A análise é de Gianfranco Ravasi, cardeal presidente do Pontifício Conselho da Cultura, em artigo publicado no jornal Il Sole 24 Ore, 11-12-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto, aqui reproduzida via IHU, com grifos nossos.
Para além do diálogo ecumênico e inter-religioso, o grande interesse do Átrio, a nosso ver, é a forte carga simbólica de abertura ao diálogo com tudo o que tradicionalmente tem sido mantido "externo", "estrangeiro", "fora", "excluído" do corpo da Igreja. É uma clara e bela tentativa de entabular uma troca, um diálogo com forças diante das quais historicamente a Igreja recua e se fecha. E que bela a citação final de S. Paulo, reforçando que Cristo veio eliminar toda hostilidade e diferença. S. Paulo ignora as prescrições rituais de exclusão dos gentios e entra no templo com um pagão, pois sabe que a Boa Nova de Cristo veio eliminar toda exclusão: agora, não há mais crentes de um lado e pagãos do outro, pois Ele veio "para, dos dois povos, formar em si mesmo um só homem novo".
A esse respeito, aliás, vale a leitura do texto "André e os gregos", do nosso amigo Teleny.
E que neste tempo de renovação nasça um pouquinho mais, em cada um de nós, esse homem novo que não vê no Outro um diferente e um estranho, mas tão-somente seu próximo e seu irmão.
Eis o artigo.
Desde que, por impulso de um discurso de Bento XVI, o Pontifício Conselho para a Cultura deu início à iniciativa do "Átrio dos Gentios" [Leia um testemunho aqui], assistiu-se a um florescimento de iniciativas autônomas em muitas cidades, que muitas vezes surpreendem pela sua originalidade e que tiveram um selo próprio no encontro de Assis de outubro passado com Bento XVI.
De Bucareste a Florença, de Tirana a Barcelona, de Estocolmo a Palermo, de Praga a Marselha, até o Quebec e os Estados Unidos, os encontros se multiplicam. Algumas polêmicas, às vezes, se acendem, porque algumas formas de ateísmo de corte popular e agressivo se sentem excluídas, quase como se o debate ocorresse só em nível intelectual e de "ateus devotos" (estes últimos, por sua vez, se lamentam pelo fato de que se sentem pouco considerados).
Na verdade, também está sendo pensada uma resposta a esse pedido, não raramente provocativo, porque sabemos o quão real é o público que tal ateísmo-agnosticismo-racionalismo suscita, criando interrogações, críticas, dúvidas em muitos.
Sobre isso, no entanto, vou falar no futuro. Desta vez, queremos propor – com base em perguntas de leitores do nosso suplemento – uma questão muito mais marginal e quase "filológica". Ela nasce justamente de algumas objeções sobre a metáfora "Átrio dos Gentios", que, naqueles que não conhecem as ascendências bíblico-judaicas, cria algum embaraço.
De fato, se você está no "átrio", você é sempre um externo, quase um marginalizado. Busca-se, no entanto, recuperar o valor desse símbolo afirmando que o "átrio" é, na realidade, um espaço livre, onde o vento corre, o sol brilha e se avista o céu, sem o necessário fechamento e autorreferencialidade que o Templo, sede do sagrado, e o Palácio, sede da laicidade, impõem. A imagem tem, contudo, uma história própria já conhecida por muitos. Agora, buscaremos repropô-la, mas apenas em um detalhe próprio que não é secundário, porém.
É sabido, de fato, que o templo construído por Herodes, a partir dos anos 20 a.C. e concluído muito tempo depois da sua morte, ocorrida em 4 a.C. (em João 2, 20 fala-se de 46 anos empregados para a construção do edifício), compreendia, além do santuário de verdade, quatro átrios ou pátios: dos sacerdotes, dos israelitas, das mulheres, dos gentios, de acordo com os diversos graus das várias classes rituais. O mais externo era, portanto, reservado aos gentios, às gentes, aos "pagãos", que, aos olhos dos judeus daquela época, eram automaticamente equiparados àqueles que hoje nós chamamos de ateus, embora, na verdade, eles adorassem os seus deuses, como reconhecera o próprio São Paulo atravessando as ruas de Atenas ("Atenienses, em tudo eu vejo que sois extremamente religiosos. Com efeito, observando, ao passar, as vossas imagens sagradas, encontrei até um altar com esta inscrição: 'A um deus desconhecido'", Atos 17, 22-23).
Pois bem, segundo a descrição do historiador Flávio Josefo na sua Guerra Judaica, uma balaustrada com três côvados de altura (cerca de 1,40 m) – mas a Mishná, texto que contém antigas tradições judaicas, a media apenas em dez palmos (0,75 m) – separava esse pátio do resto da área do templo. Sobre ela, escrevia o historiador judeu filoromano, "eram colocadas, em igual distância, placas de pedra (stêlai), algumas em caracteres gregos e outra em latim, as quais declaravam a lei da pureza, isto é, que nenhum estrangeiro entrasse no lugar santo" (V 5,2).
Eis-nos diante do particular sobre o qual nos deteremos brevemente, as "estelas", ou seja, as placas de mármore com a proibição de ultrapassar a balaustrada-fronteira entre sagrado e profano. Em 1871, de fato, o arqueólogo francês Charles Simon Clermont-Ganneau descobriu no setor norte da atual esplanada das mesquitas em Jerusalém uma lajota de calcário com 56 centímetros de altura, 86 de largura e 37 de espessura, com algumas lascas, talvez devido ao ataque das tropas romanas na destruição do Templo ocorrida em 70 d.C.
Agora, a placa está conservada no Museu do Antigo Oriente de Istambul. Em 1935, no lado leste da mesma esplanada, veio à luz uma outra peça fragmentária que confirma a anterior e que está guardada agora no Museu Rockefeller de Jerusalém. Mas voltemos à primeira. Ela contém, sobre sete linhas, esta proibição formulada em grego: "Que nenhum gentio (alloghené) ultrapasse a balaustrada de delimitação do templo. Quem for surpreendido, será causa da sua própria morte que se seguirá".
Curioso é o termo que define o "gentio", alloghenés, desconhecido no grego clássico grego e usado apenas no grego judaico e cristão; tanto é verdade que ele também é encontrado no Evangelho de Lucas (17, 18) para definir o samaritano leproso que volta para agradecer Jesus depois da cura, diferentemente dos outros nove judeus curados. À primeira vista, a severidade da pena em caso de violação destoa da mesma liberalidade da própria Torá que, no Levítico, tem, ao contrário, esta norma: "Que todo israelita ou estrangeiro (gher) que vier morar no meio de vós ofereça um holocausto ou sacrifício e leve a vítima à entrada da Tenda do Encontro" (17, 8-9).
Muitos estudiosos consideram que a proibição tão clara e dura era o fruto do rigor dos escribas judeus do Templo daquela época, preocupados com o excesso de estrangeiros que chegavam a Jerusalém durante a época greco-romana, levando-se em conta também a política herodiana que era muito liberal a esse respeito. Tais proibições, no entanto, também estavam em vigor em outros sistemas templários do Oriente Próximo e da própria Grécia. Nesse ponto, é legítima uma pergunta: as autoridades romanas de ocupação tinham endossado tais práticas que, à primeira vista, lesava a sua jurisdição e o seu próprio interesse?
De acordo com Flávio Josefo, parece que sim, porque ele declara ter lido pessoalmente (sabe-se que o historiador era um "colaboracionista") aos judeus sitiados em Jerusalém essa proclamação de Tito, o comandante do exército romano e futuro imperador: "Não fostes vós que colocastes esta balaustrada diante dos lugares santos? Não fostes vós que colocastes em intervalos as estelas gravadas com letras gregas e nossas, para ordenar que ninguém ultrapassasse esse parapeito? Não fomos nós que vos demos a permissão para levar à morte aqueles que o ultrapassassem, mesmo que se tratasse um romano?" (Guerra Judaica 6,2,4).
Nessas linhas, é evidente a autorização romana para executar a condenação à morte por parte da autoridade templar judaica em caso de violação grave da proibição, através da "polícia" de proteção da área sagrada. Reconhecia-se, portanto, a competência jurídica para emitir uma imediata e automática sentença capital contra aqueles que tivessem atravessado aquele muro de fronteira entre sagrado e profano, um ato que nos parece desproporcional, mas que, na realidade, respondia a uma sensibilidade muito forte naquela época com relação ao tema da pureza ritual. O poder imperial romano queria, além disso, evitar ocasiões de conflito, pelo menos nesse âmbito, com um povo de natureza ferozmente hostil às tropas de ocupação. Flávio Josefo, ainda na mesma obra (II 12,2), menciona o caso da imediata condenação à morte imposta pelo promotor Cumano a um soldado romano que tinha rasgado provocativamente um rolo da Torá. É por isso que a epígrafe era em grego, justamente porque a advertência se referia aos gentios que ignoravam o hebraico e liam ou falavam o grego (que era, na prática, o inglês daquela época).
Tudo o que descrevemos até agora também encontra confirmação no episódio narrado pelos Atos dos Apóstolos, que vê como protagonista São Paulo, acusado de "ter trazido gregos para dentro do templo, profanando este santo lugar", dado que ele estava na companhia de um certo Trófimo de Éfeso e, portanto, suspeito de ter seguido o apóstolo na área sagrada (21, 27-30). Mas a figura de Paulo se torna decisiva para uma concepção bem diferente daquele "átrio", quando, aos cristãos de Éfeso, ele escreve: "Cristo é a nossa paz: de dois povos fez um só povo, em sua carne derrubando o muro da inimizade que os separava, isto é, a inimizade (...), para, dos dois povos, formar em si mesmo um só homem novo" (Efésios 2, 14-15).
A "inimizade" era a realidade implicitamente subentendida às placas daquela balaustrada que dividia pagãos e judeus, uma hostilidade que Cristo tinha anulado. O novo símbolo do "Átrio dos Gentios" gostaria de continuar eliminando essa separação em um encontro de paz, de diálogo, de busca. Tweet
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