terça-feira, 8 de maio de 2012

Perua ou o Esquadrão do siga as regras


Rebeca Duarte, no Minoria é a Mãe:

Um dos piores tipos de sexismo é aquele disfarçado. É o pior porque normalmente quem vê não percebe, acaba achando que aquilo ali é o correto, e que todas as pessoas devem agir assim. Recentemente um programa de TV tem atraído minha atenção de uma forma negativa. Não vou falar o nome dele para não dar mais audiência (haha), porém, percebo que ele não é o primeiro, e definitivamente não será o último, programa disposto a ajudar as pessoas a mudarem de vida. Essa mudança de vida é estética, é a mudança daquilo que os outros vêem e os incomodam naquela pessoa que está sob os cuidados dos profissionais da atração.

Vi um episódio em que uma garota teve que renovar o guarda-roupa porque ela usava roupas masculinas e prezava demais pelo conforto. A garota era hétero, tinha um noivo há anos, tinha amigos, PORÉM, alguns amigos achavam necessário que ela mudasse sua forma de vestir para uma mais feminina. Outro episódio era estrelado por uma garota que algumas pessoas chamam de pirigótica. A mudança dela era de estilo de vida. Ela tinha que ser menos exagerada para poder manter um namorado, pois seu estilo extravagante assustava os garotos.

Devo assumir que não consegui ver até o final nenhum desses programas, pois assim que anunciavam nas chamadas a mudança e elogiavam a menina por ter se submetido aos desejos dos amigos nascia uma revolta amarga em minha garganta. E quando apareciam os amigos dizendo "Agora sim!" dava vontade de dar uns tabefes pra ver se esse povo acorda pra vida.

Esse programa quer mudar a vida das pessoas (pois também tem garotos, apenas nunca vi) para que elas sejam aceitas pelos seus amigos, ou arrumem um namoro. A mensagem subliminar é: você não está certo desse jeito que você é, você deve se encaixar nesses padrões senão você não satisfará as pessoas - e você precisa satisfazer as pessoas. É mais uma mostra de quão rasa é nossa sociedade, que por um lado prega a igualdade das diferenças e pelo mesmo lado prega que você pode ser diferente, mas não muito. Só se pode ter algo para te fazer uma pessoa diferenciada, não fora dos padrões, pois estar fora dos padrões é caminho certo para a solidão. E ninguém quer estar só.

Tenho pena dessas meninas que submetem a esse tipo de programa, se sujeitam a mudar quem são para satisfazer outras pessoas. Nós sempre estamos mudando, evoluindo ou regredindo, mas em constante mudança, porém, qualquer mudança forçada por um fator exterior tende a ser desprezada assim que esse fator exterior não existe mais. Amigos podem deixar de ser amigos, namorados podem deixar de ser namorados, mas você não deveria deixar de ser você. Principalmente para satisfazer os outros.

O Renato Russo fez uns versos que gosto muito, são esses: "Tem gente que está do mesmo lado que você, mas deveria estar do lado de lá". Ensinam que você deve mudar para ser aceito, quando deveriam era ensinar aos outros para te aceitarem do jeito que você é. E maquiam tudo de uma forma tão moderna que parece que eles estão te ensinando a ser descolado, a ser a última bolacha do pacote, quando estão te fazendo ser mais uma bolacha numa fábrica de biscoito.

Pena.

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