sábado, 14 de abril de 2012

A quem é devida a obediência religiosa

Foto: nebulous 1

"A coragem também é mostrada pelo mameluco, a obediência é o ornamento do cristão". A frase, tirada da balada de Schiller A luta contra o dragão, é sintomática de um modo de pensar que dominou por muito tempo as altas esferas da Igreja Católica. O que não é ordenado ou, pelo menos, aprovado do alto não deve ocorrer.

Isso não favorece necessariamente atividades e responsabilidades pessoais dos católicos, mas lhes permite ver de vez em quando como se comportam os bispos em uma situação difícil e problemática. Nas relações com as ditaduras, como vimos, pastores "condescendentes" e os seus rebanhos estavam principalmente do lado seguro, enquanto aqueles que agiam obedecendo mais à sua consciência do que ao exemplo da sua hierarquia corriam o risco de perseguição, tortura e execução capital.

O Concílio Vaticano II – será celebrado no fim do ano o 50º aniversário da sua abertura – definiu a consciência na constituição pastoral Gaudium et Spes como "o núcleo mais secreto" e "o sacrário do homem" e, finalmente, como voz de Deus e lei à qual o homem deve obedecer. Segundo a doutrina católica, uma "consciência formada" deve se orientar naturalmente segundo o ensinamento da Igreja, mas isso não significa que o indivíduo não possa chegar a conclusões diferentes, se delas estiver honestamente convencido.

Isso certamente se torna crítico quando um grupo inteiro lança um "Apelo à desobediência", como ocorreu no ano passado na Áustria. Com a palavra-tabu "desobediência" conscientemente escolhida, os promotores da iniciativa assustaram não só a hierarquia local, mas também a central de Roma. Se outros apelos críticos, de grupos menores ou maiores de teólogos, foram mais facilmente ignorados – no máximo, se negava aos signatários o acesso a uma cátedra –, agora, com relação à "desobediência" austríaca, o Papa Bento XVI pessoalmente tomou posição. Justamente na Quinta-Feira Santa, em uma das celebrações mais importantes do ano, ele perguntou retoricamente na sua pregação: "Será a desobediência um caminho?".

Do ponto de vista do papa, ela certamente não é um caminho, principalmente não uma desobediência que deve ignorar "decisões definitivas do Magistério, como, por exemplo, na questão relativa à Ordenação das mulheres, a propósito da qual o beato Papa João Paulo II declarou de maneira irrevogável que a Igreja não recebeu, da parte do Senhor, qualquer autorização para o fazer".

Por outro lado, ele concede aos autores que é a "solicitude pela Igreja que os move, quando afirmam estar convencidos de que se deve enfrentar a lentidão das Instituições com meios drásticos para abrir novos caminhos, para colocar a Igreja à altura dos tempos de hoje".

Bento XVI ressaltou na sua rejeição à desobediência, expressa somente na forma de questões críticas, que, na história da época pós-conciliar, pode-se reconhecer "a dinâmica da verdadeira renovação" e chamou a atenção para o fato de que "para uma nova fecundidade, se requer o transbordar da alegria da fé, a radicalidade da obediência, a dinâmica da esperança e a força do amor".

A questão é se a "radicalidade da obediência" – além do mais uma obediência que manifestamente o papa requer não só para com Deus e para com a consciência, mas também para com as autoridades eclesiásticas – realmente forma um todo com as três colunas cristãs da fé, da esperança e da caridade. Bento XVI já dedicou encíclicas à esperança e à caridade. Resta saber se agora ele quer tematizar em um ensinamento por escrito, juntamente com a fé, o muitos pressupõem, também a obediência.

Surpreendeu o fato de o papa ter intervindo dessa forma a propósito da Iniciativa dos Párocos Austríacos, assim como o tom bastante moderado. Nenhuma menção a sanções contra os reformadores da Igreja por parte do bispo de Roma, que, em seu tempo como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, havia recebido o apelido de Panzerkardinal, mas sim uma advertência a eles, especialmente para mudar de opinião com relação a temas sobre os quais atualmente não se pode discutir, como a ordenação das mulheres (benévolos expoentes do clero da Áustria, como o bispo auxiliar emérito de Viena, Helmut Krätzl, já haviam aconselhado isso aos "desobedientes").

Na Áustria, no entanto, as palavras do papa foram recebidas não negativamente, mas sim como um encorajamento – tanto pelo presidente da Conferência Episcopal, o cardeal Christoph Schönborn, quanto pelo primeiro representante da Pfarrer-Initiative, Helmut Schüller, que se mostrou "agradavelmente surpreso".

A reação papal mostra, de todos os modos, que as exigências dos padres austríacos são levadas a sério no Vaticano. Não parece ser, de momento, uma ameaçadora ruptura, mas sim, certamente, um processo de diálogo longo e complicado. O fato de o papa ter abordado o tema torna mais alegre o som dos sinos da Páscoa. Para chegar a um verdadeiro evento de Pentecostes, em que conservadores e reformadores não só se entendam linguisticamente, mas cheguem a soluções amplamente compartilhadas, o caminho a ser percorrido, porém, ainda é muito longo.

- Reportagem de Heiner Boberski, publicada no sítio Wienerzeitung.at, 06-04-2012.
Tradução de Moisés Sbardelotto, aqui reproduzida via IHU.

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