Arte: Dimitri Tsykalov
Acompanhado pelos Seus discípulos, Jesus sobe pela primeira vez a Jerusalém para celebrar as festas da Pascoa. Ao aproximar-se do recinto que rodeia o Templo, encontra-se com um espetáculo inesperado. Vendedores de bois, ovelhas e pombas oferecendo aos peregrinos os animais que necessitam para sacrifica-los em honra de Deus. Cambistas instalados nas Suas mesas traficando com o câmbio de moedas pagãs pela única moeda oficial aceite pelos sacerdotes.
Jesus enche-se de indignação. O narrador descreve a Sua reação de forma muito gráfica: com um chicote, expulsa do recinto sagrado os animais, vira as mesas dos cambistas deitando por terra as suas moedas, grita: «Não convertais num mercado a casa do Meu Pai».
Jesus sente-se como um estranho naquele lugar. O que veem os Seus olhos nada tem a ver com o verdadeiro culto ao Seu Pai. A religião do Templo converteu-se num negócio onde os sacerdotes procuram bons ingressos, e onde os peregrinos tratam de "comprar" Deus com as Suas oferendas. Jesus recorda seguramente umas palavras do profeta Oseas que repetirá mais de uma vez ao longo da Sua vida: «Assim diz Deus: Eu quero amor e não sacrifícios».
Aquele Templo não é a casa de um Deus Pai em que todos se acolhem mutuamente como irmãos e irmãs. Jesus não pode ver ali essa "família de Deus" que quer formar com os Seus seguidores. Aquilo não é senão um mercado onde cada um procura o seu negócio.
Não pensemos que Jesus condena uma religião primitiva, pouco evoluída. A Sua crítica é mais profunda. Deus não pode ser o protetor e encobridor de uma religião tecida de interesses e egoísmos. Deus é um Pai a que só se pode dar culto trabalhando por uma comunidade humana mais solidária e fraterna.
Quase sem nos darmos de conta, todos nos podemos converter hoje em "vendedores e cambistas" que não sabem viver senão procurando o seu próprio interesse. Estamos a converter o mundo num grande mercado onde tudo se compra e se vende, e corremos o risco de viver inclusive a relação com o Mistério de Deus de forma mercantil.
Temos de fazer das nossas comunidades cristãs um espaço onde todos nos possamos sentir na «casa do Pai». Uma casa acolhedora e cálida onde a ninguém se cerra as portas, onde a ninguém se exclui nem descrimina. Uma casa onde aprendemos a escutar o sofrimento dos filhos mais desvalidos de Deus e não só o nosso próprio interesse. Uma casa onde podemos invocar a Deus como Pai porque nos sentimos os Seus filhos e procuramos viver como irmãos.
- José Antonio Pagola
Reproduzido via Amai-vos Tweet
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