Escultura: Jen Stark
Os evangelhos oferecem-nos diversas chaves para entender como as primeiras comunidades cristãs começaram o seu percurso histórico sem a presença de Jesus à frente dos Seus seguidores. Talvez não tenha sido tudo tão fácil como, às vezes, imaginamos. Como entenderam e viveram a sua relação com Ele, após seu desaparecimento da terra?
Mateus não diz uma palavra sobre a Sua ascensão ao céu. Termina o seu evangelho com uma cena de despedida numa montanha da Galileia na qual Jesus lhes faz esta solene promessa: «Sabei que Eu estou com vós todos os dias até ao fim do mundo». Os discípulos não têm de sentir a Sua ausência. Jesus estará sempre com eles. Mas como?
Lucas oferece uma visão diferente. É a cena final do seu evangelho, Jesus «separa-se deles subindo em direção ao céu». Os discípulos têm de aceitar com todo o realismo a separação: Jesus vive já no mistério de Deus. Mas, sobe ao Pai «abençoando» aos Seus. Os Seus seguidores iniciam o seu caminho protegidos por aquela bênção com a qual Jesus curava os doentes, perdoava os pecadores e acariciava os pequenos.
O evangelista João coloca na boca de Jesus umas palavras que propõe outra chave. Ao despedir-se dos seus, Jesus diz-lhes: «Vou para o Pai e vós estais tristes... No entanto, é conveniente que Eu parta para que recebais o Espírito Santo». A tristeza dos discípulos é explicável. Desejam a segurança que lhes dá ter a Jesus sempre junto a eles. É a tentação de viver de forma infantil sob a proteção do Mestre.
A resposta de Jesus mostra uma sábia pedagogia. A Sua ausência fará crescer a maturidade dos Seus seguidores. Deixa-lhe a marca do Seu Espírito. Será Ele quem, na Sua ausência, promoverá o crescimento responsável e adulto dos seus. É bom recordá-lo em tempos em que parece crescer entre nós o medo à criatividade, a tentação do imobilismo ou a nostalgia por um cristianismo pensado para outros tempos e outra cultura.
Nós, cristãos, já caímos mais de uma vez ao largo da história na tentação de viver o seguir a Jesus de forma infantil. A festa da Ascensão do Senhor recorda-nos que, terminada a presença histórica de Jesus, vivemos "o tempo do Espírito", tempo de criatividade e de crescimento responsável. O Espírito proporciona-nos aos seguidores de Jesus "receitas eternas". Dá-nos a luz e alento para ir procurando caminhos sempre novos para reproduzir hoje a Sua atuação. Assim conduz-nos para a verdade completa de Jesus.
- José Antonio Pagola, teólogo e biblista espanhol
Reproduzido via Adital, com grifos nossos
Tradução: Antonio Manuel Álvarez Pérez Tweet
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