domingo, 3 de abril de 2011

Olhos para ver o invisível

Foto: .mye

Havia um cego de nascença que esmolava próximo ao local conhecido como piscina de Siloé. Os discípulos de Jesus lançam-lhe uma pergunta: quem pecou para que aquele homem nascesse cego? Ele ou seus pais? (cf Jo 9, 2-4) Este era o raciocínio dos homens daquele tempo, ou seja, se alguém nascesse ou adquirisse alguma deficiência física ou mental, isto era fruto do pecado dele ou de seus antepassados. O Mestre responde não apontando um culpado, mas dizendo que aquilo que aos olhos dos homens possa parecer repugnante é motivo para a glória de Deus.

Neste episódio, Jesus mostra a novidade de Sua mensagem: Deus-Pai é um Deus de futuro, não de passado: diante do sofrimento não se deve perguntar o porquê ou a culpa, mas olhar para frente e vislumbrar que caminhos se abrem a partir daquele sofrer. Ao curar o cego, Jesus mostra que para Deus nada é impossível e, assim, confirma que outras possibilidades podem surgir do sofrimento. O milagre foi feito porque para a realidade daqueles homens a ação miraculosa era um modo de mostrar concretamente a glória de Deus; talvez não lhes fosse possível ainda ler as entrelinhas das palavras de Cristo, o que hoje nos é facultado fazer – ainda que milagres continuem acontecendo diariamente.

O que precisamos para vermos os milagres, é ter um outro olhar diante do que o mundo concebe como miraculoso. Nem sempre o perfeito ou o bem sucedido é o miraculoso. É preciso moldar nosso olhar aos valores do Reino para ver o que é invisível aos olhos humanos.

Há, ainda, um outro detalhe importante neste episódio: Jesus cura o cego em um dia de sábado, dia considerado sagrado para os judeus, quando, teoricamente, não deveriam fazer qualquer tipo de ação ou esforço físico. Jesus transgrediu essa regra por diversas vezes, ensinando-nos que fomos feitos para a vida plena e esta exige a plenitude do viver, o não se deixar formatar por convenções que apenas enrijecem as possibilidades de salvação. Sábados feitos para os homens e não homens feitos para os sábados, ensina-nos o Mestre.

Que possamos (re)modelar nossos olhares, dando à visão um outro sentido, oferecendo às nossas vidas novas possibilidades, fazendo acontecer milagres ainda necessários ao amadurecimento do nosso próprio processo de conversão pessoal.



Texto para sua oração:
Jo 9, 1-41

- Gilda Carvalho
Publicado originalmente no Amai-vos. Grifos nossos.

* * *

Atualização em 04/04/11:
Vale ler este comentário a respeito dessa mesma passagem. De certo modo, acaba sendo um depoimento comovente acerca da justiça de nós, gays, abrirmos os olhos para nos vermos e aceitarmos também como somos. Porque "ver é um milagre, só que não lhe damos atenção porque estamos acostumados. Eis aí então que Deus às vezes atue de forma repentina, extraordinária, a fim de sacudir-nos de nosso estupor e tornar-nos atentos..." Aqui. :-)

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