sábado, 17 de dezembro de 2011

O “Magnificat” da Estrela Virgem: respeito às tradições religiosas mais antigas que foram ensinadas a Jesus

Imagem daqui

Este texto é para mostrar como a oração conhecida como “Magnificat” (Evangelho de São Lucas, 1:46-55), dita pela Virgem de Nazaré após a visitação do Arcanjo São Gabriel, profetiza, em tudo, os ensinamentos de Jesus, seu filho, por Ele sintetizados no “Pai-Nosso” (oração que, por seu turno, será analisada num artigo posterior).

Antes de analisar o “Magnificat”, entretanto, é bom lembrarmos que Maria de Nazaré é o elo entre as três religiões monoteístas do Ocidente: 1) Maria é a única mulher profeta no Corão (é reverenciada no Islamismo, com ritos e cerimônias específicas a ela, considerada a mãe de outro profeta para o Corão, que é Jesus de Nazaré segundo a concepção do sábio profeta Maomé); 2) Maria é judia, foi educada como judia (em escolas extremamente restritas e rigorosas na lei de Salomão, como se vê em Evangelhos apócrifos) e nunca deixou as tradições judaicas (é, pois, reverenciada no Judaísmo); 3) Maria foi a primeira cristã, aquela que trouxe no ventre o anúncio da interpretação das Escrituras pela óptica do amor de Cristo (é, portanto, a Arca da Aliança do Cristianismo).

Sempre digo, quando me é concedida a voz para isso, que em Maria se pode perceber a esperança de um mundo em que as diferenças de pontos de vista, de ideologias e até de religiões não se contrariam nem entram em choque, mas, antes, se complementam como numa verdadeira Santíssima Trindade. Deus criou a diferença, ATÉ, de ideias, e, pois, ATÉ essa diferença deve ser respeitada como fruto da Vontade do Pai.

Ditas essas palavras de preâmbulo, vamos à análise das profecias crísticas contidas no Magnificat.
Farei a análise do original grego (idioma em que sou bacharel e especialista), cuja tradução posterior para o latim (a da Vulgata, de São Jerônimo) e mesmo a dos padres barnabitas para o francês da Bélgica são excelentes.
Μεγαλύνει (Magnificat) 
Μεγαλύνει ἡ ψυχή μου τὸν Κύριον καὶ ἠγαλλίασε τὸ πνεῦμά μου ἐπὶ τῷ Θεῷ τῷ σωτῆρί μου, ὅτι ἐπέβλεψεν ἐπὶ τὴν ταπείνωσιν τῆς δούλης αὐτοῦ.

ἰδοὺ γὰρ ἀπὸ τοῦ νῦν μακαριοῦσί με πᾶσαι αἱ γενεαί.
ὅτι ἐποίησέ μοι μεγαλεῖα ὁ δυνατός καὶ ἅγιον τὸ ὄνομα αὐτοῦ, καὶ τὸ ἔλεος αὐτοῦ εἰς γενεὰς γενεῶν τοῖς φοβουμένοις αὐτόν. 
Ἐποίησε κράτος ἐν βραχίονι αὐτοῦ, διεσκόρπισεν ὑπερηφάνους διανοίᾳ καρδίας αὐτῶν•
καθεῖλε δυνάστας ἀπὸ θρόνων καὶ ὕψωσε ταπεινούς, πεινῶντας ἐνέπλησεν ἀγαθῶν καὶ πλουτοῦντας ἐξαπέστειλε κενούς. 
ἀντελάβετο Ἰσραὴλ παιδὸς αὐτοῦ, μνησθῆναι ἐλέους, καθὼς ἐλάλησε πρὸς τοὺς πατέρας ἡμῶν, τῷ Ἀβραὰμ καὶ τῷ σπέρματι αὐτοῦ εἰς τὸν αἰῶνα.

Qualquer pessoa que esteja familiarizada com a tradição do cristianismo sabe – embora nem sempre reconheça – que Maria, a mãe de Jesus, foi a primeira cristã da história, como foi dito. Até mesmo o primeiro milagre público de Jesus (isso para ficarmos apenas nos Evangelhos canônicos, sem precisarmos, por ora, recorrer aos apócrifos) foi obedecendo a uma solicitação da Virgem de Nazaré. Nas bodas de Caná, quando Jesus transforma água em vinho, demonstrando o poder da conversão e da transubstanciação da Alquimia, que um São Tomás de Aquino e um São Gregório Magno (este, professor daquele) reconheceram em suas obras, Ele o faz a pedido de sua Mãe, que, imediatamente, demonstrando em público que era Ela mesma uma cristã (a primeira entre os primeiros), declara: “Fazei TUDO o que Ele vos disser”. Estava lançada publicamente a tradição do Cristianismo, ou da Cristandade, como se prefira.

Maria diz: “Fazei TUDO o que Ele vos disser”. Ela sabe que Jesus é um Mestre e que, como tal, conhece TUDO o que nos é necessário para o aperfeiçoamento segundo a Lei.

Maria é, desde a gênese, a Voz do Ecumenismo. Se a comunhão da Eucaristia significa comer o corpo de Jesus, bebendo o vinho que lhe é o sangue, Maria obviamente foi a primeira a comungar, uma vez que nem precisou comer a carne e o sangue de Cristo, já que os trouxe em seu ventre, gerando-os de sua própria carne e de seu próprio sangue. Maria deu à Luz o “Verbo que se fez carne e habitou entre nós” (Evangelho de São João). Maria é a Arca da Aliança do Cristianismo, a primeira de toda essa tradição teológica, a Pedra da Sabedoria Cristã. Sem Maria, Cristo não seria possível. Ela foi a escolhida do Criador para gerar do Espírito Santo o corpo do Messias. Ela disse ao Arcanjo Gabriel “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Evangelho segundo São Lucas, 1: 38), permitindo, com seu livre-arbítrio, que a Vontade do Criador se manifestasse na terra e “habitasse entre nós”. Sem o “Fiat” (“Faça-se”, Evangelho de São Lucas) de Maria, o “Fiat Lux” (“Faça-se a Luz”, Gênesis) do Criador não seria possível. Se Maria não aceitasse totalmente o risco de ser até repudiada e apedrejada em público como adúltera, o Caminho não poderia ser revelado.

O que poucos lembram é que Maria foi co-responsável, como uma Mestra, para ensinar com retidão a seu filho. Maria fora educada segundo tradição antiquíssima dos Sacerdotes de Melquisedeque e Salomão (um dos títulos de Jesus fora “Sacerdote de Melquisedeque”, assim como “Filho de Davi” etc.), e ela própria transmitiu esses ensinamentos ao jovem Filho Jesus, que ela tão discretamente educou segundo os princípios de piedade e religiosidade judaica, a fim de que o mesmo Jesus, no momento oportuno, viesse a transcender como um Mestre do Verdadeiro Caminho, na Boa Nova de seu Evangelho (do grego ἐὐανγελὸς).

Maria iniciou Jesus nos mistérios da Tradição mais antiga, inclusive quando visitou o Egito (“Do Egito chamei meu filho” Profeta Oseias, 11: 1, confirmado no Evangelho de São Mateus, 2:15: “e lá ficou até a morte de Herodes, para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor, por intermédio do profeta: Do Egito chamei o meu Filho”) para livrar-se da fúria do imperador, quando recebeu a visita dos três reis Magos do Oriente, que também ajudaram na iniciação do Menino Jesus, e, posteriormente, quando permitiu que seu Filho viajasse para a Grande Escola, dos 12 aos 30 anos de idade, onde sua educação, que teve de se manter um mistério para os cristãos, por razões que os desígnios de Deus o sabem, foi, enfim, completada. Dali em diante, ele começou sua chamada “vida pública”. Até então, sua vida foi de aprendizado e educação nas mãos de sua mãe, de seu pai adotivo, a árvore da sombra, São José, do Espírito Santo e de outros mestres.

O que também poucos lembram é que Maria se manteve firme em seu propósito de cristã até o último instante de sua vida terrena. Ela assumiu o risco durante a crucificação de Seu Filho, momento em que até seus apóstolos mais chegados, premidos pelo medo do flagelo, negaram a Cristo tantas quantas fossem as vezes necessárias. O próprio São Pedro, por exemplo, questionado se era seguidor de Jesus, por três vezes, por três vezes o negou. Mas Maria lembrava-se de que seu propósito não era um caminho egocêntrico, mas sim O Caminho Cristão, e não se desviou dele, assumindo todos os riscos que isso pudesse lhe acarretar. Stabat Mater: “Estava a mãe em pé diante da cruz”. Quem teme a Deus não precisa temer a mais nada.

Maria é a primeira Santa do Cristianismo. E é a única Santíssima. Enquanto São Dimas, o bom ladrão, foi canonizado pelo próprio Cristo, na cruz, ao seu lado, Maria já fora canonizada pelo emissário de Deus, o Arcanjo Gabriel, com a autoridade do Espírito Santo, quando o Arcanjo, profetizando o “Sim” de Maria, lhe anuncia pela voz do Criador: “Ave Maria, cheia de graça. Não temas, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. O Espírito Santo descerá sobre ti e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra” (Evangelho de São Lucas, 1).

Santa Isabel, também profeta, mãe do precursor de Jesus, São João Batista, confirma as palavras do Arcanjo da Anunciação e exalta a visita da Virgem Maria: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”.

Então, Maria, a Santíssima, Primeira entre os Primeiros, diz o seu “Magnificat”, que é o prenúncio do caminho anunciado na oração ecumênica do “Pai-Nosso”.

O “Magnificat” é inspirado no cântico de Ana, do Antigo Testamento, e veio a fim de glorificar a própria ascendência marista e a de seu Filho, já que a mãe de Maria se chamava, também, Ana. O “Magnificat”, se comparado às exortações e aos ensinamentos do “Pai-Nosso”, mostra como Maria já tinha a Revelação da Divindade em sua Consciência.

Vamos a uma interpretação trazida do grego acima exposto no texto original que chegou a nós graças aos Doutores em Sagradas Escrituras, cujo pré-requisito, até hoje, num seminário de formação sacerdotal católico, é ser conhecedor fluente do idioma grego ático-jônico ou clássico.
“Minha alma (no original, “ψυχή”, também significa “borboleta” em grego, aquela criatura que precisa sofrer o “casulo” para deixar de rastejar e voar) glorifica ao Senhor, 
meu espírito (πνεῦμά, “Pneuma”, como eu falei em outro artigo, “pneuma”, em grego, quer dizer “ar”, cf. “pneumático”, e também “espírito”; a polissemia é frequente no grego para enriquecer as exegeses) alegra-se profundamente (ἠγαλλίασε) 
em Deus, meu Salvador (σωτῆρί – Soteri será o título de Jesus),

porque olhou para a humildade (ταπείνωσιν) de sua serva.”

Nos quatro primeiros versos, a Virgem já fala dos três níveis de conversão necessários à consecução do Caminho de Cristo: fala em “alma” (v. 1), em “espírito” (v. 2) e em corpo (“serva”, v. 4). Em resumo, ela aponta para os três caminhos básicos que Jesus explicita de modo sintético e claro no “Pai-Nosso”: o caminho do espírito, o caminho do corpo e o caminho da alma. À frente, Maria falará da conversão milagrosa do amor e da compaixão de Deus, que NÃO olha nossos pecados, mas abre-se a qualquer um que lhe implorar o perdão, sendo todo o passado ESQUECIDO, e lembrado apenas o pedido de perdão; a conversão da fé: quando diz “lembrado de sua misericórdia” (verso 19), como veremos.

E, assim como o “Pai-Nosso” começa com a evocação do Supremo Criador (“Pai Nosso, que estais no céu”), o “Magnificat” se inicia com a mesma evocação, com a alma olhando para o “Senhor” (“Minha alma glorifica ao Senhor” – “Magnificat”, v. 1), para o Pai. Assim também como o “Pai-Nosso” diz que o nome de Deus não importa (reiterando a resposta do Próprio Deus a Moisés, quando lhe pergunta: “Quem és tu?”, e Deus diz: “Eu sou aquele que sou”), que, sendo Ele o Criador, Ele é “santificado” (“Santificado seja o vosso NOME” – “Pai-Nosso”), Maria tampouco nomeia ao Senhor, chamando-o apenas de “Deus” e de “meu Salvador” (v. 3), seguindo as instruções de Deus a Moisés e o futuro ensinamento de Jesus.

Aqui se percebe de quem, antes de tudo, Jesus aprendeu sua lição de ecumenismo: de sua mãe, a Virgem Maria. Sobre o Nome de Deus, Maria vai mais além, como uma verdadeira Mestra que terá de dar os primeiros passos àquele cuja missão é redentora. Segue no Magnificat”:
"Por isto, desde agora, 
Proclamar-me-ão bem-aventurada (μακαριοῦσί) todas as gerações (πᾶσαι αἱ γενεαί), 
Porque realizou maravilhas em mim aquele que é poderoso 
E cujo nome é Santo. (καὶ ἅγιον τὸ ὄνομα αὐτοῦ) ”
Nos versos 7 e 8, Maria, mais uma vez, remete à “definição” de Deus, comprovando que, na verdade, o Senhor é inefável, não suscetível de ser nomeado, como ele mesmo se apresentou: “Eu sou aquele que sou”, como dissemos. Diz Maria, falando sobre “quem” é Deus: “[Ele é] aquele que é poderoso / e cujo NOME É SANTO” (vs. 7 e 8). Indo-se ao Pai-Nosso, vemos a sabedoria dessa lição no verso 2 : “SANTIFICADO SEJA o Vosso NOME” ("cujo NOME É SANTO", Magnificat, v. 8). Impossível não ver a doce mão de Maria sobre a língua de seu filho Jesus em seu “Pai-Nosso”.

Também está presente o ecumenismo de Deus quando Maria diz: “me proclamarão bem-aventurada TODAS AS GERAÇÕES”. Isto é, a salvação é aberta indistintamente a todos que se propuserem, por livre e espontânea vontade, seguir o Caminho. Não há discriminações, preconceitos, discórdias, raças, orientações etc. que impeçam a salvação: quem seguir o caminho chegará ao galardão prometido. “Pedi, a abrir-se-vos-á”. Ainda em relação à não segregação, Maria completa, reiterando o ecumenismo intrínseco à misericórdia de Deus, nos versos 9 e 10 do Magnificat:
“Sua misericórdia (καὶ τὸ ἔλεος αὐτοῦ) se estende, de geração em geração (γενεὰς γενεῶν), 
Sobre os que o temem”.
Ela, assim como Jesus, não distingue pessoas por características quaisquer, a não ser a de temer a Deus e seguir o seu Caminho.
Além de expressar o amor incondicional de Deus, Maria também reforça que somente Ele é digno de temor, de respeito e de adoração, no verso “sobre os que o temem”. Vemos aqui a lição da Entrega Suprema, presente no “Pai-Nosso” no “Venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade”. Mais uma vez é evocada a alta clemência e misericórdia de Deus, sem cuja ajuda nada se pode fazer, quando Maria nos revela mais uma vez quem é a fonte única do poder:
“Manifestou o poder de seu braço: 
Desconcertou completamente os corações dos soberbos (διεσκόρπισεν ὑπερηφάνους)”.
Dura, porém doce, é esta lição da Mãe, que o Filho tão bem guardou em seu coração. Ela nos ensina que a primeira “tentação” é a ilusão de que temos o poder, a ilusão que acomete o espírito, a alma e o corpo – a ilusão da soberba. O poder real é do braço de Deus, e este poder, que é o único verdadeiro, desconcerta os que estão iludidos com a soberba. – Desconcertou os corações dos soberbos”. Di-no-lo Santa Maria, a Nuvem Alva Perene da Montanha de Sião.

Jesus precisou, e muito, desta lição quando o demônio o tentou no deserto sugerindo-lhe que Ele, Jesus, se arremessasse das pedras para provar seu poder, fazendo com que os anjos de Deus viessem resgatá-lo (o demônio, que conhece muito bem as Sagradas Escrituras, porque ele fora o anjo mais próximo de Deus outrora, e foi arremessado aos infernos exatamente porque acreditou que poderia julgar e ter os mesmos poderes exclusivos de Deus – era soberbo –, evoca o Salmo 90). Jesus, sabendo que aquele seu ato demonstraria soberba de sua parte, responde com outra passagem do Antigo Testamento: “Não tentarás ao Senhor teu Deus”, provando, também, sua submissão e sujeição à Lei maior, que é a força de Deus, e não à força de um ego frágil e desconcertante, cheio de dúvidas e receios, angústias e apego aos bens materiais, inclusive a materialidade da palavra do Antigo Testamento, que sem o Espírito (como mostra São Paulo), mata, mas, com o Espírito, vivifica.

Quem teme a Deus não precisa temer a mais nada. Esta é a lição da Santíssima Mãe de Jesus ao dizer que “Sua misericórdia se estende, de geração em geração, SOBRE OS QUE O TEMEM”. E essa lição é repetida por Jesus, que demonstra tê-la aprendido, diante do demônio, nas tentações do deserto. Continuando a falar sobre a ilusão da soberba, Maria continua: “Derrubou do trono os poderosos / E exaltou os humildes”.

Ou seja, só na entrega, na submissão e na gratidão o caminho pode ser iniciado.
“Saciou de bens os indigentes 
E despediu de mãos vazias os ricos”.
Isso está presente nas palavras futuras de Jesus, em São Mateus: “Ao que tem, mais lhe será dado, e ao que não tem, até o que pensa que tem lhe será tirado”. Esse “ter” a que Jesus faz menção não é o “ter” em posses, mas sim o “ter” em Consciência. E, para chegar a ela, é preciso, antes de tudo, saber-se que NÃO SE SABE: ter consciência da própria inconsciência e inaptidão em alcançá-la sozinho, para, com isso, haver a total entrega ao poder de Deus – humildade. Consciência de que só na humildade se chega à sabedoria de Deus: “Não alcanço de tão alto” (Salmo 118).
“Acolheu a Israel, seu servo, (Ἰσραὴλ παιδὸς – “Israel paidós”, literalmente: “Israel, sua criança”), 
Lembrado da sua misericórdia, 
Conforme prometera a nossos pais, 
Em favor de Abraão e sua posteridade (σπέρματι – “spermati”, literalmente, “semente”, “fonte original”), para sempre”.
O que vemos aqui é o reforço da Natureza ecumênica de Deus, já que Israel simboliza, neste verso, todas as pessoas que quiserem ser salvas na Luz da Consciência Crística, e que estiverem prontas à entrega e submissão totais (já que Israel é “seu SERVO”) que essa salvação exige. O “lembrado da sua misericórdia” remete imediatamente ao “não nos deixeis cair em tentação”, que é o caminho da conversão pela fé e humildade, único possível para se chegar à Sabedoria verdadeira, a que vem do Espírito, não da literalidade.

“Conforme prometera a nossos pais” é reiterado por Jesus quando diz “Eu não vim abolir a lei, mas sim confirmá-la”. Isso não significaria que ele veio manter a literalidade, pois o próprio Jesus diz que “não se faça mais de hoje em diante olho por olho, dente por dente, mas, antes, ao contrário, se alguém te ferir uma face, oferece a outra; se alguém te roubar uma túnica, dá-lhe a outra” – o “não revogar” de Jesus significa DAR A VERDADEIRA INTERPRETAÇÃO – na luz, no amor, no Espírito Santo, cuja sabedoria só é revelada, como estamos vendo, aos humildes, e nunca, jamais, aos soberbos.

Ou seja, a promessa de Salvação incondicional, através do caminho da entrega em direção à recordação (conhecimento da tradição) e Consciência, existia já aos “nossos pais” (v. 19). Daí Jesus começar a sua oração ecumênica chamando Deus de “Pai nosso”, e lembrando “assim na terra como no céu”, ou seja, aos “nossos pais” da terra (“Magnificat”, verso 19), encarnados e metonimizados por Maria em “Abraão e sua posteridade” (“Magnificat”, verso 20) e ao “Pai Nosso” (Pai-Nosso, verso 1), “que estais nos céus” (“Pai-Nosso”, verso 1). O “para sempre” que fecha o Magnificat evoca que o poder de Deus é infinito e que sua misericórdia é eterna e não faz distinções “humanas”.

Sem o ventre e os ensinamentos de Maria – que é a carne e o sangue de Jesus –, não se abriria a porta que leva ao Reino da Consciência e da Responsabilidade. Na grande tradição cristã, Maria também é, portanto, Redentora da espécie humana e das espécies que habitam a Terra, cada uma segundo seu entendimento.

- Marcelo Moraes Caetano

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