quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O papa da autocrítica e da purificação

Escultura: David Kracov

A opinião é do jornalista espanhol José Manuel Vidal, editor do sítio Religión Digital, 27-10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O texto chega aqui com atraso (a Jornada de Assis aconteceu em outubro último), mas pareceu-nos um testemunho tão relevante que achamos que valia a pena começar o ano com uma nota positiva e de esperança quanto à ação da Graça na Igreja. Nós, gays cristãos de todo o mundo (veja manifesto europeu aqui), confiamos na Graça e trabalhamos para que chegue o dia em que o reconhecimento da violência perpetrada contra os LGBTs com argumentos de cunho religioso, e o trabalho para reverter essa situação, serão uma realidade, e não apenas uma ironia de começo de ano.
;-)

Eis o texto, aqui reproduzido, com grifos nossos, via IHU.

Belíssima e profunda Jornada pela paz em Assis! Era palpável a sintonia religiosa, a comunhão em Deus. No Deus dos diferentes, mas, ao mesmo tempo, unos e irmãos. Com um manifesto pela paz coral, belo e emocionante e comprometido. No clima de profunda oração. E com um papa anfitrião humilde, que não queria se destacar e que foi capaz de dar uma bela lição de teologia espiritual, sem poupar a autocrítica e o apelo à purificação. Chegou a dizer que sente "vergonha" da violência religiosa ou em nome de Deus.

Papa deu em Assis mais uma de suas lições magistrais. Com enorme capacidade didática (incluindo resumos de suas ideias). Ele começou com a lembrança do seu amado antecessor, em seu encontro de Assis há 25 anos, que fez história. Era outra época: a dos blocos e do Muro de Berlim. Uma época que foi derrubada, segundo o Papa Ratzinger, pela falta de liberdades. E também da liberdade de acreditar.

Do ontem do Papa Wojtyla ao hoje do Papa Ratzinger. E no hoje a violência não desapareceu, tendo adotado diversas formas. O papa se aprofunda em dois tipos de violência fundamentais: o terrorismo e o ateísmo.

Do primeiro, sobretudo daquele que tem raízes religiosas, ele se envergonhou. E aproveitou a ocasião para propôr, em forma de perguntas, as críticas que os ilustrados fazem à religião. Em definitivo, acusando-a de ser promotora de ódio e de violência. Eles têm razão?, se pergunta o papa. E responde que "a violência não é a verdadeira natureza da religião". E, quando a religião provoca violência, ela se desnaturaliza, perde seu ser. É uma vergonha. Precisa de purificação para se converter em instrumento de paz.

O segundo tipo de violência atual é o ateísmo. E, para rebatê-lo, o papa realiza uma equação: é verdade que a religião desnaturalizada produziu violência, mas o ateísmo de Estado, ainda mais. E cita os campos de concentração. Junto ao ateísmo de Estado, está o ateísmo individual, o do "ter e poder", pelo qual "o homem destrói a si mesmo".

Além dos religiosos e dos ateus, o papa aponta para uma terceira categoria de pessoas: os agnósticos. Os que "buscam a verdade". A alguns deles, como o professor mexicano Hurtado, o papa convidou pessoalmente ao encontro de Assis. E recriminou aos religiosos pelo fato de que, se, às vezes, os agnósticos buscadores não encontram Deus, é culpa dos próprios crentes.

E a lição terminou com um "agir", depois do ver e do julgar. No compromisso, o papa convidou a caminhar juntos pela causa da dignidade da pessoa e da paz. E, concretamente, prometeu que "a Igreja Católica não cessará a luta contra a violência, em seu compromisso pela paz no mundo". Amém.

Um encontro, o de Assis de 2011, que, como o de 1986, passará para a história.

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