sexta-feira, 9 de novembro de 2012

No que os católicos realmente acreditam?


O tema do casamento gay vem aparecendo nas cédulas desde 1998. E, desde 1998, 32 estados, mesmo os mais liberais como é o caso da Califórnia, votaram sistematicamente contra. O casamento homossexual é permitido, atualmente, em seis estados, mais o Distrito Federal. Em todos foi ou decisão do Legislativo ou da Justiça.
Nas últimas eleições nos EUA, isto mudou. Os eleitores de Maine e Maryland fizeram destes sétimo e oitavo estados a permitir o matrimônio, os primeiros a fazê-lo por meio do voto.
Em Wisconsin, Tammy Baldwin se tornou a primeira senadora abertamente homossexual do país.
O estado de Minnesota rejeitou iniciativa que definia casamento como exclusivo para união entre homens e mulheres. A legislação federal americana não reconhece a união homossexual, e os resultados devem colocar pressão sobre a Corte Suprema, que em breve terá de decidir se aceita ações contra as leis estaduais. A vitória do sim vem na esteira de uma série de posturas adotadas pelo presidente reeleito Obama a favor da causa homossexual. O governo do democrata já havia deixado de defender a lei federal contra a união, e derrubado o impedimento a homossexuais assumidos de servirem as Forças Armadas. E, em maio, Obama se tornou o primeiro presidente dos EUA a apoiar publicamente o casamento gay. A maioria dos americanos (54%) é a favor, segundo pesquisa CNN/ORC de junho.
A maioria americana, as eleições provaram, está mais conectada com o mundo real, em que famílias gays e lésbicas estão integradas à sociedade.
Surge uma questão teológica aceitável: Os dados sociológicos desse tipo dizem-nos alguma coisa sobre o ensinamento magisterial e a fé da Igreja?
Uma resposta imediata e crucial é a de que dados sociológicos não são expressão da crença e do ensinamento da Igreja Católica. Tampouco nos dizem em que a Igreja deveria acreditar e o que deveria ensinar, pois 50 por cento, e até mesmo 100 por cento, dos católicos poderiam estar errados. Porém, os dados empíricos acima referidos fazem duas coisas importantes. Eles nos dizem quais são realmente as crenças dos católicos com relação à moralidade dos atos homossexuais e demonstram que essas crenças variam consideravelmente em relação às crenças propostas pelo Magistério. Esses dados podem não nos dizer nada sobre a verdade do ensinamento magisterial com respeito à moralidade dos atos homossexuais, mas eles de fato nos dizem algo sobre sua relevância para a vida da Igreja contemporânea. Tampouco devem ser aceitos acriticamente, nem descartados como se não tivessem relevância alguma para a vida da Igreja.
Pesquisas empíricas não expressam nem criam a fé da Igreja, mas, sim, manifestam o que os católicos realmente acreditam e não acreditam, e essa realidade experiencial é uma base para reflexão crítica sobre qualquer afirmação sobre o que "a Igreja acredita".
"Comunidades cristãs" talvez seja um eufemismo para Magistério Católico, que tende a falar da crença da Igreja como ela foi e não como ela é.
O que fica claro a partir da investigação a respeito dos ensinamento bíblico e magisterial sobre atos e relacionamentos homossexuais é a importância da experiência como uma fonte de conhecimento moral. Na dialética entre as fontes de conhecimento moral para avaliar moralmente os atos e os relacionamentos homossexuais, a experiência é fundacional e até mesmo primordial.

Fontes: Jornal O GLOBO, 8.11.2012. p. 37-44; SALZMAN, Todd A. e LAWLWER, Michael G. A pessoa sexual. Por uma antropologia católica renovada. São Leopoldo, RS: Ed. UNISINOS, 2012. p. 318-319.


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Os santos não nasceram santos


Na celebração da festa de Todos os Santos é fascinante lembrar onde é que começaram alguns dos santos mais conhecidos e como é que as suas vidas evoluíram.

S. Mateus era um cobrador de impostos. Santa Maria Madalena praticava a mais velha profissão do mundo. S. Pedro era impetuoso e um algo vaidoso, e teve de ser fortemente pressionado antes de deixar que os gentios se tornassem cristãos sem que primeiro se convertessem ao judaísmo. A maior parte dos apóstolos fugiu para as montanhas quando Jesus foi preso no Jardim do Getsémani, pouco tempo depois da promessa “inabalável” de que o haveriam de seguir para todo o lado e que morreriam com ele, se assim tivesse de ser.

A lista é grande, mas a questão é simplesmente esta: nenhum deles nasceu santo. Foi mais ao contrário. Tornaram-se lenta e dolorosamente homens e mulheres santos, com inúmeros começos, paragens e retrocessos. E repetidas vezes, como muitos testemunharam nos seus diários, eram atormentados pelo desencorajamento profundo causado pela falta de progresso e erros frequentes. S. Paulo falou por eles e por todos nós quando reconheceu, angustiado, “Não é o bem que eu quero que faço, mas o mal que eu não quero, isso é que pratico”. Não é esta também a nossa verdade?
Há uma lição nestas histórias de vida para nós, que ainda continuamos a lutar ao longo dos nossos caminhos: crescer à imagem e semelhança de Deus demora muito tempo. É trabalho para uma vida, e Deus compreende-o.

Por isso, ganhe coragem e esperança. Alegre-se com as pequenas vitórias à medida que elas vão acontecendo. Cada uma é mais um passo a caminho de casa. Cada uma é mais um passo para o abraço do nosso Pai.

P. Dennis Clark
Catholic Exchange
Trad. / adapt.: rm
Imagem: Santa Maria Madalena

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Atos sexuais homossexuais são "naturais"


A orientação sexual é predominantemente heterossexual, homossexual, ou bissexual. Essa realidade "natural" e histórica, social e experiencialmente revelada pode estar obscurecida pela preponderância estatística.
A "natureza" e a lei natural sempre ocuparam um lugar proeminente na teologia moral católica e, no ensinamento religioso oficial, não só a homossexualidade, mas também as atividades sexuais do tipo pré-conjugal, extraconjugal, contraceptiva e não reprodutiva são condenadas como contrárias à lei natural.
Homens e mulheres históricos e racionais não têm acesso a uma "natureza" pura e não adornada. A "natureza" revela à nossa atenção, compreensão, julgamento e decisão somente a sua facticidade nua. Tudo além dessa facticidade é o resultado de uma interpretação por pessoas atentas, inteligentes, racionais e responsáveis; ou seja, nós experienciamos a "natureza" somente como interpretada e socialmente construída. A experiência não interpretada da "natureza", como de fato de cada outra realidade, fica restrita à sua mera facticidade e é desprovida de significado, uma qualidade que não é inerente à natureza, mas atribuída a ela por seres racionais em atos interpretativos. É inevitável que grupos diferentes de mulheres e homens igualmente racionais e historicamente fundados - como teólogos tradicionalistas e revisionistas, por exemplo - possam formular diferentes interpretações da "natureza" e das obrigações morais dela derivadas, e que qualquer interpretação dada possa estar equivocada. Em virtude de toda interpretação da "natureza" constituir uma realidade socialmente construída e dependente de interpretações humanas mediadas por perspectivas, a realidade da "natureza" deve sempre estar sujeita a escrutínio, ainda que a interpretação seja proposta pelo Magistério da Igreja.
A nossa antropologia sexual reconhece a orientação sexual como uma dimensão intrínseca da "natureza" humana. Como tal, o que é "natural" na atividade sexual, que constitui uma expressão da pessoa sexual, variará conforme a orientação sexual da pessoa, que tanto pode ser homossexual ou heterossexual. Atos sexuais homossexuais são "naturais" para pessoas com uma orientação homossexual exatamente como atos sexuais heterossexuais são "naturais" para pessoas com uma orientação heterossexual. São naturais porque coincidem com, e refletem, a "natureza" humana fundamental de uma pessoa criada à imagem e semelhança de Deus.

SALZMAN, Todd A. e LAWLER, Michael G. A pessoa sexual. Por uma antropologia católica renovada. São Leopoldo, RS: Ed. UNISINOS, 2012. p. 311-313.
Imagem: Catedral de Chartres.

Jesus procura inserir a todos na fraternidade


Não se trata de fazer das pessoas gays vítimas e cerrar fileiras ao seu lado contra o aparato eclesiástico, nem também de posicionar-se como defensor deste em nome da lei e da norma, sem alcançar o espírito íntimo do cristianismo.
Ambas as posturas refletem ressentimento.
Ressentimento não se supera com luta, com batalhas contra ou em defesa de alguma posição julgada errada tanto pelos que rejeitam o mundo homossexual quanto pelos que o defendem. Não vai por aí.
Jesus fez explodir o ciclo vitimário.
A reflexão vai na linha da superação de tal lógica, nada evangélica. Pelo contrário, Jesus procura inserir a todos na fraternidade inclusiva, universal de filhos de Deus. Só nessa perspectiva se opõe uma fraternidade excludente, fratricida, de Caim a respeito de Abel, que reivindica uma paternidade exclusiva e excludente. Esta se baseia no biológico, no cultural, enquanto a de Jesus, na gratuidade do dom de Deus que nos quer todos irmãos. Com efeito, existe uma natureza fratricida na cultura humana, que atua por meio de muitas instâncias particulares, de que a máquina eclesiástica não se faz exceção.
A libertação vem da dupla experiência de sentir-se filho amado de Deus e de poder dizer "nós" numa comunidade de irmãos em Igreja, sinal de um Reino apenas imaginável.
O discurso eclesiástico, que considera um grupo de pessoas como "os outros", separando-os do corpo eclesial, gera vítimas. Deus criador de todos, a quem ama incondicionalmente e que nos fala como a irmãos em seu Filho Jesus, refuga os mecanismos geradores de exclusão em nome da inclusão querida por ele.
A verdadeira natureza de Deus se descobre não por meio da verticalidade de uma paternidade que se impõe, mas pela horizontalidade de uma fraternidade que se vive.
Na antítese de tal mensagem está a violência física e simbólica. Um Deus situado nesse universo seria mesquinho. Muito próximo de nós, mas pouco Deus. Pelo contrário, Ele é aquele que preconiza gratuidade e aspira à vida integrada dos seres humanos, e não excluída, vitimada, separada.

J. B. Libanio. Apresentação de ALISON, James. Fé além do ressentimento. Fragmentos católicos em voz gay. São Paulo: É Realizações, 2010, p. 15-22.
Imagem: Salvador Dalí.
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