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Boa parte de nossa vida transcorre dentro de alguma organização: família, clube esportivo, associações, empresas, supermercados…
Uma empresa ou um hospital são instituições complexas, criadas e coordenadas em função de uma finalidade (ou várias), com estruturas e instrumentos adequados.
Ninguém costuma conceber uma familia ou uma associação esportiva como uma organização, já que não é fácil destacar a finalidade para a qual nascem nem os instrumentos com os quais funcionam.
Porém, deve-se recordar, coisa que inclusive muitos teóricos das organizações esquecem, que a vida social não está composta só por organizações. A outra metade do céu está ocupada pelas convenções, que são ações complexas não “criadas” por ninguém (como ocorre com uma empresa ou um colégio). Um exemplo típico de convenção seria o trânsito.
A nota dominante nas organizações é a cooperação. Em compensação, nas convenções a cooperação torna-se muito menos evidente e, quando ocorre, normalmente carece de intencionalidade. A intenção do que sai de casa de carro pela manhã não é a de cooperar com os demais automobilistas, mas sim chegar ao trabalho bem e o mais cedo possível. A cooperação, em certo sentido, é um fato objetivo. Poderíamos dizer que uma diferença importante entre as organizações (empresas) e essa grande convenção-instituição (não organização) que é o mercado, tem a ver precisamente com o binômio cooperação-competição.
Dizem que o mercado funciona bem quando há concorrência entre os indivíduos, enquanto a empresa for essencialmente cooperação. Dito de outra forma: a empresa, como organização, em suas relações internas, é cooperação; mas como indivíduo de mercado, em suas relações externas, é concorrência.
Na realidade esta visão, muito consolidada no nível teórico, tem suas falhas, tanto no que diz respeito à empresa-organização como ao mercado-convenção. Em primeiro lugar, porque a concorrência também é importante dentro das organizações. Certamente, se a concorrência prevalece sobre a cooperação, as organizações entram em crise, mas a concorrência também pode ser lida como cumpetere: procurar juntos. O mercado também não deve ser lido só como concorrência, já que a dinâmica do mercado também é, e eu diria que sobretudo, uma ação cooperativa conjunta.
Há outro aspecto que me parece especialmente perigoso na teoria e sobretudo na prática das organizações. Eu me refiro ao que poderíamos chamar “reducionismo” ou “isomorfismo” organizativo. Em que consiste? É a tendência a tratar todas as formas organizativas como realidades substancialmente iguais. É evidente que uma empresa comercial tem muitas coisas em comum com uma cooperativa ou com uma comunidade religiosa, mas uma boa teoria organizativa deve concentrar-se nas diferenças.
Os seres humanos e os chimpanzés compartilham 98% de seu DNA, mas o que mais conta é precisamente os 2% restantes. A cultura da globalização costuma levar consigo uma tendência radical a padronizar os instrumentos organizativos. Se não dermos importância aos 2% de diferença, não conseguiremos ver os elementos decisivos de qualquer organização, que se chamam cultura, identidade, valores, missão. Talvez a organização de uma cooperativa social seja apenas 2% diferente de uma empresa capitalista, mas se os diretores e assessores começarem a tratá-la como se fosse completamente igual, podem levá-la a um beco sem saída, apagando séculos de história, de liberdade e de civilização.
Em contrapartida, uma sociedade civil cresce adequadamente sempre que permita a existência de diferentes formas organizativas, respeitando a especificidade e a cultura de cada uma delas.
- Luigino Bruni
Reproduzido via Mirada Global, com grifos nossos. Tweet
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