Foto: Isaac Cordal
Admiravelmente lúcido o Fabrício Cunha na reflexão que publicou hoje em seu blog. Dando prosseguimento à nossa reflexão sobre a sociedade brasileira e o Estado laico, reproduzimos em parte aqui (para ler na íntegra, clique aqui):
Quando pequeno, lembro-me bem de um adesivo colado no vidro traseiro do Kadet preto de nossa família. Dizia o seguinte: “O Brasil é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso!”
Orávamos por líderes evangélicos envolvidos em posições estratégicas na política de forma que nos beneficiassem pelo fato de estarem no poder. Nos beneficiassem não, beneficiassem a fé cristã evangélica e os seus propósitos.
(...) Enfim… Desde a época da formação do povo de Israel ou, de forma mais patente, da época de Jesus Cristo, nossa expectativa e propósitos se baseiam mais na formação de uma sociedade cristã do que de uma mentalidade cristã para a sociedade como um todo.
Quem quer formar uma sociedade cristã, tem um projeto de poder. Queremos conquistar espaços estratégicos e pessoas estratégicas de forma que, ocupando tais posições, tenhamos os nossos interesses garantidos. (...) E quem de nós nunca ouviu a afirmação política: irmão vota em irmão”?! Mesmo que tais interesses sejam a priori bons, vivemos numa sociedade múltipla, formada por todo tipo de gente que precisa ter seus direitos e liberdade resguardadas assim como nós mesmos queremos que nossos direitos e liberdade o sejam. Assim, um projeto de tomada de poder não parece ser a melhor expressão que o corpo de Cristo pode tomar aqui na terra.
O projeto de Jesus de Nazaré nada tem a ver com tomada de poder, mas com a formação de uma nova mentalidade baseada numa outra cosmovisão, que têm o amor como fonte de motivação e propósito final. É por isso que em várias de suas palavras, Ele inverte as lógicas do pensamento corrente, propondo uma nova forma de ver, pensar e agir. Vemos isso, por exemplo, em todo o Sermão da Montanha, onde os protagonistas são os fracos e irrelevantes; em sua conversa com a samaritana, onde rompe todos os paradigmas sociais para declarar-se Messias a uma mulher; no “lava-pés” ao quebrar a hierarquia e colocar-se de joelhos para servir aos discípulos; em Mt 25. 35, onde estabelece a solidariedade como caminho para a glória; em sua declaração messiânica em Lc 4. 18-19, onde, de tantos textos gloriosos sobre o Messias, escolhe um que enfatiza a sua identidade mais simples.
O projeto de Jesus não é de poder. Aliás, Filipenses 2. 5-11 nos diz claramente que seu projeto é abrir mão do poder, em vistas do amor. E Paulo começa esse texto dizendo: “seja a atitude de vocês a mesma de Cristo.”
Portanto, estamos comprometidos não em tomar a sociedade de assalto, implementando nela um projeto cristão "goela abaixo", mas em servir a sociedade, influenciando-a por meio de uma mentalidade que é contra-cultural tantas vezes, rejeitada outras tantas, mas que ganha legalidade não pelo poder que requer, mas pela humildade constrangedora e inspiradora de quem se ajoelha, toma a toalha e a bacia e lava os pés de toda gente, sem querer nada em troca.
Assim, quando perguntados porque somos, pensamos e agimos dessa forma, teremos legitimidade e espaço de fato para “darmos a razão de nossa fé”. Então essa revolução de amor ganhará mais e mais proporção, fazendo do Brasil não o país do Senhor Jesus, mas um país onde se vê mais e mais a face de Cristo no meio do povo. Tweet
Nenhum comentário:
Postar um comentário