Instalação: Isidro Blasco
Tom, médico de 36 anos, desabafou. “Estou noivo há dois anos. A questão é que não sinto tesão nenhum por mulher. Para fazermos sexo tenho que me esforçar muito, imaginar que estou com um homem. Embora eu nunca tenha transado com outro homem, minhas fantasias são sempre nesse sentido. Mas não quero ser gay, gostaria de casar direitinho e ter família com filhos. A hipótese de decepcionar as pessoas me deixa deprimido. Tenho muito medo de ser rejeitado, inclusive profissionalmente.”
Foi um escândalo. Em 1948, o Relatório Kinsey mostrava que apenas metade de todos os homens americanos eram exclusivamente heterossexuais, isto é, não participaram de atividades homossexuais nem sentiram desejos por pessoas do mesmo sexo. Entretanto, nos últimos 40 anos, a homossexualidade foi afetada por mudanças tão profundas quanto aquelas que influenciaram a conduta heterossexual. Sobretudo com o surgimento da pílula, permitindo a dissociação entre o ato sexual e a procriação. Como representante máxima do sexo visando unicamente ao prazer a homossexualidade foi beneficiada socialmente. Os homossexuais puderam, então, sair da clandestinidade e a prática homossexual se aproximou da heterossexual.
Mas o problema da minoria homossexual é que seu destino depende da forma como ela é vista pela maioria heterossexual. Em 1983, por exemplo, ocorreu uma manifestação em Nova York para mobilizar a opinião pública contra a Aids. Desfilaram policiais entre uma orquestra gay, acenando fotos de Roland Barthes, Jean Cocteau e André Gide. A reação dos moralistas não demorou a chegar. Patrick J. Buchanan, ex-redator dos discursos do presidente Nixon, numa clara alusão ao HIV se pronunciou: “Os homossexuais declararam guerra à natureza. A natureza se vinga. A revolução sexual começa a devorar seus filhos”.
A homofobia — ódio aos homossexuais — continua a fazer estragos. No Brasil, em 2010, foram documentados 260 assassinatos de gays, travestis e lésbicas. Não resta dúvida que os machos heterossexuais que perseguem o ideal masculino da nossa cultura utilizam-se dos homossexuais como contraste psicológico para a afirmação de sua masculinidade. Mas será que já não passou da hora de se aceitar a homossexualidade como tão natural quanto qualquer outra forma de sexualidade, apenas diferente da maioria?
- Regina Navarro Lins
Psicanalista e escritora, autora do livro A Cama na Varanda (Best Seller) entre outros
Fonte: Jornal O Dia Tweet
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