Foto: Kevin Coffey
“Muita gente pequena, em lugares pequenos, fazendo coisas pequenas, pode mudar o mundo...”
Tempo atrás, os meios de comunicação noticiaram turistas socorrendo 88 refugiados africanos chegando exaustos às mais badaladas praias das Ilhas Canárias. Os surpreendidos banhistas ajudaram, espontaneamente, os imigrantes clandestinos a descer das canoas, os cobriram com suas toalhas e lhes deram comida. Diante da pergunta dos jornalistas de por que reagiram assim, os improvisados samaritanos responderam: como não ajudá-los? Quê outra coisa poderíamos fazer?
Diante do sofrimento reagimos espontaneamente com compaixão. Quando vemos o sofrimento de alguém, a compaixão é a reação imediata. A compaixão não se reduz à mera empatia, mas ação para aliviar o sofrimento do outro.
Na parábola do Bom Samaritano, Lucas descreve uma série de ações: o samaritano se compadece, se aproxima, enfaixa as feridas, coloca o ferido no seu animal, o conduz à hospedaria, o cuida... Ações de ajuda, diferenciando-se de outras propostas retóricas ou descomprometidas.
Todos sabemos da importância dos relacionamentos para o desenvolvimento e a saúde das pessoas. Na parábola, o samaritano se aproxima do homem ferido, o toca, o abraça, lava suas feridas e o faz subir em sua cavalgadura... Contato físico, toque, carinho... Só depois é que usa o azeite e o vinho, como instrumentos de assepsia.
Diante da visão do homem ferido, o samaritano “se compadece”. O termo grego significa abraçar visceralmente a situação do outro.
Não confundir compaixão com lástima ou pena. A compaixão compartilha o sofrimento do outro: padece-com. A compaixão derruba as diferenças entre ajudador-ajudado e prevê reciprocidade: “hoje por ti, amanhã por mim!” A lástima, pelo contrário, interpõe distância entre a pessoa e o sofredor. A lástima não se coloca no lugar do compadecido, pois a relação estabelecida é de cima para baixo e tal desigualdade não é rompida pelos gestos de ajuda; só há sentimento, o que é muito pouco!
Nossa sociedade é muito lastimosa e pouco compassiva. Há situações que requerem ajuda imediata; o perigo é permanecer nessa visão alienante de lástima. A compaixão pergunta pelos desajustes estruturais que estão por detrás de cada desgraça e nos coloca do lado das vítimas; lê o drama da injustiça e da opressão. A “compaixão” se perverte quando faz do sofrimento um espetáculo televisivo e não se detém em analisar as causas estruturais que ocasionaram tamanha desgraça.
A compaixão começa pela capacidade de fixar o olhar no rosto do necessitado, desmontando preconceitos e perguntar por sua vida, sonhos, preocupações e dor. Acolhe, sem interpretar ou julgar. Escutar é fundamental! A compaixão permite colocar-se no lugar e na perspectiva do outro.
O samaritano conduz o animal para a pousada, como um servo. Desçamos, pois, dos nossos “jumentos” (privilégios, preconceitos...) e nos aproximemos fraternalmente dos necessitados.
Uma pergunta: Você apenas lastima ou é mesmo compassivo?
- Pe. J. Ramón F. de la Cigoña SJ
Reproduzido do blog Terra Boa Tweet
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