Ilustração: I love Doodle
Consoante a linguagem bíblica tradicional, o evangelista representa a Igreja como um rebanho de ovelhas reunidas pelo Bom Pastor. Desta representação, emergem duas características fundamentais: o vínculo com Jesus e a liberdade do fiel na condição de membro do rebanho. Tal vínculo é tão acentuado que a figura não deixa entrever qualquer instituição estabelecida. Com efeito, não pode haver Igreja sem relação pessoal e constantemente renovada com Jesus Cristo e, por meio dele, com o próprio Deus. A fé é o único princípio de organização da Igreja. Certamente a instituição não é negada, mas não pode ser senão a vida de todos em comum com Cristo, como o revela claramente a alegoria da vinha e do agricultor (cf. Jo 15).
Dessa forma, a simbologia do Pastor e suas ovelhas nada tem a ver com gregarismo e alienação da autonomia e da liberdade individuais, mas transmite a relação diferenciada de Jesus com seus seguidores. O Senhor não é o guia de grupos de pessoas amorfas, abúlicas, sem espírito de iniciativa e sempre á espera de que outros tomem decisões por elas. Por isso, a figura do Pastor, nesse trecho, é reelaborada. À diferença dos pastores de ovelhas que, munidos de seu bastão pastoril, constringem seus rebanhos em determinada direção, Jesus, Bom Pastor, não trata Seus seguidores como manada, mas estabelece um vínculo pessoal com cada um, identificando-os pelo próprio nome.
Os seguidores de Jesus, portanto, formam com Ele uma comunidade de pessoas livres e autônomas, à frente da qual Ele caminha como exemplo e referência para que todos possam segui-Lo em liberdade e segurança. Ele não é o redil fechado, mas sim a porta aberta das ovelhas por onde elas entram e saem e encontram pastagem (cf. Jo 10, 9).
- Frei Aloísio de Oliveira, OFM Conv
Especialista em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma
Publicado originalmente na revista O Mensageiro de Santo Antonio, maio de 2011, pp. 21-22. Grifos nossos. Tweet
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