quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Dez conselhos para viver a religião

Foto: Jack Brauer

1. Religue-se. Evite o solipsismo, o individualismo, a solidão nefasta. Religue-se ao mais profundo de si mesmo, lá onde se cultivam os bens infinitos; à natureza, da qual somos todos expressão e consciência; ao próximo, de quem inevitavelmente dependemos; a Deus, que nos ama incondicionalmente. Isto é religião, re-ligar.

2. Tenha presente que as religiões surgiram na história da humanidade há cerca de oito mil anos. A espiritualidade, porém, é tão antiga quanto a própria humanidade. Ela é o fundamento de toda religião, assim como o amor em relação à família. Busque na sua religião aprimorar a sua espiritualidade. Desconfie de religião que não cultiva a espiritualidade e prioriza dogmas, preceitos, mandamentos, hierarquias e leis.

3. Verifique se a sua religião está centrada no dom maior de Deus: a vida. Religião centrada na autoridade, na doutrina, na ideia de pecado, na predestinação, é ópio do povo. “Vim para que todos tenham vida e vida em abundância”, disse Jesus (João 10,10). Portanto, a religião não pode manter-se indiferente a tudo que impede ou ameaça a vida: opressão, exclusão, submissão, discriminação, desqualificação de quem não abraça o mesmo credo.

4. Engaje-se numa comunidade religiosa comprometida com o aprimoramento da espiritualidade. Religião é comunhão. E imprima à sua comunidade caráter social: combate à miséria; solidariedade aos pobres e injustiçados; defesa intransigente da vida; denúncia das estruturas de morte; anúncio de um “outro mundo possível”, mais justo e livre, onde todos possam viver com dignidade e felicidade.

5. Interiorize sua experiência religiosa. Transforme o seu crer no seu fazer. Reduza a contradição entre a sua oração e a sua ação. Faça pelos outros o que gostaria que fizessem por você. Ame assim como Deus nos ama: incondicionalmente.

6. Ore. Religião sem oração é cardápio sem alimento. Reserve um momento de seu dia para encontrar-se com Deus no mais íntimo de si mesmo. Medite. Deixe o Espírito divino lapidar o seu espírito, desatar os seus nós interiores, dilatar sua capacidade amorosa.

7. Seja tolerante com as outras religiões, assim como gostaria que fossem com a sua. Livre-se de qualquer tendência fundamentalista de quem se julga dono da verdade e melhor intérprete da vontade de Deus. Procure dialogar com aqueles que manifestam crenças diferentes da sua. Quem ama não é intolerante.

8. Lembre-se: Deus não tem religião. Nós é que, ao institucionalizar diferentes experiências espirituais, criamos as religiões. Todas elas estão inseridas neste mundo em que vivemos e mantêm com ele uma intrínseca inter-relação. Toda religião desempenha, na sociedade em que se insere, um papel político, seja legitimando injustiças, ao se manter indiferente a elas, seja ao denunciá-las profeticamente em nome do princípio de que somos todos filhos e filhas de Deus. Portanto, temos o direito de fazer da humanidade uma família.

9. A árvore se conhece pelos frutos. Avalie se a sua religião é amorosa ou excludente, semeadoras de bênçãos ou arauto do inferno, serva do projeto de Deus na história humana ou do poder do dinheiro.

10. Deus é amor. Religião que não conduz ao amor não é coisa de Deus. Mais importante que ter fé, abraçar uma religião, frequentar templos, é amar. “Ainda que eu tivesse fé capaz de transportar montanhas, se não tivesse o amor isso de nada me serviria”, disse o apóstolo Paulo (1 Coríntios 13, 2). Mais vale um ateu que ama que um crente que odeia, discrimina e oprime. O amor é a raiz e o fruto de toda verdadeira religião; e a experiência de Deus, de toda autêntica fé.

- Frei Betto
Reproduzido via Amai-vos, com grifos nossos.

6 comentários:

Ricardo Cavalcante disse...

Oi amigo!, veja que interessante que eu achei, eu particularmente quando vi isso fiquei pasmo, a biblia "ave maria" traduz prostituto, infame, e outras pejorativas para a palavra efeminado!, fiquei surpreendido quando vi, veja e me diga o que acha, e é no livro de jó!

Jó 36:14 (biblia ave maria)
morrem em plena mocidade, a vida deles passa como a dos EFEMINADOS.

Agora vejam os mesmo versiculo em outras biblias, outras traduções:

Jó 36:14 (biblia de jerusalém)
Morrem em plena juventude, e sua vida é entre os PROSTITUTOS.

Jó 36:14 (biblia sagrada)
Perdem a vida em plena juventude e morrem entre os INFAMES.

O que vc acha disso? paz! :(

Equipe Diversidade Católica disse...

Oi, Ricardo, tudo bom?

Nossa, que coisa... Ficamos até curiosos. Vamos pesquisar um bocadinho e veremos o que podemos trazer de informação a respeito, ok? Aguarde notícias nossas em breve. :-)

Abraços. É sempre bom ter vc por aqui! :-)

Ricardo Cavalcante disse...

Ok!, ficarei no aguardo, a paz!

Equipe Diversidade Católica disse...

Oi, Ricardo, pesquisamos um bocadinho... lá vão alguns comentários, que talvez te ajudem a esclarecer suas dúvidas.

Num caso como esse, é sempre bom saber qual é a palavra usada no original. Consultamos aqui as versões da Biblia de Jerusalem (ed. de 1973, tiragem de 1994) e da Ave-Maria (ed. de 2006). Na nossa edição da Bíblia de Jerusalém, o versículo citado por vc consta como "morrem em plena juventude, e sua vida é desprezada", com uma nota de rodapé explicando que o texto grego original refere-se aos "hieródulos", prostitutos sagrados comuns nos cultos pagãos da época. Na nossa edição da Bíblia Ave-Maria, consta a mesma tradução citada por você, com uma nota de rodapé confirmando que a referência no grego original é aos "prostitutos sagrados", escravos (homens e mulheres) dos templos dedicados à prática do ato sexual como forma de culto aos deuses pagãos.

Por isso, o grego "hieródulo" tradicionalmente é de difícil tradução, por referir-se a uma figura específica de um contexto histórico anterior ao nosso, sem correspondente no mundo de hoje. Daí a variedade de traduções, algumas das quais, como essa da Ave-Maria, infelizmente podem dar margem a interpretações distorcidas.

Dizemos distorcidas porque essa e outras passagens que apresentam as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo como algo condenável referem-se ao contexto dos cultos pagãos ou aos hábitos sexuais dessas sociedades; o que é condenável, aí, é a violência, o sexo abusivo e/ou não-consentido, a escravização e a prostituição. A homoafetividade tal como a conhecemos hoje, no sentido do amor entre pessoas do mesmo sexo vivendo vínculos afetivo-familiares estáveis e monogâmicos, não era conhecida na antiguidade. Não é o homoerotismo em si, portanto, que é "condenado" - embora certas traduções muitas vezes forcem a barra no sentido de levar a crer que sim - mas o abuso e a violação da liberdade e dignidade humanas.

Você encontra mais algumas considerações interessantes a respeito aqui, aqui e aqui. Este último, aliás, é de um outro blog, que tem materiais mto interessantes e vale a pena explorar um pouco também.

Outra fonte muito legal é o documentário "Assim me diz a Bíblia", sobre o qual vc pode ler um pouco aqui - que inclui o link para assistir o filme na íntegra no You Tube (aqui).

Esperamos ter sido úteis.

Um grande abraço! :-))

Ricardo Cavalcante disse...

Muito obrigado pela atenção mais uma vez, e tudo o que vc postou foi muito ultil sim, vou pesquizar mais sobre o assunto tbm, mas enfim...nada que possa ser pesquizado ira tirar a intensão leviana de quem traduziu a palavra para efeminado na biblia ave maria, isso estimula mais ainda a exclusão para pessoas como eu (homossexuais), mas entrego tudo nas mãos de Deus, ele julgará, a mim e a todos resta a indignação, muito obrigado mais uma vez e fique em paz!

Equipe Diversidade Católica disse...

Querido Ricardo,

A maneira como a questão da homossexualidade é vista (e vivida) está mudando, tanto por parte de não-gays como de gays também. Esse tipo de tradução tende a se tornar menos comum; cada vez mais surgem novas traduções que reveem essa e outras escolhas, que refletem a mentalidade da época em que foram feitas. E essa mentalidade está mudando... A esse propósito, indicamos ainda mais um texto: "Que mané fraternidade".

Tenhamos paciência, querido, perseverança e tranquilidade para caminhar. Fazemos votos de que a sua indignação - que também é nossa - possa ser usada para a construção de um mundo melhor. Enquanto isso, como diz o poeta, "não nos afastemos... vamos de mãos dadas"! ;-)

Um grande abraço.

:-)

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