quarta-feira, 18 de maio de 2011

O Bom Pastor

Ilustração: Goro Fujita

Nosso amigo Teleny publicou ontem em seu blog um belo comentário sobre o Bom Pastor, tema da liturgia católica durante toda esta semana. Como complementa à perfeição nosso post de domingo, Reproduzimos abaixo, com grifos nossos.


O último domingo (4° da Páscoa) foi celebrado como a Festa de Jesus Bom Pastor. Em algumas regiões do mundo, toda esta semana é dedicada, justamente, a esta característica de Cristo. Sugerem isso as próprias leituras litúrgicas. No texto de ontem (Jo 10, 22-30), temos uma revelação importante: a fé faz com que nos tornamos membros do rebanho do Senhor. Jesus disse aos seus adversários: "vós, porém, não acreditais, porque não sois das minhas ovelhas" (v. 26). Logo, se acreditamos, somos das ovelhas do Senhor. Mas, não é só isso. Ontem ouvimos mais uma coisa importante: "Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem" (Jo 10, 14). De onde nos vem este conhecimento? No domingo, Jesus disse: "Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas (...) as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome (...) e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz" (cf. Jo 10, 2-4). Não é tão fácil (mas, também, nem tão importante) definir o que acontece primeiro e o que depois: crer, ouvir ou conhecer. O Apóstolo Paulo escreveu que "a fé vem pela pregação e a pregação, pela palavra de Cristo". (Rm 10, 17) Por outro lado, o acolhimento da Palavra supõe a fé. Fala sobre isso o mesmo Apóstolo: "Agradecemos a Deus sem cessar, porque, ao receberdes a palavra de Deus que ouvistes de nós, vós a recebestes não como palavra humana, mas como o que ela de fato é: palavra de Deus, que age em vós que acreditais". (1Tes 2,13) O conhecimento de Jesus é o dom de Deus. Vale lembrar aqui aquela conversa de Jesus com os discípulos, na qual o Senhor perguntava sobre as opiniões a respeito de sua pessoa. Quando Pedro acertou a resposta, Jesus disse: "Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu" (Mt 16,17). Com outras palavras, tudo é dom de Deus (Santa Teresinha do Menino Jesus, no leito de morte, repetia: “tudo é graça”). Estes três fenômenos (fé, escuta e conhecimento) são dinâmicos e, necessariamente, interativos. O ser humano pode deixar de crer, parar de escutar e abandonar o conhecimento. Vem aqui, portanto, uma dica importantíssima para nós: escutemos a voz do Senhor. Além de ouvi-lo em nosso coração, devemos dedicar-nos à leitura da Sagrada Escritura. O Papa Bento XVI escreveu, na Exortação Apostólica Verbum Domini (aqui): "Exorto todos os fiéis a redescobrirem o encontro pessoal e comunitário com Cristo, Verbo da Vida que Se tornou visível, a fazerem-se seus anunciadores para que o dom da vida divina, a comunhão, se dilate cada vez mais pelo mundo inteiro. (...) Não existe prioridade maior do que esta: reabrir ao homem atual o acesso a Deus, a Deus que fala e nos comunica o seu amor para que tenhamos vida em abundância (cf. Jo 10, 10). [n° 2] Deixemo-nos guiar pelo Espírito Santo para podermos amar cada vez mais a Palavra de Deus. [n° 5]"

E para nós, homossexuais, há mais uma coisa importante, também proveniente das leituras litúrgicas desta semana. No início do anúncio da Boa Nova, tinham sido batizados somente os judeus. Com o passar do tempo e, principalmente, com a dinâmica da própria Palavra de Deus, começaram a abraçar a fé, também os pagãos. Nem todos os irmãos de origem judaica gostavam disso. Vejamos a passagem dos Atos dos Apóstolos: "Naqueles dias, os apóstolos e os irmãos, que viviam na Judeia, souberam que também os pagãos haviam acolhido a Palavra de Deus. Quando Pedro subiu a Jerusalém, os fiéis de origem judaica começaram a discutir com ele, dizendo: 'Tu entraste na casa de pagãos e comeste com eles!' (...) [Pedro disse] Deus concedeu a eles o mesmo dom que deu a nós que acreditamos no Senhor Jesus Cristo. Quem seria eu para me opor à ação de Deus? Ao ouvirem isso, os fiéis de origem judaica se acalmaram e glorificaram a Deus, dizendo: 'Também aos pagãos Deus concedeu a conversão que leva para a vida!'” (At 11, 1-3. 17-18). Hoje em dia, não faltam aqueles que questionam a presença de homossexuais na Igreja. E como a reação dos "irmãos de origem heterossexual" é a mesma que a dos judeus convertidos ao cristianismo, a resposta não pode ser diferente: quem são vocês para se oporem à ação de Deus? (cf. At 11, 17).

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