Óleo sobre tela: Michael Peck
Talvez por estar diuturnamente me deparando com situações que considero tremendamente desiguais e duras para as pessoas que fugiram da aula de ser "normal" físico, sensorial e intelectualmente, questiono sempre se estão sendo justas as minhas atitudes, as ideias e os posicionamentos diante o tocar da vida.
Com esse pensamento, foi um pulo me apegar qual chapéu na cabeça de careca ao envolvente "Justiça - O Que É Fazer a Coisa Certa", de Michael J. Sandel, professor de um disputado curso da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
Na obra, o autor vira a cabeça da gente de revestrés quando começa a colocar situações nas quais devem se escolher soluções consideradas as mais justas.
Quando se acha que a melhor decisão foi tomada, Sandel aplica outro argumento e bota as convicções da gente "na chon", como diria Aracy Balabanian em uma novela qualquer.
O "maraviwonderful" do livro é ir abrindo portas sobre novas possibilidades de enxergar atitudes e posicionamentos tomados no dia a dia, com a certeza de estarem certos, mas que postos diante de um holofote podem revelar distorções, erros ou falhas de conceitos.
É justo dar a vez ao velho na fila do banco uma vez que ele é aposentado e tem todo o tempo do mundo para pagar as contas?
É justo que o povo prejudicado das pernas pague menos impostos na compra de uma charanga?
E a mulher grávida ser atendida com prioridade em um hospital, seria justo?
É justo que em um cenário de fatalidade, uma criança recém-nascida seja salva antes de um cientista prestes a descobrir a cura de uma doença grave?
Antes de avaliar a justeza das coisas, é preciso descartar o aspecto do "dózinho" que dá no coração da gente diante de algumas situações, descartar o assistencialismo puro, que só atravanca a formação de uma nova realidade social. É necessário também abrir mão do egoísmo que vai sempre direcionar as decisões para o umbigo e não para o bem comum, para o universo.
Para ser justo é imprescindível ter "fé nas faculdades humanas mais elevadas" como aquelas ligadas a valores, à cidadania, à moral, aos direitos humanos, à individualidade do cidadão, como diz o professor de Harvard.
Para ser justo é preciso dosar a felicidade que as atitudes irão gerar com as dores que poderão provocar tanto na maioria como no único, além de outras questões filosóficas que variam a cada tomada de decisão.
Em resumo, ser justo, às vezes, pode dar um trabaaaaalho danado.
Porém, ter a preocupação e o cuidado de valorizar as decisões do dia a dia, sobretudo aquelas que envolvem diretamente os interesses do outro, ajuda a construir uma sociedade mais igualitária, menos voraz com os tidos mais suscetíveis por razões diversas - faixa etária, característica físicas, econômicas etc.
Quem dera se 2012 fosse declarado o ano internacional para ser mais justo. Assim, o eleitor poderia ser mais justo com a urna, os pais seriam mais justos com os filhos, o empregado seria tremendamente justo com o patrão, as vítimas seriam justas com seus algozes ou tudo isso ao contrário, evidentemente.
- Jairo Marques
jairo.marques@grupofolha.com.br
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