ninguém é imune a ele: a diferença está em como reagimos. Um teste para homens e mulheres avaliarem suas atitudes."

Rosie Calls Kirk Cameron Very Un-Christlike
"If you want to follow the Jesus model, man, don't go shaming people like that for who they are"

Sacerdote q negou comunhão a lésbica é suspenso (em português, aqui) | Entenda o caso aqui
"A letter from an archdiocese official said that the Rev. Marcel Guarnizo was placed on leave for engaging in intimidating behavior (...). The archdiocese had previously apologized for Guarnizo’s behavior."

RT@delucca “Eu sempre acreditei que a sexualidade é um lugar onde a pessoa exerce a sua delicadeza com o outro", diz Padre Fabio de Mello, sobre gays. | Padre Fábio de Melo dá sua opinião sobre homossexualidade

Veja também: Uma coisa de cada vez
"Em tempos de tanta polarização e demonização de parte a parte, mais um exemplo de que é possível encontrar vozes sensatas e razoáveis para além dos radicalismos religiosos, mesmo no próprio Magistério da Igreja Católica."

Quando um homossexual comete um crime
"Quando um homossexual comete um crime, o esperado é que ocorra o mesmo quando um heterossexual comete um crime: investigação adequada, julgamento justo e aplicação da punição prescrita. A punição não é estendida a outros heterossexuais que nada tem com o episódio. Simples, mas parece difícil para homofóbicos entenderem."

Quem disse que a Palavra não pode ser anunciada com alegria? (Vídeo em francês, mas imagens valem + q mil palavras :-)

A Autopsia de uma Fé
"Uma fé morre não apenas pela ausência de obras, mas pela qualidade delas e dos meios usados para produzí-las. Portanto, uma fé sem ética está morta apesar dos muitos resultados. E uma vez morta, só nos resta fazer sua autopsia e torcer pelo seu breve sepultamento, para então renascer líderes que com integridade cumpram sua missão amando a Deus e a este povo tão sofrido!"

Hans Küng e a oportunidade desperdiçada da Igreja
"Küng era e continua sendo um apaixonado por Cristo, um fiel convicto de que o Evangelho pode falar ao coração e à mente de homens e mulheres de todos os tempos e de todas as culturas, um pensador que não tem medo de enfrentar os desafios do diálogo com a razão e com as outras religiões. E o impacto profundo que essa sua obra teve junto a muitos cristãos e até mesmo entre aqueles que eram estranhos à Igreja ou tinham se retirado para as margens dela são a prova inequívoca disso."

A homofobia dos Gays
"Ontem fiquei estarrecido, quando no facebook vi uma campanha, encabeçada pelos próprios homossexuais, em que defendia a tese que não há problema algum de você ser gay, desde que você seja à moda dos heterossexuais."

Leia também: Não é preciso ser diferente para ser gay, mas podemos ser

RT@MarkosOliveira Complexo o Tribunal Britânico proibir crucifixos pessoais no local de trabalho, incluindo até colares. Não precisa chegar a tanto. o.o

Conversas na sacristia
"A questão da legislação sobre o aborto frequenta as edições dos jornais de terça-feira (13/3) em duas abordagens opostas. Na Folha de S. Paulo, a socióloga Eva Blay, referência brasileira do movimento feminista, discute em entrevista a tramitação do projeto que avalia a flexibilização da legislação sobre o tema. No Estado de S. Paulo, o declarante é o bispo emérito de Guarulhos, na região metropolitana da capital paulista, d. Luiz Gonzaga Berzoini [Bergonzini], que protagonizou uma intensa polêmica durante as eleições presidenciais de 2010. (...)

A entrevista da psicóloga [socióloga] Eva Blay – que deveria ter sido ouvida pelos jornais em 2010 – mostra que fatos bizarros como as manifestações obscurantistas do bispo e de outros representantes de grupos religiosos são manipuladas pela imprensa quando interessa interferir no resultado de eleições.

Se, em 2010, os jornais tivessem lembrado aos eleitores que a proposta de mudança na legislação era de autoria de uma senadora do PSDB, a fúria do bispo e de seus associados nas igrejas evangélicas não teria sido dirigida a apenas um dos lados da disputa.

Interessante observar como a questão vem à tona quando começam a se definir as candidaturas a prefeito – principalmente na disputa em São Paulo, onde o candidato a presidente de 2010 decide concorrer à indicação de seu partido."

Siga o @divcatolica no Twitter! :-)
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...