sábado, 17 de maio de 2014

17 de maio, Dia Internacional contra a Homofobia e Transfobia (2)


Acaba de sair um número temático da Revista Vida Pastoral sobre homoafetividade e fé cristã. Parabéns à Editora Paulus e ao padre Jakson Alencar pela coragem de abordar este assunto. A revista é de distribuição gratuita nas livrarias Paulus e Paulinas, basta pedir no balcão - e, a partir do segundo exemplar, paga-se R$ 1,00 por cada um. Futuramente, será disponibilizada também on-line.

Como bem assinalou Miguel Ferraz, citado pelos nossos amigos da página Católicos LGBT's:
"Novos tempos! Novos tempos! A consagrada revista Vida Pastoral faz sua capa e seus artigos principais sobre a fé cristã e a sexualidade homoafetiva! Tempos de coragem nos dado por Francisco! Pode-se dizer o que se vai na mente e coração!"

17 de maio, Dia Internacional contra a Homofobia e Transfobia (1)

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Se há uma coisa que me dá orgulho na minha trajetória como católico, é o fato de toda ela ter sido na Pastoral da Juventude, que me garantiu toda a formação política que tenho hoje - especialmente aquela que pauta as minhas reflexões sobre gênero e sexualidade (ainda que esse tema não seja tão debatido nela). Enquanto todos os meu contextos de convivência me cercaram de discursos conservadores por toda a vida, foi (curiosamente) na Igreja que encontrei um oásis de sonho, de liberdade, de crítica e de comprometimento verdadeiro com a construção de uma sociedade livre de opressões - que é o sonho de Deus, o projeto de Cristo.
[Neste] Dia Internacional de Luta contra a Homofobia, sinto reforçado esse meu orgulho - e essa minha pertença - ao ver essa nota da Caju Casa da Juventude, um dos principais centros de formação juvenil na América Latina, responsável por produzir alguns dos materiais mais presentes na minha formação cristã e no meu trabalho como liderança de pastoral. Vozes como essa reforçam a minha esperança e a minha vontade de ser Igreja, de ser Pastoral da Juventude, de ser "semente de transformação" - como disse um padre amigo certa vez, numa conversa sobre política, à beira da porta de casa.

- Murilo Araújo, no Facebook

terça-feira, 13 de maio de 2014

Reconhecimento mútuo


E, nesta semana de dia das mães (e poucos dias depois de uma postagem aqui no blog sobre o casal "Clarina"), deixo registrados aqui meus parabéns ao autor da novela das 21h, Manoel Carlos, pela cena de ontem entre mãe (Chica/Natália do Valle) e filha (Clara/Giovanna Antonelli) - que, apesar de casada há dez anos com um homem, com quem tem um filho, vem se descobrindo apaixonada por outra mulher, a fotógrafa Marina (Tainá Müller).
"Eu já desconfiava disso. (...) Eu queria conversar com você. Eu desconfiei, eu queria falar, mas eu não encontrava as palavras, sabe? Eu queria dizer alguma coisa, mas só me vinha à cabeça o discurso do preconceito. E esse eu não queria, porque... eu TENHO preconceito. Eu não queria ter. Eu tenho vergonha... Eu tenho vergonha de ter preconceito, mas eu tenho. Quem sabe agora, começando pela minha família, quem sabe eu consigo ficar livre mais rápido, mais fácil, desse preconceito.
Me dá um abraço?"
Quanta dor seria evitada, quantas almas e famílias seriam poupadas de se dilacerar, se esse reconhecimento (mútuo) honesto e franco pudesse ser feito e acolhido com mais frequência.

Assista à cena no site da novela, aqui.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Perguntas e respostas sobre Jesus e os homossexuais


Um livro que parece ser uma longa carta ao Papa Francisco sobre a questão homossexual depois da famosa frase:"Quem sou eu para julgar um gay?". A pergunta da qual se parte: o que é a violência para Jesus? "Violência, para Jesus, é imputar aos diferentes, aos rejeitados e aos oprimidos que eles são constitutivamente negativos, colocando no coração da sua autoconsciência a culpa e o desprezo por serem o que são, mesmo não tendo feito mal a ninguém".

A resenha é da filósofa e jornalista italiana Delia Vaccarello, vencedora do prêmio For Diversity Against Discrimination, da União Europeia. O artigo foi publicado no jornal L'Unità, 07-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto (obrigado pela dica!), aqui reproduzido via IHU.

Se a violência é induzir os "diferentes" a punirem a si mesmos com as próprias mãos, assimilando os ditames de uma doutrina segundo a qual a condição homossexual é uma tendência de "desordem objetiva", torna-se evidente a contradição entre o anúncio de salvação de Jesus e a condenação do amor gay e lésbico por parte da doutrina oficial católica.

Essa é a tese na base do livro de Paolo Rigliano, a partir do dia 12 de maio nas livrarias, intitulado Gesù e le persone omosessuali (ed. La meridiana), que abre à esperança. Com a carta-livro, Rigliano (autor, dentre outros, de Amori senza scandalo, Ed. Feltrinelli; Curare i gay?, Ed. Cortina) reúne entrevistas realizadas ao longo de quatro anos com personalidades de destaque entre as quais aparecem Alberto Maggi, Vito Mancuso, Franco Barbero, Elizabeth Green.

A questão dirigida a todos é: "como seguir Jesus?". E ela é formulada a partir deste princípio: "Para Simone Weil, violência é impor aos outros – os oprimidos – que sonhem e realizem o sonho do dominador, egocêntrico e exclusivo. A mensagem de Jesus nega na raiz essa violência, toda violência: compromete a criar as condições interiores e exteriores para que floresça o desejo e o sonho de cada um – dos diferentes e dos rejeitados em primeiro lugar".

A pergunta, então, torna-se uma vara divinatória que busca uma solução capaz de promover uma "relacionalidade nova" reconhecida pela doutrina: "Eu perguntei aos meus interlocutores como seguir Jesus e, portanto, dialoguei com eles sobre por que e como realizar uma acolhida integral da vida e do amor das pessoas lésbicas e gays: como fundamentá-lo e anunciá-lo, como antecipá-lo e suscitá-lo".

Das respostas de Elizabeth Green, vem à tona que Jesus não fala de homossexualidade porque isso não lhe interessa, porque o Evangelho "nos liberta da necessidade de criar categorias como 'homossexuais', 'mulheres', 'imigrantes', das quais eu tenho que me separar e que eu tenho que excluir para conseguir ser eu mesmo ou eu mesma".

Para Green, a "grandeza de Jesus está no fato de que ele se faz próximo de todos e de todas, vai ao encontro de todos e de todas", enquanto a oposição heterossexualidade/homossexualidade enrijece, multiplica as exclusões, engessa a sexualidade.

Alberto Maggi convida a buscar novas respostas: "A grande força que Jesus deu ao Evangelho é quando ele diz: 'O Espírito os acompanhará nas coisas futuras'. Ou seja, a comunidade tem a capacidade, graças ao Espírito Santo, de dar novas respostas às novas necessidades. Não se pode dar respostas velhas para as novas necessidades, portanto não se pode buscar nas Escrituras respostas a essa problemática".

Maggi se mostra confiante nas capacidades da Igreja de encontrar caminhos para evitar a exclusão, justamente porque os fechamentos sobre a sexualidade são e foram muito fortes, a ponto de serem paradoxais, e a reflexão está em andamento: "Ora, o pecado do divórcio é pior do que o de homicídio - diz o padre de Marche –, porque, se você matar a sua esposa e depois se arrepender, você retorna novamente à comunhão da Igreja. Mas se você se divorciar, não há mais perdão para você. É possível que seja mais grave se divorciar de um cônjuge do que matá-lo? Portanto, há comissões estudando isso, também o divórcio e a condição homossexual".

A propósito de "lei natural", com base na qual a homossexualidade é definida como "contra a natureza", Vito Mancuso fornece uma leitura alta disso, alinhada com os Evangelhos: "A lei que vivifica a natureza é a lei da relação. Tudo o que favorece a relação está em conformidade com a lei natural; tudo o que impede a relação é contrário à lei natural". E o Evangelho é "relação que busca alimentar os outros a ponto de se fazer alimento, relação que se esvazia para saciar os outros". Portanto, argumenta Mancuso, o Evangelho diz "que esses afetos que você desenvolve em nível físico devem poder ser vividos sob a insígnia da relação total harmoniosa".

Com uma prosa discursiva, o livro, através dos diálogos, mostra como o livre pensamento está presente dentro da Igreja. Ele oferece aos fiéis homossexuais uma nova forma de ler a própria experiência, colocando em primeiro lugar não a lei que exclui, mas sim a relação e o amor de Deus. Ele se inscreve no rastro da interrogação traçada pelo Papa Francisco.

Fonte
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