Ilustração: Esther Aarts
Publicado há pouco no jornal O Globo:
RIO - Entre os religiosos que defendem o reconhecimento dos direitos dos homossexuais, o padre Luís Corrêa Lima, professor do Departamento de Teologia da PUC, ressalta que o Brasil não está longe da questão do batismo de crianças criadas por casal homoafetivo. E defende que convém considerar o que for melhor para a criança. Luís Corrêa Lima dirige o Grupo de Pesquisa Diversidade Sexual, Cidadania e Religião da PUC, formado por professores e alunos de teologia, psicologia e pedagogia.
NOVO OLHAR: Padre contraria CNBB e elogia decisão do Supremo de reconhecer união de casais homossexuais
O grupo acaba de lançar um serviço de consultoria online para público LGBT, no portal Amai-Vos. Ali a pessoa pode tirar dúvidas sobre como proceder em questões ligadas à violência, direitos humanos, religião e espiritualidade. Entre os colunistas do site estão Frei Betto, Leonardo Boff, Luiz Eduardo Soares e Luiz Paulo Horta.
Confira a entrevista com o padre Luís Correa Lima:
O GLOBO - O Grupo de Pesquisa Diversidade Sexual, Cidadania e Religião sofreu alguma resistência dentro da Igreja Católica do Brasil?
LCL - Felizmente, não. Nós estamos em uma universidade, onde a liberdade acadêmica é fundamental para a produção do conhecimento, que se realiza através de debates, pesquisas, eventos e publicações.
O GLOBO - Como o senhor recebeu a decisão do Supremo quanto à união civil homoafetiva?
LCL -Há coisas positivas nesta decisão. Ao contrário do senso comum, existem elementos de convergência entre a decisão do Supremo e a doutrina da Igreja. Um documento do Vaticano, de 2003, trata do reconhecimento civil da união entre pessoas do mesmo sexo. Ele se opõe à equiparação desta forma de união àquela entre homem e mulher, bem como a mudanças no direito familiar neste sentido. No entanto, o Vaticano afirma que se podem reconhecer direitos decorrentes da convivência homossexual.
Este passo é muito importante. Se não houver nenhum reconhecimento social ou proteção legal às uniões homoafetivas, a homofobia presente na sociedade vai pressionar os gays a contraírem uniões héteros, para fugirem de um preconceito que é muito forte. Isto já acontece há séculos, traz muito sofrimento e precisa parar. O sacramento do matrimônio nestas circunstâncias é inválido. É preciso que os fiéis saibam disto. O casamento tradicional não é, de modo algum, solução para a pessoa homossexual.
O GLOBO - A posição da CNBB, expresso em documento público, é consensual?
LCL - Tudo indica que sim, por ser da Presidência da entidade. Alguns bispos individualmente se manifestaram a favor de direitos dos conviventes homossexuais, mas frisando que não se deve considerar esta convivência como família.
O GLOBO - Como o senhor se posiciona sobre o casamento religioso entre pessoas do mesmo sexo?
LCL - O casamento religioso está fortemente enraizado na tradição judaico-cristã, que desde os tempos bíblicos é heterossexual. Em países escandinavos e em regiões onde as uniões homoafetivas são comuns, igrejas como a Anglicana e a Luterana realizam bênçãos para estes conviventes, embora distinguindo estas uniões do casamento. Mudanças na tradição não são impossíveis de acontecer, mas é difícil saber o que vai permanecer, o que vai mudar e quanto tempo vai levar.
O GLOBO - O senhor defende o batismo de crianças criadas por casais homoafetivos?
LCL - O número de crianças criadas por casais homoafetivos não é muito. Mas este número deve aumentar devido ao crescente reconhecimento destas uniões. Os bispos americanos se depararam com esta questão em 2006. Eles se posicionaram contra este tipo de paternidade, chamada homoparentalidade. Mas aceitam que estas crianças sejam batizadas desde que possam ser educadas na fé da Igreja. No Brasil, não estamos longe desta questão e convém considerar o que for melhor para a criança.
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É também por sacerdotes sérios como este que insistimos em fazer parte da Igreja, apesar de toda a dificuldade. A estes o nosso obrigado, por serem exemplos de Bons Pastores nesta semana temática. Tweet
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