domingo, 1 de janeiro de 2012

Perguntas frequentes: "Como uma família católica deve encarar a homossexualidade de um de seus membros?"

Perguntas frequentes

Desde o final do ano passado, todos os domingos à tarde publicamos algumas perguntas da seção "Perguntas frequentes" do site do Diversidade Católica. Você pode acessar a série completa no próprio site do DC, ou na tag "perguntas frequentes". :-)

"Como uma família católica deve encarar a homossexualidade de um de seus membros?"

Não importam as circunstâncias: pode ser muito difícil perceber que um dos membros da família é gay.

Há duas percepções de tais momentos: como “crise” ou como “oportunidade” dada por Deus para avaliarmos os verdadeiros laços que unem a uma família e, sendo esta católica, o que ela reteve como o mais importante do Evangelho.

É natural que cada membro da família tenha expectativas, sonhos e projetos em relação aos demais.

Pais esperam que filhos e filhas sejam homens e mulheres de bem, se realizam na profissão e na vida pessoal, desejam netos. Filhos querem ser amados por seus pais, desejam incentivo e apoio.

De maneira geral, todos nutrem expectativas em relação aos familiares de acordo com o que a sociedade entende como boas, aceitáveis.

No fundo, queremos o que a maioria quer porque não desejamos que nossos entes queridos sofram. Situações que os coloquem à margem dos padrões tradicionais podem gerar sofrimento.

Por maiores que sejam os avanços no nível da aceitação social em relação a gays, ainda há muito preconceito.

Quando alguém da família é gay, os outros membros se vêem obrigados a encarar a questão da homossexualidade a partir de uma perspectiva muito pessoal. Será preciso lidar agora não só com o preconceito externo, mas também com aquele que se encontra internalizado em cada um.

Uma boa reflexão para os que têm membro familiar gay é avaliar o quanto a dificuldade de aceitação vem do fator social. Vale recordar a dimensão histórica do preconceito social. Um bom exemplo é o divórcio. Se há algumas décadas a “culpa” por ser divorciado (a) era um grande problema, atualmente esta condição não pesa mais.

No caso específico das famílias católicas, e aqui pensamos naquelas que, de fato, praticam a fé, a descoberta de que um membro é gay pode ser ainda mais dolorosa.

Não apenas pelo preconceito presente de tantas formas na sociedade e internalizado nas pessoas, mas, porque, sendo católica, esta família presta atenção àquilo que a Igreja nos diz a respeito da vida, acredita na verdade proclamada por ela e na qual, justamente, parece não haver espaço para uma vivência aceitável da homossexualidade.

A respeito das posições doutrinais do Magistério e da Sagrada Escritura em relação à homossexualidade, recomendamos a leitura atenta dos conteúdos presentes em nosso site.

Mas é possível, desde já, observar alguns aspectos da postura familiar mais cristã quando um dos membros da família revela ser gay.

Primeiro, é preciso buscar informação a respeito do tema. Muitas compreensões que temos a respeito da homossexualidade, da maneira com que os gays vivem e se relacionam, são fruto de preconceito. São estereótipos.

O que as ciências dizem a respeito da homossexualidade? O que os próprios homossexuais dizem de si? Há inúmeras publicações em revistas e na internet, uma enorme gama de possibilidades para vencermos a homofobia inicial. Recomendamos o trabalho desenvolvido pelo Grupo de Pais de Homossexuais – com sede em São Paulo e núcleos em outras cidades do Brasil – e os livros sobre escritos por sua fundadora, a professora Edith Modesto (www.gph.org.br).

Convém também nos questionarmos sobre o significado de um laço familiar. Quando pensamos poder definir todos os aspectos da vida de familiares a partir de nossos próprios gostos, crenças e pontos de vista, estamos, muito provavelmente, projetando a nós mesmos sobre toda a rica diferença dos demais membros do círculo familiar.

Ao nos sentimos frustrados porque algum dos nossos não pensa, age ou deseja como nós, nosso convívio com ele ou ela fica de certa forma ameaçado. Na verdade, talvez estejamos sendo orgulhosos e egoístas.

Para as famílias católicas, há uma verdade de fé acima de todas as outras – inclusive as outras desejam ser sinalização concreta para tornar mais fácil esta primeira e fundamental: amar a Deus e ao próximo. O que na verdade quer dizer: amar a Deus no próximo.

Amar significa ser capaz de sair de si mesmo, das suas posições, dos próprios medos e preconceitos para ir ao encontro daquele que precisa. Jesus fez isso ao longo de toda sua vida aqui na terra.

Se, como cristão, não somos capazes de vencermo-nos no amor e, por amor, acolher, apoiar, estar presente junto ao nosso familiar gay, ainda que isto não signifique aceitação ou mesmo que seja um processo lento, entendemos muito pouco do que é o centro de toda a fé.

Quanto mais alguém nos desafia por ser justamente o contrário daquilo que esperávamos, mais esta relação questiona a nossa fé.

Amar quando as pessoas correspondem ao que desejamos, quando não há conflitos, diz o evangelho, “até os pagãos fazem assim”.

O distintivo cristão é este amor que se lança também sobre o diferente, sobre o que é considerado, pelos homens, menos digno. E o próximo a quem devemos amar é aquele, de fato, mais próximo de nós, com quem podemos exercer um amor concreto não abstrato. “Por ora subsistem a fé, a esperança e o amor. O maior deles, porém é o amor.” (I Cor 13, 13).

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Caso se interesse, leia também:
"Quando o filho sai do armário, a mãe entra"
Carta de um padre aos pais de homossexuais

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