Foto: Eva Patikian
O homem moderno acredita mais nas coisas que nas ideias. A gente é concreta, empírica e carnal. Nós gostamos mais da solidez do dado científico que das noções ilusórias da filosofia, da poesia e do sentimento. Assim, se tem forjado o império deste mundo. Qualquer pode constatar as glórias arquitetônicas das nossas cidades, o milagre das comunicações eletrônicas e a maravilha da medicina moderna.
Mas, assim com tudo, se vive carente. Falta um elemento. Todos o sabem, mas muitos optam por ignorá-lo. Trata-se da essência mesma, da faísca da vida, da energia do amor difundida no planeta, como pequenas gotas dum licor concentrado, animando nossa aridez com seu alento de sentido.
O problema, no entanto, não é que sejamos concretos, mas que, ao distanciar a essência espiritual do discurso cotidiano, transforma-se aquela num refúgio alienante para quem não se atrever enfrentar a vida de carne e ossos que a gente tem que vivenciar aqui e agora. A transcendência mística, quando é tratada como coisa de cada um, deixa de ser o mistério partilhado que une com laços profundos. Os fantasmas pessoais, ademais, muitas vezes, são falsos, efêmeros e vingativos.
O Ressuscitado não é um sentimento. Não é um espírito. Não é uma fantasia. Quem acreditar nisso, vai morar nas nuvens. Decola-se do mundo real, e termina mais amigo dos passarinhos na sua própria cabeça que do próximo que está ao seu lado. Sua religião é de muita superstição e pouca fé. Pretende manipular o destino com ritos e encantamentos, mas sem se envolver no amor nem na vida.
O Senhor vem aos seus discípulos na carne e no osso. Ele é. Está ai para que eles o toquem, para que o vejam. O seguimento de Cristo é um compromisso com a substância concreta da vida eterna. Não é uma formalidade para fantasmas. É plenitude à qual aspira toda a criação. É de abraços e suor, trabalho e pão, águas frescas e vinho concentrado. A ressurreição é o matrimônio entre a realidade material e a transcendência poética, porque o amor se põe mais nas obras que nas palavras; porque se disser amar a Deus, e não amar ao seu irmão, a gente mente.
Aqueles que ficarem somente com suas fórmulas catequéticas traíram ao Senhor de carne e osso. Seu amor não é uma finura da metafísica, mas uma obra testemunhal, um gesto compassivo, a palavra precisa que transforma o entorno decaído num anúncio dos céus novos e das terras novas.
A religião espiritualista do além-mundo, aquela que flutuar arriba das nuvens, não tem muito a ver com Jesus. A vida no espírito não deve se confundir com a alienação. A santidade em nada parece à frialdade esotérica. A superstição pagã fantasiada de devoção é uma piedade vazia que faz mais dano ao Reino de Deus que a inocente ignorância de quem não tem conhecido a Boa Notícia. Atrevamos-nos a vivenciar a ressurreição na carne e no osso, como fez Jesus.
- Nathan Stone
Fonte: Mirada Global, via Amai-vos Tweet
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