segunda-feira, 16 de abril de 2012

Igreja Católica: uma renovação é possível?

Foto: Gavin Dunbar

A homilia de Bento XVI na Missa do Crisma da Quinta-Feira Santa poderia marcar uma passagem-chave do "segundo tempo" do seu pontificado. O fato novo é que ele citou explicitamente a Iniciativa dos Párocos Austríacos que assinaram um "Apelo à desobediência" para solicitar mudanças na Igreja Católica. O documento teve um grande impacto, causando adesões e iniciativas semelhantes em escala internacional.

Diante da contestação aberta, as reações mais frequentes da instituição eclesial são o silêncio, a deslegitimação de quem contesta e a condenação. Bento XVI não escolheu nenhuma dessas opções.

O fato de citar uma realidade desse tipo em uma ocasião liturgia tão solene é uma novidade que soa como um reconhecimento do seu porte.

O papa não considera a desobediência como um caminho a ser percorrido na Igreja, mas não deslegitimou os padres em questão, nem pronunciou condenações. Ele quis acreditar, ao invés, na sinceridade da sua solicitude pela Igreja. Ele pronunciou um claro "não" à ordenação feminina, mas sem esgotar o assunto, que continua aberto, do papel eclesial da mulher e da ministerialidade feminina (que é muito mais amplo). Ele também não se fechou para as outras questões levantadas pelo apelo.

Em suma, parece que ele se colocou em uma sincera atitude de diálogo, da sua posição de pastor da Igreja universal, como fez também o arcebispo de Viena, que se encontrou mais de uma vez com o porta-voz da iniciativa. Bento XVI não se pôs em nada na estrada da excomunhão, como alguns já invocaram.

De fato, ele reconheceu a renovação como dinâmica essencial da Igreja, afirmando também que, assim como a desobediência, o enrijecimento – que não quer nenhuma mudança – também não é um caminho a seguir. É uma mensagem clara contra o tradicionalismo radical que também foi retomado por um editorial do diretor do L'Osservatore Romano.

Há a possibilidade de abrir na Igreja Católica uma temporada de diálogo para a renovação eclesial? Isso irá depender da boa vontade das partes em causa. A bola passa agora para os padres austríacos e para os seus apoiadores. Eles deverão ter cuidado para não radicalizar a sua própria posição, mas também em não deixar que a sua iniciativa deslize para a insignificância.

Acredito que é importante que eles procurem uma coordenação com iniciativas análogas que surgiram em outros países, tentando se concentrar em dois ou três pontos fortes sobre os quais pode haver uma abertura real do Vaticano (como a questão da comunhão aos divorciados em segunda união) e que podem assumir um valor simbólico.

- Christian Albini, cientista político e leigo católico italiano
Nota publicada no blog Sperare per Tutti, 06-04-2012. Tradução: Moisés Sbardelotto, aqui reproduzida via IHU.

Leia também:
A quem é devida a obediência religiosa

2 comentários:

Jônatas disse...

Não havia pensando nisso. É bom saber enfatizar quando o Papa é suave. Gosto muito das escolhas textuais deste espaço de diversidade. Em relação ao diálogo, existe a resposta pronta, dos setores mais conservadores, de que "Igreja não é uma democracia", coincidentemente os mesmos que desconhecem a construção histórica da moral sexual.

Equipe Diversidade Católica disse...

Pois é, Jônatas... Às vezes, na ânsia por ver mudanças concretas, a gente fica mto frustrado porque certas coisas não são ditas abertamente, mas a linguagem eclesiástica tem certas sutilezas que em geral é difícil para a gente captar.

Por exemplo: pouca gente sabe - até porque, por motivos óbvios, isso é mto pouco enfatizado - que nem todas as coisas ditas pelo Magistério têm o mesmo peso. Existe uma "hierarquia de verdades" - a expressão é exatamente essa. Então, quando o papa fala na valorização do casamento hétero, por exemplo, mas não faz referência direta aos gays, como aconteceu recentemente, ele está valorizando o casamento tradicional mas não condenando abertamente o gay. E isso É uma abertura. Sutil, mas é. ;-)

É esse mecanismo da "hierarquia de verdades" que está em pauta também aqui neste caso.

O Bento XVI é antipático, ocupou um cargo antipático antes de ser papa e deu o azar de ter vindo depois de um papa extremamente carismático como o JPII - logo ele, que de carismático não tem NADA. E as falas dele costumam ser filtradas pela mídia (em parte por ignorância e falta de compreensão e análise da linguagem e dos meandros da Igreja, em parte por superficialidade, ou má-fé mesmo, na avidez por compor uma manchete chamativa que venda + jornal) de uma maneira muito seletiva. Nesse papel de intermediária entre as falas do Magistério e a opinião pública, ela vem mesmo obstacularizando mto um diálogo que já é difícil, criando mais ruído do que já existe, e contribuindo mto para o endurecimento de posições de parte a parte. Uma pena.

É preciso muita vontade de investigar e muito espírito crítico da parte do leitor - inclusive nós - para superar a "nuvem" assim criada pelos nossos "formadores de opinião". Sempre que pode, a gente procura ler os pronunciamentos originais, e temos descoberto que o papa não é, definitivamente, tão feio como pintam. ;-))))))

Embora, é forçoso acrescentar, seja mesmo muito difícil ir com a cara dele - e a gente não vai muito, não. Mas precisamos ser honestos: ele está longe de ser o papa dos sonhos, mas está igualmente longe de ser tão ruim como dizem.

Beijão! :-)

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