«Dois homens subiram ao templo para orar: um era fariseu e o outro, cobrador de impostos. O fariseu, de pé, fazia interiormente esta oração: ‘Ó Deus, dou-te graças por não ser como o resto dos homens, que são ladrões, injustos, adúlteros; nem como este cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de tudo quanto possuo.’ O cobrador de impostos, mantendo-se à distância, nem sequer ousava levantar os olhos ao céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador.’ Digo-vos: Este voltou justificado para sua casa, e o outro não. Porque todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.» (Lucas 18, 10-14)
Sherlock Holmes e o Dr. Watson acampavam na floresta. Estavam prestes a adormecer, deitados sob o céu estrelado, quando o detetive perguntou ao seu assistente: «Watson, observe: o que vê?».
«Vejo milhares e milhares de estrelas.»
«E o que é que isso quer dizer para você, Watson?»
«Quer dizer que, entre todos os planetas do universo, somos verdadeiramente afortunados por estar aqui na Terra. Somos pequenos aos olhos de Deus, mas muito especiais para o seu coração. E para você, Holmes, o que significa?»
«Significa que alguém roubou a nossa tenda!»
* * *
Desde a aurora da civilização esteve sempre presente uma interrogação inquietante: quem é que governa este vasto universo e como é que nós convivemos com ele?
As pessoas imaginavam que os deuses eram como os chefes das tribos e reis que conheciam: fortes e poderosos mas excêntricos, vingativos, caprichosos, não se importando com ninguém a não ser com eles próprios. Deuses assim precisavam de ser tratados como peças de porcelana e muitos presentes, subornos, incenso, ofertas imoladas e, sobretudo, imensas virgens sacrificadas em cerimónias solenes. A finalidade de tudo isto era amansar os deuses e tê-los sob controlo, de maneira a que as pessoas se pudesse distender e continuar as suas vidas.
Era tudo terrivelmente primitivo, mas é onde muitos continuam presos, tentando controlar e manipular um pequeno e não muito simpático Deus com subornos, promessas e observâncias religiosas desprovidas de adesão interior.
Foi aí que o fariseu ficou enclausurado, do lado de fora da vida, num sítio em parte nenhuma que ele pensava ser esplêndido. «Obrigado Deus», dizia, «não sou como o resto dos homens». Não percebia nada de Deus, de si próprio ou do essencial da vida.
Mas o cobrador de impostos, que ele havia desprezado, tinha a perceção correta: Deus não precisa de ser adulado, persuadido ou comprado. Ele já nos ama, ele já quer que sejamos felizes. E ele já sabe que nunca cresceremos inteiramente a não ser que nos ajude e perdoe constantemente.
Aquele pobre cobrador de impostos, permanecendo ao longe, com a cabeça inclinada, compreendeu o que está em jogo na oração e na devoção: a transformação interior com a ajuda de Deus. E o preço dessa mudança é simplesmente dizer a verdade, ou seja, ser humilde: Senhor, preciso de mudar, e para isso preciso da tua ajuda e do teu perdão em doses massivas.
Se a nossa oração e a nossa presença nas celebrações não nos estão a transformar, devíamos parar de perder o nosso tempo. Não significa deixar de rezar ou ir à igreja. Significa mudar o coração, abrindo-o a Deus nas questões essenciais da vida, prontos a pronunciar as palavras que têm de ser ditas com toda a verdade:
Senhor, preciso de mudar... muito. E para isso, preciso que me leves pela mão e não me deixes fugir, ainda que eu não possa andar depressa e ainda que continue a tropeçar. Eu confio em ti, Senhor. Sei que sabes por onde ir e eu estou pronto a mudar a minha direção e deixar que tu me mostres o caminho. Amen.
- P. Dennis Clark
In Catholic Exchange
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