Foto: Todd McLellan
Falar do “tempo” não é tão simples e óbvio; de fato, às vezes, até é um problema. Não é raro encontrar-nos em situações nas quais vivemos o tempo como um túnel, repetitivo, onde só há presente... Um pesadelo!
O tempo torna-se cada vez mais veloz, fugaz, estressante... “Kronos” continua a devorar com maior voragem o que cria. Diante disso, não há futuro auspicioso, nem esperança que sustente... Um tempo assim só é habitado por mim mesmo e não há lugar para o outro. É um “tempo sem advento”. Deus não consegue entrar em nossos “tempos apertados”!
Esta forma desabitada e estéril não é a única maneira de viver nosso tempo. Uma coisa é “viver no tempo” e outra, muito diferente, é “viver o tempo”, dando sentido e orientação à temporalidade. Viver o tempo intensamente, vivificá-lo, cuidá-lo e artisticamente orientá-lo para aquilo que desejamos! Este “tempo presente” é oportuno, precioso e não volta mais.
A tirania da agenda e a cobrança de resultados não é o único sentido do tempo e muito menos o mais importante. Há uma dimensão que sustenta, um nível do tempo mais profundo que sempre esteve aí esperando nossas buscas. É neste nível básico onde respiram nossos desejos, onde nossa esperança bebe, onde nossos sonhos criam raízes... É nele que podemos moldar a arte de viver.
É preciso parar e descer a esse nível do tempo para ir descobrir a presença que completa nosso ser, plenifica a existência e responde às nossas perguntas...
Dado evidente nestes tempos pós-modernos: o futuro que vamos construindo “carece de marcas de certeza” (Lefort), se atrofiou e vivemos “tempos sem futuro”. Ninguém pode prever o futuro com segurança! Não sabemos o que virá, pois tudo e a cada dia torna-se mais complexo e difuso. Por isso, vivemos um “presente esticado”! Mas, ao reduzir nossos sonhos e aspirações ao consumo, reduzimos nossa humanidade e nossa vida.
Precisamos voltar a ter um futuro onde ancorar; um futuro que valha a pena imaginar e que impulsiona as ações de nosso presente; uma esperança que nos dilate. Ir ao encontro do futuro significa reconhecer que Deus está trabalhando conosco e em nós. Ele vem ao nosso encontro a partir do futuro e fermenta nosso presente.
Caminhamos para o futuro atraídos por Aquele que plenifica nossa vida, já desde agora, com ingredientes vitais. Deus vem do futuro, como plenitude e totalidade; e dele temos saudade!
O futuro está dominado pela irrupção do Reino e está cheio do senhorio de Cristo. “Deus espera na fila” e descobrir sua vinda é atribuir-lhe seu lugar em nosso tempo; é viver o Advento, tempo da espera e da esperança, das buscas e dos silêncios... Tempo de “olhar” ao redor e descobrir que Deus continua vindo, sempre, por caminhos surpreendentes. Toda a nossa vida é Advento. Deus transforma o “kronos” em “Kairós”, tempo de salvação! De agora em diante, nada em nossas vidas é insignificante, nem rotineiro. Nada é banal e incomum para quem mergulhou no eterno.
O Advento é tempo de dispôr-se a algo grande. O que estamos esperando é imenso e fora do nosso tempo rotineiro. Intuímos que nossos olhos foram criados para uma visão mais profunda, mais humana, mais plena; desejamos ser um pouco mais lúcidos, mais sensíveis, muito mais corajosos para descobrir a profundidade e a riqueza de tudo o que acontece ao nosso redor e dentro de nós. No mais profundo de cada um há uma carência que nos faz bradar ao Eterno: “Vem, Senhor, nos salvar! Vem sem demora nos dar a paz!” E temos uma certeza: Ele vem!
Uma pergunta: Deus entra verdadeiramente em sua agenda, no seu tempo?
- Pe. A. Pallaoro SJ
Reproduzido via blog "Terra Boa", do Pe. J. Ramón F. de la Cigoña SJ, com grifos nossos Tweet
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