quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Defina "família"


Defina FAMÍLIA. Pergunte ao Yahoo! – "uma mãe e um pai e 2 ou 3 filhos." Wikipedia: "no contexto humano, uma família (do latim: familia) é um grupo de pessoas ligadas por consangüinidade, afinidade ou co-residência. Na maioria das sociedades, é a principal instituição para a socialização das crianças." Prefiro a definição da Wikipedia. Já a do Yahoo... tradicional demais.

À medida que envelhecemos, vamos percebendo que "família" é aquela que nós criamos, não aquela em que nascemos. Afinal, muitos de nós LGBTs não temos uma esposa ou filhos. Envelhecemos durante o período em que a Maioria Moral e a Direita Religiosa nos diziam qual era o significado de "família tradicional", e muitos de nós viviam à margem disso. Porém, sei que todos somos da família.

Quer seja a comunidade LGBT em geral, ou um grupo de amigos, ou alguns seletos parentes de sangue que nos amam e são por nós amados incondicionalmente... encontramos nossa família e a definimos como a percebemos, não mais de forma não-tradicional. Temos valor, e agregamos valor. Somos FAMÍLIA.

Ontem nasceu meu segundo sobrinho-neto, Declan Flynn Anderson, com 3,3 kg – o mais novo membro da minha família. E como é bonito esse camaradinha. Parabéns, Stef e Drew, e Devlin – você tem um irmão mais novo para amar e por quem ser amado. A família de Stefanie, minha sobrinha, é prova de que eu tenho um papel na sociedade, tendo ou não meus próprios filhos. Seus dois filhos e meus outros quatro sobrinhos me dão a certeza de que o papel que desempenho na vida dos meus sobrinhos e sobrinhas tem imenso valor. Muitos socialistas podem confirmar que não há relação mais forte do que a de tia ou tio e sobrinho ou sobrinha, pois podemos ser "pais" e "amigos" ao mesmo tempo. Isto é: FAMÍLIA.

Eva, minha querida amiga e poderosa mãe solteira, chama a unidade que ela, seu filho Ezra (que também considero meu "filho") e eu criamos de FAMÍLIA. O sangue pode criar laços ou não; amamos de forma plena e livre, temos afinidade e carinho uns pelos outros e tornamo-nos um triunvirato que dá um forte testemunho do verdadeiro significado de “família” a qualquer juiz ou homofóbico. Eva e Ezra são os primeiros na minha lista de pessoas para ir ver ao voltar para casa, depois de duas semanas fora.

Nos últimos dias, visitando a família de minha melhor amiga, Donna, em New Haven, Connecticut, o alemão aqui tornou-se italiano. Tanto as irmãs ou a mãe de Donna, que criou as três filhas como mãe solteira, quanto sua sobrinha e seu sobrinho e a namorada de Donna, Lisa, deixaram claro que tinham me adotado. Eu fazia parte de uma linda e prolífica instituição: a FAMÍLIA.

Enquanto conversava com a mãe e a irmã de Donna na sala onde ela cresceu, quase meio século atrás, ocorreu-me o quanto nossa sociedade já avançou. A sobrinha e o sobrinho de Donna se sentaram na mesa da sala de jantar, ao lado, onde três gerações daquela família haviam jantado como uma unidade ligada pelo amor. Estavam brincando com seus iTouches, curtindo a companhia um do outro. Ambos perderam os pais uma década atrás. Sua sobrinha está sendo criada pela mãe, sozinha, no apartamento de cima, enquanto, neste apartamento, seu sobrinho é criado pela "nonna", a mãe de Donna. Naqueles aposentos, dava para sentir a fidelidade, a segurança, a confiança e a proteção reinantes. Rimos, brincamos, conversamos e, por fim, reunimo-nos para comer, como um só corpo, quando Lisa chegou: três gays, duas mães solteiras; três melhores amigos, dois héteros, dois jovens demais para saber ao certo; duas viúvas, uma divorciada gay, quatro órfãos... No entanto, como quer que a gente divida e conjugue, não há como se esquivar dessa definição: FAMÍLIA.

- Rick Rose, autor da coluna Rick This!, no LGBTSr
Tradução: Equipe DC

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