Foto via Blue Pueblo
A palavra “Páscoa” evoca no coração de todos nós cristãos sentimentos de alegria, de fé, de amor pela Pessoa de Jesus que, tendo vencido a morte, ressuscitou dando-nos a todos o anúncio que não somos mais escravos da morte e do pecado. A vida resplandece e floresce em quem crê no Senhor ressuscitado. Mas ao mesmo tempo esta palavra evoca todo o caminho que o povo de Israel realiza desde a sua libertação da escravidão do Egito nas noites estreladas no deserto, na experiência do frio e do calor, da fome. Evoca a tentação da idolatria de um lado e de outro o amor incansável de Deus que através de Moises, caminha na frente do povo rumo a terra prometida. Um caminho que inicia com a libertação e que termina somente no encontro definitivo com o novo cordeiro imolado, Cristo Jesus, em cujo sangue somos lavados e nossas vestes se fazem mais brancas do que a neve.
Páscoa, nova aliança sagrada da passagem da morte a vida. A grande páscoa de Cristo, resultado de tantas pequenas Páscoas que se realizam no caminho de todo cristão. Páscoa, experiência de nossa fragilidade e da graça de Deus. Um encontro que não pode ser esquecido porque é festa a ser contada de pai para filho por todas as gerações. Celebração em que o menor de todos, vendo todos os preparativos, fica extasiado e se aproxima do mais velho e pergunta com alegria e brilho nos olhos: por que fazemos isto? E inicia o relato pascal, a grande alegria de contar aos que vêm depois de nós que fomos amados por Deus e libertados de todos os nossos pecados.
Páscoa celebrada de pé, com sandálias nos pés, com bastão na mão, comendo o cordeiro “sem mancha e defeito”, imolado, pronto para retomar o caminho, comido com erva amarga para que o povo nunca esqueça que a alegria maior é sempre unida a cruz e a dor. Uma dor de alegria e celebração, é verdade que os pés sangram e doem, que o coração está ferido, mas é também verdade que um espírito novo está presente no coração de quem crê. Páscoa nova, celebrada não mais de pé, mas com pressa, por Jesus no cenáculo como despedida solene dos seus discípulos, como entrada dolorosa na paixão, onde o mesmo Jesus experimenta o abandono de todos, a solidão, a dificuldade do caminho, as lágrimas amargas, a negação dolorosa. Mas com plena consciência de ter realizado o projeto do Pai até o fim no amor oblativo de si mesmo. Onde tudo é consagrado com o derramamento do seu sangue, sangue vivo de amor e fecundante de una nova vida.
Páscoa não compreendida, sofrida no início do caminho da traição, mas que na medida em que a morte de cruz se aproxima, aumenta a dor e incerteza, o medo de que tudo está terminado. Mas o Cristo caminha de cabeça erguida, voluntariamente, até o calvário, para se consumir no amor ao Pai. O seu “tudo está consumado” não é desespero e nem fracasso, mas sim realização de amor e “sim” definitivo. Como é bela a páscoa contemplada como pequenas ou grandes mortes, pequenas ou grandes ressurreições. Páscoa é festa que se prepara a partir de dentro para fora, num processo de conversão e de infinito amor. Experiência de pecado e de graça, somente os que tem atravessado consciente e corajosamente o deserto da “quaresma”, nos quatro caminhos indicados pelo Papa Bento XVI: oração, silêncio, partilha e jejum poderão experimentar a alegria da Páscoa. Sem esta vivencia a Páscoa será um canto vazio, um conector não marcante, uma passagem que não transforma a vida, mas a torna ainda mais vazia.
A páscoa é uma festa que é marcada por uma palavra tão familiar a todos nós e inclusive presente em todas a s línguas de todos os que creem “aleluia”. É necessário que cante a mente, cante o coração e cante o corpo que se acorda do seu sono e do seu silêncio para contemplar o Cristo ressuscitado. O canto do aleluia nos faz perceber que a nossa “HORA” chegou, embora não ainda plenamente, a hora da vida, da alegria, da vitória sobre o mal. Páscoa no mundo tecnológico e do consumismo, banalizada, reduzida a “férias”, viagens, compras, ovos pascais e colombas pascais, chocolate diet e outras coisinhas que servem para preencher o vazio do coração sem fé.
Banalizar a Páscoa, instrumentalizá-la para comércio é algo que fere não a sensibilidade dos cristãos, mas a fé. A páscoa no hoje da nossa história é sermos semeadores de esperança somente, que nasce da noite para o dia, outra numa semana e outra num mês e outra no fim da vida e outra ainda daqui a 100 anos. Quero ser semeador da semente da esperança que nascerá daqui a 100 anos, assim não correrei o risco da vaidade. Crer na Páscoa é graça de Deus. Dizer feliz páscoa é dizer ao outro, seja qual for, “você é feliz só se crê que Cristo nasceu, sofreu, morreu e ressuscitou” e que ele lhe espera no céu para você participar da sua glória. A páscoa, mais que uma celebração, uma memória, é uma Pessoa viva, Cristo, e você que crê em Cristo.
Feliz páscoa!
- Frei Patrício Sciadini, OCD, religioso, Carmelita Descalço
Reproduzido via ZENIT Tweet
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