Podemos nos alegrar de diferentes modos e por diferentes motivos. É justamente essa diversidade de fontes da alegria que a torna ainda mais intensa. É como encontrar um jeito de se inebriar sem a ressaca depois - apenas a descoberta de novas variedades de felicidade. A breve happy hour parece estendida ao infinito. É aí que percebemos que a alegria não depende das circunstâncias, nem da boa sorte, nem da satisfação dos nossos desejos; ela simplesmente faz parte da natureza do ser.
Tal alegria de ser não se deixa limitar. É repetidamente ativada por coisas distintas e, em geral, muito simples. Pode até parecer tolice encontrar tal felicidade por toda parte, pelo simples fato de as coisas serem como são. As cores, as características das pessoas, mesmo pequenas decepções veem-se de tal modo enredadas em uma alegria que tem tantas causas em potencial que até parece não ter causa alguma. Assim começa a experiência de Deus refletida no cotidiano de cada um.
A experiência oposta também existe. Podemos vivenciar a tristeza do mesmo modo. Imersos em alguma grande perda e ainda ignorantes da aprendizagem que, com o tempo, ela acabará nos proporcionando, a tristeza pode permear tudo o que fazemos. Mesmo o que normalmente nos consola, levanta, delicia e tudo o que já foi motivo de alegria torna-se razão de dor. É como se tivéssemos perdido para sempre o segredo da felicidade. Como se qualquer possibilidade de alegria nesta vida se tivesse esgotado irreversivelmente. E, através de alguma ferida invisível em nossa alma, as águas da tristeza nos penetram - e vamos afundando.
Compreender esses dois estados pode nos levar para além de um dualismo feliz-infeliz, em que ambos são mutuamente excludentes. A verdadeira tristeza não se resolve se ficarmos alegres, assim como a verdadeira alegria não é eclipsada por nenhuma tristeza. A arte da atenção, iluminada pela sabedoria inerente ao nosso próprio espírito, nos ajuda a discernir e transcender toda dualidade, elevando-nos para um lugar novo. Surge uma nova visão de mundo, em que tudo está presente e as perdas e ganhos convergem. A Quaresma conduz a esse estado de consciência por meio do desapego. A meditação conduz a ele por meio do amor.
Não se trata de uma "experiência de Deus", mas de uma experiência de "ser em Deus".
- Laurence Freeman OSB
Publicado originalmente no site da Comunidade Mundial de Meditação Cristã no Brasil Tweet
Nenhum comentário:
Postar um comentário