sábado, 19 de julho de 2014

Católicos LGBT: Por Um Novo Tempo


Sobre o I Encontro Nacional de Católicos LGBT, clique aqui


A Igreja Católica vive uma fase de renovação com o papa Francisco, que vai às raízes do evangelho e se conecta com a sociedade atual. Com um estilo despojado, o papa faz um apelo para que se vá às “periferias existenciais”, ao encontro dos que sofrem com as injustiças e os diversos tipos de conflitos. Ele critica a Igreja ensimesmada, entrincheirada em estruturas caducas incapazes de acolhimento, e fechada aos novos caminhos que Deus apresenta. A novidade que Deus traz à nossa vida, diz ele, é verdadeiramente o que nos realiza e nos dá a verdadeira alegria e serenidade, porque Deus nos ama e quer apenas o nosso bem.

O anúncio do amor de Deus que nos salva deve preceder a obrigação moral e religiosa. Hoje, alerta o papa, muitas vezes prevalece o inverso. Este anúncio deve concentrar-se no essencial, procurando curar todo tipo de ferida e fazer arder o coração, como o dos discípulos de Emaús. A Igreja deve ser sempre a casa aberta do Pai, onde há lugar para todos os que enfrentam fadigas em suas vidas, e não uma alfândega dos sacramentos. O confessionário não deve ser uma sala de tortura, mas um lugar de misericórdia, no qual o Senhor nos estimula a fazer o melhor que pudermos. E a Eucaristia não é o prêmio dos perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os que necessitam. Sobre os gays, Francisco fez a célebre interrogação: “se uma pessoa é gay, busca a Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?”.

A Igreja se prepara para um sínodo mundial sobre a família, interrogando-se sobre a atenção pastoral aos que vivem em uniões do mesmo sexo. E, caso adotem crianças, como lhes transmitir a fé. Diante das mudanças culturais, das conquistas da cidadania LGBT na sociedade e de sinais de abertura na hierarquia da Igreja, é hora de nós, cristãos católicos LGBT, exercermos nosso protagonismo.

Vários de nós participamos ativamente de nossas comunidades, mas muitas vezes não podemos manifestar nossa orientação sexual por causa do preconceito e da aversão. Não poucos de nós acabaram e acabam por se afastar da Igreja por nos depararmos com essa situação. Constata-se até mesmo um assédio espiritual a que somos submetidos, sendo tratados como endemoninhados a serem exorcizados ou submetidos a orações de “cura e libertação” para mudarmos quem somos. É necessário que nos protejamos e nos afastemos dos ambientes onde isso acontece, indo ao encontro de fiéis e ministros religiosos sensíveis às nossas feridas e dificuldades, bem como aos nossos talentos e potencialidades.

O processo de inclusão e conquista da cidadania na Igreja em favor dos LGBT é sabotado quando se afirma que nela só há lugar para o gay celibatário. Esta é uma leitura rasa da doutrina, que leva a uma simplificação perversa sob a forma de dilemas do tipo “tudo ou nada” e “ame-a ou deixe-a”. Infelizmente, essa simplificação cruel tem unido religiosos ultraconservadores, de um lado; e críticos antirreligiosos implacáveis, de outro lado. Ambos alimentam um radicalismo estéril.

As mudanças almejadas não dependem só da hierarquia, ainda que haja sinais favoráveis. Elas dependem muito dos fiéis leigos, interagindo com suas comunidades e com a sociedade. A Igreja, em grande parte, são os fiéis que a fazem nas comunidades locais e nas práticas cotidianas. É hora de a cidadania LGBT contagiar a Igreja.

Aproveitamos para reforçar o convite para que todos compareçam no próximo sábado, dia 26/7, ao "Tua fé te salvou": I Encontro Nacional de Católicos LGBT, a se realizar aqui no Rio de Janeiro com a presença de representantes de nossos grupos-irmãos de São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Recife/Olinda, Curitiba e Ribeirão Preto. Para os que não puderem participar presencialmente, haverá transmissão online - vamos divulgar as instruções para conexão ao longo da semana, fiquem ligados. Para saber mais sobre o evento, clique aqui. Até lá!

Equipe Diversidade Católica

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