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Uma peregrinação "pela verdade e pela paz". Foi com esse propósito que Bento XVI e diversos outros líderes religiosos de todo o mundo estiveram reunidos em Assis, na Itália, entre 27 e 28 de outubro. Uma data e um encontro histórico, a 25 anos da primeira Jornada de Oração pela Paz, convocada por João Paulo II em 1986, para uma oração comum pela paz em um período histórico marcado pela Guerra Fria.
Na opinião do teólogo Faustino Teixeira, a iniciativa de João Paulo II “deixou importantes rastros no âmbito do diálogo inter-religioso, sobretudo um ‘espírito’ novidadeiro de respeito e abertura aos outros”. Por isso superou as críticas – inclusive as do atual papa, naquela época cardeal e presidente da Congregação para a Doutrina da fé – e recebeu uma nova edição, em 2002, após os atentados do 11 de setembro.
Nesta terceira edição, relembra Teixeira, em entrevista por e-mail à IHU On-Line, retorna a “linda imagem” utilizada por João Paulo II para expressar aquele momento inaugural: “uma ‘viagem fraterna’ em que uns acompanham os outros visando a meta misteriosa e transcendente que Deus estabeleceu para todos”.
Nos últimos anos, no papado de Bento XVI, “não houve nenhum documento ou gesto concreto que modificasse a nítida perspectiva teológica que eu nomeio como teologia do acabamento, pois traduz a ideia de que todas as religiões encontram sua realização na Igreja católico-romana”, pondera Teixeira.
Mas revela: “O novo encontro de Assis situa-se nessa perspectiva, mas pode favorecer novos sinais dialogais. É o que esperamos todos”. Ou seja, uma “possibilidade de transmitir a essencial vocação de acolhida e de busca da paz, sem as quais não poderá haver um futuro amoroso para o nosso tempo”.
Faustino Teixeira é professor do programa de pós-graduação em ciência da religião da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF, pesquisador do CNPQ e consultor do ISER-Assessoria. É pós-doutor em teologia pela Pontificia Universidade Gregoriana. Entre suas últimas publicações, encontram-se Catolicismo Plural: Dinâmicas contemporâneas (Ed. Vozes, 2009) e Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso (Ed. Santuário, 2008).
Confira a entrevista, aqui reproduzida via IHU, com grifos nossos.
O que significou o gesto de João Paulo II, há 25 anos, ao convocar uma Jornada Mundial de Oração pela Paz junto aos grandes líderes religiosos mundiais?
Foi um dos mais significativos gestos de João Paulo II em seu pontificado. Foi um encontro paradigmático, na medida em que facultou uma profunda ruptura no posicionamento tradicional da Igreja Católica Apostólica Romana – ICAR no campo do diálogo inter-religioso. O próprio Papa João Paulo II se expressou a propósito em seu discurso natalício aos membros da cúria romana, em 22 de dezembro de 1986: “O acontecimento de Assis pode ser considerado uma demonstração visível (…) daquilo que pressupõe e significa o esforço ecumênico e o esforço pelo diálogo inter-religioso recomendado e promovido pelo Concílio Vaticano II”.
Foi um evento grandioso e deixou importantes rastros no âmbito do diálogo inter-religioso, sobretudo um “espírito” novidadeiro de respeito e abertura aos outros. E também a convicção firmada de que a oração de todos, no respeito às suas diferenças, é fundamental para a paz entre as nações. E, quando é autêntica, traduz um significativo fruto do Espírito.
Houve resistências a essa iniciativa?
Foi um evento que suscitou muitas reservas, sobretudo entre os tradicionalistas lefebvrianos, mas também entre cardeais da cúria romana, que manifestavam temor pelo risco de sincretismo. Marcel Lefebvre identificou o evento como um escândalo e uma “blasfêmia pública”. Mesmo o cardeal Ratzinger, na ocasião, não manifestou grande entusiasmo pela iniciativa, preferindo manter uma “reserva mais que morna”, para utilizar a expressão do historiador Alberto Melloni.
Apesar das resistências, prevaleceu a ousadia dialogal de João Paulo II, que soube reconhecer que o desafio da paz é mais amplo e urgente do que as diferenças religiosas. E dizia: “Ou aprendemos a caminhar juntos em paz e harmonia, ou nos desconhecemos mutuamente e nos destruímos a nós mesmos e aos outros”. E linda foi a imagem que utilizou para expressar aquele momento: uma “viagem fraterna” em que uns acompanham os outros visando a meta misteriosa e transcendente que Deus estabeleceu para todos.
Na preparação ao primeiro encontro, na década de 1980, grupos mais tradicionais da Igreja criticaram as tendências relativistas ou sincretistas do encontro, como os lefebvrianos. E as críticas retornam nessa nova edição. Que desafios o diálogo inter-religioso apresenta à Igreja?
De fato, os lefebvrianos continuam em sua rígida oposição. O superior atual do grupo lefebvriano, D. Bernard Fellay, reagiu de forma dura ao saber das intenções de Bento XVI em retomar o curso dos eventos de Assis. Ele comenta: “Todos os deuses pagãos são demônios e Assis estará cheia de demônios”. Sem comentários…
As maiores dificuldades, já no primeiro evento, estavam relacionadas ao tema da “oração comum”. Houve então uma preocupação permanente dos idealizadores de evitar o risco de sincretismo religioso, e isso se manifestava na fórmula escolhida para o encontro: “juntos para rezar” e não “rezar juntos”. Evitou-se fazer qualquer tipo de oração comum, mas as orações foram realizadas com muita liberdade, expressando assim os caminhos diversos, mas nobres, de relação amorosa com o Mistério Absoluto. E elas aconteceram no interior da Basílica inferior de São Francisco, em sucessão contínua, com a assistência reverencial de todos. Isso será modificado nos eventos sucessivos. Não se pode, porém, descartar a plausibilidade de eventos pontuados pela presença de uma oração comum, e isso não significa necessariamente recair no sincretismo. É o que expressou tão bem, Marcello Zago, em texto publicado no L'Osservatore Romano de outubro de 1986: “Estar junto para rezar, e às vezes rezar junto, é reconhecer este fato essencial da relação de todos os homens com Deus”.
O rico documento do então Secretariado para os não Cristãos, Diálogo e Missão (1984) – assinado também pelo então secretário, Marcello Zago – ressaltava como o nível mais profundo do diálogo a “partilha das experiências de oração, contemplação e fé” (DM 35). Infelizmente a dinâmica dos eventos sofreu mudanças substantivas nesse campo.
Desde 1986, houve algumas mudanças a partir do título: de “Jornada Mundial de Oração pela Paz” passou-se a “Jornada de Reflexão, Diálogo e Oração pela Paz e a Justiça no Mundo”. Como podemos entender essas novas ênfases?
A nova jornada de Assis, em comemoração ao 25º aniversário do primeiro evento, realizado em 1986, muda de fato o seu tom. De uma jornada de oração passa a ser, sobretudo, uma jornada de reflexão. Isso não significa a inexistência de um momento específico de oração silenciosa individual, que também ocorrerá. Mas o traço substantivo será de índole reflexiva, em favor da paz mundial. Como expressou o cardeal [Jean-Louis Pierre] Tauran, presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, “no mundo tão precário e cheio de muros de separação físicas e morais, me parece mais do que nunca oportuno que as religiões, apesar de suas diferenças, promovam juntas a paz. O diálogo entre as religiões é sempre um chamado de Deus a redescobrir suas próprias raízes espirituais”.
De forma bem curiosa, o Papa Bento XVI, antes resistente aos eventos desta natureza, se vê agora diante de sua urgência e inevitabilidade. Redescobre, assim, o valor da intuição de João Paulo II. Mas a perspectiva agora é diferente, marcada por um controle doutrinal mais decisivo e com a ênfase voltada mais para a dimensão cultural do diálogo. A ausência premeditada de momentos públicos de oração comum é uma forma precisa de evitar o risco de um binômio que acompanha as lides desse pontificado: relativismo/sincretismo.
Quanto à novidade de estender o convite aos não crentes, julgo a ideia bem pertinente. O diálogo inter-religioso deve envolver, igualmente, as distintas opções espirituais, religiosas ou não. É uma ideia que vem corroborar o projeto ratzingeriano de transformar o diálogo inter-religioso num diálogo mais cultural.
Qual o significado e o valor da oração inter-religiosa? Ou, em outros termos, qual o medo da Igreja de rezar junto com as demais religiões?
Num belo livro em que recolhe seus sermões, "Passion de l’homme passion de Dieu" (1991), o teólogo Claude Geffré trabalha de forma magnífica a ideia da oração como “mistério de gratuidade”. Ele sinaliza que a oração é a “atitude fundamental do homem religioso, mais universal do que a fé explícita num Deus pessoal”. Há uma dimensão universal da oração que ultrapassa a dinâmica particular e restrita das religiões.
Na visão de Geffré, com a qual concordo plenamente, o primeiro encontro de Assis fez eclodir um “ecumenismo planetário”, pontuado pelo alcance universal da oração. A oração suscita, antes de tudo, um descentramento de si e um recentramento no outro, um grande aprendizado de gratuidade, de abertura e conversão do coração. Grandes momentos dialogais foram e são vividos pontuados pela oração em comum: veja os importantes exemplos dos monges de Tibhirine (Argélia) e dos religiosos da Comunidade de Mar Musa (Síria), no diálogo com os muçulmanos e outros tantos exemplos nessa linha.
Não sem razão, sublinha Jacques Dupuis: “A oração comum se apresenta como a alma do diálogo inter-religioso, mas também como a expressão mais profunda do diálogo e, ao mesmo tempo, como a garantia de uma conversão comum mais profunda a Deus e aos outros”.
O tema deste ano é Peregrinos da verdade. Peregrinos da paz. E a peregrinação dos líderes religiosos será também um ponto forte do encontro, seja de trem (do Vaticano até Assis) ou a pé (para a entrada na Basílica de São Francisco). Como essa imagem do “caminhar juntos” pode inspirar o diálogo inter-religioso?
Em editorial da revista Concilium, cujo tema versava sobre as peregrinações (1996/4), Christian Duquoc e Vigil Elizondo sublinhavam que “o senso da peregrinação parece responder a uma profunda necessidade que o ser humano tem de ir além dos limites da experiência ordinária e entrar no misterioso reino do além”. De fato, há algo de ousado na experiência das peregrinações, sobretudo a disposição de “expor-se a novas paisagens” e arriscar-se a ampliar as possibilidades. E as religiões, como fragmentos, estão desafiadas a fazer essa travessia. Volto aqui à bela imagem de João Paulo II, de uma “viagem fraternal” pontuada pelo mútuo aprendizado e pela troca de dons, rumo a um horizonte maior, ainda inominado.
A inclusão de não crentes no debate inter-religioso por parte do Vaticano também remete à proposta do “Átrio dos Gentios”, impulsionado pelo cardeal Gianfranco Ravasi. Qual a contribuição dos ateus e dos não crentes para o diálogo entre os que creem?
A proposta é interessante, mas a imagem ainda é precária. Falar em “Átrio dos Gentios”, tomando a metáfora de Bento XVI, é ainda realçar a disparidade entre aqueles que detêm a verdade e os “outros” que se encontram no pórtico exterior. É uma imagem que pressupõe, ainda que não intencionalmente, a apropriação da verdade por parte de alguns em detrimento de outros. Sobre isso chamou a atenção o sociólogo Peter Berger, sendo retomado por Marco Politi em sua recente obra sobre o papado de Joseph Ratzinger ("Joseph Ratzinger. Crisi di un papato" – 2011).
Não há dúvida, porém, da importância dessas novas presenças no evento de Assis, entre as quais [a filósofa e psicanalista búlgara-francesa] Julia Kristeva e [o filósofo italiano] Remo Bodei. Esse último autor, filósofo e professor na Universidade da Califórnia, acolheu prontamente o convite feito pelo cardeal Ravasi e sublinhou o significado dessa florescente consciência: “Se os dogmas religiosos entram em contato com as ideias do mundo e saem de sua clausura, isso se torna um fato positivo também para os ‘laicos’, isto é, aqueles não crentes que não querem viver na banalidade”. Também a Igreja vem enriquecida por essa pars paganorum, essa parte de paganidade, esse “lugar fora de sua residência”, capaz de favorecer a ampliação do olhar e a abertura atenta para as coisas deste mundo. Como indicou o teólogo belga Adolphe Gesché, “o Evangelho não é suficiente para tudo, não diz tudo sobre o ser humano”.
No livro "Joseph Ratzinger, Crisi di un papato" (Ed. Laterza), o vaticanista Marco Politi, como aponta o título, delineia uma forte crítica ao pontificado de Bento XVI em seus seis anos de pontificado. Como o evento de Assis se encaixa nessa análise? Que continuidades ou rupturas se apresentam nesse fato?
Vou aqui me fixar nos traços específicos do livro que tratam da questão das religiões, e em particular ao evento de Assis. Trata-se de um livro precioso, recheado de uma “impecável documentação” sobre o percurso do pontificado de Bento XVI. O diagnóstico feito por Politi é sombrio, apontando “sinais de incerteza” na condução estratégica do pontificado em vários âmbitos. Um deles é justamente o do ecumenismo e do diálogo inter-religioso.
Com precisão certeira, Politi sinaliza que a lógica que marca o itinerário do pontificado é tecida por uma “mecânica de passos em falso”. Atuações problemáticas são depois corrigidas por “intervenções de socorro”, que buscam amenizar o impacto das controvérsias. E são tantas as que podem ser nomeadas, como o fez brilhantemente Marco Politi em seu livro e não vem ao caso aqui retomá-las. O autor fala na presença de uma “mão invisível” a suscitar novas e previsíveis polêmicas.
Nesses seis anos de pontificado, seguindo a argumentação de Politi, o “lobby pró-Ratzinger”, que o impulsiona adiante, não apresenta um “projeto de respiro para o futuro da Igreja”. O que se verifica é uma dinâmica marcada pelo traço defensivo, de reação ao mundo contemporâneo, frágil para anunciar a alegria de um Deus misericordioso e atento aos sussurros do plural. Para muitos das novas gerações, como indica Politi, é um papa que “não transmite esperança”, que não suscita atração. Fala nele mais o homem das palavras, o teólogo racional, distante da possibilidade de mostrar uma “Igreja de misericórdia”.
Com respeito às religiões, os desencontros são inúmeros. A tensão com o mundo protestante vem acirrada desde a década de 1990, com a minoração eclesial das Igrejas protestantes, reduzidas a partilharem apenas “elementos da Igreja de Cristo”. Nesse período, estava na direção da Congregação para a Doutrina da Fé o cardeal Ratzinger, que defendia firmemente tal posição, que depois veio reiterada na Declaração Dominus Iesus, de 2000. Em sua obra "Igreja: carisma e poder" (na edição revista de 2005), Leonardo Boff relata com detalhes a tensão que marcou seu colóquio com o cardeal Ratzinger em torno da interpretação da passagem da Lumen Gentium 8, que trata da questão do subsistit in, ou seja, da forma de subsistência da Igreja de Cristo na Igreja Católica.
Para Boff, a Igreja de Cristo ganha sua forma na Igreja Católica, embora se concretize igualmente, de um modo particular, nas demais Igrejas, portadoras da herança de Jesus. Para Ratzinger, diversamente, a Igreja romano-católica é a “única Igreja de Cristo”, enquanto as demais têm apenas “elementos eclesiais”. Essa posição veio confirmada na Dominus Iesus. A relação com os judeus vem também tensionada nos últimos anos e isso se deve a certas atitudes como a liberação do rito tridentino e o motu proprio, summorum pontificum (de julho de 2007), que resgata a oração da sexta-feira santa, que fala dos “pérfidos judeus”; a reabilitação de quatro bispos da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, criada por Marcel Lefebvre, sendo que um deles, o bispo Richard Williamson, chegou a colocar em dúvida a existência do Holocausto. Acrescentam-se os percalços da viagem papal à Polônia, em maio de 2006. Mais recentemente, reacende-se a polêmica quando o cardeal Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos, publica um artigo no L'Osservatore Romano (07-07-2011) assinalando que a cruz de Jesus é para os cristãos o permanente e universal Yom Kippur. O artigo provocou duras reações do rabino de Roma, Di Segni.
Com respeito ao islã, há uma certa “desconfiança de fundo” que acompanha boa parte do pontificado de Bento XVI. O ponto culminante foi o discurso na universidade de Regensburg, em setembro de 2006. Marco Politi fala na “catástrofe de Regensburg”, que joga ao chão 20 anos da política wojtyaliana nos confrontos do islã. Como sempre ocorre nesse pontificado, depois do desfeito sucedem-se as tentativas de reparo, e isso ocorreu com as declarações reparadoras do secretário de estado, cardeal Bertone, e também do próprio papa. Em suas viagens à Turquia e Terra Santa a tonalidade já foi outra, embora saliente com razão Politi, não se abriu em seguida novas páginas na relação com islã.
Um estranho episódio que diz respeito ao diálogo com o islã foi a destituição do antigo presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, Michael Fitzgerald, e seu encaminhamento para o “exílio” no Cairo. O seu dicastério funde-se com o Pontifício Conselho para a Cultura em março de 2006. A decisão mostra-se problemática já no ano seguinte, dada a importância estratégica da relação com o islã. E o processo vem refeito, em junho de 2007, com a nomeação do cardeal Jean-Louis Tauran para presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso. Como ex-ministro do exterior do Vaticano era um homem de diálogo e bom conhecedor do mundo árabe, como Fitzgerald.
Com respeito às outras religiões, fica ainda registrado na memória aquela infeliz expressão da Dominus Iesus, que indica que elas encontram-se numa “situação gravemente deficitária, se comparada com a daqueles que na Igreja têm a plenitude dos meios de salvação” (DI 22). Não houve nenhum documento ou gesto concreto nesse atual pontificado que modificasse essa nítida perspectiva teológica, que eu nomeio como teologia do acabamento, pois traduz a ideia de que todas as religiões encontram sua realização na Igreja católico-romana. O novo encontro de Assis situa-se nessa perspectiva, mas pode favorecer novos sinais dialogais. É o que esperamos todos.
Assis também tem um imenso legado religioso por ser a terra de Clara e Francisco. Como esse legado pode inspirar, hoje, o diálogo inter-religioso, especialmente por parte de seus herdeiros “diretos”, ou seja, os cristãos católicos?
Não foi sem razão que João Paulo II escolheu Assis para a realização da primeira Jornada Mundial de Oração pela Paz. É, antes de tudo, um símbolo fundamental para o diálogo e entendimento entre as religiões. E dois nomes, como bem lembrou Wojtyla, estão intimamente ligados na lembrança dessa cidade: Francisco e Clara – “Dois nomes, duas vocações, que recordam os valores evangélicos da caridade, da pobreza, da pureza, da amizade espiritual, da oração e da paz”.
A imagem de Francisco, em particular, traz a singular marca do amor cortês, de um amor intenso e generoso para com os outros, de delicadeza única para com toda a criação. Como bem assinala Chiara Frugoni em sua bela biografia sobre Francisco ("Vida de um homem: Francisco de Assis", 2011), ele “está muito distante daqueles rostos tristes da espiritualidade monástica tradicional”. É dessa alegria e dessa esperança que tanto necessitamos hoje em dia, de uma alegria que possa reaquecer nossas energias vitais para fazer frente ao desencanto crescente.
E aqui me vem também à mente o lindo livro de [José Antonio] Pagola sobre Jesus. Não é fortuito o fato desse livro estar em sua quarta edição no Brasil. É um livro que traduz uma linda imagem de Jesus, como alguém que transmite alegria, saúde e vida. E um amor apaixonado à vida que se soma à sua impressionante capacidade de acolhida do outro. Acredito que é esse “espírito” que deve animar o encontro de Assis, que agora se inicia. Antes de tudo, a possibilidade de transmitir essa essencial vocação de acolhida e de busca da paz, sem as quais não poderá haver um futuro amoroso para o nosso tempo.
(Por Moisés Sbardelotto) Tweet
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