As Escrituras judaico-cristãs deixam claro que Deus não se revelou apenas aos judeus. Antes de surgir o povo de Israel com Abraão, revelou-se a Enoque, a Noé, a Melquisedeque, depois a Balaão e a um não judeu, o rei Ciro a quem, pela primeira vez na Bíblia, se atribui o título de Messias. E nunca deixou de se revelar aos seres humanos, de muitas formas diferentes, pois todos são seus filhos e filhas e ouvintes da Palavra. Os reis magos estão entre eles. Quem eram? Diz-se que eram astrólogos vindos provavelmente da Babilônia.
Naquele tempo, astronomia e astrologia caminhavam juntas. Certo dia, estes sábios descobriram uma estranha conjunção de Júpiter com Saturno que se aproximaram de tal forma que pareciam uma única grande estrela, na constelação de Peixes. O grande astrônomo Kepler (+1630) fez cálculos astronômicos e mostrou efetivamente que no ano 6 antes de Cristo (data do nascimento de Cristo pelo calendário corrigido) ocorreu tal conjunção.
Para os sábios, este fato possuia grande signficação. Júpiter, na leitura astronômica da época, era o símbolo do Senhor do mundo. Saturno era a estrela do povo judeu. E a constelação de Peixes era o sinal do fim dos tempos. Os sábios babilônicos assim interpretaram: no povo judeu (Saturno) nascerá o Senhor do mundo (Júpiter) sinalizando o fim dos tempos (Peixes). Então se puseram a caminho para prestar-lhe homenagem.
Sempre houve, na história dos povos, pessoas simples ou sábias que se puseram a caminho em busca de salvação, quer dizer, de uma totalidade integradora que superasse as rupturas da existência humana. Deus veio ao encontro desta busca entrando nos modos de ser e de pensar das respectivas pessoas.
Mas por que foram encontrar Jesus? Porque, segundo a compreensão dos evangelistas, Jesus é um princípio de ordem e de criação de uma grande síntese humana, divina e cósmica. Quando dão a ele o título de Cristo ("ungido", em grego) querem expressar esta convicção. Cristo não é um nome de pessoa, mas uma qualidade conferida a alguém para cumprir uma missão que, no caso, é concretizar uma síntese integradora (salvação). Jesus operou tal síntese; por isso o chamaram de Cristo. Pessoa e missão se identificaram de tal forma que Jesus Cristo se transformou num nome. Mais correto seria dizer, Jesus, o Cristo. Esta síntese é buscada e realizada em outras religiões e caminhos espirituais, embora sob outros nomes: Sabedoria, Logos, Iluminacão, Buda, Tao, Shiva etc. Estes são “ungidos e consagrados” (significado de Cristo) para serem um centro atrator e unificador de tudo o que há no céu e na terra. Mudam os nomes, mas o sentido é sempre o mesmo.
Nossa realidade, entretanto, é contraditória. É feita de elementos sim-bólicos e dia-bólicos, de verdade e de falsidade, de luz e de sombras. Como criar uma ordem superior que ultrapasse essas contradições? Sentimos a urgência de um Centro ordenador e animador de uma síntese pessoal, social e também cósmica.
Os evangelistas usaram o fenômeno astronômico do aparecimento de uma estrela para apresentar Jesus como aquele Senhor do Universo que vem sob a forma de uma frágil criança para unificar tudo. Essa Energia é divina, mas não é exclusiva de Jesus. Ela se expressa sob muitas formas históricas e em muitas figuras religiosas, justas ou sábias e, no fundo, em cada pessoa. Em Jesus, o Cristo, ganhou uma concretização tal que mobilizou outras culturas com seus sábios vindos do Oriente, os Magos.
Todos os caminhos levam a Deus e Deus visita os seus em suas próprias histórias. Todos estão em busca daquela Energia unificadora que se esconde no signficado da palavra Cristo. Esse encontro com a Estrela que guiou os magos, produz hoje, como produziu ontem, alegria e sentimento de integração.
Haverá sempre uma Estrela no caminho de quem busca. Importa, pois, buscar com mente pura e sempre atenta aos sinais dos tempos, como o fizeram os reis magos.
- Leonardo Boff
Reproduzido via IHU, com grifos nossos Tweet
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