Arte: Silas Kopf
O pecado maior que a Igreja de Jesus pode cometer é fechar-se em si mesma, negar-se ao diferente, propor uma identidade cristã homogênea e de rígidas exigências, a não ser naquilo que decorre necessariamente do mandamento do amor.
Isto porque Jesus fez e propôs a experiência de um Deus profundamente libertador. Que deixa as noventa e nove ovelhas sadias e homogêneas e vai buscar à margem, a diferente. Ele mesmo nos disse que, no banquete celeste, nos surpreenderíamos por ver sentados aqueles que não imaginamos, os que julgávamos “de fora”.
Bom critério para avaliarmos nossa maturidade humana, nossa caminhada cristã, nosso seguimento de Jesus é refletirmos como lidamos com o diferente de nós. O mesmo é fácil, cômodo, um amor auto-centrado e sem horizonte. O difícil e belo é o outro, que, na sua diferença, revela tanto a nós mesmos, em nossa singularidade, quanto ao amor de Deus, em suas multiformes maneiras de ser origem e senhor de toda a vida.
“Se o céu é profundamente humano, então é um radical encontro. Bem entendida, esta categoria poderia, melhor do que qualquer outra imagem, nos fazer vislumbrar a realidade plenificante e dinâmica do céu. Encontro significa a capacidade de ser-nos-outros sem perder a própria identidade. O encontro supõe o vigor de aceitar o diferente como diferente, acolhê-lo e deixar-se enriquecer por ele. Com isso rompemos o mundo do nosso ‘eu’ e permitimos a surpresa, a aventura e mesmo o risco. Todo encontro é um risco, porque se dá numa abertura para o imprevisível e para a liberdade. Onde há liberdade tudo é possível: céu e inferno. O céu como encontro significa que o homem, quanto mais se abre para novos horizontes divinos e humanos, mais se encontra consigo mesmo e forma com quem se encontra uma comunhão vital”. (Boff, Leonardo. Vida para além da morte. Ed. Vozes. p. 70) Tweet
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